sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

2022 - Feliz Ano Novo!

 

A Administração do Buteco do Flamengo deseja a todos vocês e familiares um 2022 pleno de saúde, felicidade e prosperidade, além de muitos títulos do Mais Querido do Brasil.

Rocco, Bcbfla e Gustavo

SRN a tod@s.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Acabou a brincadeira



Chega de amadorismo galopante. Chega! Esta gestão palpiteira do Landim conseguiu se reeleger com os votos dos piscineiros do Leblon. Agora que trate de encarar o futebol com seriedade e sem amadorismo. Chega de palpiteiros nada profissionais derem pitacos sobre um negócio bilionário. Chega de contratações  estapafúrdias de profissionais tão somente porque são "parças" e amigos pessoais de dirigentes e jogadores. Esta bagunça idiota tem que acabar. Não se pode brincar tanto. Ganharem crédito por 2019 e vivem deste crédito até hoje.

Já expirou. Já sangrou. Outros times nos passaram. Nosso elenco envelhecido não é mais tão superior aos demais. Talvez já seja inferior. Obra deste palpitismo imbecil. Não é mais hora de dirigente de futebol que é vereador, que é político, que é voluntarioso. É chegada a hora de um diretor de futebol técnico, relevante e de preferência estrangeiro. Que tenha um olhar diferenciado para nossas necessidades de futebol, tanto técnicas como de staff profissional que suportaria tudo isto.

O amador além de contratar técnicos incompetentes em série, não viu que sequer tínhamos gramado para treinar ou jogar. Ele não tem competência ou formação para isto. E sequer sabe negociar, como vimos neste episódio grotesco em que vai a Portugal atrás de técnico Plano A, não sabe esperar, fecha com um Plano D, e 24h depois o Plano A está livre no mercado, pq todos sabíamos que era questão de tempo para isto. Menos o amador. 

De vergonha em vergonha, de patético a patético, vamos vendo o Flamengo entregue a parasitas, infiltrados, amadores e festeiros. Jogadores veteranos que já quase não tem condições de participar da pelada do Zico de fim de ano têm o contrato renovado, pois para os palpiteiros, é preciso "controlar o vestiário" e ter "acesso a lideranças". Neste jogo de parasitismo que o Flamengo sempre sairá perdendo.

Enfim que 2022 traga um bom ano para o Flamengo, com títulos e vitórias, apesar delles.


quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Recebendo Mister Paulo

Salve, Buteco! Os setoristas mais confiáveis do Flamengo dão conta que o clube anunciará oficialmente a contratação do treinador Paulo Sousa nesta quarta-feira. O português, nascido município de Viseu, na província de Beira-Alta, teve uma carreira notavelmente vitoriosa como atleta. Além dos já anunciados dois títulos da Champions League por Juventus e Borussia Dortmund, foi ainda campeão nacional pela própria Juve e pelo Benfica, além de haver conquistado a Copa Intercontinental pelo Borussia e copas nacionais por esses mesmos clubes. Outra referência interessante é que Paulo Sousa conquistou o Mundial Sub-20 de 1989 jogando pela Seleção de Portugal.

Mas são suas qualidades como treinador que nos interessam, certo? Como escrevi neste post, o perfil me agrada pela versatilidade. E como já escrevi e comentei com vocês várias vezes, o problema do jogo posicional, na minha opinião, não é a sua complexa e eficiente estrutura como ferramenta tática, e sim o apego de seus adeptos a sua filosofia mesmo quando as circunstâncias apontam que não é o método mais eficiente. Pois bem, as informações até aqui colhidas mostram que Paulo Sousa não é um "fanático". Logo, tudo indica que não é um lunático como Domènec Torrent, que fazia experimentos a 2.700 msnm, mesmo com o time sendo goleado. Tomara que essa expectativa venha a se confirmar.

Como treinador, quando teve a sua disposição elencos com qualidade para conquistar títulos, foi campeão por Videoton (Hungria), Maccabi Tel-Aviv (Israel) e Basel (Suíça). No Twitter, nesses últimos dias, um torcedor corretamente apontou que não era justo criticá-lo por não conquistar títulos por Fiorentina e Bordeaux, que historicamente alcançam poucas glórias em seus respectivos países.

A passagem pela Seleção da Polônia me agrada. Quantos treinadores brasileiros em atividade já tiveram a oportunidade de disputar uma Copa do Mundo ou mesmo uma eliminatória? E disputar uma eliminatória dirigindo uma seleção europeia? Quantos deles já tiveram sob seu comando o melhor jogador do mundo (Robert Lewandovski), eleito pela FIFA? Nosso novo treinador se distingue nitidamente de seus três últimos predecessores.

No Flamengo, Paulo Sousa dirigirá o melhor elenco de sua carreira como treinador. É justa a expectativa de que conquiste títulos de grande porte já em 2022. Afinal de contas, Mister Paulo é uma unanimidade entre os analistas táticos, os experts no tema. Não vi um que questionasse a qualidade do seu trabalho. Como não se trata de um neófito no meio do futebol e nem tampouco na função de treinador, dá para ter esperanças (sem exagero).

Também conta muito o desejo de Mister Paulo de dirigir o Flamengo. Nossa paixão de torcedor muitas vezes nos cega para obviedades como a visão que os estrangeiros têm do país na atualidade, a relação de câmbio desfavorável e o choque cultural. Não é todo mundo que se seduz com a ideia de "repetir a trajetória de Jorge Jesus". Não se trata de trazer quem quer vir, mas de filtrar, de modo a descartar, candidatos que, embora com currículo, possam no futuro sair na primeira oportunidade. Treinador estrangeiro precisa ter 100% de comprometimento, até porque os desafios não são pequenos.

