quarta-feira, 30 de abril de 2014

Vale a pena trocar se for para ousar


O que o amigo do Buteco sentiria se o seu time, nos últimos 12 jogos, tivesse ganhado apenas um sobre o valoroso Independiente Del Valle? Um sentimento bom não seria, com certeza. Mas os botafoguenses estão esbanjando sorrisos de orelha a orelha, com cara de pimpão e ainda otimistas. Para o goleiro Jefferson, "o Bota pode brigar no topo" e o ex-presidente do clube, Carlos Augusto Montenegro, mostra-se otimista, "pois o clube tem elenco, qualidade, bom banco de reservas, um grupo que pode fazer um bom Campeonato Brasileiro...".

Que brasileiro, vivo ou morto, não saberia dessa tenebrosa estatística e respectivas constatações através de robustas manchetes nos jornais e nos pasquins esportivos tupiniquins, se fosse o caso do Flamengo o autor de tamanha proeza?

A indignação, mãe das reações, passa ao largo de General Severiano, eis a diferença para o Flamengo, último Campeão da Copa do Brasil e do Estadual do Rio de Janeiro, onde, atualmente, as labaredas começam a lamber as sandálias do treinador Jayme de Almeida, face o time não apresentar no Brasileirão uma performance compatível com a sua grandeza;

Jayme é o tipo de pessoa que me faz bem saber que existe no universo do gênero humano, pois passa um agradável sentimento de que ainda vale a pena viver nesse mundo completamente conturbado pela inversão de valores que vai tomando conta das sociedades, porém, como treinador do Flamengo tem pisado na bola nos últimos meses graças às diversas incoerências praticadas, tanto na escalação do time como nas substituições feitas e também nas não realizadas;

O meia Carlos Eduardo teve um ano de oportunidades, ao longo do qual atuou mal as 49 vezes que vestiu o manto sagrado. Uma insistência reveladora por quem se espera um renascimento súbito ou um milagre do então beato Padre Anchieta, que precisava realizá-lo para dar consistência ao seu processo de santificação pelo Vaticano;

Já o meia Mugni entrou bem em um jogo perdido, nas montanhas, pela Libertadores contra o Bolívar, quase empatou a partida, e foi sacado do time no compromisso seguinte. Voltou a jogar bem contra a Cabofriense, pelas semifinais do Cariocão, fez dois gols, mas foi novamente barrado para o jogo contra o Emelec em Guayaquil. Se não bastasse, esquentou o banco contra o Corinthians, agora pelo Brasileirão, para que o lateral esquerdo André Santos atuasse improvisadamente em sua posição;

Embora tenha havido muitos treinamentos ao longo da última semana, a defesa continua mal posicionada e levando gols bobos em cobranças de escanteios, o que leva à conclusão sobre a ineficácia dos preparativos. O meio de campo apresenta bom rendimento virtual nos percentuais relativos à posse de bola, com toques para os lados e para trás, sem qualquer objetividade e quando é tentado um passe de 20 metros, invariavelmente a bola cai nas mãos do gandula de plantão ou, o que é pior, nos pés dos adversários para a armação de mortíferos contra-ataques. Por falar em ataque, vou "passar", pois este não tem existido nos últimos jogos;

Quem teve quase 20 treinadores no século que mal se iniciou não entra com facilidade no oba-oba que um novo técnico resolverá os problemas do time rubro-negro a curto prazo, principalmente num país onde todos eles são "Jaymes", uns um pouco mais, outros muito menos, mas torço para que a diretoria do Flamengo saia da mesmice e ouse na contratação de uma equipe de estrangeiros para comandar todas as divisões do clube a médio/longo prazos, dos mirins aos profissionais. De preferência hermanos da escola de bola no chão do goleiro ao centro-avante, do toque com precisão na vertical e avessos aos bicões para o alto e chutões aleatórios para frente;

E seja o que Zico quiser!

SRN!

terça-feira, 29 de abril de 2014

Repensando o Futebol do Flamengo

Esta coluna foi conduzida em parceria com Jason Brazil, um amigo que fiz nas redes sociais e a quem agradeço pelas informações e considerações. Um cara com a mente arejada e uma vontade enorme de ver um Flamengo cada vez maior. Nos questionamos sobre o departamento de futebol e a condução do trabalho. Será que falta direcionamento? Será que falta planejamento e execução? Será que falta uma melhor comunicação? Estas questões são algumas das que a torcida vive se fazendo e não consegue responder, mas a principal seria: existe um modelo, um projeto em curso NO FUTEBOL do Flamengo? O foco principal está na formação, na base. O texto é grande, desculpem por sermos prolixos.

De fora, não consigo enxergar de forma clara um modelo que se apresente sustentável, que se veja no médio prazo, um projeto, como diria o velho Luxa. Que o Flamengo tem um grande problema na formação dos nossos atletas da base, todos já sabem. Que muitos criticam, idem, mas como refletir para mudar a esse panorama? Não dá para um jogador com claras deficiências técnicas, psicológicas e sem um pingo de inteligência emocional ser um atleta profissional. Falta suporte, Material (CT, Academia, dormitórios...), Metodológico, “Humano” (Educação formal, educação esportiva, preparação para o “atleta do novo tempo”, suporte mental e físico, no sentido do cuidado com o corpo como instrumento de trabalho, treinamento, inclusive dos profissionais que trabalham no clube...) e o suporte Técnico, integração e aplicação do Material e o Metodológico (gerenciamento de carreira, Intercambio dos profissionais da comissão técnica e dirigentes da base, trabalho em campo (tático e técnico), uniformidade na formação, Etc.)

