sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Alfarrábios do Melo

E dá a lógica.

Confirmando todos os prognósticos, o título da Taça Guanabara de 1984 será decidido entre o Flamengo de Zagalo, que mesmo sem Zico e Júnior ainda ostenta um dos melhores planteis do país (Fillol, Leandro, Mozer, Andrade, Adílio, Tita, Nunes e outros, como os jovens Bebeto e Jorginho) e o Fluminense de Assis, Washington, Romerito, Branco e um conjunto muito forte, que vem da recente conquista do Brasileiro. É bem verdade que o tricolor, ao tropeçar contra Vasco (0-0) e Volta Redonda (1-1), permite a aproximação de um rubro-negro embalado por cinco vitórias seguidas e aparentemente em melhor momento. Mas também é certo que, com ambos empatados com 17 pontos e sem qualquer vantagem (o empate força um jogo extra), será uma final em que qualquer detalhe poderá ser decisivo. Será necessário muito foco, muita concentração.

Mas esse título começa a ser definido na segunda-feira.

No dia seguinte ao empate no Raulino de Oliveira, o Fluminense aproveita a folga do elenco para cumprir uma programação um tanto inusitada. Forma-se uma comitiva com Presidente, Diretores, membros da Comissão Técnica, o treinador Luiz Henrique e os jogadores Washington, Branco, Aldo, Jandir, Tato, Paulo Victor e Duílio, que vai a Brasília visitar o Presidente da República João Figueiredo, notório tricolor, com o intuito de entregar-lhe uma faixa do título brasileiro recentemente conquistado. Mesmo sendo de pertinência questionável numa semana de decisão de título, é o tipo de evento que potencialmente seria pouco mais que protocolar, provavelmente esquecido em poucas horas.

Mas o verdadeiro objetivo da viagem não é apenas cumprir uma formalidade.

Após se despedir de Figueiredo, o grupo se dirige a um hotel de alto padrão, onde funciona o comitê de campanha do candidato à Presidência da República Paulo Maluf, ex-governador de São Paulo, e apoiado pelo Governo Federal, visando às eleições que ocorrerão no início do ano seguinte. A ideia é “dar um abraço” no candidato e manifestar publicamente o apoio pessoal de membros do clube, incluindo jogadores, que entendem ser Maluf o “melhor candidato para apoio ao esporte”.

Ocorre que Maluf, o candidato governista, galvaniza índices de impopularidade e rejeição popular com poucos precedentes na história política do país. A crise econômica, o desgaste de um regime que já dura vinte anos, a derrota da emenda das Diretas Já, entre outros fatores, produzem uma espécie de “tempestade perfeita” para Maluf, que não consegue fazer sua candidatura lograr receptividade entre os ditos “formadores de opinião”. Como resultado, cria-se o termo “malufar”, que se refere ao ato de apoiar sua candidatura, mas com conotação fortemente negativa.

Paulo Victor, Duílio e Tato percebem a armadilha e se recusam a entrar no hotel. Mas o restante da delegação conversa animadamente, posa para fotos e entrega uma camisa do clube a um sorridente Maluf, que arrisca prever uma vitória tricolor por 2-1 no clássico, num clima extremamente cordial e descontraído.

A repercussão é desastrosa.

No dia seguinte ao convescote, a normalmente pacata sala da telefonista das Laranjeiras vira um inferno. O aparelho não para de estrilar impropérios, xingamentos, ofensas e diatribes contra a “malufada” tricolor. O elenco passa o dia dando explicações, tentando contornar o incandescente clima criado com a visita a um candidato que não desfruta da preferência da torcida e nem mesmo de boa parte do plantel. Com efeito, jogadores como Assis e, principalmente, Delei, demonstram incômodo com a iniciativa: “penso ser um erro o clube adotar uma posição unilateral que não corresponde ao posicionamento de quem aqui trabalha, como eu e vários colegas, que simpatizamos mais com o outro candidato, só para dar um exemplo”, frisa o camisa 8.

Aos poucos, vai se formando um racha.

O Presidente tricolor, ciente do estrago, tenta acalmar as coisas, solta uma nota oficial, e, brigando com a realidade, pontua que a iniciativa não é institucional, que reflete apenas posições pessoais, e sai responsabilizando a imprensa, por anabolizar a repercussão da coisa, e mesmo o Flamengo, que teria “fabricado” de forma conveniente um “escândalo”, sem explicar como o rubro-negro poderia ter “arquitetado” um encontro entre a dirigentes/atletas tricolores e o Governo Federal.

Para complicar, pipoca uma insatisfação no vestiário do Fluminense, com jogadores incomodados com a Diretoria do Futebol, que, numa tentativa de mudar o foco da discussão, divulgou o valor da premiação a ser paga em caso de conquista do título. Mas isso irrita os atletas, normalmente consultados antes da definição dos valores. E, coincidentemente ou não, os líderes do levante são justamente os mais indignados com a visita a Maluf.