O mais importante, em 2022, será reduzir o amadorismo no Departamento de Futebol. Falta, por exemplo, diretor técnico e psicólogo, e talvez não seja factível ter esperança de que esse cenário mude nessa gestão. Em contrapartida, é perfeitamente possível cobrar da Diretoria que dê condições para que a ótima comissão técnica de Mister Paulo exija comprometimento do nosso mimado elenco, incluindo treinos em dois períodos e nos turnos e horários que a comissão entender mais proveitosos. Menos Braz será mais, nesse caso (entendedores entenderão).

Entre os desafios de Paulo Sousa na gestão do elenco estão devolver-lhe a ambição e a verve vencedora, além de ter coragem para cortar na carne e rejuvenescê-lo, promovendo a sua necessária reformulação. 

Seja bem vindo, Mister Paulo. Seu êxito será a nossa felicidade.

Bom dia e SRN a tod@s.


Atualização: BEM-VINDO, MISTER PAULO!!!



segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Treinadores do Flamengo - Os Melhores na História

Salve, Buteco! O assunto treinador dá mesmo pano pra manga. Refletindo a respeito do tema, comecei a pensar em uma lista histórica com os melhores treinadores do Flamengo, deixando claro que por melhores me refiro ao desempenho no clube e não em qualquer estatística que englobe outros clubes ou seleções. Por desempenho, refiro-me à quantidade de títulos conquistados, com o cuidado de observar o contexto de cada época e o respectivo peso que tinha cada competição quando conquistada. E como terceiro critério, adicionei o da identificação com o clube, pois há alguns que até têm mais de um título, mas não são nem um pouco bem quistos pela torcida.

Mesmo diante da natural dificuldade em comparar eras totalmente díspares dentro da História secular do Flamengo, logo percebi que é muito simples fazer uma lista de 6 maiores treinadores sem o menor espaço para controvérsias.

Eis os nomes, em ordem cronológica:

1) Flávio Costa: o peso de Flávio Costa na História do Mais Querido é inegável, a começar pelo número de jogos durante suas quatro passagens pelo clube: assombrosos 767 (setecentos e sessenta e sete).

Da mesma forma, os títulos que conquistou no comando técnico rubro-negro foram absolutamente impactantes. O primeiro deles, o Estadual de 1939, simplesmente tirou o Mais Querido de um jejum de 12 (doze) anos. Era o fantástico e histórico time que tinha Yustrich, Domingos da Guia, Newton Canegal, Volante, Valido e Leônidas da Silva, importantíssimo no processo de popularização do clube.

A primeira passagem de Flávio Costa pelo Flamengo ainda trouxe ao clube o tricampeonato estadual de 42-43-44. Já a quarta e derradeira deu ao clube o título estadual de 1963, no mítico Fla-Flu (0x0) que levou a multidão de 194.603 pessoas (177.020 pagantes) ao Maracanã.

2) Fleitas Solich: também conhecido como "El Brujo" ou "Feiticeiro", o paraguaio dirigiu o Mais Querido por nada menos do que 526 (quinhentos e vinte e seis) jogos, conquistando o segundo tricampeonato estadual de nossa História (53-54-55). 

O Feiticeiro também foi o treinador que abriu para o Mais Querido as portas dos títulos importantes fora do Estado do Rio de Janeiro, com as conquistas da Taça dos Campeões Estaduais Rio-São Paulo de 1955 e do Torneio Rio-São Paulo de 1961.

Curiosamente, dirigindo o Fluminense, perdeu o título estadual de 1963 para Flávio Costa.

3) Cláudio Coutinho: se a "Geração Zico" foi um divisor de águas na História do Flamengo, Cláudio Coutinho foi o seu principal treinador e, portanto, ele próprio um divisor de águas na lista de treinadores do clube, na medida em que promoveu uma "revolução" de conhecimento, com a aplicação de métodos de trabalho e conceitos táticos europeus, inclusive da Holanda de 1974, com isso tentando conjugar a vocação nata do jogador brasileiro para o talento e a intuição com a importância do jogo coletivo.

O título estadual de 1978, marcado pelo gol de Rondinelli e por ser o primeiro do terceiro tricampeonato (78-79-79), ao lado do primeiro título nacional oficial do clube (Campeonato Brasileiro de 1980), foram de peso e importância singulares na nossa História.

Sua trágica morte, em 1981, deixou um vazio e a dúvida do que poderia ter acontecido se retornasse ao clube, que comandou em 267 (duzentos e sessenta e sete) partidas.

4) Carpegiani: o "Carpa" ou "PCC" é a maior prova de que a História de um treinador em um específico clube pode ser muito maior do que a sua trajetória contando outros clubes e seleções. Recém-aposentado como atleta do Flamengo, pelo qual havia sido tricampeão estadual e campeão brasileiro em 1980, o Carpa deu sequência a sua trajetória pessoal vencedora no clube dirigindo aquela geração histórica nos primeiros títulos continental (Libertadores/1981) e intercontinental (Mundial/1981) do Mais Querido, além do simbólico Estadual de 1981, dias após o trágico falecimento de Cláudio Coutinho, que havia sido seu treinador na Seleção Brasileira e no próprio Flamengo.

Os seus dois retornos não deixaram saudade. Da mesma forma, suas boas passagens pela Seleção Paraguaia e por Al Nassr, Cerro Porteño, São Paulo e Vitória não chegaram perto de ter o peso e o brilho do seu início de carreira, no Mais Querido.

5) Carlinhos: o "violino", além de ser um dos treinadores mais vitoriosos da História do Flamengo, certamente é um dos mais queridos pela Nação Rubro-Negra. Além da trajetória vencedora como atleta do clube (Estaduais/1963 e 1965, e Rio-São Paulo/1961), sua vitoriosa carreira como treinador também tem momentos icônicos, como a entrega de sua chuteira ao jovem Arthur Antunes Coimbra na sua despedida dos gramados, em 1969.


Os títulos brasileiros de 1987 e 1992, o título da Copa Mercosul de 1999 e os primeiros dois títulos (99-00) do quarto tricampeonato estadual do clube (1999-2000-2001) foram os maiores marcos da trajetória de 318 (trezentos e dezoito) jogos do treinador mais identificado com o clube em toda a rica História rubro-negra.

6) Jorge Jesus: a avassaladora passagem do "Mister" pelo Flamengo foi, primeiramente, um marco histórico, caracterizado pelo retorno vencedor ao clube, quase quatro décadas depois, da filosofia de Cláudio Coutinho, conciliando o talento do atleta brasileiro (e sul-americano) e a cultura tática do futebol europeu.

Poucos treinadores entenderam tão bem a cultura flamenga e o amor da maior torcida do planeta pelo clube. A sinergia da Nação com o Mister, de tão intensa e autêntica, talvez não tenha precedentes, o que pode ser explicado pelo resgate da memória afetiva e dos valores ideais de um Flamengo maior e protagonista natural nos cenários brasileiro, sul-americano e mundial.

Nos 57 (cinquenta e sete) jogos como treinador do Mais Querido, o Mister quebrou recordes nas conquistas, em 2019, de um Brasileiro e uma Libertadores, e, em 2020, dos inéditos títulos da Supercopa do Brasil e da Recopa Sul-Americana, além do segundo estadual do tricampeonato atual (2019-2020-2021).

***

Esgotados os nomes incontroversos, agora peço a vocês que reflitam, primeiramente, sobre a possibilidade de haver uma lista maior, por exemplo, um "top ten". O Flamengo tem, em sua História, treinadores com passagens que justifiquem integrar uma lista ao lado desses 6 nomes?

Para fomentar os debates, vou contribuir com 3 indicações, mantendo o critério da ordem cronológica:

7) Juan Carlos Bertone: a maioria provavelmente nunca ouviu falar desse uruguaio, ex-atleta da Celeste Olímpica. Para compreender o peso da sua passagem pelo Mais Querido, preciso que vocês entrem comigo na Máquina do Tempo do Buteco para retrocedermos ao início do Século XX, precisamente à década de 20, quando o clube conquistou 4 títulos estaduais - 1920, 1921, 1925 e 1927, os dois últimos sob o comando técnico do uruguaio Juan Carlos Bertone. Naquela época, além de Botafogo, Fluminense e Vasco da Gama, o Flamengo ainda tinha como fortes competidores ao título Estadual do Rio de Janeiro o São Cristóvão (São Christóvão - campeão em 1926) e o America (campeão em 1913, 1916, 1922 e 1928). Logo, a concorrência era muito forte. 

Além disso, o peso que tinham os campeonatos estaduais até a década de 60, que marcou o início das disputas das competições oficiais nacionais (Taça Brasil e últimas edições do Torneio Roberto Gomes Pedrosa) e da Copa Libertadores da América, era muito maior. E como se não bastasse, além de Flávio Costa, Fleitas Solich e Cláudio Coutinho, até a década de 80 apenas um único treinador conseguiu conquistar mais de um título estadual no comando do Flamengo e esse treinador foi justamente Juan Carlos Bertone.

Lembram da importância do título estadual de 1939, conquistado sob o comando de Flávio Costa? Pois bem, o jejum de títulos, encerrado por aquela conquista, durou justamente a partir do último dos dois estaduais conquistados com Juan Carlos Bertone, no ano de 1927. 

Foto: Associación Uruguaya de Fútbol

Já naqueles tempos, ter um bom treinador era fundamental.

8) Zagallo: nem pensem em diminuir a História do "Velho Lobo" como treinador do Flamengo. Ainda nos tempos em que os estaduais eram as principais competições do futebol brasileiro, Zagallo comandou o Mais Querido na conquista do Estadual de 1972, o primeiro título profissional de Zico em sua carreira.

Naquele mesmo ano, apenas o segundo do Campeonato Brasileiro chamado como tal, o Velho Lobo também comandou o time na conquista do Torneio do Povo, disputado com Atlético/MG, Internacional, Corinthians e Bahia, e do Torneio Internacional do Rio de Janeiro, contra Benfica e Vasco da Gama, quando o Mais Querido venceu o rival português por 1x0 e nasceu o apelido "Fio Maravilha", que posteriormente rendeu ao atleta a homenagem de Jorge Ben Jor, que compôs a famosa música com o mesmo nome.

Encerrando os momentos icônicos do Velho Lobo como treinador do Flamengo, não podemos nos esquecer do terceiro título do quarto tricampeonato estadual (1999-2000-2001) e do eterno gol de falta marcado pelo Petkovic, aos 43 minutos do segundo tempo, assim como da Copa dos Campeões do mesmo ano, igualmente protagonizada por inesquecíveis atuações do sério, então nosso camisa 10.

9) Joel Santana: polêmico, né? Pensei duas, três vezes antes de sugerir o nome, mas resolvi incluir o "Papai Joel" por três fatores: (a) é um dos poucos na História do Flamengo a ter conquistado mais de um título Estadual, (b) pelo título da Copa Ouro Conmebol de 1996, competição na qual o Mais Querido superou o Rosário Central (Argentina) nas semifinais e o São Paulo, na final, e (c) inegavelmente foi (ou ainda é?) um dos treinadores mais queridos pela torcida do Flamengo, pela importância que teve na fuga do rebaixamento no Campeonato Brasileiro de 2005 e na histórica campanha de recuperação no Campeonato Brasileiro de 2006, no qual o Mais Querido saiu da zona de rebaixamento e terminou em terceiro lugar.

O desastre do América do México na Libertadores/2008 e a saída para dirigir a Seleção da África do Sul em plena campanha são, sem dúvida, fatores desabonadores, mas ao mesmo tempo aquele ótimo time que montou, inegavelmente, ainda ocupa um relevante espaço na memória rubro-negra.

Na opinião de vocês, o Papai Joel fica ou sai da lista?

***

Não vou completar a lista com um décimo nome porque simplesmente não o tenho. Para ajudar vocês nos debates, seguem os nomes de treinadores que foram campeões nas principais competições que o Flamengo disputa:

José de Almeida Netto, o "Telefone" (Estadual/1921); Armando Renganeschi (Estadual/1965); Carlos Alberto Torres (Brasileiro/1983); Sebastião Lazaroni (Estadual/1986); Jair Pereira (Copa do Brasil/1990); Abel Braga (Estaduais 2004 e 2019); Ney Franco (Copa do Brasil/2006 e Estadual/2007); Cuca (Estadual/2009); Andrade (Brasileiro/2009); Vanderlei Luxemburgo (Estadual/2011); Jayme de Almeida (Copa do Brasil/2013 e Estadual/2014); Zé Ricardo (Estadual/2017) e Rogério Ceni (Brasileiro/2020, Supercopa do Brasil/2020 e Estadual/2020).

***

E aí? Quantos nomes deve ter a lista? Quem entra e quem sai, se for o caso?

A palavra está com vocês.

Umótima semana e SRN a tod@s.

* Texto escrito em 21 de dezembro de 2021

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Feliz Natal!

 



Nessa véspera de mais um Natal juntos, o nosso Buteco do Flamengo deseja a cada um de vocês um Feliz Natal juntamente a toda familia.


Minha homenagem a paixão da minha vida... MOCHA

Gustavo

BCB

Rocco




segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

O Novo Treinador e a Cortina de Fumaça

 

Salve, Buteco! Como diz o nosso amigo TAkumi, sou um fanático pela Libertadores e isso me levou a picos de ansiedade, confundindo o sorteio das fases prévias com o da fase de grupos. Deve ser algo mal resolvido em razão da final de Montevidéu. Como ando, da mesma forma que vocês, pesquisando aqui e acolá a respeito dos perfis dos novos treinadores especulados, vou lançar algumas reflexões a respeito de cada um dos nomes para debatermos juntos.

Primeiramente, precisamos ter em mente que, se escolher treinador é uma tarefa complexa para qualquer clube, no caso do Flamengo é ainda mais complicado, a começar pela enorme pressão de mais de 40 milhões de torcedores. A torcida do Flamengo acompanha, dá palpite sobre tudo, desde o clube social até o orçamento, passando por marketing, design de escudo, mídia social e, obviamente, por cada detalhe do Departamento de Futebol. E como o clube tem o maior faturamento da América Latina, o patamar de expectativa também é, inevitavelmente, o mais alto possível.

Tenho inúmeras críticas a respeito de como o Departamento de Futebol do Flamengo foi gerido nos últimos dois anos, inclusive pelos critérios de escolha dos últimos três treinadores, porém nesse processo de escolha do novo treinador, na minha avaliação, até aqui, é positivo, seja porque conversar "olho no olho" com cada um dos treinadores é uma ótima maneira de separar o joio do trigo e ter mais condições de prospectar o dia a dia de uma futura relação contratual, seja porque, para o mercado, o clube fica em melhor posição para negociar quando não tem apenas uma opção. Elementar, concordam? 

Portanto, loas (por enquanto) à cortina de fumaça. Resta-nos então ao menos tentar enxergar o que há por trás dela. Vamos aos principais nomes, adiantando que a análise sobre um eventual retorno do Mister Jorge Jesus eu deixarei a cargo de vocês:

1) Paulo Fonseca: treinador cogitado por clubes que disputam a Premier League. Não é à toa que dizem ser o mais caro e o que parece ter menos propensão a, no momento, trabalhar no Brasil. É adepto do jogo posicional, em relação ao qual tenho minhas reservas, como destaquei no post da sexta-feira. Contudo, ao menos na minha opinião, é muito melhor ter um ótimo treinador adepto do jogo posicional do que um meia-boca de qualquer outro estilo. Tem que ser considerado.

Analisando o histórico no Transfermarkt, é um treinador que vence mais do que empata e perde, especialmente comparando o número de vitórias com os de empates e derrotas, isoladamente. Na última passagem pela Roma, perdeu mais do que empatou, o que pode explicar o fim do ciclo.

2) André Villas-Bôas: consta que não deseja trabalhar no Brasil no momento. Deve ser verdade, até porque andou falando de calendário e até de número de participantes na Série A, o que indica que se acha mais do que é. Perfil de estrela, com direito a períodos sabáticos para disputar rallys, tem histórico de rompimentos por divergência com clubes grandes.  

Apesar do perfil instável e da passagem pela Premier League já estar uma década distante, os números das passagens por seus clubes anteriores foram sempre muito bons. Não deve ser barato, mas se houver espaço, tem que conversar, inclusive porque esse papo de que não quer trabalhar no Brasil, depois de uma tentativa de subir hashtag haver micado, pode ser forte sinal de caô.

O perfil tático é excelente, por ser ofensivo, versátil e sem amarras ideológicas.

3) Carlos Carvalhal: treinador bem mais experiente do que os anteriores, tendo iniciado sua carreira no CD Aves, em dezembro/2000, mas de poucas passagens por clubes de maior pressão (Sporting Lisboa e Besiktas, entre novembro/2009 e agosto/2011), porém com recente e enriquecedora passagem pelo futebol inglês - Sheffield Wednesday (Championship) e Swansea (Premier League).

Perfil tático excelente,  próximo ao de Jorge Jesus. Números históricos positivos. Multa contratual com o Sporting Braga pode inviabilizar.

4) Paulo Sousa: você sabe a diferença entre jogo de posição e ataque posicional? Dizem os doutos que, enquanto no primeiro a organização posicional é buscada desde o campo defensivo, no segundo (preferência de Paulo Sousa) os mesmos princípios organizacionais são aplicados pensando unicamente no jogo ofensivo. No plano ideal, o perfil me agrada pela versatilidade. O histórico (vencedor) como atleta na Itália e na Alemanha mostra uma formação a partir de escolas diferentes, o que também é um sinal positivo.

O histórico como treinador nos clubes anteriores, porém, deixa dúvidas (ao menos em mim). Muito elogiado por seu trabalho na Fiorentina (45j, 43v, 25e e 27d), os números no TJ Quanjian (36j, 12v, 9e e 15d) e no Bordeaux (42j, 13v, 12e e 17d) não são animadores. É preciso investigar o contexto.

A multa contratual com a seleção da Polônia, em tese, não seria problema, segundo palavras do próprio treinador.

5) Vítor Pereira: segundo esta matéria do Globo, "Um dos aspectos mais curiosos na carreira de Vítor é a dualidade entre sua capacidade de adaptação aos diferentes estilos de futebol ao redor do mundo e os curtos períodos que permanece à frente de seus clubes". Gosto da versatilidade, desgosto dos períodos curtos que caracterizam suas passagens por cada clube.

Experiente, "acumula cinco grandes títulos na carreira", o que torna, sob o ponto de vista histórico, o mais vencedor entre esses cinco nomes especulados. Multa com o Fenerbahçe pode inviabilizar, porém o seu momento no clube turco não é positivo.

***

Os jogos do Benfica pelas oitavas-de-final da Champions League estão agendados para 23 de fevereiro e 15 de março de 2022.

O sorteio da fase de grupos da Libertadores da América ocorrerá em 23 de março e os jogos se iniciarão no dia 5 de abril de 2022.

***

A palavra está com vocês.

Uma ótima semana e SRN a tod@s.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

O Novo Treinador - Filosofia x Prática

Salve, Buteco! No dia 15 de janeiro de 2021, O Globo publicou entrevista concedida por Filipe Luís aos jornalistas Carlos Eduardo Mansur e Marcello Neves, da qual destaco o seguinte trecho:

Como executar, por vezes, um plano no qual não acredita?

Jorge Jesus tomava decisões táticas com as quais eu não concordava. Mas não é que ele estivesse certo e eu, errado: não tem isso no futebol. Existe o que funciona. Mas a minha função como jogador era fazer o que ele pedia. Quando acabava o jogo, e costumava dar certo, eu ia conversar com os analistas e perguntava por que foi feito assim, se não era melhor fazer da forma que eu imaginava.

Quando isso aconteceu?

A gente jogou com o Santos do Sampaoli no Maracanã, e foi o jogo mais difícil para nós. Eles tiveram a bola, dominaram, mas ganhamos de 1 a 0. Eu não concordei, porque, na preleção, ele (Jesus) falou: 'Hoje, nós não vamos jogar, vamos lançar bola longa no Bruno Henrique e jogar a partir daí'. A gente estava voando. Por que não confiar na gente? Mas fizemos tudo o que ele pediu. A bola vinha, e lançava no Bruno Henrique. Um jogo mais direto, vertical. Fui conversar com os analistas, perguntar se não poderíamos ter vencido mais facilmente, e eles responderam que o  Santos era o time que mais tinha feito gols com roubadas de bola no último terço do campo. Viu? Tem muitas coisas que eu ainda não controlo.

Futebol, nos dias de hoje, cada vez mais envolve tecnologia e informação no processo de preparação dos atletas para as partidas. O treinador trabalha com uma gama de dados e informações multidisciplinares, advindas de diversos setores do clube e, não raro, até de fontes externas. Em razão disso, especialmente o conhecimento tático e a preparação física, sem prejuízo de outras fontes de conhecimento, passaram a ter um peso bem maior do que tinham no futebol de outrora.

Após comer o pão que o diabo amassou nos piores anos de gestões caóticas e de reconstrução administrativa, financeira e fiscal do clube, o torcedor rubro-negro passou a valorizar todo o processo que envolve a absorção de conhecimento e sua aplicação na preparação e execução de estratégias dentro das quatro linhas, até porque agora o clube passou a poder pagar pelo que há de melhor no mercado sul-americano e até mesmo em patamares mais acessíveis do mercado europeu. Por isso mesmo, o sarrafo para os seus treinadores subiu um bocado.

Ocorre que a teoria e o conhecimento não são suficientes.

No derradeiro jogo do catalão Domènec Torrent à frente do clube, dois adeptos do jogo de posição chegavam ao Mineirão para se enfrentar e pressionados pela falta de resultados. Contudo, a situação do argentino talvez fosse um pouco mais delicada do que a do catalão. É que, naquele mês de outubro, o Atlético Mineiro, até então, havia vencido, por três gols de diferença, dois futuros rebaixados (4x1 Vasco da Gama e 3x0 Goiás), mas colhido insucessos contra todos os outros adversários mais competitivos (1x2 Fortaleza, 1x1 Fluminense, 1x3 Bahia, 0x0 Sport Recife e 0x3 Palmeiras).

Na coluna do dia seguinte, destaquei, citando análise do jornalista André Nunes Rocha (@anunesrocha) no Twitter, que "absolutamente nada explica a marcação em bloco alto logo no início da partida em jogo tão crucialmente decisivo". O time simplesmente não estava preparado para executar aquela estratégia, naquele momento, contra aquele rival. 

Jorge Sampaoli, seis dias antes, havia cometido contra o Palmeiras, então dirigido pelo auxiliar Andrey Lopes, o "Cebola", o mesmo erro de Domènec, tendo por isso sido goleado por 0x3. O mesmo Sampaoli que havia pagado o preço por suas ousadias teórico-ideológicas na Copa do Mundo de 2018, ganhou de presente de Domè o passaporte para terminar a temporada à frente do rival mineiro com a goleada sobre o rival. A metáfora não é exagerada. Afinal de contas, estamos falando da rivalidade interestadual mais acirrada entre torcidas do Brasil.

Há exemplo mais recente, fora do Flamengo e envolvendo o nosso grande rival mineiro. O argentino Juan Pablo Vojvoda, também adepto do jogo de posição e, na minha opinião, o treinador mais promissor da América do Sul (entre os mais jovens), responsável pelo monumental trabalho que levou o Fortaleza ao quarto lugar do Campeonato Brasileiro e à semifinal da Copa do Brasil, em um gesto de maturidade reconheceu o erro e a imaturidade da postura exageradamente ofensiva no jogo de ida no Mineirão: "Quando o time perde, acredito que erro. Tenho que decidir. Podia ser com três volantes. Eu assumo a responsabilidade", disse ao Jornal O Tempo, que completou a análise: "O Leão do Pici costuma jogar com três zagueiros, o que não aconteceu nessa quarta-feira (20), após o clube perder Tinga por lesão."

Como Domènec Torrent, Juan Pablo Vojvoda saiu de Belo Horizonte com quatro gols na sacola, mas diferentemente do catalão, que, sempre com posturas inconsequentes, já havia perdido de 0x5 no Equador (Independiente Del Valle) e de 1x4 no Maracanã (São Paulo), o argentino dispunha de mais do que suficientes reservas de crédito para continuar à frente do trabalho.

Voltando às tendências atuais, tenho a impressão de que não há treinador minimamente competitivo que não adote conceitos da mítica Holanda de 1974. A diferença está em como e em qual proporção se aplica essas ideias. A grosso modo, temos a escola do jogo posicional, nascida e construída a partir das passagens de Johan Cruyff por Barcelona, como jogador e treinador, e desenvolvida por pensadores do futebol como Marcelo Bielsa, e a corrente composta por outros adeptos da mesma influência, os quais considero "menos bitolados" e "mais arejados". São os casos dos alemães (Klopp, Heynckes) e... dos portugueses, culturalmente bem mas próximos (e afins) de nós, brasileiros.

Como escrevi nesse post:

Um ano de jogo posicional ensinou ao clube que, além da tática, é preciso ter gestão de elenco e de vestiário. O futebol brasileiro tem uma cultura, goste-se ou não dela. As inovações táticas devem ser acompanhadas de um tratamento que a maioria dos jogadores brasileiros não dispensa.

Por exemplo, jogador brasileiro não não é simpático a bruscas e frenéticas mudanças de posição (percebam a diferença para mudança de função tática). Não é impossível que aceite, só que, antes, o elenco precisa comprar a ideia.

Não se diz impunente a um consagrado zagueiro com crônicos problemas físicos que ele jogará na lateral direita, ou ao volante titular que passará a ser zagueiro. Talvez na Europa não reclamassem, mas no Brasil é diferente.

A ferramenta é ótima, inclusive pela maneira como aproveita a base (não foi bem o caso do Ceni, mas foi o de Domè), porém não se muda uma cultura mais do que secular de uma hora para outra. É preciso haver adaptação.

Não me entendam mal. É possível conciliar o jogo posicional com o pragmatismo, como o jovem Juan Pablo Vojvoda de certa maneira reconheceu, após o desastre do Mineirão. O difícil é encontrar um treinador de jogo posicional que concretamente o faça (risos respeitosos). Como na lista de treinadores portugueses especuladas na imprensa tem um pouco de tudo, dentro das influências da Laranja Mecânica e de Johan Cruyff, inclusive ao menos um adepto do jogo posicional, convém que, logo na reunião inicial, a dupla Marcos Braz e Bruno Spindel explique como funcionam o clube e a torcida, e deixe cada candidato informado a respeito do passado recente.

Mal comparando os desempenhos (não me refiro a títulos) de Domènec Torrent, Rogério Ceni e Renato Portaluppi à frente do Flamengo, chego à conclusão de que, se Renato confirmou o erro da Diretoria ao se distanciar das luzes do conhecimento e da informação, ao mesmo tempo comprovou que teorias mal aplicadas são menos valiosas do que a experiência e a intuição.

O treinador do Flamengo, antes de tudo, precisa ser sábio, a começar por entender, assimilar e se integrar à cultura do clube. A ideologia do Flamengo é vencer, vencer e vencer, e com uma filosofia de jogo preponderantemente ofensiva. 

Bom FDS e SRN a tod@s.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

A República Paz e Amor

 





Irmãos rubro-negros,


Hoje irei compartilhar com vocês uma das primeiras colunas que tive a honra de publicar neste espaço maravilhoso, o Buteco do Flamengo. Lá se vão mais de oito anos.

Celebro com vocês um pouquinho da história do Clube de Regatas do Flamengo, dos primórdios do clube e da criação da República Paz e Amor, no casarão que servia de sede social e garagem dos barcos de remo. Nomes como Gentil Monteiro, José Bastos Padilha e Abelardo Melo fazem parte desta época de formação do Flamengo. Outra instituição daqueles tempos é o Café Rio Branco, que ficava no Centro do Rio de Janeiro e reunia fanáticos rubro-negros. Mas a história do Café Rio Branco ficará para a próxima ocasião. 

Lá pelos idos de 1910, a sede do Flamengo, situada na Rua do Russel, nº 22 (atual Praia do Flamengo, nº 66), servia de garagem dos barcos do remo e de moradia para remadores e estudantes, uma “autêntica cabeça-de-porco em plena Praia do Flamengo”, nas palavras de Edigar de Alencar.   

O Flamengo era um clube pobre, muito pobre, quando comparado aos seus adversários, e vivia quase que exclusivamente da contribuição dos seus poucos e abnegados sócios.

Embora pobre, o Flamengo já inspirava paixões avassaladoras e a fundação da República Paz e Amor é bastante representativa desse fato.

Em meio às brincadeiras, peraltices e à boemia desenfreada da turma do “Paz e Amor”, percebe-se, de modo claro, as manifestações do caráter rubro-negro: intrepidez, coragem, valentia, heroísmo, espírito galhofeiro e feliz, paixão e, acima de tudo, muito amor ao Flamengo.

Para a turma do “Paz e Amor” não havia grandes ou pequenos, ricos ou pobres, celebridades ou anônimos. O aviso estava dado: “que não se metessem com o Flamengo.”

Ante tantas histórias narradas por Mário Filho, e na impossibilidade de reproduzi-las integralmente, escolhi, com muito carinho, algumas passagens que considero significativas.


Com vocês, A República Paz e Amor.


Autor: Mário Filho


“Ao lado do Flamengo ficava um colégio de freiras. As boas irmãs não podiam chegar à janela dos fundos. No quintal da garage os remadores nus jogavam pelota. Para não viverem de janelas fechadas, as freiras mandaram levantar, sobre o muro, um tapume de zinco.

Então, na hora do recreio, os remadores nus deram para trepar nas árvores, agarrando-se nos galhos mais altos, de onde espiavam as meninas e bebiam um pouco daquela quietude de claustro.

As freiras levantavam os olhos, benziam-se, apressadas, e fugiam, arrastando as meninas que não podiam ver aqueles faunos enormes, musculosos, cabeludos, pendurados nas árvores, não como frutos, mas como macacos.

E aqueles demônios do 22, as freiras bem o sabiam, eram também bons rapazes, ou tinham, lá no fundo, sentimentos nobres.

Quando houve a grande ressaca, as ondas da altura de uma casa foram bater, com toda a fúria, no colégio de freiras.

E quem as salvou e salvou as meninas, indo e vindo, carregando-as no colo como se elas fossem criancinhas de peito, senão aqueles rapazes do Flamengo, justamente aqueles que eram como faunos trepados nas árvores que derramavam sombra no quintal do colégio.”

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“O ‘Estrada de Ferro’, por exemplo. Ninguém lhe guardou o nome. No primeiro dia em que foi ao clube contou vantagem: trabalhava nos correios. Um dia o trem em que ele vinha parou em Belém: o maquinista teve uma coisa. ‘Não havia ninguém que soubesse dirigir o trem. Eu não sabia, mas tinha de voltar para o Rio. Disse que sabia. Peguei na manivela, soltei o freio, não respeitei sinal. De repente olhei para o nome de uma estação e li: Cascadura. Freei o trem. A velocidade era tanta que ele foi parar na Central’.

Abelardo Melo olhou para os outros e sugeriu: ‘vamos dar nele?’

Deram uma surra no ‘Estrada de Ferro’. Ele precisava aprender a respeitar os mais velhos no clube. Para contar uma vantagem, o sócio tinha de esperar um pouco.

O ‘Estrada de Ferro’ fugiu, saiu correndo pela praia, os outros atrás dele, ‘pega, pega ladrão!’ Desapareceu numa esquina.

‘Amanhã ele está aqui’, disse Gentil Monteiro. Abelardo Melo duvidou: aquele não havia de querer saber mais do Flamengo.

Quem tinha razão era Gentil Monteiro. No outro dia, de manhã cedo, o ‘Estrada de Ferro’ apareceu, como se nada tivesse acontecido. Daí por diante não contou mais vantagem, ficava escutando vantagem dos outros.”

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“Foi quando entrou para o Flamengo o doutor Anibal Varges. O doutor Anibal Varges tinha um automóvel, dos primeiros a aparecer no Rio: alto, de rodas enormes, comprido. O automóvel ficava encostado junto ao meio fio.

E enquanto o doutor Anibal Varges estava se preparando, já depois de remar, para sair, o pessoal da República Paz e Amor amarrava um jacá atrás do carro.

O jacá tinha uma grande vantagem: não fazia barulho. Lata velha era campainha de alarma. O carro rodava dois metros, parava logo. O doutor Anibal Varges saltava, desamarrava as latas, ia embora. E não ficava zangado com aquelas coisas de rapazes.

O jacá era silencioso. Ficava amarrado atrás do carro toda a vida. Só quando parava em frente ao consultório, era que o doutor Anibal Varges dava pela história.

O carro parava, juntava gente, todo mundo rindo, apontando para trás. O doutor Anibal Varges, muito grave, para não dar confiança, ia desamarrar o jacá, e depois esfregava as mãos, pedia licença. A pequena multidão se abria. Ele subia a calçada e enfiava-se pelo prédio onde dava consultas.

No outro dia, estando com a turma do Flamengo, na hora de levar o barco para a rampa, não pedia que acabassem com aquilo. Tudo cansa, até amarrar jacá na traseira do carro dos outros.

A melhor maneira de acabar com aquilo era não dar importância. E o doutor Anibal Varges tratava de se impor ao respeito da República Paz e Amor, dando conselhos. Bons conselhos.

Por exemplo: o Flamengo só tinha um chuveiro de água fria. Água fria, só, todos os dias, não era bom. Depois de um exercício tão saudável como o do remo, o que se devia tomar era uma ducha de água fria e de água quente.