A maior urgência do Flamengo é a construção completa do CT. Deve haver uma maneira de se operacionalizar esta construção, via parcerias, leis de incentivo, sei lá. Um dos caminhos foi a oficialização do patrocínio para os uniformes de treinamento. Só o Manchester United tem esse tipo de patrocinador, para tentar o financiamento da costrução do CT cedendo o direito de nome do CT é um pulo... Outro aspecto é a quantidade e a qualidade de funcionários. Vou listar alguns:
Futebol Profissional
  • Diretor-executivo, Gerente, Supervisor, assessoria, especialista em logística, especialistas em Marketing (para agilização de serviços específicos para o futebol;
  • Comissão Técnica: Treinador, auxiliares técnicos, treinador de goleiros, treinador de ataque e finalização, treinador de defesa e posicionamento, observadores técnicos (olheiros);
  • Comissão Médica: fisioterapeutas, dez médicos (cardiologista, ortopedista, dentista, nutricionista, psicólogo), dois enfermeiros, assistente social;
  • Comissão Atlética: quatro preparadores físicos, fisiologista (condição atlética e recuperação, dois), especialistas em biomecânica;
  • Comissão de Alto rendimento: dois especialistas em tecnologias (tipos de treinamento, gravação e edição de jogos e treinos, etc.), cinegrafistas, especialistas em estatística, especialistas em TI e especialistas em sistemas;
  • Atletas: no máximo 34 (três equipes + 4º goleiro);
  • Outras funções: assistentes de adaptação para atletas estrangeiros, massagistas, roupeiros, assessores de imprensa, especialista em segurança, podólogos, almoxarife;
  • Administrador do CT e ao menos 50 auxiliares administrativos e estagiários para todo o departamento de futebol;
Categorias de Base do futebol
  • Diretor-Geral, cinco assessores (um para cada equipe, sub-21, sub-18, sub16, sub14, sub12), Gerente Administrativo, Gerente Técnico, coordenador técnico geral, Coordenador do Departamento Médico da Base, gerente de logística, especialista em biomecânica para toda a base, podólogo, olheiros e especialistas de desempenho;
  • Um profissional para cada equipe: supervisor, treinador, auxiliar técnico, preparador físico, preparador de goleiros, treinador de ataque e finalização, um treinador de defesa e posicionamento, médico, enfermeiro, fisioterapeuta, fisiologista, massagista, roupeiro, segurança;
Apenas para o departamento de Futebol teria aproximadamente 250 profissionais. Penso eu, haver uma defasagem funcional no setor, mesmo que tenha exagerado um pouco, algumas funções que descrevi ainda não existem no clube. Não incluí alguns serviços extras terceirizáveis como escola, alimentação, limpeza, hotelaria, entre outras; para quando o Ninho do Urubu estiver completamente pronto e em funcionamento pleno, e, posso ter esquecido em algumas.

Sobre a formação, a educação é um item fundamental, sob todos os aspectos de ensino-aprendizagem de um profissional de futebol. A estruturação do departamento de futebol deve se dar de baixo para cima, no médio prazo. Na construção de uma diretriz para a formação a interdisciplinaridade é fundamental. A utilização conceitos de outras ciências, esportes, aplicados em uma outra ciência ou esporte é uma ferramenta já utilizada no próprio futebol moderno.

Estudar é importante para a gestão da carreira dos atletas do futebol, de suas famílias e traz tranquilidade e consciência para a execução de seus papeis dentro e fora do campo. Jogar futebol nunca foi e nunca será apenas jogar bola. A questão da intelectualidade do atleta afeta a inteligência esportiva e emocional, inclusive no caso dos gênios, craques, mesmo que analfabetos. O assunto é muito pouco discutido no Brasil, mas a educação dos atletas do futebol (no caso falta) tem resultado direto no campo. Quando um jogador é intelectualmente acima da média ainda fica marginalizado no Brasil das panelinhas, vira o "polêmico", controverso. 