Jogadores como Romerito e Assis, e o treinador Luiz Henrique tentam enfaticamente mudar o foco para o Fla-Flu de domingo. Mas as Laranjeiras já estão irremediavelmente em frangalhos.

Enquanto o Fluminense ferve em suas questões políticas, o Flamengo se prepara. Zagalo, enfim, consegue formar um conjunto sólido, competitivo e praticando o tradicional futebol vistoso tão caro à Gávea. O que não impede que o rubro-negro exiba a melhor defesa da competição, com 5 gols sofridos em 10 jogos. O definitivo deslocamento de Leandro para a zaga (onde faz uma exuberante dupla com Mozer), a ida de Adílio para a ponta-esquerda, possibilitando a montagem de um meio-campo mais vigoroso (onde Andrade e o jovem Helder “trancam a chave” da intermediária) e a efetivação de Nunes no comando do ataque, acabando com a angustiante indefinição do antecessor Claudio Garcia, incapaz de se decidir entre o “João Danado” e Edmar, fazem o Flamengo crescer de produção. A ordem é esquecer o recente trauma da eliminação da Libertadores e partir com fome para o Estadual. Começando pela Taça Guanabara.

A preparação para o Fla-Flu atinge tal nível de sofisticação que, desde as rodadas iniciais, são produzidos slides com fotos, de jornais ou tiradas em estádio por olheiros, contendo o posicionamento dos jogadores do Fluminense em diferentes situações de jogo. O clube adquire um equipamento especial importado, que é capaz de ampliar as imagens, como naqueles filmes de investigação policial, restringindo-as à área específica a ser estudada. O Flamengo sabe que o título será decidido contra o tricolor. E quer o tricolor.

Sobre o imbróglio do adversário com Maluf, a Diretoria proíbe que os jogadores flamengos se manifestem. Também se evita colocar o Flamengo no centro da polêmica, mas o Presidente rubro-negro não resiste à tentação de fustigar o rival, comunicando que sua intenção é, “no momento oportuno”, fazer chegar ao candidato Tancredo Neves, ex-governador de Minas Gerais, favorito e preferido pela opinião pública, uma camisa do Flamengo assinada por quem assim o desejar. Tancredo agradece, fala em uma vitória rubro-negra por 3-1 e, pelo lado da Gávea, não se menciona mais o assunto.

Aos poucos, enfim o tema Maluf parece estar ao menos administrado no Fluminense. Excetuando-se alguns incidentes como os muros das Laranjeiras pichados com palavras de ordem contra o candidato, ou um e outro impropério dirigido por transeuntes ao ônibus que transporta os jogadores, a coisa parece enfim esfriar. Membros da comissão técnica falam em “exercício pleno da democracia” e os jogadores parecem finalmente começar a responder questões sobre o jogão de dali a poucos dias.

Por pouco tempo.

O goleiro Paulo Victor, que num primeiro momento havia se recusado a fazer parte da visita a Maluf, muda de ideia e pede para ser liberado da concentração na antevéspera do Fla-Flu, alegando “problemas pessoais”. Mas vai a um estúdio de TV onde Maluf está participando de um programa de entrevistas e faz questão de manifestar apoio ao candidato, tirando fotos e mais fotos, e emenda, sem temor de parecer incoerente: "não podemos misturar política com futebol". O movimento, que soterra definitivamente qualquer tentativa de apregoar "neutralidade institucional", enfurece a Diretoria e boa parte do elenco.

Esfacelado pelos problemas internos, o Fluminense tenta produzir um derradeiro factoide. E conta com um reforço de peso. O tricolor João Havelange, Presidente da FIFA, lança a ideia de colocar Zagalo de novo como treinador da seleção. Esperto e manhoso, Zagalo não morde a isca. “Claro que quero voltar, mas para isso preciso ganhar títulos. Começando por domingo. Então, estou concentrado apenas nisso agora. Por falar nisso, peço desculpas mas não tenho mais nada a falar. Vou para casa ver um vídeotape do Fluminense.”

Zagalo não está sendo retórico. Na semana do clássico, o Velho Lobo deixa a tradicional irreverência e loquacidade de lado e adota tom soturno, introspectivo, com a imprensa. Nos treinamentos, demonstra especial atenção a detalhes aparentemente insignificantes. Treina exaustivamente o sistema defensivo contra a famosa bola aérea, arma adversária que tem se mostrado letal há dois anos. Um frequentador assíduo da Gávea confessa estar impressionado com o nível de mobilização do Flamengo para essa final: “nunca vi o pessoal tão concentrado”.

O Fluminense luta contra seus fantasmas. E o Flamengo lutará contra o Fluminense.

* * *

Pouco mais de 19 horas. O placar do Maracanã exibe letras cintilantes, luminosas, que ofuscam, especialmente diante da noite que cai escura, densa. Está lá, Flamengo 1, Fluminense 0. Ao lado, num diagrama tão vistoso quanto o permitido pelas limitações do equipamento, a expressão “Flamengo Campeão Taça GB”. Sim, o Flamengo é o campeão da Taça Guanabara de 1984.

E, ao longo das duas horas que antecedem a exibição da homenagem, o Flamengo realiza aquela que provavelmente é sua melhor atuação sob o comando de Zagalo. Demonstrando uma aplicação tática e uma fome que impressionam os 100 mil que pagaram ingresso, os comandados do Velho Lobo formam uma verdadeira parede que bloqueia todas as ações tricolores no meio-campo. Os notórios contragolpes do Fluminense simplesmente não existem, bloqueados por um cerco quase militar imposto pelos da Gávea. Ao contrário, é o tricolor que sofre com as estocadas fulminantes de um time que, bem ao gosto das tradições flamengas, mescla a categoria e a classe de jogadores consagrados com o fogo e a intensidade de jovens talentos. A rigor, o placar de 1-0 soa tímido, esquálido, famélico até, diante da superioridade de um Flamengo que estampou por duas vezes o travessão do arqueiro tricolor e o transformou na melhor figura da equipe que acaba de ser derrotada.

O gol que dá o título ao rubro-negro é uma espécie de resumo ilustrativo da diferença de postura entre as duas equipes. Adílio e Aldo disputam bola no lado esquerdo do ataque flamengo. Trombam. Adílio leva a pior e vai ao chão, mas José Roberto Wright manda seguir o lance. A sobra fica com o zagueiro Duílio, que se confunde e, alegando ter ouvido um apito, apanha a bola com as mãos. Agora sim, a infração é marcada. Mão. Na cobrança do “minicórner”, Adílio fulmina de cabeça para as redes de Paulo Victor. Ironicamente, o clássico é decidido num lance de bola parada. Mas a favor do Flamengo.

Enfim aliviado, Zagalo dá vazão ao seu temperamento emotivo e chora. Chora com a festa sensacional da gente flamenga no estádio, chora com o choro de Bebeto, chora com a comemoração esfuziante de vários jogadores que já ganharam tudo e estão ali, pulando como crianças. Mas, mesmo com o rosto encharcado em lágrimas, o Lobo se permite, ao relancear o lado direito das arquibancadas já praticamente vazio, lembrar que jogo vai, jogo vem, e no fundo as coisas parece que funcionam do mesmo jeito desde que alguém resolveu chutar uma bola por aí.

Pois é aquilo. As taças sempre sorriem para quem mais as merece.


quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Fortaleza 3 x 2 Flamengo - a abóbora



O feitiço da Fada Madrinha Dorival acabou. Flamengo virou abóbora. Dê a um técnico brasileiro tempo de treino e veja seu time desandar. Foi o que ocorreu. O meio da área do Flamengo não tem mais marcação. Adversários chegam com facilidade na área, e não há mais qualquer arremedo de marcação de linha de fundo. Nisso, até o Santos sucumbiu. Espalmando bola para o centro da área congestionado de jogadores do Fortaleza com os do Flamengo dormindo.

Claro que esta direção do Flamengo abandonou o Brasileiro. Isto foi evidente até pelas falas do Dorival. Querem disputar a Copa. Mas tirando a competitividade do time como ganharão qualquer decisão? Um time que não marca mais, que não pressiona, entra com pé murcho em dividida, deixa o adversário chegar com vários jogadores dentro de sua área completamente sozinhos, como este time pretende ser campeão de alguma coisa?

A partida do João Gomes foi vexatória. Como disseram no twitter, ele jogava melhor "quando recebia 2 salgados e um guaravita". Extremamente mole, flanava pelo campo como uma deusa sertaneja. Leo Pereira voltou aos tempos do Paulo Sousa, e Rodinei, bem acima do peso, mostrou que aproveitou a "pausa" para provavelmente mandar ver em churrascarias e rodízios de massa. Acabou a disciplina no Flamengo?

Como partida vimos um Forteleza muito bem dirigido pelo técnico Vojvoda. Compacto, veloz, insinuante, boa marcação, ainda que limitado por um plantel técnico bem inferior. Flamengo sem vários titulares jogava de forma claudicante. Embora do meio para trás era o time considerado titular. E este foi extremamente falho em todo o jogo. Claro que a arbitragem prejudicou. Fortaleza foi um time muito agressivo o qual o juiz não punia. O que não fazia com o Flamengo, coincidentemente amarelando todos os jogadores que estivessem pendurados.

Gabigol tentou muito. Era o único que prestava ali na frente. Fez seu gol e depois marcou de pênalti. O que ninguém que acompanhava o jogo pelo Première pode ver, visto que na hora da cobrança de pênalti a Globo de sacanagem colocou uma propaganda do Bradesco. Ou seja, é CBF, Globo, Paulistas, todos querendo sacanear o Flamengo. Em outro partida simplesmente não transmitiram o fim de jogo. 

No segundo tempo o Fortaleza fez 2 a 2 e partiu para cima. Flamengo parecia menininho acuado pelos bullies da sala. O que fez Dorival? Colocou Diego Giras. Para girar a bola e cadenciar o jogo? Não. O infeliz entrou querendo mostrar serviço e acelerando mais ainda o jogo para entregar a bola rápido para eles. E em uma cobrança de falta desnecessariamente rápida, o estorvo entregou a bola para o Fortaleza, já todo em nosso campo, e não tiveram dificuldades para marcar o gol da vitória no fim. Merecido para eles. Flamengo ontem foi um lixo. E não só ontem. Já faz um tempinho que é um time horroroso.

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Fortaleza x Flamengo

 

Campeonato Brasileiro/2022 - Série A - 28ª Rodada

Quarta-Feira, 28
 de Setembro de 2022, as 19:00h (USA ET 18:30h), no Estádio Governador Plácido Castelo ou "Castelão", em Fortaleza/CE.


Fortaleza: Fernando Miguel; Brítez, Benevenuto, Titi e Capixaba; Sasha, Ronald e Zé Welison; Moisés Galhardo e Romero. Técnico: Juan Pablo Voyvoda.

FLAMENGOSantosRodineiDaviLuiz LéPereirFilipLuizThiago Maia, JoãGomeVictoHugoGabigolMatheusãMatheuFrança. TécnicoDorivaJúnior.


Arbitragem: Flávio Rodrigues de Souza (FIFA/SP), auxiliado pelos Assistentes 1 e 2 Neuza Inês Back (FIFA/SP) e Alex Ang Ribeiro (SP). Quarto Árbitro: Antônio Magno Lima Cordeiro (CE). Árbitro de Vídeo (VAR): Thiago Duarte Peixoto (SP). Assistente VAR (AVAR): Fabrício Porfírio de Moura (SP). Observador de VAR: Emerson Augusto de Carvalho (MG).

Transmissão: SporTV (TV por assinatura) e Premiere (sistema pay-per-view).

    

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Reta Final

Salve, Buteco! Chegamos à reta final da temporada:


Data

Adversário

Competição


Estádio



DATA FIFA


Quarta-feira 28/9, 19:00h

Fortaleza (f)

Campeonato Brasileiro – 28ª Rodada


Castelão

FDS 1º/10

Bragantino (c)

Campeonato Brasileiro – 29ª Rodada


Maracanã

MDS 5/10

Internacional (c)

Campeonato Brasileiro – 30ª Rodada


Maracanã

FDS 9/10

Cuiabá (f)

Campeonato Brasileiro – 31ª Rodada


Arena Pantanal

4ª Feira 12/10


Corinthians (f)

Copa do Brasil – Final (Ida)

Itaquerão

FDS 16/10

AtléticMineiro (c)

Campeonato Brasileiro – 32ª Rodada


Maracanã

4ª Feira 19/10

A se confirmar

Corinthians (c)

Copa do Brasil – Final (Volta)

Maracanã

FDS 23/10

América/MG (f)

Campeonato Brasileiro – 33ª Rodada


Independência

3ª/4ª Feira 25-26/10*

Santos (c)

Campeonato Brasileiro – 34ª Rodada


Maracanã

Sábado 29/10

Athlético/PR

Libertadores da América – Final – Jogo Único (n)


Monumental Isidro Romero Carbo

3ª Feira 2/11*

Corinthians (c)

Campeonato Brasileiro – 35ª Rodada


Maracanã

FDS 6/11

Coritiba (f)

Campeonato Brasileiro – 36ª Rodada


Couto Pereira

MDS 9/11

Juventude (f)

Campeonato Brasileiro – 37ª Rodada


Alfredo Jaconi

FDS 13/11

Avaí (c)

Campeonato Brasileiro – 38ª Rodada

Maracanã

* Não se pode descartar o adiamento do jogo da 34ª Rodada do (s) finalistas brasileiros para a semana seguinte à final da Libertadores, prevista como de “escape” no calendário oficial da CBF.

Amigos do Buteco, será um teste para os nervos, a começar pelo jogo da próxima quarta-feira, contra o Fortaleza, no Castelão. Adversário chato, bem armado, que já venceu o Mais Querido nesta temporada, no Maracanã.

As copas estão sendo priorizadas e o Campeonato Brasileiro já se foi. É duro reconhecer o fato. Os jogos tendem a "acionar gatilhos" porque não surpreenderá se o rendimento cair.

Só que não é hora de pilha, mas de foco nos três jogos que poderão nos dar o título nas duas copas. É hora de apoiar. O objetivo precisa estar nesses dois títulos, para que depois se cobre, oportunamente, o melhor planejamento possível para a próxima temporada, de modo que o Campeonato Brasileiro se tornar viável desde o início da campanha.

Meu feeling é de que esse grupo quer os títulos das copas, dado o que se passou por esses mesmas competições no segundo semestre de 2021, bem como, na sequência, na Supercopa do Brasil e no Estadual de 2022.

Dorival foi ultraconservador em alguns momentos, mas planejou o time chegar neste momento inteiro, pronto para as decisões. Vamos lhe dar um voto de confiança.

Em seus melhores momentos nessa temporada, este elenco, especialmente o "time das copas", foi decisivo e jogou um futebol que não encontra competidores no Brasil e na América do Sul.

Essa é a esperança que nos move para as duas finais. 

Falta pouco e será preciso ter paciência para chegar a elas nas melhores condições possíveis.

A palavra está com vocês.

Boa semana e SRN a tod@s.


sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Alfarrábios do Melo

Nada parece indicar qualquer atrativo invulgar no encontro entre Flamengo e Madureira, marcado para a tarde de 19 de setembro de 1970, no acanhado estádio da AA Portuguesa, na Ilha do Governador, pela última rodada do Turno Final do Campeonato Carioca.

Com efeito, a competição já está decidida desde a rodada anterior, quando o Vasco, ao derrotar o Botafogo por 2-1, rompeu um jejum de 12 anos e voltou a ganhar o título máximo da cidade. O cenário esportivo do Rio de Janeiro repercute e reverbera o “jogo das faixas”, que será realizado no domingo, entre o cruzmaltino e o Fluminense.

O Flamengo até inicia bem a temporada. No embalo da contratação do rigoroso treinador Yustrich, conquista de forma inapelável o Torneio Internacional de Verão, ao derrotar a Seleção da Romênia (4-1), o Independiente-ARG (6-1) e o Vasco (2-0), e, após extenuantes três meses, ganha a Taça Guanabara, cacifando-se como favorito ao título do Carioca.

Mas o rubro-negro não resiste às limitações técnicas do plantel e ao acentuado desgaste que sempre acompanha os trabalhos de Yustrich, tanto no aspecto físico (o treinador, que acumula a função de fisicultor – “o organograma sou eu”, diz - exige o máximo de intensidade em treinos e jogos, o que estoura os jogadores) como no emocional (de temperamento difícil, o “Homão” acumula discussões e rusgas com atletas, jornalistas e mesmo torcedores), e naufraga na competição. Não vence nenhum clássico e termina o Carioca de forma melancólica, disputando a quinta colocação com o emergente Olaria.

Para complicar, na semana seguinte terá início a Taça de Prata, competição que contará com as principais equipes do país. A necessidade de reforços é evidente, mas o Flamengo, até aqui, somente consegue confirmar as chegadas dos desconhecidos Milton e Celso, procedentes do modesto Valeriodoce-MG, ambos indicados por Yustrich. O controverso treinador, aliás, já começa a ser questionado pela imprensa e por parte da Diretoria, que entende que talvez seu prazo de validade já tenha vencido. Mas o Presidente resolve prestigiar o Homão, acreditando que o time, se repetir as atuações do início do ano, possui, sim, chances de ser protagonista e até de vencer a competição nacional.

Mas antes há um jogo obscuro na Ilha para fechar o Carioca.

Com vários jogadores no Departamento Médico ou risco iminente de lesão (Dionísio, Arílson, Liminha, Paulo Henrique e Murilo), Yustrich escala um time misto para enfrentar o Madureira, sétimo e penúltimo colocado do Turno Final. Dá mais uma chance a Doval, com quem não tem boa relação e, sempre sem freios na língua, avisa que escalará Adãozinho no lugar de Liminha “porque não tenho outro para colocar” (no fim, desiste e acaba improvisando Rodrigues Neto no meio). Também resolve trocar o goleiro. No lugar do titular Sidnei, entra Ubirajara Alcântara, e, sempre ríspido, justifica a opção: “preciso ver se esse rapaz tem condições de permanecer no plantel”.

Avisado pelo médico, que receia novas lesões, especialmente tendo em vista a estreia na Taça de Prata dali a uma semana, Yustrich não comanda o tradicional coletivo apronto da véspera dos jogos (normalmente disputado como se fosse à vera), trocando a atividade por uma preleção que vira uma palestra de duas horas, uma arenga onde enaltece o “espírito de luta e a dedicação” mostradas pelos jogadores ao longo da temporada, entre outras pregações.