O doutor Anibal Varges se demorava enumerando os benefícios da mudança brusca da temperatura da água. Um golpe d’água bem frio, um golpe d’água bem quente. Depois de uma ducha assim a gente podia trabalhar quantas horas quisesse, sem sentir o menor cansaço.

Ah! O doutor Anibal Varges achava que era bom mudar a temperatura da água?

Compraram seis pedras de gelo, bem grandes, entupiram a caixa d’água com as pedras de gelo. De manhã cedo a caixa d’água estava suando.

O doutor Anibal Varges era o primeiro a chegar. Chegava às quatro e meia da manhã, tirava um barco, remava. Ninguém entrava debaixo do chuveiro antes dele.

De propósito, naquela manhã, os outros demoraram mais, deixaram-se ficar na garage.

O doutor Anibal Varges voltou, alegre, trancou-se no banheiro, abriu o chuveiro. Do lado de fora os outros ouviram um verdadeiro rugido. O barulho do chuveiro durou instante, o tempo de abrir e fechar.

Do Flamengo, o doutor Anibal Varges foi diretinho para a cama.

O doutor Anibal Varges foi vingado. As pedras de gelo dentro da caixa d’água, a caixa d’água suando, e todo mundo tendo de tomar banho. Quando alguém saía do banheiro, estava roxo, tremendo de frio. Saía aos saltos uh! uh! uh! botando fumaça pela boca.

Outro tinha de entrar. Quem não tomara banho ainda ficava na porta, achando graça. ‘Agora é a sua vez.’ Quem estava na vez era levado para dentro do banheiro. Por bem ou por mal. Não adiantava fugir.

O Manoel de Almeida, o ‘Jacaré’, foi tirado do bonde. E passou por uma vergonha, Gentil Monteiro gritando: ‘tem de tomar banho, tem de tomar banho’.

O ‘Jacaré’ a princípio fez força, não queria ir de jeito nenhum. As senhoras, um pouco escandalizadas, não compreendendo direito como se podia ter tamanho horror à água.

O ‘Jacaré’ cansou-se, deixou de lutar, ficou quieto, manso. Só pediu uma coisa: ‘me larguem que eu vou sozinho.’

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“O Lamas inaugurou um cartaz. De noite, quem chegava sabia logo de todos os resultados dos jogos. 

O Fluminense ganhou do Flamengo, o ‘Paz e Amor’ exigiu que o placar fosse retirado.

Não retiraram.

Então o placar foi quebrado, arrastado para a rua.

Em dia de jogo, a turma do ‘Paz e Amor’ chegava na arquibancada, escolhia um lugar. ‘Quem não for Flamengo trate de ir para bem longe. Se não vai apanhar.’”

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“E o Vasco saiu da segunda divisão: foi para a primeira, deu em todo o mundo. O Flamengo apanhou uma vez; para a segunda se preparou.

O ‘Paz e Amor’ distribuiu paz e remos pelos remadores. Naquele dia o ‘Jornal do Comércio’ e o ‘Jornal do Brasil’ se esgotaram nas bancas do Largo do machado até a Galeria Cruzeiro. Tudo para embrulhar pá de remo. Os vascaínos não estavam prevenidos: gritavam ‘Vasco!’ e levavam pá de remo no alto da cabeça.

O Flamengo venceu e o ‘Paz e Amor’ fez um carnaval pela cidade.

Um tamanco de dois metros de comprimento foi arrancado de uma tamancaria na Rua do Catete; as quitandas tiveram de abrir para vender cebolas. Fez-se uma enorme réstia de cebolas de não sei quantos metros de comprimento, para engrinaldar a estátua de Pedro Álvares Cabral.

Um cortejo de automóveis. Itinerário: Praia do Flamengo, Glória, parada em frente à estátua de Pedro Álvares Cabral, Lapa, bem junto do ‘Capela’, o bar dos vascaínos, e por aí fora.

No Mercado das Flores comprou-se uma coroa de defunto. Quando, na madrugada do dia seguinte, os vascaínos apareceram em Santa Luzia (antiga sede do clube), encontraram uma coroa de defunto dependurada na porta da sede.

Aquilo não podia ficar assim. De noite o Vasco organizou um cortejo de automóveis. Ia dar uma lição de boas maneiras à turma do ‘Paz e Amor.’ Nada de coroa de defunto: uma ‘corbeille’ gigantesca seria oferecida ao Flamengo, o único clube que derrotara o Vasco.

Lá se foram os automóveis, Vasco! Vasco!

Havia pouca gente no Flamengo, àquela hora. A porta da frente foi fechada; uns subiram para o primeiro andar, outros para o segundo.

E outros para o telhado da pensão da ‘Espanhola’, para o telhado do colégio de freiras. Lá de cima começou a cair uma chuva de telhas.

Cá de baixo os vascaínos responderam com pedras. Pedras de baixo para cima, telhas de cima para baixo.
Destelharam a pensão da ‘Espanhola’, o colégio de freiras: não se tocou no telhado do Flamengo.

Havia uma coisa sagrada para aquela gente do ‘Paz e Amor’: o clube, tudo que fosse do clube, até uma telha. Não respeitavam nada, exceto o Flamengo.

Por isso tinha escrito na parede, em letras grandes, só um cego não leria, a letra F dos estatutos, que tratava das obrigações dos sócios:

‘Zelar pelo material do clube.’

Ai de quem, sendo sócio ou não, quebrasse um remo, um barco da flotilha do Flamengo. Levava uma surra.”

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Autor: Mário Filho.

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A coluna entrará de férias. Desejo a todos os amigos do Buteco do Flamengo um Feliz Natal e um ótimo Ano Novo.


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Abraços e Saudações Rubro-Negras.

Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.