Estudos em sala
É fundamental para os atletas do presente e do futuro, para o ser humano. Defendemos que os atletas em formação, até os profissionais, além de treinar no campo, também estudem o futebol em sala de aula, desde que o clube dê oportunidades para tal. Algumas disciplinas deveriam ser estimuladas para aprendizagem além da forma tradicional, ajudando e muito a formação pessoal e profissional do cidadão, atleta, individuo:
  • Formações táticas e suas aplicações - Como se posicionar dentro de um jogo, se postar em determinada formação, jogar como lateral, atacante fixo, falso nove, mostrar como cada função deve ser desempenhada em cada tipo de formação e mostrar com vídeos e demonstrar na prática. Com isso, além de se aprender, ele passa a entender a essência do que lhe é ensinado. Correr certo, se movimentar adequadamente...
  • História do clube - O jogador tem que conhecer o clube em que joga. Além fomentar a paixão pelo clube, isso daria uma base cultural, essencial na identificação deste dentro da instituição, no respeito pela instituição Flamengo na defesa de nossas cores.
  • Media Training - Como se portar perante a mídia, o jogador tem que saber se expressar. Falar de forma correta, desinibida e sem clichês, na medida do possível. Com esse treinamento ajudaria a comunicação dos jogadores em entrevistas coletivas, de campo, no jogo. O mais importante é que não se tire a personalidade do atleta, apenas o ensine a se comunicar direito, sem se prejudicar e prejudicar ao clube e a parceiros.
  • Gestão financeira - Durante a carreira, inclusive na base, os jogadores ao renovar seus contratos, tem aumento nos seus vencimentos. A maioria absoluta não sabe como e onde gastar o fruto de seus esforços, o faz desnecessariamente. É preciso que os atletas saibam como gerir seu dinheiro. A carreira é curta. Pode ser extensível para as famílias dos atletas de base.
  • Gestão de carreira - O jogador hoje não pode se preocupar somente em jogar bola, há muitos fatores envolvidos. É preciso que o jogador tenha um gerenciamento de sua carreira, assim como a financeira já citada. É interessante que a família esteja inclusa nesta parte e o departamento de futebol seja atuante neste sentido. O atleta sempre será grato por esse cuidado. 
  • Regras do futebol e competições - Muito jogador não conhece as regras do jogo. Toda e qualquer competição tem instruções específicas sobre as condutas que serão ou não toleradas dentro de campo. Vídeos e palestras das federações que regem o futebol deve ser uma constante para que não ocorram erros bobos dentro de campo.
  • Incentivo do desenvolvimento cognitivo - O jogador inteligente tem muito mais capacidade de criar e executar jogadas com sucesso. Espaço para fluidez de inteligência esportiva, criatividade. O desenvolvimento da capacidade de pensar do atleta, ajudar na “leitura de jogo”, treinamento e competição, etc.
  • Intercâmbio dos profissionais da comissão técnica e dirigentes da base - O conhecimento deve ser buscado constantemente. O mundo do futebol está em evolução. Treinadores, preparadores e dirigentes fariam uma espécie de intercâmbio nos maiores clubes do mundo, com isso adaptariam as virtudes de cada um a nossa realidade.
Algumas questões perpassam pelo trabalho de sala de aula, sem que se prescinda da teoria, da técnica e da habilidade nata, como a análise do desempenho e das habilidades, o trabalho técnico, o trabalho físico e o trabalho psicológico, inclusive com a família do jogador, já que se trata de Flamengo, uma camisa que “enverga varal”, para o bem e para o mal. Inclusive com todos estes aspectos está o trabalho tático, dentro e fora do campo:
  • Trabalho físico - Futebol hoje é baseado em força, resistência, velocidade, entre outros atributos. Um jogador tem que ter vitalidade, massa muscular, com isso não pode perder mobilidade e habilidade, que pode ser trabalhada com trabalho de suplementação diferenciada para cada atleta, com programas de musculação únicos. Cada atleta tem características particulares. É preciso que o trabalho seja individual, e parece que já vem sendo executado, só não sabemos como. Com tantos atacantes sem força pra chutar depois de um pique (Rafinha, Negueba, Jean...), se faz fundamental.
  • Análise de desempenho - Já existe, mas deve ser aprofundada. O Flamengo deveria buscar diversos profissionais para a formação, principalmente, para selecionar os melhores, prepará-los. Uma planilha de estudos sobre cada atleta, com percentual de acertos/erros, frequência, qualidades, defeitos, projeções. Acredito que a comissão de cada categoria, com habilidades e deficiências como controle de pontos fortes e fracos e do potencial, e daquilo que o clube deseja para aquele jogador. Vemos os atletas da base como diamantes brutos a serem lapidados, onde quem lapida escolhe seu formato, tamanho. Na base não é diferente, ali a comissão escolhe se aquele cara pode ser um 10, lateral, volante, cobrador de bolas paradas... para se saber onde o garoto pode chegar. São fundamentais para o aprimoramento dos talentos.
  • Trabalho psicológico - A carreira de um jogador de futebol pode levar um garoto da pobreza à riqueza rapidamente, do anonimato ao estrelato em um jogo, e isso é algo que pode abalar um garoto e com isso ele não render nem perto do que poderia. Pelo fato de jogar no Flamengo podem se achar superiores e invencíveis, assim se acomodam, não evoluem, não crescem como profissionais. É preciso um trabalho psicológico para manter o foco no trabalho.
  • Trabalho técnico - É de doer os olhos assistir a um jogo da base (profissional também) e ver a quantidade de passes errados... Lançamentos equivocados, chutes despretensiosos, erros ao dominar a bola, enfim, há uma defasagem técnica nos atletas da nossa base. Há sempre a defesa do “mas eles estão aprendendo, não podemos ser rigorosos”. Esse argumento cai por terra quando passam-se os anos e sobem ao time profissional com as mesmas falhas.
    Os profissionais da base devem ser extremamente qualificados e cuidadosos. A exigência deve ir no sentido da eficiência técnica e na preparação mental, pois fisicamente dá para preparar qualquer atleta. Não é fácil jogar no Flamengo. Tudo determinado, planejado e executado dentro de uma diretriz específica dada pela diretoria.
    Profissionais necessários inclusive para uma padronização da formação e aperfeiçoamento da mesma. Se possível na maturação e a preparação técnica por uma equipe Sub-23, onde se daria o aproveitamento de atletas que sobem e os que vem de clubes de menor investimento.
  • Definição de estratégia e tática específicas e suas variações para adoção em todas as categorias - A integração entre as categorias de base e os profissionais é fundamental para a percepção da evolução de cada atleta, dentro de uma lógica e suprindo as necessidades do elenco profissional. As formações táticas e suas variações seriam treinadas em todas as categorias. É importante a uniformidade, porque o jogador treinado desde cedo a jogar de uma forma reproduzirá seu papel tático dentro de um padrão sem sobressaltos.
    Os treinos técnicos, desde a primeira categoria até os juniores, formarão o caráter dentro de uma cultura de muita cobrança e seu aprendizado não será apenas de como tocar, dominar, lançar, chutar, cabecear, marcar... Até porque o “estilo Flamengo” é sempre ofensivo. Essa é nossa marca, mas devem aprender que futebol é um esporte coletivo e “psicológico”.
  • Trabalho tático - O jogador tem que saber o que fazer em campo, até onde pode ir, onde não pode. Há certa irresponsabilidade em alguns casos. Devem saber que sua posição, até onde podem ir. Um volante não deve sair despreocupadamente e deixar a zaga desprotegida irresponsavelmente. Um zagueiro idem.
    Disciplina e treinamento são fundamentais. Aqui a palavra chave é CONDICIONAMENTO. O futebol jogado deve ser baseado em algumas regras e práticas, sem esquecer de toda uma cultura futebolística (hoje não se formam meias). 
    Defesa forte, transição calma, não lenta, com objetivo de manutenção da posse de bola até que se ache uma brecha nos segundos finais para não dar chance para o adversário atacar. É uma das variáveis.
    A questão principal é como se defende e como se ataca. Aqui a defesa não tem o intuito da obtenção da bola, sim defender por defender apenas, digo melhor defender somente para não levar gols, nunca para ficar com a bola. Atualmente é 
    necessário uma defesa “ofensiva”, forte, para que além de pegar o adversário em situação desconfortável, objetive ficar com a posse e desgastar-se menos, correndo menos, com um melhor posicionamento em campo.
    Há grande dificuldade de se implementar no Brasil pela dificuldade do jogador brasileiro entender, e respeitar, pois o jogador brasileiro é tradicionalmente indisciplinado taticamente, e penso, pouco inteligente também. Falo em inteligência esportiva, principalmente.
Relacionando diretamente ao profissional é importantíssimo uma defesa (sistema) qualificada, "ofensiva" com jogadores rápidos e habilidosos, o fundamento passe preciso, armadores disciplinados taticamente, que pensem o jogo com companheiros que lhes deem opções de passe e atacantes moveis. Este é um problema do futebol brasileiro como um todo, não é comum este tipo de prática. Será necessária uma mudança da mentalidade na formação dos atletas, para melhorarmos o nível do futebol do Flamengo.

O Exemplo Uruguaio: integração
A federação de futebol no Uruguai fez um trabalho de base, na accepção do termo. Tudo mudou na formação dos atletas. Foi construída uma escola nos arredores do Estádio Centenário e a formação dos atletas não se restringiu apenas ao “campo e bola”. A participação do “jogador” estava então ligada diretamente ao seu desempenho na escola. Muitos foram “cortados” do programa. Este tipo de iniciativa não significa que todos serão “cordeirinhos”. O maior exemplo disso é Luís Suarez. Ótimo jogador, preparado profissionalmente, jogou na Holanda e joga no Liverpool (freguês nosso), mas de conceitos morais discutíveis. Tem a ver com educação, não com índole. Apenas preparo. 

Quase 100% do trabalho foi executado pelo maestro Oscar Tabarez, o treinador da seleção nacional, que montou a base para um trabalho com frutos fora de campo. Tabarez foi uma de minhas “indicações” para o comando técnico do futebol do Flamengo, pode ser na base. Seria ótimo contar com sua experiência para formatar um modelo de formação no futebol do Flamengo, comandando as categorias de base, dentro e fora de campo, numa melhor integração com profissional e melhor prospecção de atletas.

Tabarez tem todas as condições para assumir o trabalho (profissionais e base) como um todo ou parte dele, apenas montando o setor. Caso não deseje se envolver no futebol do Flamengo, valeria uma consultoria e um trabalho por período. Seria utilíssimo, de extrema importância para a construção de uma escola e estilo rubro-negro de jogar futebol, um retorno efetivo do “craque o Flamengo faz em casa”. Este diálogo abre espaço para a academia formal dentro do clube, em setores amplos: técnico, atlético, clinico, operacional, ensino/aprendizagem, institucional. Uma escola própria elevaria o nível de preparação de todo o clube a um outro nível de entendimento sobre o futebol (esportivo), as relações entre os atletas e seu papel social, torcida e imprensa, e sobre a vida além do esporte. 

Um motivo de integração entre os atletas do clube, criaria conforto, educação e uma identidade flamenga em todos os sentidos. A educação é a chave para um bom futuro dentro do futebol do Flamengo e deve ser um artigo de primeira grandeza. No passado existiu uma parceria educacional, onde os atletas do clube estudavam em regime “diferenciado”, não sei se a parceria ainda existe, mas acho que o ideal seria o clube ter sua própria escola, um ambiente adequado pelo clube, moldado para as suas necessidades, pois os atletas viajam bastante.

Logicamente, os grandes clubes do Brasil tem problemas financeiros, mas no médio e no longo prazo um profissional melhor preparado daria mais frutos e retorno desse INVESTIMENTO. Nem todos esses atletas se fixam no futebol, mas podem ser profissionais mais bem preparados, e inclusive, poderiam trabalhar no clube em qualquer outra função, desde que preparados para isso. Tenho quase certeza de que 90% de tudo o que disse serve para o futebol profissional e atletas como um todo. Será que o Flamengo planeja isso? Espero que sim, torço pra que sim.

Esportivamente uma melhor educação trará jogadores com decisões mais rápidas, melhor coordenação e não impede que prevaleça o talento natural de cada um. Uma outra vantagem seria a integração de diversas modalidades dentro desta escola, trazendo um cuidado do clube com todos, comprometimento do clube e dos atletas com o clube, uma identidade rubro-negra, raízes. 

segunda-feira, 28 de abril de 2014

O Limite

Buongiorno, Buteco! 27 de abril de 2014 e o Flamengo é um bando em campo, tomando um vareio de bola no primeiro tempo de um time que foi eliminado, no Campeonato Paulista, na primeira fase, em um grupo que contava com Ituano, Botafogo/SP, Audax/SP e XV de Novembro de Piracicaba. Um time dirigido pelo treinador que desprezou esse mesmo grupo, contra o qual nossos jogadores não se mostraram capazes sequer de ter hombridade e igualar o jogo na base da vontade. Os resultados anteriores? Eliminação na primeira fase da Taça Libertadores da América, ficando atrás de bolivianos e mexicanos e um ponto à frente dos equatorianos. No Estadual, campeão sem uma atuação convincente sequer. No Brasileiro, estreia sem gols e sem ameaçar o desestruturado vice campeão goiano, eliminado na Copa do Brasil pelo "poderoso" Botafogo/PB. E o que é o Flamengo no apagar do primeiro semestre de 2014? Um time sem formação titular definida, um grupo que parece não mais respeitar seu treinador, um time comandado por um treinador que parece não saber o que faz e começa a ter ideias que pouco sentido fazem. Um time que jogou cento e oitenta minutos, fora os descontos, e não balançou as redes no Campeonato Brasileiro.

