quinta-feira, 24 de abril de 2014

Alfarrábios do Melo


Saudações flamengas a todos,

Com o início do Campeonato Brasileiro e a aparente intenção da diretoria de, ao menos nesse primeiro momento, investir em jogadores baratos e com (teórico) potencial de retorno, novamente se suscita uma polêmica acerca da validade desse tipo de estratégia.

Assim, penso ser interessante recorrer à história para analisar três momentos vitoriosos do rubro-negro, que redundaram nas equipes vencedoras em 80-83, 86-87 e 91-92.

Nessa série, serão mostrados jogadores que vieram ao Flamengo como investimento de baixo custo, trazidos de equipes menores ou recrutados das divisões de base, com o objetivo de compor o elenco e, talvez, crescer ganhando destaque.

Com um pequeno porém.

Serão listados os jogadores que, dentro desse contexto, não deram certo, ou tiveram um sucesso apenas relativo. Os que ficaram pelo caminho, sem conseguir (pelo menos no Flamengo) alçar voos que os levassem ao caminho do protagonismo pleno.

Essa semana, listo a primeira parte, com as apostas do período do tri brasileiro (e demais conquistas da época).

AS APOSTAS ESQUECIDAS – PARTE I (1980 a 1983)

GOLEIROS

HÉLIO (1980)
Revelação das divisões de base do Flamengo nos anos 1970, foi emprestado a Cruzeiro e América-MG para ganhar experiência. Finalmente em 1980 acabou incorporado de vez ao elenco flamengo, como terceiro goleiro. Chegou a atuar em algumas partidas, mas nunca desfrutou da confiança de Cláudio Coutinho, a ponto do treinador solicitar a contratação emergencial de outro goleiro ao constatar que o reserva Cantarele, atingido por uma lesão, ficaria um tempo afastado. Desprestigiado, acabou envolvido na negociação que trouxe o meia Lico para o clube, vindo do Joinville. Encerrou a carreira precocemente na equipe catarinense, iniciando a seguir carreira de treinador, com algum mercado em centros menores.

LUIZ ALBERTO (1981-1983)
Com a saída de Hélio, foi contratado pelo Flamengo para compor o elenco como terceiro goleiro. Revelado no Bangu, vinha de passagens elogiadas por clubes como Campo Grande e América-SP. No Flamengo atuou em algumas poucas partidas, onde mostrou qualidades, como elasticidade e muito arrojo, mas não conseguiu prosperar em uma posição dominada pelos experientes Raul e Cantarele. Com o anúncio da aposentadoria de Raul, as consequentes contratações de Fillol, Abelha e a ascensão de Hugo, sentiu-se desmotivado e resolveu encerrar a carreira, aos 30 anos. Tornou-se preparador de goleiros (com passagem pelo próprio Flamengo), e recentemente integrou a comissão técnica do Botafogo dirigido por Oswaldo de Oliveira.

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LATERAIS

GILSON PAULINO (1980)
Com a venda de Toninho Baiano para o futebol árabe, o Flamengo precisou reforçar a lateral-direita, posição em que só contava com o bom Carlos Alberto e o ainda jovem Leandro. Assim, do Vasco, por empréstimo, veio Gilson Paulino, jogador experiente, com passagens por Atlético-MG e Coritiba. Recebeu algumas oportunidades em uma excursão do Flamengo à Europa, logo após o título brasileiro. Mas não esteve bem, sendo particularmente criticado na desastrosa participação rubro-negra no Torneio Teresa Herrera. Com isso, perdeu espaço inclusive para Leandro, tornando-se a terceira opção do elenco. Ao final do ano, foi devolvido ao Vasco. Após experiência no futebol mexicano, apareceu em 1983, fazendo parte do famoso Bangu de Marinho e Arturzinho.


NEI DIAS (1981)
Irmão do atacante Nilson Dias (que fez algum sucesso no Botafogo), atuava no XV de Jaú-SP quando foi indicado por Dino Sani para compor o elenco do Flamengo em 1981. Com a lesão de Carlos Alberto, ganhou algumas oportunidades até perder a posição para Leandro. Lateral vigoroso, bom marcador e razoável no apoio, foi peça importante na reta final da temporada, atuando na equipe enquanto Leandro era improvisado no meio-campo. Mas, sem espaço e querendo jogar, conseguiu ser negociado com o Fluminense, onde teve passagem discreta. Foi titular do Brasil de Pelotas que chegou às Semifinais do Brasileiro de 1985, eliminando, entre outras equipes, o próprio Flamengo.

DJALMA BRAGA (1982)
Destaque no Matsubara-PR, chegou emprestado ao Flamengo para a reserva de Leandro, repondo a saída de Nei Dias (Carlos Alberto seguia lesionado). Atuou em alguns amistosos, não agradou e ao final do ano acabou devolvido aos paranaenses.

ANTUNES (1978 - 1982)
Jovem revelação das categorias de base, oriundo da Cruzada de São Sebastião, era um jogador habilidoso, capaz de atuar nas duas laterais. Depois de alguns anos de espera, enfim teve sua grande chance em 1982, justamente durante a partida final do Brasileiro, contra o Grêmio no Olímpico, após contusão de Leandro. Apesar do início meio vacilante, saiu-se bem, não se intimidando com a assombrosa fogueira. O bom desempenho deu-lhe prestígio, e Antunes se tornou a segunda opção para a lateral, sendo bastante utilizado no Estadual, onde marcou até gol. Mas seu temperamento difícil e pouco disciplinado acabaram lhe tirando espaço no elenco. Sua carreira degringolou, e Antunes acabaria atuando em equipes do Norte-Nordeste. Faleceu em 1996, aos 37 anos, encerrando sua triste história.

COCADA (1983)
Grandão e desengonçado, veio emprestado do Operário-MS para a disputa do Campeonato Brasileiro, anunciando que seria ídolo. Andou marcando alguns gols e mostrando potencial ofensivo, mas sua completa inoperância defensiva acabou abreviando sua carreira no clube. Acabou devolvido, e mais tarde se tornaria célebre ao marcar o gol do título do Vasco na decisão do Estadual de 1988.

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ZAGUEIRO

MANGUITO (1978-1981)
Trazido do Grêmio Maringá (por engano, segundo várias e respeitáveis vozes), o estabanado e voluntarioso zagueiro protagonizou muitos momentos em que deixou o torcedor flamengo à beira de sérios colapsos nervosos, como no célebre último lance da Final do Campeonato Brasileiro de 1980. Sua forma peculiar e extravagante de jogo o posicionou sempre como a segunda ou terceira opção do elenco para o setor. Uma lesão acabou abreviando sua carreira, em 1981. Faleceu em 2012, vítima de infarto.

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VOLANTE

LINO (1978-1981)
Revelado no Ypiranga-BA, chegou ao Flamengo com o status de grande revelação. Mas, apesar de seu jogo tático e da facilidade em chegar ao ataque, não conseguiu vencer a concorrência de nomes como Andrade, Carpegiani e Vítor. Depois de ser emprestado inúmeras vezes, teve sua grande chance justamente no Brasileiro de 1981, em que o Flamengo vivia um momento turbulento. Utilizado como quebra-galho (chegou a ser improvisado na ponta-direita), não agradou e perdeu definitivamente o espaço, sendo a seguir negociado. Apareceu com destaque no Atlético-PR, Santos e Palmeiras, anos mais tarde.

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MEIAS

ADERSON (1980)
Revelado no futebol amazonense, andou sendo utilizado em alguns amistosos em 1980, sendo devolvido ao final do empréstimo. Meia técnico e algo lento, não prosperou na posição mais concorrida do time. Não levou a carreira adiante, priorizando seus estudos na Faculdade de Medicina, em que se formou.

PEU (1981-1983)
Grande destaque do CSA-AL (Vice-campeão da Taça de Prata de 1980), chegou ao Flamengo cercado de esperanças (os mais afoitos o comparavam a Dida). No Brasileiro de 1981, até conseguiu, em alguns jogos, cravar gols e boas atuações, substituindo de forma aceitável o craque Zico, que servia à Seleção nas Eliminatórias. Com a volta do Galinho, tornou-se um coadjuvante mais conhecido pelas piadas com que se divertia e animava o elenco. Em 1982, uma lesão de Nunes o fez atuar improvisado como centroavante, função que conseguiu exercer muito bem em algumas partidas (é célebre a antológica atuação nas Semifinais do Brasileiro, contra o Guarani no Maracanã). No Estadual começou bem, mas caiu de produção junto com o time e acabou emprestado ao Atlético-PR ao final do ano. No segundo semestre, foi tentado como opção para o lugar de Zico, mas (como era previsível, dado o caos vivido na Gávea) não deu certo e ao final do ano foi vendido para o Santa Cruz.

(CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA)