segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Vencer, Vencer, Vencer - Factibilidade

 

Salve, Buteco! Quero debater com vocês o tema "tríplice coroa x priorização", porém acho que, para conseguir expor bem o que penso, será preciso abordar primeiro a História das competições de futebol, especialmente a divisão dos campeonatos nacionais e das copas. Entender historicamente o contexto desses dois formatos de competição ajuda a medir o quanto é factível exigir de um clube que ganhe todos eles em uma só temporada.

Obviamente, cada país tem sua História e em cada um deles o futebol começou a ser jogado no formato de copas, no de liga nacional ou mesmo de diversas ligas regionais. Na Inglaterra, por exemplo, a FA Cup precedeu qualquer outro formato. O mesmo ocorreu na Espanha. 

Já na Alemanha e na Itália primeiro as primeiras competições foram formatadas em diversas ligas, tendo a primeira competição nacional sido a copa respectiva (DFB-Pokal e Coppa Italia), ao passo que a Bundesliga e a Serie A foram estruturadas posteriormente.

No Brasil o futebol foi se formatando de uma maneira mais parecida com a da Alemanha e da Itália. A forma federativa de estado e as dimensões continentais do país acabaram fazendo com que o processo de criação de uma competição nacional demorasse mais do que em países europeus.

Neste ponto, abro um parêntesis para repetir o que escrevi há quase 5 anos neste Blog, no post Olho no Passado, Mirando o Futuro (2), quando basicamente defendi o seguinte:

Salve, Buteco! Semana passada destaquei o Ranking Folha do futebol brasileiro e a primeira colocação ocupada, já com alguma folga (que tende a aumentar), pelo Mais Querido do Brasil. Destaquei também como ficaria uma classificação por títulos conquistados em competições organizadas por CBF, CONMEBOL e FIFA. Após essas reflexões, ressaltei a importância da continuidade de Jorge Jesus no Flamengo. Pois bem, hoje percorrerei outro caminho para chegar ao mesmo lugar. Esse outro caminho começa, conforme prometido nos debates, com uma breve incursão na polêmica decisão do então presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, de “unificar” os títulos brasileiros, carimbando as edições da Taça Brasil e, a partir de 1967, do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, quando deixou de ser apenas o Rio-São Paulo e passou a ser também disputado por clubes de outros estados.

Desde logo afirmo que não sou refratário a uma revisão histórica, desde que respeite o que chamo de “essência” de cada torneio. Para resumir: a Taça Brasil, cujo título dava direito a vaga na Libertadores da América (a partir da criação deste torneio) e sempre teve formato exclusivamente eliminatório, equivale à Copa do Brasil; já o “Robertão” deveria ser o único torneio a ter o status de campeonato brasileiro.

Paulo Vinícius Coelho traz uma importante abordagem sobre a unificação, posicionando-se contrariamente, porém foi Mauro Betting que, a meu ver, melhor explicou a diferença entre a Taça Brasil e o Robertão, bem como suas correspondências, respectivamente, à Copa do Brasil e ao Campeonato Brasileiro. O argumento mais persuasivo é a comparação com a FA Cup da Inglaterra. Tal como no país bretão, a Taça Brasil, primeira competição de caráter nacional organizada pela então CBD, teve caráter exclusivamente eliminatório, sem que isso representasse qualquer desprestígio ao campeonato nacional, posteriormente criado.

Quanto ao Robertão, apesar das cabíveis ponderações quanto à restritividade de participação de maior número de clubes grandes em suas primeiras edições, vejo essa questão como um problema histórico que veio a ser corrigido, especialmente a partir de 1970 (Taça de Prata, vencida pelo Fluminense). Para mim, respeitando as opiniões em sentido contrário, foi campeonato brasileiro e assim deve ser considerado.

A maioria esmagadora das federações dos países nos quais se joga futebol separa as principais competições que promove entre o campeonato nacional de pontos corridos e a copa nacional (exclusivamente eliminatória). Muitas promovem ainda uma copa da liga, também em sistema exclusivamente eliminatório, e/ou uma supercopa disputada entre os vencedores das duas primeiras, sempre as principais.