O que esperava Jayme ontem ao escalar André Santos na meia esquerda? Será que por algum momento ele imaginou que o Flamengo ganharia o meio de campo na marcação e no toque de bola ou então planejou jogar no contra-ataque? Qual das duas alternativas é a pior? O sufoco que o Flamengo tomou nos primeiros minutos acabou por levar à falha coletiva da defesa no primeiro gol, ao meu ver em escala crescente de gravidade - primeiro, Samir perdeu a dividida, para em seguida Leonardo Moura, que fez um horroroso e irresponsável primeiro tempo, simplesmente ficar estático junto à trave dando condições ao ataque adversário e, ao final, o inacreditável desleixo de André Santos, de costas para quem devia marcar e que apenas se direcionou à bola, girou e arrematou para o gol sem marcação.

Vem o intervalo e Jayme saca Alecsandro, insubordinado, mas que lhe dissera algumas verdades, talvez dolorosas, e não é que o time melhora com as entradas de Nixon e Mugni e a saída de André Santos? Jayme só percebeu que a formação não do primeiro tempo não daria certo no intervalo ou há algo que o impeça de sacar jogadores mais famosos do time? Ou será que acredita neles, lembrando que, ao escalar Elano contra o León, justificou a opção por se tratar de "um jogador de Copa do Mundo"?

***

Por falar no Mundial, vem aí a parada da Copa do Mundo. O Flamengo tem uma oportunidade de ouro para começar de novo o ano em pleno final de semestre. Há um limite para errar e persistir em erros. Vejo em 2014 algo semelhante ao que ocorreu em 2010 após a conquista do Campeonato Brasileiro. Treinador "prata-da-casa" valorizado pela Diretoria, mas que passou a se achar mais do que era e perdeu autoridade com o grupo, jogadores perdendo a noção do profissionalismo e calçando o sapato alto, considerando-se "donos do time", o time naufragando na Libertadores (em 2014, antes do que se esperava), e sobretudo um trabalho fraco do Departamento de Futebol, em especial o seu produto raquítico dentro das quatro linhas.

Ok. Para ser justo: temos salários em dia, organização administrativa, seriedade e planejamento; entretanto, parece evidente que o grupo foi superestimado ou se superestima, ou talvez um pouco dos dois problemas esteja ocorrendo; mas o certo é que a sintonia e a união existentes em 2013 em busca de um objetivo comum, e principalmente a humildade desapareceram.

É hora de rever alguns conceitos, como diz aquela propaganda de automóvel. De cima abaixo. Se o Flamengo perder o timing, lutará para não cair esse ano, e talvez caia. Não se trata propriamente da qualidade do elenco, mas da qualidade do trabalho do Departamento de Futebol e da harmonia entre seus integrantes, atletas ou não, e seu comprometimento com os objetivos do setor.

Onde a Diretoria acha que chegaremos com o trabalho que está sendo feito pelos profissionais (atletas e demais profissionais) do Departamento de Futebol? E para onde nos levarão os autores da proeza, acaso sejam mantidos?

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2013 foi importante mas é hora de colocá-lo em seu devido e honroso lugar: na história do Flamengo. Falta dinheiro? Então é hora de rever os custos, a folha de salários, a começar pelos mais altos do elenco e o que vem sendo produzido. Há tempo e oportunidade para tanto. É hora de devolver André Santos ao Arsenal, de reconhecer o passado de Leonardo Moura no clube e acertar sua rescisão com dignidade. É hora de lucrar e, se for o caso, estudar propostas por Hernane e Paulinho e reinvestir o dinheiro em outros atletas, oxigenando e renovando o ambiente de trabalho. É momento de avaliar se não é o caso de substituir um treinador se ele não tiver mais respeito do grupo e virou seu refém, e se não demonstra capacidade, ímpeto e vontade para se reciclar e buscar outras alternativas, sobretudo táticas, visando aprimorar seu trabalho. É hora de escolher o treinador com o perfil (psicológico, tático, técnico, etc.) adequado para o que a Diretoria pretende executar no Departamento de Futebol (By Bcbfla). É ano de Copa do Mundo, de mercado efervescente, das oportunidades para os que não temem desafios e não se acomodam nem desistem na busca de seus objetivos.

Como de praxe, gostaria de saber a opinião d@s amig@s do Buteco a respeito.

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 "Fazer todos os dias as mesmas coisas e esperar resultados diferentes é a maior prova de insanidade." (Albert Einstein) By Unabomber Flamenina

SRN a tod@s.

domingo, 27 de abril de 2014

Corinthians x Flamengo


Campeonato Brasileiro - Série A - 2014 - 2ª Rodada

Corinthians: Cássio; Fagner, Cléber, Gil e Fábio Santos; Ralf, Guilherme e Jádson; Romarinho, Luciano (Petros) e Guerrero. Técnico - Mano Menezes.

FLAMENGO: Felipe; LeonardMoura, Wallace, Samie JoãPaulo; Cáceres, Márcio Araújo, Luiz Antonio e André Santos; Paulinho e Alecsandro. Técnico: Jayme dAlmeida.

Data, Local e Horário: Domingo, 27 de abril de 2014, as 16:00h (USA ET 15:00h), no Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho ou "Pacaembu", em São Paulo/SP.

Arbitragem: Leandro Pedro Vuaden (FIFA/RS), auxiliado por Rafael da Silva Alves (RS) e José Eduardo Calza (RS).



sábado, 26 de abril de 2014

A Luta do Flamengo





Irmãos flamengos,

esta humilde coluna foi inspirada em certos acontecimentos recentes, como a verdadeira briga política pela aprovação de mudanças no estatuto do clube, bem como por certas notícias veiculadas num pretenso órgão de imprensa, que em verdade é instrumento de divulgação panfletário. 

Amigos, nosso amado clube tem lutado em três frentes distintas: a primeira, nas lagoas, quadras, campos, piscinas, tatames e ginásios; a segunda, nos gabinetes e escritórios, com o equacionamento das dívidas, a moralização da gestão, o resgate da credibilidade do Flamengo, o trabalho para o desenvolvimento dos esportes olímpicos, o aperfeiçoamento da estrutura física do clube, com a modernização de suas instalações, dentre muitas outras atividades.

Por fim, quanto à terceira frente, esta tem se desenrolado no seio do próprio clube, na luta árdua e diária contra uma oposição oportunista e saudosa de tempos pretéritos, em que se visava não o bem do Flamengo, mas sim dele tirar proveitos pessoais.

Tracemos o quadro: imaginem, meus amigos, o clube de maior e melhor torcida do mundo, o maior do Brasil, com mais de quarenta milhões de torcedores. 

Um clube com capacidade inigualável de captação de recursos, que lidera as vendas de camisas e produtos licenciados, pay per view, e cujo programa de Sócio Torcedor, o mais caro do país, saiu de zero para sessenta e cinco mil em apenas um ano. Ou seja, um clube que pode anunciar a venda de roupa íntima velha e usada com a certeza de que venderá aos milhões.

Um clube que atrai investidores e parceiros com muita facilidade, mesmo com toda a bagunça e falta de transparência que então imperavam até a chegada da atual diretoria. 

Imaginem, portanto, esse clube, com todo esse potencial, sendo administrado por uma patotinha, cujo horizonte não enxerga um palmo além dos seus próprios interesses.

Um clube que celebrava contratos milionários com vários atletas de eficiência duvidosa, com as contas sendo pagas até hoje, e cuja base era sucateada e fatiada entre empresários e investidores de fachada.

Um clube que, ao assinar cada contrato, seja com atleta, seja com patrocinador, invariavelmente negociava o pagamento de uma comissãozinha ao sócio, dirigente ou terceiro que intermediasse o negócio.

Um clube que, por sua grandeza, sempre permitia, se não a entrada direta de recursos em contas bancárias, ao menos um empreguinho aqui, outro acolá, além da barganha traduzida em favorecimentos de ordem não pecuniária, em troca de votos e apoio nas propostas postas à votação, como se não se tratasse de uma instituição esportiva centenária e tradicional, mas de uma feira, onde se negociava de tudo.  

Um clube cuja administração era feita sem transparência alguma, em que contratos eram celebrados sem nenhum controle substancial, onde valores simplesmente sumiam no momento da elaboração do balancete e que despesas, muitas vultosas, eram realizadas sem a devida comprovação da contrapartida ou mesmo de um simples recibo. 

Pois é, meus amigos, todo esse patrimônio e toda essa magnitude eram utilizados em benefício de meia dúzia de pessoas interessadas não em viver para o Flamengo, mas do Flamengo.

Gente que, acostumada a tratar o clube como instrumento de realização de interesses privados, entendia, ou melhor, entende, que o Flamengo lhes pertence e que deve permanecer, ad eternum, como fonte inesgotável de seu sustento.

Gente que habituou-se à falta de transparência em tudo que envolve o clube, disso resultando a facilitação plena de seus empreendimentos nefastos.

Gente que vê o Flamengo como uma vaca leiteira, cujas tetas devem ser mamadas vorazmente, ainda que isso implique na inviabilidade administrativa, financeira e esportiva do clube.

Gente que não admite ver o Flamengo caminhar por si, que não aceita o fim da bocada, que resiste, com todas as forças, a assistir o trem pagador partir finalmente da estação a qual, salve São Judas Tadeu, jamais retornará. 

Gente que, no afã de defender seus interesses escusos, utiliza todas as armas de que dispõe, inclusive a mentira, a perfídia e a violência.

Pois é esse tipo de gente que todo aquele que deseja o bem do Clube de Regatas do Flamengo terá de enfrentar. Que o diga o Zico.

E a resistência oposicionista não se faz mediante a troca de ideias, ou através da demonstração clara e inequívoca dos desacertos das propostas e atos que têm sido feitos, mas sim na base da ofensa pessoal, da agressão física, da intimidação.

Parece, e aqui voltamos ao início do texto, que a oposição inclusive encontrou um veículo de comunicação para externar as suas teses escatológicas.

Um veículo, aliás, que não merece ser referido como órgão de imprensa, mas como um canal por onde escoam as fezes pútridas e fétidas das viúvas de uma fase em que o Flamengo, infelizmente, sofria nas mãos daqueles que, em benefício próprio, praticavam a prodigalidade com os recursos da instituição.

A coisa vai a tal ponto que tem gerado forte reação na própria imprensa. Muitos jornalistas têm apontado com firmeza como certo órgão tem atuado mais como distribuidor de panfletos do que como veículo de comunicação.

A verdade passa longe dessas bandas. 

E é muito bom verificar que a torcida do Flamengo tem percebido perfeitamente onde estão os inimigos do clube.

Eu manifesto, até que me provem o contrário, pleno apoio à atual diretoria do Clube de Regatas do Flamengo. Vejo que tem sido feito um belíssimo trabalho de reconstrução do clube. 

Sou muito grato, de coração, a todos aqueles que dispõem de seu tempo e de seu saber para labutar em prol do bem do Mengo, às vezes intermináveis horas que poderiam ser destinadas ao lazer, à família e aos amigos.

Erros existem e existirão sempre. Mas uma coisa é o erro pontual, decorrente de uma opção legítima que mostrou-se, posteriormente, ruim; outra coisa, bem distinta, é o erro motivado por má-fé, cuja justificação é mero exercício de retórica falaciosa para esconder a sua verdadeira motivação.

Mas que fique o alerta: é preciso atenção e fibra constantes. A luta pela defesa do Clube de Regatas do Flamengo é eterna.
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Quanto ao jogo de amanhã, apenas um recado: prefiro o Jayme a qualquer medalhão caríssimo que temos no Brasil.

