segunda-feira, 30 de março de 2020

Meu Top 10 de Gols no Sufoco

Salve, Buteco! Dando um tempo nos posts de utilidade pública e pegando o embalo da coluna de sexta-feira, escrita pelo nosso amigo André Cardoso, resolvi elaborar uma lista diferente, com os gols que mais me aliviaram como torcedor do Flamengo. Não é uma lista de gols mais importantes, mas os mais emocionantes em situações de aperto, ou seja, no sufoco. Logo, muitos gols em jogos importantes ficaram de fora e outros, talvez aleatórios para alguns, entraram simplesmente em razão do que senti na hora. O importante, portanto, não importa o motivo, foi o quanto eu comemorei ou fiquei aliviado em situações de aperto pelas quais o Flamengo passava quando marcou esses gols. Isso mostra que a lista é bem subjetiva e pode variar bastante de torcedor para torcedor. Se por algum motivo não assisti o jogo, não o incluí, por mais importante que tenha sido ou mais emocionante que tenha sido o gol, ou do contrário estaria contando para vocês um relato ficcional, entenderam?

Vamos então ao meu Top 10, por ordem cronológica:

1) 1980 (1º/6): Flamengo 3x2 Atlético/MG (Maracanã). O terceiro gol, segundo do Nunes. Finalíssima do Campeonato Brasileiro de 1980. Já contei a vocês algumas vezes que foi, para mim, o maior jogo de todos os tempos, o que mais senti como torcedor. O Atlético/MG foi um adversário terrível e eu, então com 10 anos de idade, sonhava com o primeiro título brasileiro do Flamengo, porém especialmente o Reinaldo me causava absoluto pavor. Como ele pode ter empatado o jogo praticamente sem conseguir se mover, meu Deus? A taça estava nas mãos dos mineiros. Não consigo descrever em palavras o nível da minha tensão até o Nunes marcar o gol do título. Os últimos minutos foram um misto de ansiedade com euforia e mal acreditei quando o jogo terminou. 




2) 1982 (18/4): Flamengo 1x1 Grêmio (Maracanã). O gol de empate do Zico. Final do Campeonato Brasileiro de 1982, primeiro jogo. Naquela altura, o maior Flamengo de todos os tempos havia ganhado pelo menos uma vez todos os títulos que em tese poderia disputar. No confronto entre o campeão sul-americano e mundial e o campeão brasileiro de 1981, futuro campeão sul-americano e mundial de 1983, a equipe gaúcha, que, para mim, não chegava aos pés do Altético/MG de 1980, até então conseguia um resultado melhor no Maracanã e quase conquistou a vitória. O Galinho de Quintino elegeu esse gol como um dos 5 mais importantes que marcou com a camisa do Flamengo. Os apuros que o Mais Querido passou depois em Porto Alegre até levar o título provam que ele tem razão. Mal comemorei o gol, pois mal conseguia falar.  Apenas desabei exausto, escutando a catarse dos presentes no Maracanã.

Vejam o gol com a narração de Luciano do Valle.



3) 1987 (2/12): Atlético/MG 2x3 Flamengo (Mineirão). O gol do Renato Gaúcho. Semifinal do Campeonato Brasileiro de 1987. O Atlético/MG de 1987, dirigido por Telê Santana, foi, sem dúvida, um dos times mais ajustados que o consagrado e saudoso treinador já treinou. A campanha era brilhante e quase irretocável, ao contrário da rubro-negra, cujo time mal começara a engrenar. Aliás, os mineiros haviam vencido o jogo no Mineirão, pela fase classificatória, um mês antes. E ainda tinha a rivalidade, no ápice após 1980 e 1981, poucos anos antes... Fazendo um primeiro tempo arrebatador, o Mais Querido abriu 2x0 e teve chances de aplicar uma goleada histórica, mas se desconcentrou com tanta facilidade e, quando abriu os olhos, o jogo já estava empatado. O Galinho de Quintino foi substituído antes do empate profetizando o sufoco que o time enfrentaria e reclamando do caminhão de gols perdidos. Tudo indicava que o Atlético/MG viraria a partida em questão de minutos. O Flamengo parecia entregue dentro de campo, incapaz de reagir.

Não foi a minha maior alegria como torcedor do Flamengo, mas certamente foi a minha maior explosão comemorando com um gol do Flamengo em mais de 40 anos. Vejam o gol com a narração de Galvão Bueno.



4) 1989 (5/11) Flamengo 2x0 Vasco da Gama (Maracanã). Os dois gols do Bujica. Campeonato Brasileiro de 1989, 13ª Rodada. Avisei que alguns gols poderiam parecer randômicos, certo? Pois bem. O período entre o final da década de 80 e início dos anos 90 marcou o canto do cisne da Geração Zico, contando os anos pós-aposentadoria do Galinho, comandados pelo Maestro Júnior. Apesar dos 3 títulos maiores brilhantemente conquistados (1987, 1990 e 1992), aquele mesmo período marcou o início dos anos mais vitoriosos do Vasco da Gama desde o Expresso da Vitória, nos longínquos anos 40. Foi na década de 80 que o rival conquistou seus últimos títulos sobre o Flamengo (1982, 1987 e 1988) e, como expliquei neste post, no confronto direto por décadas, foi também a última na qual o Vasco da Gama teve mais vitórias. Nem na vitoriosa década de 90 os vascaínos venceram tanto o Flamengo.

O confronto entre Flamengo x Vasco da Gama daquele distante 5 de novembro foi o terceiro de 1989, ano no qual até então cada um vencera uma partida. O problema estava nas marcas de 1988, quando o Flamengo venceu o primeiro (1x0 da falta de luz) em janeiro e perdeu os cinco seguintes (!). A vitória do virtual campeão brasileiro de 1989 era favas contadas e esperava-se a humilhação de um Flamengo desfigurado e com os dois jogadores que mais vestiram a camisa do clube em campo...

O jovem Bujica teve o seu dia de glória numa partida na qual Júnior jogou na zaga e Zico como volante (!), baixando a bordoada (!!), motivo de reclamação do volante adversário e então ex-Flamengo Andrade. Teve ainda o requinte da expulsão do Bebeto em seu primeiro jogo contra o Flamengo, após uma confusão com o seu compadre Zé Carlos, que, durante a confusão, batia com o punho fechado no lado esquerdo do peito, em cima do escudo do Flamengo, lembrando ao traidor a sua origem. Para mim, o jogo foi inesquecível e uma vitória do Manto Sagrado no modo bastilha inexpugnável (by Nélson Rodrigues), lavando a alma num momento particularmente difícil do final daquela maravilhosa geração.

Na manhã seguinte, deitei os vascaínos na faculdade.


5) 1992 (1º/7) Flamengo 2x0 Vasco da Gama (Maracanã). O gol do Nélio. Campeonato Brasileiro de 1992, 3ª Rodada do quadrangular semifinal. Relembrando o Campeonato Brasileiro de 1992, é difícil acreditar que o título não tenha ficado com Botafogo, Vasco da Gama ou São Paulo. O time de 1992, comandado pelo Renato Gaúcho e bancado pelo contraventor Emil Pinheiro, na minha opinião, foi o melhor do Botafogo que vi até hoje; o Vasco da Gama, comandado por Bebeto, era um timaço extremamente técnico, que jogava por música, e o São Paulo de Telê Santana defendia o título brasileiro de 1991 e iniciaria no segundo semestre a épica trajetória do bi da Libertadores e do Mundial. Para vocês terem uma ideia, na fase de classificação o Flamengo perdeu por 2x4 pro Vasco da Gama, que na ocasião foi a campo com Régis; Luis Carlos Winck, Alexandre Torres, Jorge Luís e Eduardo; Luisinho, Geovani, Willian e Bismarck; Edmundo e Bebeto. Um verdadeiro esquadrão, que chegou a estar vencendo por 4x0, tendo o meia e joia da base Luiz Antonio salvado a nossa honra com dois gols em sequência nos minutos finais.

Na semifinal em forma de quadrangular, mesma da fase de grupos da Libertadores, a tabela posicionou os dois Flamengo x Vasco da Gama em sequência. O primeiro jogo foi em um domingo e o pau cantou dentro e fora de campo, tendo ao final tudo terminado em um chorado 1x1. Em razão disso, o segundo jogo, na noite de quarta-feira seguinte, pavimentaria o caminho para a semifinal e o favorito Vasco da Gama receberia o poderoso São Paulo em São Januário, duas rodadas depois. O Flamengo abriu 1x0 com um gol quase olímpico e "semi-espírita" do Maestro Júnior, mas, como é típico, diante de um adversário com nove e meio jogadores em campo e sem poder fazer mais substituições, desperdiçava não apenas uma ou duas oportunidades claras de gol, mas uma verdadeira frota de Scanias de 26 rodas repletos de gols. 

O jogo foi uma batalha campal, como mostram os lances nos quais o Júnior Baiano praticamente desfigurou o rosto do Edmundo com um murro (e não foi expulso!) e o Jorge Luís (expulso no lance) deu uma voadora que deve ter deixado o próprio Júnior Baiano com inveja. A sensação era semelhante a da semifinal de 1987 e, quando o bom lateral esquerdo Eduardo "Cachaça" (ex-Fluminense), voltou a campo com o ombro luxado e preso a uma tipoia, mal conseguindo se equilibrar (por isso a referência a nove e meio em campo), entrei em desespero absoluto e vi a tragédia que estava prestes a se consumar, até que o Nélio Marreco deu números finais à partida e marcou um dos gols que mais comemorei na minha vida.

Para quem quiser, o videotape completo do jogo no YouTube.



6) 1995 (15/11) Cruzeiro 0x1 Flamengo (Mineirão). O gol do Ronaldão. Supercopa dos Campeões da Libertadores, edição 1995, primeiro jogo da semifinal. Pessoal, a campanha do Flamengo no Campeonato Brasileiro de 1995, ano do centenário do clube, podia ser descrita da seguinte forma: em um grupo com 12 times, ficou em último lugar na primeira fase e em sétimo na segunda. Isso depois da tragédia na final do Estadual, com o gol de mão, mas considerado como de barriga, do Renato Gaúcho dando o título ao Fluminense. Surpreendentemente, porém, a campanha na Supercopa dos Campeões da Libertadores da América era boa, contudo aquele time não passava confiança alguma ao torcedor e, pior, pouco menos de um mês antes havia perdido categoricamente para o próprio Cruzeiro no Kleber Andrade, em Cariacica/ES, por incontestáveis 0x2, pelo Campeonato Brasileiro. A simples ideia de tomar um vareio de bola no dia de aniversário de cem anos do clube me levou a picos de pânico e ansiedade.

Num jogo totalmente atípico, com a torcida do Cruzeiro, de maneira fidagal, cantando "parabéns pra você" nas arquibancadas; com Sávio expulso e Romário se contundindo e sendo substituído pelo Pingo, o Flamengo inacreditavelmente venceu com um redentor gol do Ronaldão, uma das poucas alegrias daquele centenário de tantos maus agouros.

Vibrei como poucas vezes na vida com o gol e a vitória.



7) 2009 (6/12) Flamengo 2x1 Grêmio (Maracanã). O gol do Ronaldo Angelim. Campeonato Brasileiro de 2009, 38ª Rodada. Primeiro ano do Buteco do Flamengo. Conto a saga da minha ida ao Maracanã neste antigo post (lembra, Rocco?). Meu amigo, que aparece na foto, desmaiou no meio da muvuca para entrar no estádio e foi carregado espremido na multidão. Desfaleceu e ficou minutos desacordado espremido em um mar de pessoas, tendo acordado sem sequer ir ao chão (!). Pensem no meu desespero ao lado, sem conseguir me mexer, chamando-o e não tendo reposta... 

Dentro do Maracanã, acho que foi o são-paulino Rica Perrone que melhor descreveu o que se passou neste post publicado em seu blog. Acaso alguém não se recorde, eram simplesmente dezessete anos de fila. Dezessete! A tensão era palpável, quero dizer, dava para tocá-la fisicamente no ar. Curiosamente, enquanto o meu amigo, recuperado, externava sem parar o seu pavor, falando que não ia dar, fui tomado por uma serenidade zen-budista e talvez fosse a pessoa mais calma dentro do estádio, tomado por uma convicção absoluta de que o Flamengo marcaria o segundo gol e venceria o jogo.

O gol do Angelim, para mim, foi como um orgasmo aguardado em contagem regressiva. O Nirvana, atingido por meio de um gol. 

Com vocês (vídeo de Mateus Vieira), o silêncio que precede o estrondo...



8) 2010 (5/5) Corinthians 2x1 Flamengo. O gol do Vagner Love. Copa Libertadores da América de 2010, segundo jogo das oitavas de final. Após o Mais Querido vencer o primeiro jogo por 1x0 no Maracanã, com o gol da vitória marcado pelo Adriano Imperador de pênalti e debaixo de um verdadeiro dilúvio, nos 45 minutos iniciais do jogo de volta, no Pacaembu, o Flamengo certamente sofreu pressão como poucas vezes em sua história. Vale lembrar que, naquela altura, Andrade havia sido demitido e, numa troca profundamente infeliz, o time tinha Rogério Lourenço como treinador e precursor dos "estagiários" no comando do futebol profissional, para o nosso desespero. Foi exatamente nessa época que o termo "estagiário" passou a ser utilizado pela torcida, e salvo engano originariamente aqui, neste espaço, no Buteco do Flamengo.

Havia, porém, um componente adicional, ao menos para mim: o traíra do Ronaldo Nazário no comando do ataque mosqueteiro. Ah, meus Amigos, se tem um jogador que eu não perdoo é esse energúmeno. Como vocês sabem, ele foi autor do segundo gol, que levou o Corinthians ao vestiário com, digamos, a "sensação de classificado". Portanto, Amigos, o contexto estava longe de ser favorável, apesar do fulminante ataque composto pelo Império do Amor, e o sufoco foi enorme, como poucas vezes vi na minha vida.

Foi a única vitória do Fenômeno contra o Flamengo, mas com eliminação. Ou seja: ganhou, mas não levou. Encontrei um compacto bacana no YouTube, que compartilho com vocês. A frustração do narrador proporciona um divertimento adicional.


Depois do jogo ainda subi este post irado contra a presidente Patrícia Amorim e cobrando um treinador de verdade para o time, mirando as quartas-de-final. Talvez tenha profetizado o desastre do  atraso para jogo de ida contra a Universidade de Chile, quando mandou o ônibus buscá-la na Gávea... Aquela Libertadores foi conquistada pelo Internacional dirigido por Celso Roth, Amigos. Celso Roth! A brilhante exibição no jogo de volta contra a La U no Chile mostra que teria sido nossa, não fosse a trapalhada da presidente no Rio de Janeiro...

9) 2018 (1º/8) Grêmio 1x1 Flamengo (Arena do Grêmio). O gol do Lincoln. Desde 2018, andei escrevendo bastante sobre o histórico de confrontos entre Flamengo e Grêmio, além da minha trajetória particular com esse adversário, enquanto torcedor. Foram, ao todo, quatro posts (123 e 4). Portanto, não vou me alongar e também não estranhem haver três jogos contra o Grêmio nessa lista. Talvez esse específico jogo possa entrar na lista dos randômicos, mas para mim, Amigos, eliminar o Grêmio em Porto Alegre, com um gol de um prata-da-casa, nos minutos finais, após uma corajosa exibição no segundo tempo, vale muito, talvez mais do que considerem outros torcedores ou mesmo muitos de vocês. Foi o grande momento do estagiário Maurício Barbieri no comando do Mais Querido do Brasil.

10) 2019 (23/11) Flamengo 2x1 River Plate. Os gols do Gabigol. Pedra cantada, né? No meu caso, o detalhe foi a minha filha mais velha aos prantos achando que o Flamengo perderia a decisão. Com 50 anos de vida recém completados, aprendi a assistir numa boa os jogos mais tensos, como foi o caso desse, com certeza Top 5 dos jogos mais importantes da história do clube. Mas ela me lembrou aquele jovem dos anos 80 que descrevi para vocês. O primeiro gol foi uma catarse inexplicável e nos abraçamos, pulamos e gritamos por uns 2 minutos, ininterruptamente. Ela ainda estava atônita, achando que era replay, quando comecei a gritar e falar pra ela que o Flamengo havia marcado o segundo gol e virado o jogo. Nova catarse se sucedeu, dessa vez com gritos roucos (kkk). 



Mas se quiserem, podem também escolher a narração de sua preferência.


Agora mande a sua lista, não importa se com 1, 2, 5, 10 ou 20 jogos. Só vale o que assistiu e sentiu ao vivo.

Bom dia e SRN a tod@s.