É importante observar que a Copa do Brasil começou com o nome Taça do Brasil, porém o formato foi abandonado e o de campeonato nacional (não copa) foi se formando via Roberto Gomes Pedrosa, Taça de Prata e, finalmente, Campeonato Brasileiro. 

O sistema de disputa sofreu incontáveis alterações, de edição a edição; porém, apesar de ser o que mais se aproximou (no país) do conceito de "liga" adotado na Europa, não deixou de ter um caráter híbrido; não em todas, mas em muitas edições, com as fases mais avançadas sendo disputadas no formato de copas (eliminatório).

A Copa do Brasil (antes Taça Brasil) foi retomada em 1989 e desde então se consolidou no calendário do futebol brasileiro, sendo hoje uma competição tradicional, a segunda mais importante do país, muito embora, ainda sim, seja "A Baranga" - aquela que nunca será a Patroa ou a Princesinha.

Levei vocês a essa viagem no passado para que compreendam bem algo que parece simples, mas na prática é complicado para exergar: copas são uma tradição europeia e não sul-americana. Na América do Sul, o Brasil foi pioneiro em sua consolidação no calendário e apenas neste século outros países como Argentina e Colômbia seguiram o exemplo.

Parêntesis fechado, vamos dar uma outra voltinha no passado, mas dessa vez para entender o grau de dificuldade historicamente existente, aonde sempre se jogou o campeonato nacional e as copas, ou seja, na Europa, para um time vencer as duas competições numa mesma temporada.

***

Para quem não conhece, apresento o conceito de "The Double", definido neste excelente artigo da Wikipedia britânica como "the achievement of winning a country's top tier division and its primary domestic cup competition in the same season" ou, Traduzindo para o português, a conquista da 1ª divisão nacional e a principal copa de um país na mesma temporada. Para facilitar, vou apelidar o feito de "dobradinha".

Sei que para muitos é um conceito reducionista, já que aqui se fala de maneira banalizada em tríplice coroa, coisa e tal. Só que as pessoas, ao utilizarem o termo e (evento mais raro) idealizarem a "pura e autêntica tríplice coroa" (Brasileiro, Libertadores e Copa do Brasil), não percebem o quão é difícil, antes de conquistar as três, conquistar duas delas, inclusive a dobradinha das duas maiores competições nacionais.

Pensam que é fácil? Leiam o artigo e constatem que é um fenômeno raro, historicamente, em âmbito mundial. Tão raro que, aqui no Brasil, após a volta da Baranga, só ocorreu 2 vezes, ambas no Século XXI e com a dupla mineira: Cruzeiro (2003) e Atlético Mineiro (2021).

Na Europa, nas ligas realmente grandes, assim entendidas como as de países com História em Copas do Mundo (títulos e finais), o fenômeno era raríssimo antes do advento do Caso Bosman e do fim da "Lei do Passe", e continua sendo no Século XXI, mesmo com o surgimento do fenômeno dos supertimes, aqueles ricos e com elencos mais fortes do que tradicionais seleções nacionais.

No Século XX, antes da Lei Bosman, na Inglaterra apenas o Manchester United (1993/1994) e o Arsenal (1970/1971) conseguiram, por uma vez cada, atingir a façanha. Depois desse marco, cada um deles repetiu o feito por duas ocasiões, feito só atingido pelo Manchester City, recentemente.

Na Alemanha, apenas o Schalke 04 (1937/pré-Bundesliga) e o Bayern de Munique (1968/1969 e 1985/1986) alcançaram a façanha até a Lei Bosman, a qual nem mesmo o esquadrão de Sepp Meyer, Franz Beckebauer e Gerd Miller (década de 70) conseguiu. O Gigante da Baviera, contudo, "descolou" dos demais após o fim da lei do passe em todos os aspectos, o que refletiu na conquista da dobradinha por 11 vezes. Um típico exemplo das distorções do endinheirado futebol de hoje.

O cenário alemão pós-Bosman, contudo, é uma exceção. Na Espanha, antes do evento Bosman Barcelona e Real Madrid só conseguiram o feito por 3 (Barça) e 4 vezes (Real), respectivamente. Depois da Lei Bosman, passadas nada menos do que 29 temporadas, o Barcelona repetiu o sucesso por apenas 5 vezes, enquanto o Real Madrid simplesmente não conseguiu e está "na seca" desde a temporada 1988/1989, mostrando que ter um time galático dominante em níveis continental e mundial não garante hegemonia dentro de casa.

O cenário italiano talvez seja o historicamente mais equilibrado e ao mesmo tempo um excelente exemplo do cataclisma que foi a Lei Bosman para a competitividade entre clubes no velho esporte bretão. Antes do evento, a Juventus fez a dobradinha duas vezes (1959/1960 e 1994/1995), seguida dos históricos times do Torino (1942/1943) e do Napoli (1986/1987). A Internazionale alcançou a façanha por duas vezes já em tempos pós-Bosman (2005/2006 e 2009/2010) e o Milan simplesmente é "virgem" até hoje no quesito, ou seja, nem mesmo os históricos esquadrões que conquistaram o continente europeu e o mundo conseguiram predominar de maneira plena no cenário local.

***

O mesmo artigo que sugeri mostra que existem dobradinhas "com outros ingredientes", ou seja, entre outras competições, como, por exemplo, entre copas, em países que têm a copa nacional e a copa da liga (ex.: FA Cup e EFL na Inglaterra); entre campeonato nacional e copa continental (Champions e UEFA) e copa nacional e copa continental. Todas essas associações são raras e de difícilima conquista, como é possível constatar a partir da leitura do texto.

Um bom exemplo de dobradinha alternativa é o Liverpool de 1976/1977, que conquistou o campeonato inglês e a European Cup (equivalente à Champions League). Este verdadeiro esquadrão, que só foi desafiado no cenário inglês pelo Nottingham Forest de Brian Clough, não conseguiu conquistar o título inglês e a FA Cup numa mesma temporada.

No Brasil, apenas recentemente, depois do mítico Flamengo de Jorge Jesus na temporada 2019, voltaram a ocorrer dobradinhas como a do próprio Flamengo (Brasileiro e Libertadores), feito apenas reproduzido em 2024 pelo Botafogo; Atlético Mineiro (2021/Brasileiro e Copa do Brasil) e de Palmeiras e Flamengo (2020 e 2022/Libertadores e Copa do Brasil).

Desde o mesmo marco (2019), somente o Flamengo conquistou a dobradinha em mais de um formato.

***

Se a dobradinha tradicional já é rara, a tríplice (liga nacional, principal copa nacional e copa continental) e a quadrúplice (mundial incluso) coroas são feitos ainda mais difíceis de serem alcançados. Antes da Lei Bosman, apenas o Ajax de Johann Cruyff, na temporada 1971/1972, conquistou a quadrúplice. Depois disso, apenas Internazionale (2009/2010), Bayern de Munique (2012/2013), Real Madrid (2021/2021) e Manchester City (2022/2023) repetiram o feito.

O Celtic Glasgow de 1966/1967 é um esquadrão que merece menção, por ter conquistado a European Cup, a Scottish League, a Scottish Cup e a Scottish League Cup naquela temporada. Os escoceses foram parados pelo Racing na Intercontinental, em um confronto extremamente polêmico por conta dos incidentes ocorridos nos jogos disputados na Argentina e no Uruguai, como contei para vocês no post O Mundial de Clubes - 1ª Parte - O Início da Copa Intercontinental.

Outro time que deve ser lembrado é o PSV Eindhoven da temporada 1987/1988, que conquistou a European Cup, a Eiredivise e a KNVP Cup, sem Romário, e caiu na final da Intercontinental para o Nacional de Montevidéu em Tóquio, já com a presença do Baixinho.

O mais interessante é que, quando flexibilizamos o critério para a tríplice e a quadrúplice coroas, salta os olhos o quanto é difícil e rara a dobradinha tracional (campeonato e principal copa nacional). Alguns exemplos:

Tríplice Coroa com Mundial e sem Copa Nacional:

1) Steaua Bucaresti: Intercontinental, Champions League e Romanian League. Caiu na final da Romanian Cup para o Dínamo Bucaresti.

2) Estrela Vermelha (Crvena Zvezda) 1990/1991: Intercontinental, European Cup e SFR Yugoslavia League. Caiu na SRF Yugoslavia Cup para o Hadjuk Split na final.

3) Porto 2003/2004: Intercontinental, Champions League e Campeonato Português. Caiu na final da Taça de Portugal para o Benfica.

4) Manchester United 2007/2008: FIFA Club World Cup, Champions e Premier League. Caiu na FA Cup para o Porstmouth (campeão) nas 4ªs de final.

5) Barcelona 2008/2009: FIFA Club World Cup, Champions League e La Liga. Caiu na Copa del Rey para o Sevilla (campeão) nas 8ªs de final.

Tríplice Coroa sem Mundial:

1) Nottingham Forest 1977/1978: European Cup, First League Division e EFL Cup. Caiu na final da Intercontinental para o Nacional.

2) Liverpool 1983/1984: European Cup, First League Division e EFL Cup. Caiu na final da Intercontinental para o Independiente.

***

Acredito que agora ficou mais fácil para compreender o contexto no qual eu acredito que o tema "tríplice coroa x priorização" deve ser debatido, qual seja, o da factibilidade ou, em português claro, a qualidade ou característica do que é factível, do que pode ser realizado.

No caso do Flamengo, o "vencer, vencer, vencer" muitas vezes é reproduzido numa cobrança irreflexiva, porém sabemos que nem sempre dá para ganhar "a porra toda", o que muito provavelmente será o caso do insano calendário da temporada/2025.

Não dá para programar tudo na vida, muito menos no futebol, e, portanto, não vamos colocar a carroça na frente dos bois, porém é bem possível que, mais adiante, seja preciso fazer escolhas.

De minha parte, vou cobrar a promessa de priorizar a Patroa.

Voltaremos ao tema oportunamente.

Uma ótima semana pra gente.

Bom dia e SRN a tod@s.


* Texto escrito antes da partida entre Boavista x Flamengo, pela 1ª Rodada do Campeonato Carioca/2025. Sintam-se a vontade para comentar sobre o jogo.

domingo, 12 de janeiro de 2025

Flamengo x Boavista

   

Campeonato Carioca/2025 - Taça Guanabara - 1ª Rodada

Domingo, 12 de Janeiro de 2024, as 16:00h (USA/ET 14:00h), no Estádio Estadual Lourival Baptista ou "Batistão", em Aracaju/SE.

FLAMENGO: DyogAlvesDanieSalesPabloCleiton e Zé WellintonRayaLucaFabiano; LorranThiaguinho, Guilherme e CarlinhosTécnico: Cléber doSantos.

Boavista: André Luiz; Vitor Ricardo, Gabriel Caran, Xandão e Mascarenhas; Marthã, Caetano e Zé Mateus; Matheus Alessandro, Raí e Zé Vitor. Técnico: Caio Zanardi.

Arbitragem:  Pierry Dias dos Santos, auxiliado pelos Assistentes 1 e 2 Juan Motta Cidri e Júlio César Souza Gaudêncio. Quarto Árbitro: Thiago Júnio Martins Ferreira. Analista de Vídeo: Jorge Fernando Rebello. Árbitro de Vídeo (VAR): Rodrigo Carvalhaes de Miranda.  Assistentes VAR 1 e 2: Silbert Faria Siquim e Rafael Martins de Sá. Observador de VAR:  José Carlos Santiago de Andrade. Quality Manager: Marcelo Silva Nascimento. 

Transmissão: Bandsports (TV por assinatura)Premiere (sistema pay-per-view) e GOAT (YouTube).

sábado, 11 de janeiro de 2025

Tá Começando...

 

Salve, Buteco! O Mais Querido do Brasil (e do Mundo) começa 2025 com um elenco de jovens jogadores, os quais disputarão as primeiras rodadas do Campeonato Carioca, enquanto o elenco principal, ainda sem Cebolinha, Matías Viña e Pedro, iniciará a pré-temporada nos Estados Unidos, para atender a compromissos assumidos pela gestão anterior, que não se preocupou muito com a sucessão e nem tampouco com o longo deslocamento em uma temporada que será bastante longa, com previsão de término em 21 de dezembro.

A propósito, a CBF divulgou o Calendário do Futebol Brasileiro para a Temporada 2025, o qual, no que interessa ao Mais Querido, será preenchido da seguinte forma (estimativa):

    • Campeonatos Estaduais: 12/01 a 26/03 (16 datas)
    • Supercopa do Brasil: 02/02 (1 data)
    • Copa do Brasil: 19/02 a 09/11 (entre 6 e 10 datas - 3ª prioridade)
    • Série A: 29/03 a 21/12 (38 datas)
    • Conmebol Libertadores: 05/02 a 29/11 (13 datas - fase de grupos até a final)
    • Mundial de Clubes da FIFA: 15/06 a 13/07 (entre 4 e 7 datas)

O elenco, que recentemente perdeu Gabigol e David Luiz, os quais tiveram seus contratos encerrados sem renovação, e Fabrício Bruno, negociado com o Cruzeiro, poderá ser reforçado nas seguintes janelas de registros:

  • 1ª janela: 3 de janeiro de 2025 a 28 de fevereiro de 2025
  • Janela para o Mundial de Clubes: 2 de junho de 2025 a 10 de junho de 2025
  • 2ª janela: 10 de julho de 2025 a 2 de setembro de 2025

Parece que o Juninho do Qarabag do Azerbaijão está prestes a ser anunciado, a imprensa anda falando em um camisa 5 "consagrado e experiente" e eu escutei falar que tem zagueiro engatilhado para o lugar do Fabrício Bruno.

O que vocês fariam a mais?

A temporada/2025 do Clube de Regatas do Flamengo finalmente está começando. Amanhã já tem jogo do catado dos meninos contra o Boavista, as 16:00h, no Estádio Estadual Lourival Barista ou Batistão, em Aracaju/SE.

A palavra está com vocês.

Bom FDS e SRN a tod@s.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Falta de Assunto

 

Salve, Buteco! Segue o frenesi tresloucado de especulações nesse início de 2025, o qual também marca o início de triênio de uma nova gestão no Clube de Regatas do Flamengo. Torcedores que reclamavam de falta de scouting no Departamento de Futebol agora escalam as paredes como lagartixas profissionais (by Nelson Rodrigues) porque o clube negocia com jogadores de mercados alternativos. Pura diversão.

Há também a comoção por conta de demissões, até mesmo de profissionais da comunicação social e do Departamento Médico (!), aquele mesmo que era tão criticado. Tem gente que não se emocionou tanto nem mesmo com a saída do Gabigol, o Herói de Lima e artilheiro do Século XXI do Mais Querido (até aqui).

A verdade é que há muito receio em relação às mudanças. Não me surpreende e é até compreensível, diante da profunda reformulação de paradigmas. Só que falta assunto. Urge que a temporada do futebol recomece até para podermos avaliar na prática se as novas diretrizes produzirão bons efeitos logo de imediato.

Hoje pelo menos teremos uma entrevista coletiva de José Boto, as 14:30h, no Ninho do Urubu, a ser transmitida pela FlaTV. Devemos ter algo para debater no período da tarde, até porque, após a entrevista, está marcada a apresentação do elenco principal.

E já que estamos falando em planejamento, vocês estão ligados que esse ano o futebol brasileiro terá três "janelas" de registro? Segundo o GE, elas estarão abertas nos seguintes períodos:

  • 1ª janela3 de janeiro de 2025 a 28 de fevereiro de 2025
  • Janela para o Mundial de Clubes: 2 de junho de 2025 a 10 de junho de 2025
  • 2ª janela: 10 de julho de 2025 a 2 de setembro de 2025

Um tema interessante a ser explorado na entrevista é como o Flamengo pretende trabalhar com negociações (vendas e aquisições) entre as três janelas. Por exemplo, o que é mais urgente até 28 de fevereiro e o que pode esperar para o Super Mundial e a segunda janela.

Os Amigos têm alguma sugestão?

***

Questionamentos são necessários, até porque esse é o papel da imprensa e longe de mim sugerir o contrário. Sou dos que entende que o Flamengo é gigante e o maior de todos justamente porque está sempre sob pressão. O clube foi forjado a ferro e fogo ao longo de seus quase 130 anos de existência.

Todavia, estou com a ligeira impressão que a nova gestão será bem mais vigiada e cobrada (por setores da imprensa) do que aquela que imediatamente lhe antecedeu. Não consigo alcançar os motivos, mas recebo essa tendência como uma boa notícia.

Afinal de contas, causa-me desgosto profundo recordar que, quando o Departamento de Futebol foi desmontado, entre 2020/2021, com um monte de demissões questionáveis e reposições duvidosas, perdendo inclusive a herança científica da gestão que terminou em 2018, o presidente da época e seu vp de futebol foram inexplicavelmente poupados.

Não venham me dizer que não faltava assunto...

É maravilhoso perceber que isso não se repetirá nos próximos 3 anos, concordam?

Sem embargo, será interessantíssimo (e talvez até divertido), aqui do nosso cantinho, analisar as causas dessa misteriosa alteração comportamental.

***

Pela Copinha, os crias do Ninho voltarão a campo no Estádio Nogueirão, em Mogi das Cruzes/SP, para enfrentar o Zumbi/AL, que venceu o São Bernardo/SP por 2x0 na primeira rodada.

A bola rolará as 21:30h e o jogo terá a transmissão do SporTV.

***

A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.




segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Artilharia (e Lesões, Calendário, etc.)

Foto: J. Marinho/Agência O Globo
 

Salve, Buteco! Há quase um mês, logo após a eleição para presidente do Flamengo, eu publiquei o post E Começou a Transição! fazendo uma avaliação geral sobre o elenco, na qual externei uma antiga opinião, de que o grupo deve ter muitos jogadores com vocação artilheira para ser bem sucedido. Então, para começar o debate de maneira mais detalhada, seguem alguns números eloquentes: 


Artilharia

Temporada

Zico

Nunes

Cláudio Adão

Adilio

Tita

1981

45

49

-

17

13


Artilharia

Temporada 

Gabigol

Bruno Henrique

Arrascaeta 

Everton Ribeiro

Pedro

Vitinho

2019

43

35

18

6

-

     9       *Lesão 21/7 a 21/8

Desde logo uma das ideias que tinha sobre artilharia meio que se confirmou. Quem marca mais de 40 gols em uma temporada costuma decidir títulos importantes e marcar a História do Flamengo. Hernane Brocador em 2013 não me deixa mentir (mais adiante apontarei exceções).

À medida em que fui avançando, abriram-se alguns "portais". O maior dele foi o das contusões, a apartir do qual é possível compreender o porquê de ocorrerem grandes variações de desempenho no caso de algus atletas.

Outro critério, bem mais óbvio, é o do calendário, ou seja, quanto tempo cada jogador esteve de fato disponível para o clube. Em ambos os casos, adotei como critério objetivo o corte de 20 dias para registrar o afastamento.

Esmiuçando a evolução das duas gerações mais bem-sucedidas da História do Flamengo, cheguei aos seguintes números:


Artilharia

Temporada

Zico

Nunes

Cláudio Adão

Adilio

Tita

1979

81


47

12

25

1980

47

21

-

13

21

1981

45

49

-

17

13

1982   *Brasileiro final 25/4


      47      *21 no Brasileiro

       12        *5 no Brasileiro

-

        8          *3 no Brasileiro

        19        *6 no Brasileiro

1983

    20      *Saída Udinese junho/1986


-

22

-


Artilharia

Ano*

Gabigol

Bruno Henrique

Arrascaeta

 Everton Ribeiro

 Pedro

 Vitinho

2019

43

35

18

6

-

   9      *Lesão 21/7 a 21/8


2020   *Paralisação Pandemia Covid-19


   22    *Lesão 30/9 a 4/10

17

        7            *Lesão 10/10 a 9/11

9

21

3

  2021     *Paralisação Pandemia Covid-19 em 2020


     45     *Seleção – Eliminatórias Copa América 3/6 a 11/7


23

      13        *Lesão 9/10 a 19/11

4

20

14

2022

31

          3            *Lesão 15/6/2022 a 16/4/2023


13

7

29

-

2023

21

       7        *Lesão 15/6/2022 a 16/4/2023

       11        *Lesão 20/3 a 3/5           *Lesão 27/8 a 22/9


3

35

-

2024

7

    9        *Lesão 10/5 a 1/6         *Lesão 6/7 a 2/8

        10         *Lesão 19/8 a 12/9         *Lesão desde 11/11

-

      32       *Lesão desde 4/9/2024

-


Artilharia 2020/2021 – Por Temporada

Temporada

Gabigol

Bruno Henrique

Arrascaeta

 Everton Ribeiro

Pedro

Vitinho

2020     *Paralisação Pandemia Covid-19


   29    *Lesão 30/9 a 4/10

20

       11        *Lesão 10/10 a 9/11

10

19

3

2021       *Paralisação 2020 Pandemia Covid-19

      38          *Seleção Eliminatórias Copa América 3/6 a 11/7

20

         9          *Lesão 9/10 a 19/11

3

21

14


Artilharia – Outros (2021/2024)

Ano*

Gérson

 Ayrton Lucas

Léo       Pereira

 Michael

Luiz   Araújo


Cebolinha

2021    *Paralisação Pandemia Covid-19 em 2020


-

-

0

19

-

-

2022

-

2

2

-

-

3

2023

6

7

4

-

3

6

2024

  7     *Doença 15/2 a 14/4

   5     *Lesão 29/5 a 20/6

4

   4       *Lesão 28/8 a 2/10

   7     *Lesão 15/9 a 4/12

       6          *Lesão 20/4 a 10/5                *Lesão 21/6 a 29/7             *Lesão desde 11/8


***

A partir desses números, fiz algumas constatações. A primeira delas é o patamar de Arthur Antunes Coimbra, o nosso eterno Zico. Um jogador capaz de marcar mais do que 40 gols por temporada por mais de 5 (cinco) é, desde então e até hoje, por definição (segundo meus critérios), um jogador top em nível mundial. Lembrem-se de que, naquela época, jogar fora do Brasil era exceção e a imprensa europeia reconhecia o Galinho de Quintino como o melhor do mundo:


Outro ponto que merece destaque: o que foi o 1979 do Galinho de Quintino, hein? Teria sido o auge dele como jogador?

Cartas para a redação.

***

1979, uma das minhas temporadas favoritas do Flamengo, forma, ao lado de 2021, os dois exemplos mais latentes de exceções à minha "regra dos + de 40 gols". 

1979 morreu nos 1x4 para o Palmeiras de Telê Santana, no Maracanã. Num dia em que Andrade não pôde jogar, o saudoso Mestre Cláudio Coutinho recuou Carpegiani para a posição de primeiro volante e o que poderia ter sido uma temporada ainda mais histórica para o Mais Querido ficou no plano da realidade alternativa.

Já o 2021 do Flamengo foi simplesmente surreal, a começar pelo maior goleador do time. O Predestinado marcou 45 gols tendo ficado afastado do time por cerca de um mês e meio por conta de convocações (um dos fatores que derrubou Rogério Ceni). Coisa de louco. Desempenho prime, simplesmente avassalador.

Em contrapartida, 2021 também foi, ao meu ver, o último ano de auge de desempenho do nosso marcante ex-centrovante. Em 2022 já houve uma queda sensível, mas 2023 e 2024 marcaram uma completa transformação no atleta - infelizmente para pior.

O mesmo se aplica a Bruno Henrique, que sofreu uma gravíssima lesão em junho/2022, mas já não vinha bem na temporada (apenas 3 gols). Desde 2022 não é mais o mesmo jogador.

2021 foi, ainda, o ano dos "artilheiros coadjuvantes". Os números de Pedro não surpreenderão ninguém, mas os de Michael e Vitinho mostram a importância de ter jogadores com essa vocação no elenco. No caso do nosso Chucky, o Brinquedo Assassino, fica a esperança e a torcida para que repita o desempenho em 2025.

2021 não foi mais vencedor por culpa principalmente do extracampo. O desmanche do Departamento de Futebol, em nível de excelência de pessoal, cobrou a sua fatura. Alguém por acaso não se lembra do preparador físico "crossfiteiro", parça de alguns jogadores?

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Se 2021 já havia sido um desastre, 2024 passou a ser o ano de case study para o Flamengo no quesito lesões e calendário. Com a ressalva de que as informações sobre lesões de atletas na Internet são difusas e, portanto, podem conter imprecisões (posso não ter contado todos os afatamentos, p. ex.), é fácil constatar o absoluto e completo desastre que foi o trabalho da comissão técnica de Adenor Leonardo Bacchi, o Tite, especialmente do próprio treinador e de seu preparador físico, Fábio Mahseredjian.

Com as exceções de Léo Pereira, Gérson e Gabigol, todos os jogadores que marcaram 4 ou mais gols na temporada ficaram afastados por mais de 20 dias por lesões. O caso de Gérson foi uma doença não relacionada com a atuação dentro das 4 linhas, enquanto o problema de Gabigol foi disciplinar (suspensão por doping).

O caso de Everton Cebolinha é o mais gritante. O atleta, que chegou ao Flamengo em julho/2022, não tinha histórico de lesões no clube, e nem de muitas lesões relevantes na carreira (apenas uma no Benfica), e simplesmente ficou afastado por mais de 20 dias por três vezes em 2024. A última delas, a mais séria, acabou por afastá-lo definitivamente da temporada.

Luiz Araújo e Michael são outros dois exemplos de jogadores se histórico de lesões graves e que sofreram graves contusões em 2024, o fatídico das lesões que não queremos mais viver.

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Tenho para mim, com base neste mesmo levantamento (os números são claros), que Gabigol foi desfalque do Flamengo nas últimas duas temporadas (2023/2024). A diferença é que, em 2025, haverá reposição, a qual, sem a menor sombra de dúvida, será a contratação importante da temporada.

José Boto afirmou que há dinheiro suficiente para reforçar o time, mas ao mesmo tempo soltou um "não podemos errar". E não podem mesmo. A gente conhece a torcida. Tolerância zero com fracasso. Há aspectos positivos e negativos nessa postura. O que importa é que as coisas são como são e a torcida do Flamengo é desse jeito. Não mudará.

2025 será o ano das transformações de gestão, mas para alguns, como Arrascaeta e Bruno Henrique, talvez venha a ser a derradeira oportunidade para mostrarem que podem se livrar das lesões e voltar a performar em alto nível com regularidade.

Que tudo comece bem com o título da Supercopa do Brasil, contra o Botafogo.

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A palavra está com vocês.

Uma ótima semana pra gente.

Bom dia e SRN a tod@s.