É rubro-negro, filho de um Tricampeão, e tem história no clube.

Mas é preciso fazer esse time jogar. Se continuar como está, a situação em dado momento poderá ficar insustentável. 

Mais que uma crítica, um apelo: Jayme e jogadores, por favor, tragam essa vitória domingo para a torcida rubro-negra.


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Abraços, Saudações Rubro-Negras e bom fim de semana a todos.
Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

De volta


De volta das férias encontro o Flamengo eliminado da Libertadores logo depois de conseguir uma improvável vitória no Equador e campeão estadual com um gol em impedimento nos acréscimos do segundo tempo. É uma das coisas mais incríveis de ser Rubro-Negro a capacidade do time de gerar momentos de emoção depois de um começo de temporada em que estava até difícil de arrumar assunto.

Também não vi o jogo da primeira rodada do Campeonato Brasileiro e li que o time jogou mal mais uma vez. Os melhores momentos também não ajudaram muito, mas pelo que me foi dito, o time continua apresentando as mesmas falhas desde o início do ano. Uma crítica que li em alguma matéria dava a entender que o próprio Jayme admitiu que a falta de sequência de um time titular vem atrapalhando na questão que, na minha opinião, é o maior problema desse time: o posicionamento defensivo.

Já discutimos muito aqui sobre isso e sobre como a organização e a disciplina tática tornaram o Mais Querido extremamente competitivo no ano passado, a ponto de bater times considerados mais fortes e com elencos superiores ao nosso. Da mesma forma, os dois jogos desta semana pelas semifinais da Champions League mostraram claramente a importância dos conceitos de posicionamento defensivo e transição rápida nos contra-ataques no futebol de hoje.

Seria maravilhoso então, se o velho Jayme conseguisse aproveitar essas primeiras semanas do campeonato, em que jogaremos apenas nos fins de semana, para reorganizar o time. E treinar. Muito. Insistente e exaustivamente. Fundamentos, posicionamento, jogadas ensaiadas, bolas paradas e até mesmo cobrança de pênaltis. Vale até aproveitar para deixar o Elano no estaleiro, se recuperando por bastante tempo para que possa voltar apenas quando estiver bem de verdade, sem risco de nova lesão.

No ano passado, o Flamengo desperdiçou as rodadas iniciais, perdendo pontos para times que acabaram rebaixados o que deixou a nós torcedores apreensivos até as últimas rodadas. Depois de quatro jogos sem vitória, já na segunda rodada vamos ter um jogo explosivo. Como no ano passado, o adversário vai estar em festa, agora se despedindo da sua antiga casa. E ainda há o duelo contra o fujão que abandonou o time. Gostaria muito de reencontrar o Flamengo jogando com sangue nos olhos e dando aos torcedores paulistas uma amarga despedida do Pacaembu.

abraços a todos e SRN!

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Alfarrábios do Melo


Saudações flamengas a todos,

Com o início do Campeonato Brasileiro e a aparente intenção da diretoria de, ao menos nesse primeiro momento, investir em jogadores baratos e com (teórico) potencial de retorno, novamente se suscita uma polêmica acerca da validade desse tipo de estratégia.

Assim, penso ser interessante recorrer à história para analisar três momentos vitoriosos do rubro-negro, que redundaram nas equipes vencedoras em 80-83, 86-87 e 91-92.

Nessa série, serão mostrados jogadores que vieram ao Flamengo como investimento de baixo custo, trazidos de equipes menores ou recrutados das divisões de base, com o objetivo de compor o elenco e, talvez, crescer ganhando destaque.

Com um pequeno porém.

Serão listados os jogadores que, dentro desse contexto, não deram certo, ou tiveram um sucesso apenas relativo. Os que ficaram pelo caminho, sem conseguir (pelo menos no Flamengo) alçar voos que os levassem ao caminho do protagonismo pleno.

Essa semana, listo a primeira parte, com as apostas do período do tri brasileiro (e demais conquistas da época).

AS APOSTAS ESQUECIDAS – PARTE I (1980 a 1983)

GOLEIROS

HÉLIO (1980)
Revelação das divisões de base do Flamengo nos anos 1970, foi emprestado a Cruzeiro e América-MG para ganhar experiência. Finalmente em 1980 acabou incorporado de vez ao elenco flamengo, como terceiro goleiro. Chegou a atuar em algumas partidas, mas nunca desfrutou da confiança de Cláudio Coutinho, a ponto do treinador solicitar a contratação emergencial de outro goleiro ao constatar que o reserva Cantarele, atingido por uma lesão, ficaria um tempo afastado. Desprestigiado, acabou envolvido na negociação que trouxe o meia Lico para o clube, vindo do Joinville. Encerrou a carreira precocemente na equipe catarinense, iniciando a seguir carreira de treinador, com algum mercado em centros menores.

LUIZ ALBERTO (1981-1983)
Com a saída de Hélio, foi contratado pelo Flamengo para compor o elenco como terceiro goleiro. Revelado no Bangu, vinha de passagens elogiadas por clubes como Campo Grande e América-SP. No Flamengo atuou em algumas poucas partidas, onde mostrou qualidades, como elasticidade e muito arrojo, mas não conseguiu prosperar em uma posição dominada pelos experientes Raul e Cantarele. Com o anúncio da aposentadoria de Raul, as consequentes contratações de Fillol, Abelha e a ascensão de Hugo, sentiu-se desmotivado e resolveu encerrar a carreira, aos 30 anos. Tornou-se preparador de goleiros (com passagem pelo próprio Flamengo), e recentemente integrou a comissão técnica do Botafogo dirigido por Oswaldo de Oliveira.