A tarde é ensolarada, mas a temperatura agradável. Mesmo assim, pouco mais de mil testemunhas se dispõem a acompanhar o desanimado cotejo, em que o Flamengo joga para não perder a quinta colocação, o que seria humilhante, e o Madureira tenta repetir a façanha de poucos dias antes, quando derrotou o Botafogo, comprometendo seriamente o alvinegro em sua briga pelo título.

E, para surpresa de ninguém, o jogo começa duro. De ver. De doer os olhos. Uma pelada daquelas rutilantes, rurais, refinadas de tão toscas. O Flamengo não consegue trocar três passes certos, sofre com a marcação alvoroçada do adversário, apela para chutões, ligação direta, bicudas a esmo, invariavelmente em vão. Apenas o talentoso volante Zanata mostra alguma lucidez mas, sozinho, não consegue organizar o time. O Madureira, por sua vez, aceita sua inferioridade e se entrincheira distribuindo transpiração e porrada, guerreando pelo honroso empate.

A coisa segue maltratando os presentes até perto do final da primeira etapa, quando Rodrigues Neto, num raro espasmo individual, consegue arrancar pela esquerda, entra na área com a bola e, quando vai finalizar, é derrubado pelo zagueiro Leleu. Pênalti, que Zanata converte com categoria, deslocando o goleiro. 39 minutos, Flamengo 1-0.

O segundo tempo não oferece espetáculo muito melhor. O Madureira até tenta sair um pouco, mas esbarra na ótima atuação da linha defensiva rubro-negra, comandada por Reyes. O Flamengo, por sua vez, segue apresentando um jogo que mescla uma notável falta de recursos técnicos com o desânimo típico e inerente a uma partida desse quilate, apatia anabolizada pela vantagem no placar. De quando em vez, uma bola isolada, um cruzamento errado ou uma falta mais dura quebram a monotonia. A rigor, os espectadores, os jornalistas, a arbitragem e até os jogadores parecem mesmo ansiar para que esse estorvo acabe logo e a esperada folga do fim de semana enfim se abra a todos.

É quando o futebol mostra ser capaz de produzir os momentos mais notáveis justo quando menos se espera.

26 minutos. Onça recua a Ubirajara, que apanha a bola, vê a movimentação do ponta-direita Nei e manda um chutão em direção ao atacante. Com o vento, a bicuda ganha força e a bola vai quicar já na entrada da área adversária. Nei tenta, mas não consegue dominar, mas o movimento funciona como um “corta-luz” que engana o goleiro Paulo Roberto e o encobre. Resta ao guarda-redes suburbano observar, atônito, a pelota morrer no fundo das redes.

O goleiro Ubirajara acaba de marcar o segundo gol do Flamengo.

Aparvalhado, o arqueiro demora para entender o que aconteceu, somente recobrando a consciência quando é soterrado por uma pilha de corpos exultantes e extasiados pelo feito. Irrequieto, irreverente e com tintas de galã, Ubirajara, goleiro formado pelo clube ainda sem muitas chances de sequência como titular, enfim vive uma experiência de protagonista, ainda que por um motivo inusitado.

Como se a função da bocejante pelada no campo da Lusa seja apenas parir esse momento histórico, nada mais acontece depois do gol de Ubirajara, e o Flamengo vence mesmo por 2-0, confirmando o frustrante quinto lugar na tabela. Após o jogo e na reapresentação do time, hordas de jornalistas procuram o goleiro querendo detalhes do feito, mas são categoricamente barrados por Yustrich, que o proíbe de dar entrevistas: “não quero celebridade aqui”. Desapontados e talvez interpretando a coisa como “máscara” de Ubirajara, os jornais acabam dando ao lance a alcunha que acabará celebrizada com o passar dos anos. Uma pecha que, subliminarmente, confere ao goleiro um papel secundário na construção do tento.

O Gol dos Ventos Uivantes.

* * *

O gol histórico é considerado o primeiro marcado por um goleiro no Brasil. E garante a manutenção de Ubirajara no elenco do Flamengo. Mais do que isso, o goleiro enfim consegue ganhar a posição, e segue como titular até o ano seguinte. No início de 1972, com a reformulação no plantel, perde espaço e sai. Ainda atua por América e Botafogo antes de encerrar a carreira no Itabaiana-SE, em 1982.


quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Estados Profundos

Um estado profundo é um tipo de governança composta de redes de poder potencialmente secretas e não autorizadas operando independentemente da liderança política de um estado em busca de sua própria agenda e objetivos. No uso popular, o termo carrega conotações extremamente negativas.
~Wikipedia



Este texto é um exercício retórico e nada conclusivo. É uma forma de perceber os diversos movimentos que podem estar envolvidos na parte não visível do iceberg de um clube de futebol imaginário, que consiste em sua diretoria, associados, torcida, staff, time de futebol, etc. 

E os mais curioso é que cada uma destas entidades também têm suas "redes de poder" internas. De forma que podemos ver uma grande pirâmide como um conjunto de outras pirâmides e cada uma contendo as suas próprias, e por aí vai. 

Muitas vezes estas pirâmides se associam a outras pirâmides. Fora as pirâmides descartadas na luta pelo poder. O que pode significar uma grande pirâmide mais frágil se o conjunto das pirâmides deixadas de fora se tornar mais robusta que a pirâmide maior hoje no poder.

Pois bem. Um clube de futebol de apelo popular tem o Estado interessado, fornecedores diversos interessados, seja esportivo, seja de construção, manutenção, reposição, de serviços, medicinais, etc. E na sua parte organizacional, se tem associados e o subconjunto de conselheiros. Todos eles fazendo parte ou não, de grupos diversos. Um grupo que defende interesses de rede clandestina de ingressos, outro grupo que defende interesses de fornecedores diversos na sede do clube, no centro de treinamento. Outro grupo que defende interesse deles mesmos em termos de exercício de poder executivo e respectivo pagamento por esta atividade remunerada pelo clube. Outro grupo que defende os interesses de seus esportes específicos na sede do clube, tênis, piscina, basquete, futebol, etc. São as diferentes pirâmides. Que se juntam ou não. 

Apartado deste grupo temos as pirâmides relacionadas ao suposto core business do clube. O futebol profissional. Onde rola a grana. Onde rola o desespero. Onde os nervos ficam inchados. Onde a fome por poder é maior. Grupos de poder de vestiário, ligados ou não a dirigentes. Grupos de poder de empresários, ligados ou não a dirigentes, que forçam contratos ou renovações. Grupos de poder de atravessadores, facilitando repasses financeiros, ou não, a dirigentes. Grupos de poder midiáticos, que interessam a dirigentes e jogadores que buscam visibilidade para uso externo ao clube, como política. Então repasses de informações internas garantem a eles maiores visibilidades, por exemplo.

Em meio a tudo isto, dentro do time. Veteranos, base, novos entrantes, comissão técnica. Todos lutando por influência e se esta luta se torna incontrolável, transborda no time. Jogadores correndo para não chegar. Desmotivação. Um grupo não passa para outro, ou joga na fogueira. 

Na torcida, torcedores solitários em sua maioria silenciosa enfrentando grupos de torcedores profissionais, cujo maior interesse é a manutenção, faturamento e engrandecimento de seus grupos. Depois o clube de futebol. Caravanas, bonde de ingressos doados por dirigentes comparsas, bonde das camisas cedidas e revendidas. 

Nós, do lado de fora, nunca sabemos da missa a metade. Mas ficamos na torcida pelo espetáculo. Tal como os romanos na época dos gladiadores. Ninguém queria saber do que rolava debaixo da arena, com seus vestíbulos, corredores, plataformas e sim do sangue derramado em cima dela. 

terça-feira, 20 de setembro de 2022

Sobre Decidir em Casa

Treinador: Jair Pereira


Salve, Buteco! Comemorei muito o Flamengo decidir em casa o título da Copa do Brasil. Porém, antes de expor os motivos, acho melhor ressalvar que reconheço a relatividade dessa "vantagem". Tudo na vida é contexto e no futebol não é diferente. Aliás, a nossa primeira Copa do Brasil, o primeiro título do Mais Querido que pude assistir no estádio, e que, por isso mesmo, para mim é muito marcante, foi conquistado fora de casa, no Estádio Serra Dourada, em Goiânia.

Para quem acha que foi fácil, o rival na decisão, o Goiás Esporte Clube, começou o torneio, na primeira fase, eliminando o Cruzeiro com 0x0 no Mineirão e 4x0 no Serra Dourada. Na sequência, 1x0 sobre o Operário/MS no Morenão e 5x0 no Serra Dourada, pela segunda fase. Na terceira fase, bateu o Atlético/MG com 0x0 no Mineirão e 4x3 no Serra Dourada, e na semifinal, enfrentando o Criciúma, campeão da edição seguinte, sofreu sua primeira derrota na competição no Heriberto Hulse por 1x0 e devolveu o placar no Serra Dourada, passando com 3x1 nos pênaltis.

Na final, o Mais Querido sagrou-se campeão com 1x0 no Mário Heleno (Juiz de Fora/MG) e 0x0 no Serra Dourada:



Voltando ao tema do início do texto, decidir em casa é bem relativo. Todos sabemos que um time que não consegue se impor jogando como visitante pode assimilar muito bem, por exemplo, um simples empate no primeiro jogo. Também pode-se dizer que, na teoria, um bom mandante pode abrir uma vantagem irreversível para o jogo de volta.

Além disso, o jornalista Rodolfo Rodrigues (@rodolfo1975), o "Homem das Estatísticas" do Uol, após o resultado do sorteio destacou no Twitter e em coluna no site que, em 33 edições, os visitantes nos jogos de volta levaram 19 títulos, contra 14 dos mandantes. E para piorar, o Corinthians, visitante no jogo de volta, conquistou seus três títulos na competição jogando a segunda partida da final fora de casa.

Ainda assim, mesmo diante desse desafiador contexto, com esse time do Flamengo, e contra esse Corinthians, prefiro decidir como mandante. Primeiro, porque desconfio que e o "Flamengo das Copas" seja melhor visitante do que mandante. Logo, não é absurdo imaginar que vá para o segundo jogo com a vantagem, até pelo retrospecto favorável em Itaquera (eu sei, eu sei, final é diferente, tô ligado).

Segundo, porque esse Flamengo é bom mandante e se provou ao reverter o resultado contra o Atlético/MG. Acho perfeitamente possível e saudável repetir aquela mesma atmosfera, claro que sem a negatividade do clube mineiro, incompatível com o Sport Club Corinthians Paulista, muito maior do que a galinha histérica.

Terceiro, porque a torcida merece comemorar esse título no Maracanã, que poderá vir a ser o primeiro sobre um clube paulista no estádio, por uma competição nacional, desde o Campeonato Brasileiro de 1983, contra o Santos. 

A palavra está com vocês.

SRN a tod@s.



segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Freguesia Recente

 

Salve, Buteco! Semana passada escrevi sobre um tendência, senão de reversão da estatística nos confrontos entre Flamengo x São Paulo, ao menos de o Mais Querido começar a equilibrar os números.

Hoje vejo-me forçado a abordar o fenômeno inverso, que vem ocorrendo no Fla-Flu. Durante a pandemia, escrevi este post sobre o histórico por década do clássico. Eis os números atualizados.


Década
FLAMENGO
Fluminense
Retrospecto
1910
9v
7v
9x7
1920
7v
6v
16x13
1930
15v
18v
31x31
1940
16v
14v
47x45
1950
15v
17v
62x62
1960
19v
7v
81x69
1970
16v
18v
97x87
1980
12v
8v
109x95
1990
13v
15v
122x110
2000
15v
12v
137x122
2010
19v
9v
155x131
2020
6v
7v
162x140

Estatisticamente, uma vitória de vantagem para o rival, na presente década de 2000, não significa muita coisa. A questão é que, se fizermos um corte desde a vitória com Domènec Torrent no primeiro turno do Campeonato Brasileiro/2000, a partir de então foram, contando o jogo de ontem, 11 jogos, com 7 vitórias tricolores e apenas duas rubro-negras.

Nesse período, o Fluminense teve treinadores dos mais variados estilos e o Flamengo, invariavelmente, teve muito mais time.

O que está se passando, na opinião de vocês?

***

O primeiro tempo de ontem foi aceitável. Abaixo do que o time pode render, mas aceitável. Porém, o trio da frente não estava em seus melhores dias. Arrascaeta foi o mais participativo, porém tecnicamente esteve muito mal e perdeu vários gols. Já Pedro e Gabigol tiveram atuações apagadas, mesmo no melhor momento do time na partida. Aliás, foi difícil entender a função tática do Gabigol ontem. Dorival bem que poderia explicar.

Concordo com a Central do Apito e acho que não foi pênalti, assim como em todos os lances nos quais Gabigol "cavou" daquela maneira "canastrã" que a gente conhece. Uma pena que gaste tempo e energia com simulações, pois quando sua preocupação é jogar bola faz a diferença. 

O erro de Raphael Claus deu uma vantagem ao Fluminense que não foi conquistada por seus méritos em campo. Todavia, o pênalti mal marcado não absolve o Mais Querido dos seus erros.

No segundo tempo, o time voltou muito mal. Começou a perder volume e talvez Dorival tenha demorado um pouco a mexer, pois o adversário encontrava espaços para contra-atacar. Já o Flamengo se resumia a muitos chuveirinhos e cruzamentos altos em diagonal, e pouca articulação com a bola no chão. E para piorar, o time se descontrolou emocionalmente no momento em que precisava empatar, caindo, mais uma vez, na pilha do Fluminense, a quem interessava a confusão.

Será que esse time não consegue mais virar a chave e disputar o Campeonato Brasileiro à vera?

O certo é que a frustrante derrota decretou o destino do Mais Querido nesse restante de temporada. Agora é treinar para as finais das copas, como Diretoria, comissão técnica e elenco planejaram.

É bom que a estratégia funcione.

***

A palavra está com vocês.

Boa semana e SRN a tod@s.