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LATERAIS

GILSON PAULINO (1980)
Com a venda de Toninho Baiano para o futebol árabe, o Flamengo precisou reforçar a lateral-direita, posição em que só contava com o bom Carlos Alberto e o ainda jovem Leandro. Assim, do Vasco, por empréstimo, veio Gilson Paulino, jogador experiente, com passagens por Atlético-MG e Coritiba. Recebeu algumas oportunidades em uma excursão do Flamengo à Europa, logo após o título brasileiro. Mas não esteve bem, sendo particularmente criticado na desastrosa participação rubro-negra no Torneio Teresa Herrera. Com isso, perdeu espaço inclusive para Leandro, tornando-se a terceira opção do elenco. Ao final do ano, foi devolvido ao Vasco. Após experiência no futebol mexicano, apareceu em 1983, fazendo parte do famoso Bangu de Marinho e Arturzinho.


NEI DIAS (1981)
Irmão do atacante Nilson Dias (que fez algum sucesso no Botafogo), atuava no XV de Jaú-SP quando foi indicado por Dino Sani para compor o elenco do Flamengo em 1981. Com a lesão de Carlos Alberto, ganhou algumas oportunidades até perder a posição para Leandro. Lateral vigoroso, bom marcador e razoável no apoio, foi peça importante na reta final da temporada, atuando na equipe enquanto Leandro era improvisado no meio-campo. Mas, sem espaço e querendo jogar, conseguiu ser negociado com o Fluminense, onde teve passagem discreta. Foi titular do Brasil de Pelotas que chegou às Semifinais do Brasileiro de 1985, eliminando, entre outras equipes, o próprio Flamengo.

DJALMA BRAGA (1982)
Destaque no Matsubara-PR, chegou emprestado ao Flamengo para a reserva de Leandro, repondo a saída de Nei Dias (Carlos Alberto seguia lesionado). Atuou em alguns amistosos, não agradou e ao final do ano acabou devolvido aos paranaenses.

ANTUNES (1978 - 1982)
Jovem revelação das categorias de base, oriundo da Cruzada de São Sebastião, era um jogador habilidoso, capaz de atuar nas duas laterais. Depois de alguns anos de espera, enfim teve sua grande chance em 1982, justamente durante a partida final do Brasileiro, contra o Grêmio no Olímpico, após contusão de Leandro. Apesar do início meio vacilante, saiu-se bem, não se intimidando com a assombrosa fogueira. O bom desempenho deu-lhe prestígio, e Antunes se tornou a segunda opção para a lateral, sendo bastante utilizado no Estadual, onde marcou até gol. Mas seu temperamento difícil e pouco disciplinado acabaram lhe tirando espaço no elenco. Sua carreira degringolou, e Antunes acabaria atuando em equipes do Norte-Nordeste. Faleceu em 1996, aos 37 anos, encerrando sua triste história.

COCADA (1983)
Grandão e desengonçado, veio emprestado do Operário-MS para a disputa do Campeonato Brasileiro, anunciando que seria ídolo. Andou marcando alguns gols e mostrando potencial ofensivo, mas sua completa inoperância defensiva acabou abreviando sua carreira no clube. Acabou devolvido, e mais tarde se tornaria célebre ao marcar o gol do título do Vasco na decisão do Estadual de 1988.

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ZAGUEIRO

MANGUITO (1978-1981)
Trazido do Grêmio Maringá (por engano, segundo várias e respeitáveis vozes), o estabanado e voluntarioso zagueiro protagonizou muitos momentos em que deixou o torcedor flamengo à beira de sérios colapsos nervosos, como no célebre último lance da Final do Campeonato Brasileiro de 1980. Sua forma peculiar e extravagante de jogo o posicionou sempre como a segunda ou terceira opção do elenco para o setor. Uma lesão acabou abreviando sua carreira, em 1981. Faleceu em 2012, vítima de infarto.

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VOLANTE

LINO (1978-1981)
Revelado no Ypiranga-BA, chegou ao Flamengo com o status de grande revelação. Mas, apesar de seu jogo tático e da facilidade em chegar ao ataque, não conseguiu vencer a concorrência de nomes como Andrade, Carpegiani e Vítor. Depois de ser emprestado inúmeras vezes, teve sua grande chance justamente no Brasileiro de 1981, em que o Flamengo vivia um momento turbulento. Utilizado como quebra-galho (chegou a ser improvisado na ponta-direita), não agradou e perdeu definitivamente o espaço, sendo a seguir negociado. Apareceu com destaque no Atlético-PR, Santos e Palmeiras, anos mais tarde.

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MEIAS

ADERSON (1980)
Revelado no futebol amazonense, andou sendo utilizado em alguns amistosos em 1980, sendo devolvido ao final do empréstimo. Meia técnico e algo lento, não prosperou na posição mais concorrida do time. Não levou a carreira adiante, priorizando seus estudos na Faculdade de Medicina, em que se formou.

PEU (1981-1983)
Grande destaque do CSA-AL (Vice-campeão da Taça de Prata de 1980), chegou ao Flamengo cercado de esperanças (os mais afoitos o comparavam a Dida). No Brasileiro de 1981, até conseguiu, em alguns jogos, cravar gols e boas atuações, substituindo de forma aceitável o craque Zico, que servia à Seleção nas Eliminatórias. Com a volta do Galinho, tornou-se um coadjuvante mais conhecido pelas piadas com que se divertia e animava o elenco. Em 1982, uma lesão de Nunes o fez atuar improvisado como centroavante, função que conseguiu exercer muito bem em algumas partidas (é célebre a antológica atuação nas Semifinais do Brasileiro, contra o Guarani no Maracanã). No Estadual começou bem, mas caiu de produção junto com o time e acabou emprestado ao Atlético-PR ao final do ano. No segundo semestre, foi tentado como opção para o lugar de Zico, mas (como era previsível, dado o caos vivido na Gávea) não deu certo e ao final do ano foi vendido para o Santa Cruz.

(CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA)