segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Lições e (Ainda) as Conjecturas

 

Salve, Buteco! Quando escrevi, na semana passada, que, se tivesse favorito, seria o Palmeiras, não estava fazendo média. Inclusive fui para o estádio consciente de que seria difícil. Em nenhum momento, antes do jogo, consegui, por exemplo, enxergar o Flamengo vencendo nos pênaltis, e sabia que, por ser o primeiro jogo a vera da temporada, dificilmente o time venceria durante os 90 minutos.

Façam uma pesquisa sobre o adversário. Palmeiras não é Vasco da Gama e muito menos Atlético Mineiro. Palmeiras não é Fluminense. É o clube com maior número de títulos nacionais. Acredito que existam dois adversários com tamanho e perfil para desafiar permanentemente o Flamengo em competições nacionais: Corinthians e Palmeiras. 

Nem o São Paulo entra nessa seleta lista. O tricolor paulista teve, a partir de 1986, exatas duas décadas de glória suprema. Em todo o restante de seus até aqui menos de 100 anos de História, esteve abaixo da dupla Palmeiras e Corinthians.

Nos dias atuais, malgrado a sua disputa perene com o Corinthians, pelos motivos que todos sabemos apenas o novo campeão da Supercopa tem condições de rivalizar conosco a curto e médio prazos. E por isso, esportivamente, faz com o Flamengo o maior clássico do Brasil no momento, o que é diferente de maior rivalidade ou mesmo rivalidade mais acirrada.

Com absoluta consciência da ameaça que o rival representa, o Palmeiras enfrenta o Flamengo com a faca nos dentes, tal como o fazem Atlético Mineiro, Botafogo, Fluminense e Vasco da Gama, por exemplo. Só que, além de ser maior e ter uma camisa muito mais pesada do que todos eles, com Abel Ferreira tem algo a mais, que não se resume ao aspecto tático, agregando também grande força mental. 

O Palmeiras não é, nunca foi e jamais será o tipo de rival que o Flamengo vencerá entrando soberbo dentro de campo. Existem outros rivais que podem ser encaixados nesta descrição (Fluminense, por exemplo), mas na minha opinião apenas o Corinthians é tão grande quanto e, portanto, oferece risco de igual tamanho.

É preciso muito cuidado com essa rivalidade: dos anos 90 para cá, em finais vencemos a Mercosul/1999 e a Supercopa/2021, enquanto eles venceram Maria Quitéria/1997, Naranja/1997, Libertadores/2021 e Supercopa/2023. Finais, de diversos tamanhos e espécies, com algumas "tãçinhãs", mas todas finais, valendo taça. E para piorar, o Palmeiras também vence no confronto direto (42x48 vitórias e 184x204 gols). 

Portanto, nenhum jogo contra o Palmeiras deveria ser precedido de soberba. Tampouco é sábio e conveniente provocar ostensivamente a torcida desse adversário durante os 90 minutos.

Buda Mendes/Getty Images

Quando escrevi que seria muito importante para o trabalho de Vítor Pereira começar conquistando a Supercopa do Brasil (apesar da maldição), não externei o que achava mais provável, mas o que mais desejava, ainda que essa opção oferecesse o risco do oba-oba, sempre presente no Flamengo, principalmente antes de um Mundial de Clubes.

Nem por isso acho que a derrota tenha sido o pior dos cenários. Muito pelo contrário, existem derrotas "didáticas" e creio que foi o caso da de sábado. Arrisco-me até a dizer que veio para o melhor, pois diminui bastante o espaço para salto alto daqui por diante, inclusive, vejam só, por parte da Diretoria.

Por outro lado, prevejo que os próximos confrontos contra o Palmeiras serão marcados por uma mobilização diferente do elenco. Só espero que, quando acontecer, estejam em paz com o seu treinador, seja ele quem for.

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João Gomes não é um craque nem insubstituível, mas era titular e peça-chave no esquema tático, tendo em vista a combatividade. O Flamengo de 2013 para cá preza a boa governança financeira e não serei eu a criticar a utilização de revelações da base para montar times competitivos.

Contudo, tudo na vida é questão de timing. Se entendeu ser indispensável negociar neste momento o jogador, a semanas do Mundial de Clubes, a mesma Diretoria que se vangloria de "não precisar mais apresentar garantias bancárias quando senta à mesa para negociar"  teria que desde logo trazer a peça de reposição, ou será que só pode ser com (muita) grife e vindo da Europa?

Falando nisso, as peças de reposição do elenco não têm características semelhantes as dos titulares que saíram - Rodinei e João Gomes. O novo esquema do treinador levará tempo para ser assimilado (se ele resistir no cargo). Logo, é forçoso reconhecer que o planejamento de 2023 não levou o Mundial de Clubes como prioridade, sob pena de apontarmos um episódio grave de incompetência.

Quando falo em priorizar o Mundial, refiro-me a não passar vexame. Que fique claro.

A gestão de Rodolfo Landim é histórica, mas também pode ficar marcada pela perda de oportunidades históricas. O presidente, antes do início de seu primeiro mandato, afirmou que tem como gestor a qualidade de escalar as pessoas certas para os lugares certos.

Não sei o que pensam a respeito, mas parece-me clara a capacidade de fazer conviver, na mesma Diretoria, pessoas com pensamentos absolutamente antagônicos. Essa mesma característica coloca como grande ponto de interrogação na sua sucessão. Não há em sua Diretoria candidatos com o mesmo perfil, mas apenas com a expectativa de sucedê-lo, o que nos permite projetar uma disputa muito acirrada em 2024, até pelas rivalidades internas.

E até lá, o que acontecerá? Não é todo dia que se tem a honraria de disputar o Mundial de Clubes e ninguém sabe quando isso ocorrerá de novo, nesta mesma gestão Landim ou nas próximas.

A torcida merecia mais transparência e respeito. O planejamento da temporada 2023 é um dos piores da História do clube.

***

O Flamengo não contratou um Domènec Torrent ou um Paulo Sousa da vida, mas um treinador de verdade. Basta analisar o currículo. Muitas são as variáveis que podem determinar o sucesso ou o fracasso de um treinador em um determinado clube. 

Contudo, em se tratando de Flamengo, é inadmissível cogitar de mais uma fritura de comissão técnica. Comentei as declarações de Filipe Luís no post da semana passada, dentro do contexto das dificuldades da partida contra o Palmeiras.

Faltou dizer naquele post que o seu chilique é intolerável. Cabe à Diretoria por fim nesse círculo vicioso do elenco brilhante, mas igualmente mimado, que se acha no direito de escolher o treinador.

É claro que o treinador precisa ser cobrado. É muito bem remunerado para fazer o time jogar bola. Só que a passagem de Vítor Pereira pelo Flamengo exigirá refinamento de critérios para determinar responsabilidades, considerando o seu currículo e os precedentes no proprio clube com os dois últimos treinadores estrangeiros. 

É bom que a torcida olhe com lupa para tudo.

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É hora de virar a chave. A expectativa, a partir de agora, passa a ser foco total na missão de chegar à final do Mundial de Clubes.

Boa semana e SRN a tod@s.

domingo, 29 de janeiro de 2023

A Maldição da Supercopa

 

Salve, Buteco! O domingo começa meio cinzento, certo? É natural, pelas pancadas de chuva dessa época do ano, e também pela atuação sofrível do Flamengo no Mané Garrincha, na tarde de ontem. Eu bem que estava ressabiado quanto a esse jogo, como alertei no post da semana passada. Se havia favorito, era o Palmeiras. E como escrevi há vinte dias, "pode a primeira vista parecer exagero, mas tenho convicção de que o primeiro trimestre e os dez primeiros dias de abril serão decisivos para a estabilidade rubro-negra durante o restante do ano. Como todos sabemos, o Campeonato Brasileiro e as Copas do Brasil e Libertadores da América são são decididas somente no final da temporada; a questão, contudo, é em quais condições o clube chegará ao início dessas competições." 

Vítor Pereira precisa sobreviver até abril. Se o fizer, creio que teremos uma grande temporada, daquelas inesquecíveis; todavia, o caminho até as rodadas inaugurais é um tanto íngreme, envolvendo pré-temporada acelerada, mudança de sistema de jogo, perda de titulares absolutos, não mantidos pura e exclusivamente por decisões patrimoniais e financeiras da Diretoria, tudo isso às vésperas da disputa de um Mundial de Clubes, que a mesma Direção acredita estar abaixo dos "Prêmios Itaú" que tanto preza.

Vítor Pereira ao menos não precisará vencer a "Maldição da Supercopa". Os dois treinadores que já conquistaram a competição, pelo Flamengo, por motivos distintos não duraram muito depois de levantarem a taça.

Já Abel Ferreira, se for minimamente místico, terá com o que se preocupar. Senão vejamos:

*2020: Jorge Jesus venceu afirmando ter "a sensação de que voltaremos ao Mundial de Clubes, porque vamos ganhar a Libertadores e voltaremos à final". Não só saiu do clube, como o seu sucessor fracassou de maneira retumbante, sofrendo sucessivas goleadas. O Flamengo conquistou o Brasileiro, mas com um terceiro treinador no ano, no limite, no "radinho", assistindo ao final do jogo entre Internacional x Corinthians pelo celulares. E assistiu ao Palmeiras de Abel Ferreira conquistar a Copa do Brasil e a Libertadores.

*2021: Ceni não só a conquistou, como venceu o mesmo adversário (e treinador) na 1ª Rodada do Campeonato Brasileiro. Cheguei a comentar com vocês (em tom de brincadeira) que achava estar "ficando Cenil", e terminei, um mês e poucos dias depois, acusando-o de ser um "posicional de conveniência", mas hoje acho que preferiria ter terminado o ano com ele. Ainda que fosse para terminar, como terminamos, o ano "com as mãos abanando". O vice-campeão da Supercopa ainda cairia para o CRB na Copa do Brasil, mas ao final levantaria a Libertadores, em cima do campeão... da Supercopa.

*2022: o treinador ainda duraria todo o semestre, mas caiu, e o campeão brasileiro e da Copa do Brasil piorou com sua saída, terminando a temporada, aos trancos e barrancos, com uma vaguinha na pré-Libertadores desse ano, sem título relevante. O vice-campeão da Supercopa levou a Copa do Brasil, eliminando o campeão da Supercopa, e a Libertadores, numa espetacular reviravolta na temporada.

*2023:  loading...

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Do jogo de ontem, não há muito de positivo para se destacar. No primeiro tempo, o time encaixotado não conseguiu jogar. A saída de bola, pior do que na época do Márcio Araújo, com os bicões para onde o nariz de Rafael Vaz decidia apontar. O gol que abriu a contagem foi de bola perua, e fez a torcida rubro-negra comemorar, mas no final veio a frustração do quarto gol palmeirense, irregular e com Santos caçando borboletas, dando números finais ao bailarino placar.

Gérson não foi, não é e não será problema para se lidar. Correu e suou muito, sou o primeiro a testemunhar. Só que não é o João Gomes, não para a função tática que o cria estava a desempenhar. João Gomes que queria jogar e que o treinador queria escalar, mas que o pessoal do "Prêmio Itaú" preferiu negociar, só para bater meta anual em janeiro, às vésperas do Mundial de Clubes que está prestes a se iniciar.

Pela direita, Varela se limitava a marcar, e quando Matheuzinho entrou, desembestou-se a apoiar, para depois voltar lentamente à defesa, leve e faceiro a trotar. A torcida do Flamengo, apegada ao ranço com o Rodinei, ainda sentirá muita falta daquele apoio. Será preciso separar o trigo do joio.

Ainda está longe de ser o time do Vitor Pereira no Porto. Sem apoio pela direita e com Everton Bibeiro aberto, o Flamengo ficou rombudo e torto, fazendo-nos temer pelo futuro incerto, com o time parecendo morto.

Vou encerrar essas mal traçadas linhas, pedindo para que vocês parem com as picuinhas. E para esse domingo bem terminar, vou até me autocitar:

"O mais importante, no frigir dos ovos, é ter em mente que a Supercopa não define, ou não deveria definir, coisa alguma na temporada de um clube. Além do próprio exemplo de 2021, em 2022 o Flamengo foi melhor do que o Atlético Mineiro, mas uma substituição de Paulo Sousa comprometeu a conquista do título durante os 90 minutos. O Galo cacarejou em Cuiabá, mas meses depois o Flamengo jantou galinha caipira no inferno do Maracanã, e bem sabemos como depois terminou a temporada para cada clube.

A Supercopa, por sinal, será simplesmente o primeiro confronto a vera do time de Vítor Pereira, que enfrentará o Bangu antes de um Palmeiras há 3 anos dirigido por Abel Ferreira, e ainda por cima "aquecido" por um clássico contra o São Paulo de Rogério Ceni.

Para o bem e para o mal, não será minimamente sensato tirar conclusões definitivas depois do apito final do árbitro.

Bom Dominge SaudaçõeRubro-Negras.

sábado, 28 de janeiro de 2023

Palmeiras x Flamengo

  

Supercopa do Brasil/2023 - Jogo Único

Sábado, 28 de Janeiro de 2023, as 16:30h (USA ET 14:30h), no Estádio Nacional Mané Garrincha ou "Mané Garrincha", em Brasília/DF.

Palmeiras: Weverton; Marcos Rocha, Gustavo Gómez, Murilo e Piquerez; Gabriel Menino, Zé Raphael e Raphael Veiga; Dudu, Endrick e Rony. Técnico: Abel Ferreira.

FLAMENGOSantosVarelaDaviLuizLéPereirFilipLuís; Thiago Maia, Gérson, EvertoRibeiro DArrascaeta; Pedro GabigolTécnicoVítor Pereira.

Arbitragem: Wilton Pereira Sampaio (FIFA/GO), auxiliado pelos Assistentes 1 e 2 Bruno Raphael Pires (FIFA/GO) e Bruno Boschilia (FIFA/PR). Quarto Árbitro: Sávio Pereira Sampaio (FIFA/DF). Quinto Árbitro: Leila Naiara Moreira da Cruz (FIFA/DF). Analista de Campo: Regildênia de Holanda Moura (SP). Árbitro de Vídeo (VAR): Rodrigo D'Alonso Ferreira (SC) Assistente VAR (AVAR): Helton Nunes (SC). Assistente VAR2 (AVAR2): Rafael Traci (SC). Observador de VAR: Giulliano Bozzano (MG).

Transmissão: Rede Globo (aberta) SporTV (TV por assinatura).


terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Bangu x Flamengo

 

Campeonato Estadual/2023 - Taça Guanabara - 4ª Rodada

Data, Local e Horário: Terça-Feira, 24 de Janeiro de 2023, as 21:10h (USA ET 19:10h)no Estádio General Sylvio Raulino de Oliveira ou "Estádio da Cidadania", em Volta Redonda/RJ.


Bangu: Paulo Henrique; Carlos Eduardo, Adryan, Patrick e Renatinho; Gabriel Feliciano, Adsson, Samuel e Edinho; Daniel Felizardo e Luís Felipe. Técnico: Felipe Loureiro.

FLAMENGO: MatheuCunhaWesley, RodrigCaio, Cleiton e MarcoPauloÍgoJesusEverttoLorran; ThiaguinhoMateusão e WertonTécnicoMário Jorge.


Arbitragem: Bruno Arleu de Araújo, auxiliado por Carlos Henrique Alves de Lima Filho e Daniel do Espírito Santo Parro. Quarto Árbitro: Philip Georg Bennett. Técnico: Gilmar Farto Fernandes.

Transmissão: Bandeirantes/Band (TV Aberta) e Bandsports (TV por assinatura).



segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

O Palmeiras e a Supercopa do Brasil

Salve, Buteco! No próximo sábado, 28 de janeiro, a temporada/2023 do Mais Querido do Brasil começará "de fato", com o confronto, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, contra o Palmeiras pela Supercopa do Brasil. Não escondo de ninguém que, hoje, considero o duelo entre as duas equipes o maior clássico do país, o que, percebam, não pode e não deve ser confundido com a maior rivalidade. Entretanto, se contarmos todos os elementos que podem envolver um clássico, tais como História, poderio financeiro, qualidade técnica e rivalidade entre torcidas, não há nada maior no Brasil, na atualidade, do que um Flamengo x Palmeiras.

Porém, antes de conversar sobre o jogo do próximo final de semana, vale muito a pena lembrar um pouco do histórico do clássico.

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O pontapé inicial ocorreu aos 24 de março de 1929, no saudoso Estádio da Rua Paissandú, de propriedade do Flamengo. Estava em jogo o que o Mister Jorge Jesus chamaria, décadas depois, de uma espécie de "Tãcinhã", o "Troféu Flamengo x Palestra Itália" (nome do adversário naquele tempo). O gol de Nonô deu a vitória e o título ao Flamengo. Começava então a rica História entre esses dois rivais.

Ao longo das décadas, vários jogos marcaram a importância do duelo, mas talvez o mais singular daqueles primeiros anos tenha sido o disputado aos 25 de março de 1942, no Pacaembu, pela penúltima rodada do Torneio Quinela de Ouro, de turno único em pontos corridos, vencido pelo Corinthians e tendo o Flamengo como vice-campeão. O empate por 2x2 marcou o último dia em que o Palestra Itália seria oficialmente chamado como tal. A partir do jogo seguinte, mudou para Palestra de São Paulo, antes de passar a se chamar Palmeiras.

O Palmeiras impôs a primeira goleada que vi pela televisão o Flamengo sofrer, a de 1x4 no Maracanã, que causou a eliminação do Mais Querido do Campeonato Brasileiro de 1979. Em compensação, a forra dos 6x2 do ano seguinte, também no Maracanã, foi, para mim, o momento mais marcante do título brasileiro de 1980, depois da final contra o Atlético Mineiro.


Na quinta-feira de 7 de fevereiro de 1985, no Maracanã, assisti ao meu primeiro Flamengo x Palmeiras em um estádio. O gol de Adílio marcou a vitória rubro-negra por 1x0 pela Primeira Fase do Campeonato Brasileiro. No sábado de 7 de novembro de 1987, uma atuação exuberante de Renato Gaúcho levou à vitória de 2x0 sobre o Palmeiras e ainda marcou a reação do Flamengo no Campeonato Brasileiro, iniciando a arrancada para a classificação e o último título nacional de Zico pelo Mais Querido.

Um ano depois, na quinta-feira de 11 de novembro, o empate por 1x1, também no Maracanã e pelo Campeonato Brasileiro, pode ter sido o confronto mais excêntrico entre os dois clubes. Após a contusão do goleiro palmeirense, o centroavante Gaúcho, ex-cria da base rubro-negra e futuro ídolo do Mais Querido, em triunfal retorno, decidiu o confronto em favor do Palmeiras nas disputas por pênaltis, atuando no gol. 

Naquele mesmo jogo de 1987, a torcida palmeirense arremessou pedaços da arquibancada na rubro-negra, no segundo episódio de violência mais notório entre torcedores dos dois clubes. O primeiro havia ocorrido dois anos antes, após um confronto entre as torcidas em São Paulo depois do 2x2 no Pacaembu pelo Campeonato Brasileiro/1985. Na ocasião, torcedores do Palmeiras chegaram a arremessar uma banca de jornais (!) sobre os rivais rubro-negros.

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A década de 90 trouxe a primeira da série (inacabada) de vitórias marcantes do Flamengo sobre o Palmeiras em São Paulo pelo Campeonato Brasileiro, os 2x1 de 1992, assim como os primeiros confrontos internacionais entre ambos: 1x1 no Castelão pela Copa Euro-América de 1996, 0x0 (3x4 Palmeiras nos pênaltis) na Fonte Nova pelo Torneio Maria Quitéria em 1997 e os 0x2 (pênaltis 4x5) pelo Troféu Naranja no mesmo ano.

Pouco antes, no mesmo ano de 1997, o primeiro confronto pela Copa do Brasil, na semifinal da competição, com duas vitórias do Flamengo - 2x0 no Maracanã, abrindo a série, e 1x0 no Parque Antártica, fechando a classificação. Dois anos depois, em 1999, após perder no Maracanã por 2x1, o Palmeiras foi à forra e venceu por 4x2 pelas quartas de final da mesma competição, numa vitória até hoje lembrada pelos torcedores do clube. Uma pena que não gostem de abordar por outro ângulo o histórico confronto, analisando a arbitragem e irregularidades nos gols palmeirenses.

Contudo, no mesmo 1999 um Flamengo x Palmeiras ainda fecharia com chave de ouro o Século XX e marcaria o ápice do clássico até então. Um Flamengo recheado de crias da base e já sem Romário (artilheiro da competição), mas liderado fora de campo pelo Mestre Carlinhos, venceria espetacularmente no Maracanã, por 4x3, o Palmeiras de Luiz Felipe Scolari, campeão da Libertadores e vice-campeão do Mundo, e arrancaria um empate por 3x3 no Parque Antártica após não menos espetacular reação no segundo tempo, conquistando o título da Copa Mercosul.

A passagem de século foi de fato repleta de emoções para ambas as torcidas, que já no mês seguinte assistiram de camarote os arquirrivais de ambos os clubes duelarem pela finalíssima primeira edição do Mundial de Clubes da FIFA, no Maracanã. 

No final, mais uma vez a Nação rubro-negra sorriu.

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Muita turbulência marcou os primeiros anos do Século XXI de ambos os clubes. Um dramático 2x1 sobre o Palmeiras em Juiz de Fora, já em 2000, salvou o Flamengo do rebaixamento. O presidente palmeirense, Mustafá Contursi, irritado com a performance alviverde na competição, mandara o elenco percorrer de ônibus o trajeto entre a capital paulista e a "Manchester Mineira". O primeiro rebaixamento do Palmeiras viria dois anos depois, sob a mesma presidência do clube.

Aliás, é curioso como o drama de Juiz de Fora não foi o único no enredo de fuga do rebaixamento. O citado primeiro rebaixamento do Palmeiras passou por um dramático 1x1 entre as duas equipes no Parque Antártica, em novembro, na reta final do Brasileiro/2002. Dez anos depois, também em novembro, o gol de Vagner Love, centroavante rubro-negro e ex-cria da base e ídolo palmeirense, empatou a partida (outro 1x1) disputada no Raulino de Oliveira, em Volta Redonda, pelo Campeonato Brasileiro de 2012, simplesmente decretando o segundo rebaixamento palestrino.

Foto: Alexandre Vidal/FlaImagem

Nesse meio tempo, o Flamengo se salvou de pelo menos dois rebaixamentos com importantíssimas vitórias sobre o Palmeiras no Parque Antártica: 2x1 em 2004 (Ibson e Athirson) e 1x0 em 2005 ("El Tigre" Ramírez). 

***

Quando passamos para o cenário de disputa de títulos brasileiros, o Palmeiras também desempenha papel importante em várias conquistas rubro-negras. Além dos confrontos das décadas de 80 e 90, já mencionados, o 2x0 no Parque Antártica pelo Brasileiro/2009, com direito a golaço de Petkovic, foi um dos momentos mais requintados do Hexa.

Foto: Marcos Riboli

Dez anos depois, acachapantes 3x0 do Flamengo de Jorge Jesus sobre o Palmeiras de Luiz Felipe Scolari (demitido após o jogo) mostraram para o país que o Hepta era apenas questão de tempo. No jogo do returno, já campeão, o Flamengo passeou no Allianz Arena com 3x1, com direito a manobra extracampo para impedir a Nação Rubro-Negra de comparecer ao estádio, no jogo que ficou marcado pelos arremessos de assentos nos atletas rubro-negros pela torcida palmeirense.


Na edição seguinte, durante a pandemia, o Flamengo, sob o comando de Jordi Guerrero, auxiliar de Domènec Torrent, com um time desfigurado e repleto de atletas da base arrancou um heroico 1x1 contra o Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo. E no returno, o 2x0 do time, então já comandado por Rogério Ceni, sobre o Palmeiras de Abel Ferreira, num Mané Garrincha sem público, ajudou bastante na arrancada final da campanha do Octa. 

Os clubes e os mesmos treinadores ainda se enfrentariam em 2021, também no Mané Garrincha, pela Supercopa do Brasil. Após um eletrizante empate por 2x2, o título rubro-negro veio com uma virada espetacular nas cobranças de pênalti, no que foi o "canto do cisne" da histórica passagem do goleiro Diego Alves pelo Flamengo.

Foto: Divulgação/CBF site oficial

Um mês e meio depois, Ceni, no comando do Flamengo, ainda venceria Abel Ferreira pela última vez na 1ª Rodada do Campeonato Brasileiro de 2021. A magnífica atuação no segundo tempo foi, para mim, a melhor partida do Flamengo sob o comando do "Nareba".

Mal sabíamos que, pouco mais de seis meses depois, em novembro, a Nação Rubro-Negra sofreria com a derrota na partida mais importante de toda a rica História do clássico, a final da Libertadores/2021, em Montevidéu.

Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Há poucos dias, Rogério Ceni afirmou que, acaso houvesse permanecido, teria conquistado a Libertadores/2021.

Concordam?

***

Os títulos nacionais palmeirenses de 2016 e 2018 também contaram com marcantes confrontos contra o Flamengo. Em 2016, no jogo do 1º turno, estive presente e contei para vocês a vitória do Palmeiras por 2x1 no Mané Garrincha, no jogo que será para sempre lembrado pelas invasão e violência da torcida palmeirense, assim como pela "ponte espetacular" do zagueiro rubro-negro César Martins. 

No jogo do returno, o 1x1 no Allianz Arena com um a menos talvez tenha sido a melhor e mais heroica atuação do time sob o comando de Zé Ricardo. Cerca de dois anos depois, o jogo do turno, que terminou com outro 1x1 no mesmo local, foi marcado pela violência entre os jogadores, com "destaque" para a entrada desleal de Felipe Melo em Vinicius Junior. 

Foto: Marcello Zambrana/AGIF

No returno, o placar se repetiu no Maracanã, com a frustração rubro-negra atingindo o grau máximo no gol "feito" perdido por Paquetá.


Na edição passada do Campeonato Brasileiro, o 0x0 do turno, jogo de altíssimas intensidade e qualidade técnica, talvez tenha sido a melhor atuação do Flamengo sob o comando de Paulo Sousa, e o placar ajuda a explicar o que foi a passagem desse treinador português pelo clube.

O jogo do returno marcou outra valente atuação do Flamengo de reservas e crias da base, em São Paulo, contra um Palmeiras mais forte no papel. O tradicional placar de 1x1 fez jus ao histórico do confronto e, para muitos, dentro dos quais me incluo, marcou a efetiva última chance do Mais Querido pressionar o rival na disputa pelo título brasileiro. 

Naquele momento, ficou claro para todos que as copas eram a prioridade da temporada, e que o caminho estava livre para o Palmeiras conquistar a taça que não levantava desde 2018.

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Foto: Divulgação/Lucas Figueiredo

O histórico recente, de 2016 para cá, reflete com precisão o que esses dois clubes se tornaram, o Flamengo pós-reestruturação financeira e o Palmeiras também reestruturado fora de campo, mas contando com um moderno estádio próprio, contexto que evidencia o equilíbrio de resultados e títulos, assim como a dificuldade em apontar um favorito para o confronto do próximo sábado. 

Esse mesmo histórico, no entanto, dá importantes dicas a respeito do estado anímico do adversário.

Flamengo e Palmeiras, nos últimos 4 anos, dividiram os títulos mais importantes dos cenários brasileiro e sul-americano (com a exceção, no cenário nacional, do Atlético Mineiro e seu calibrado VAR na temporada/2021). Logo no início de fevereiro próximo, o Flamengo terá a oportunidade de disputar o Mundial de Clubes da FIFA, alvo de obsessão palmeirense, mas que resultou em frustração nos anos de 2021 e 2022, com direito a eliminação na semifinal para o Tigres do México, no primeiro caso.

É natural que Abel Ferreira e seus comandados enxerguem no confronto de sábado a oportunidade perfeita para desestabilizar o Flamengo e o início de trabalho de Vítor Pereira no clube. Um título sobre o Flamengo ainda aliviaria a pressão sobre uma Diretoria que vem jogando duro com a cobrança da torcida por reforços.



Como se não bastasse, especialmente no Brasil e por sua imprensa esportiva, o futebol é objeto de frequentes análises intencionalmente distorcidas e direcionadas para a preferência clubística do autor. Não é difícil prever que eventual vitória palmeirense será encarada como a "confirmação" de uma "freguesia" de Vítor Pereira em relação ao compatriota, que o venceu nos três confrontos contra o Corinthians em 2022.

Porém, convenhamos, pouco importa a opinião desse tipo de "profissional". O que "pega" mesmo é a própria torcida do Flamengo. Tentei antecipar alguns cenários no post de duas semanas atrás. Como ninguém em sã consciência apontará algum outro favorito para o Mundial de Clubes que não seja o Real Madrid, é bem fácil perceber como o título da Supercopa pode ajudar Vítor Pereira no início de seu trabalho no Flamengo.

Calejado após 3 anos e meio no clube, Filipe Luís parece ter noção da complexidade do contexto que envolve a disputa dos primeiros títulos de 2023. Vejam essa declaração em entrevista pós-jogo após a vitória de sábado sobre o Nova Iguaçu, pela Taça Guanabara:

- O importante são os movimentos que fizemos no campo, ofensiva e defensivamente. Resultado a gente não controla, a gente controla a forma de jogar. Aproximação, time compacto. É um sistema muito difícil, e precisamos de tempo. Estamos vendo no campo o empenho de todo mundo.

Tempo, justamente o que o Flamengo não possui até sábado e o Mundial. No alto dos meus 53 anos de vida, 47 deles acompanhando futebol e o Mais Querido, não me permito acreditar facilmente em coincidências. O nosso ídolo e veterano atleta rubro-negro, um dos líderes do elenco, transmitiu um recado. Nas entrelinhas, há uma importante mensagem (do elenco) para a torcida, a Diretoria e ao próprio Vítor Pereira. O treinador declarou que não fará mudanças drásticas, mas a rigor, bem nos lembramos de que Domènec Torrent disse o mesmo. Consta que Mister VP pediu reforços e dentre eles um ponta direita, e ao menos por enquanto o que recebeu foi a saída de Rodinei e a permanência de Marinho. 

Certamente dirão que não deu tempo.

Tempo, esse danado, justamente o fator que favorece o Palmeiras. Há mais de 3 (três) anos no comando técnico do time, Abel Ferreira tem o elenco nas mãos. Se é verdade que o time titular sofreu duas baixas importantes no meio de campo, o setor já conta com o retorno de Raphael Veiga, camisa 10 e protagonista nos títulos recentes palmeirenses. E há também o reforço do esfuziante Endrick no ataque. O exemplo de Vinícius Júnior em 2018 é recente para a torcida do Flamengo, que bem sabe o que um talento desse naipe pode produzir dentro das quatro linhas. 

Dá para cravar um favorito? A meu ver, não. Palmeiras 0x0 São Bento foi o Madureira 0x0 Flamengo das bandas do Tietê. Todavia, se houver um mais cotado para sábado, dessa vez acho que não deverá ser o Flamengo.

O mais importante, no frigir dos ovos, é ter em mente que a Supercopa não define, ou não deveria definir, coisa alguma na temporada de um clube. Além do próprio exemplo de 2021, em 2022 o Flamengo foi melhor do que o Atlético Mineiro, mas uma substituição de Paulo Sousa comprometeu a conquista do título durante os 90 minutos. O Galo cacarejou em Cuiabá, mas meses depois o Flamengo jantou galinha caipira no inferno do Maracanã, e bem sabemos como depois terminou a temporada para cada clube.

A Supercopa, por sinal, será simplesmente o primeiro confronto a vera do time de Vítor Pereira, que enfrentará o Bangu antes de um Palmeiras há 3 anos dirigido por Abel Ferreira, e ainda por cima "aquecido" por um clássico contra o São Paulo de Rogério Ceni.

Para o bem e para o mal, não será minimamente sensato tirar conclusões definitivas depois do apito final do árbitro.

Essa, porém, é só a teoria. Na prática, o título da Supercopa do Brasil de 2023 está bem além de uma mera "tãcinhã". Vale bicar a pressão para longe.

E isso não é pouco, Amigos.

***

Que Deus ilumine as autoridades de Brasília para que não se repita nada remotamente semelhante a 8 de janeiro de 2023, e nem a 5 de junho de 2016. 

E que São Judas Tadeu nos abençoe com mais um título.

Sábado que vem estarei no estádio e na próxima segunda-feira contarei como foi.

***

A palavra está com vocês.

Boa semana e SRN a tod@s.

sábado, 21 de janeiro de 2023

Flamengo x Nova Iguaçu

  

 Campeonato Estadual/2023 - Taça Guanabara - 3ª Rodada

Data, Local e Horário: Sábado, 21 de Janeiro de 2023, as 16:00h (USA ET 14:00h)no Estádio Jornalista Mário Filho ou "Maracanã", no Rio de Janeiro/RJ.

FLAMENGOSantosMatheuzinhoPabloFabríciBrunFilipLuís; PulgarGérsoMatheuFrançaMarinhoPedrCebolinhaTécnicoVítoPereira.


Nova Iguaçu: Max; Leo Fernandes, Michel, Gabriel Pinheiro e Márcio; Ígor Fraga, Gustavo Nicola e Ícaro; Ewerton, Andrey e Nathan Palafoz . Técnico: Carlos Victor.

Arbitragem: Alexandre Vargas Tavares de Jesus, auxiliado por Thiago Rosa de Oliveira e Karen Soares Augusto. Quarto Árbitro: Rodrigo Nunes de Sá. Técnico: Marcelo Silva Nascimento.

Transmissão: Bandeirantes/Band (TV Aberta) e Bandsports (TV por assinatura).



sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos,

Essa semana o time principal do Flamengo voltou a campo, após um hiato de cerca de dois meses. E, após os 4-1 sobre a Portuguesa que suscitaram os cantos de “Real Madrid, sua hora vai chegar”, sobreveio o frustrante 0-0 contra o modesto Madureira, na quente noite de Cariacica.

Em que pese o ritmo bastante lento da equipe ser natural, dado o estágio inicial da temporada, onde a questão física é sempre relevante, o treinador e o elenco ainda estarem se conhecendo e, a rigor, o foco real esteja nos jogos decisivos da sequência que iniciará dia 28 próximo, penso ser interessante pontuar algumas questões observadas nessas duas e na partida de estreia, contra o Audax (este, com os jovens egressos da base), para discussão e observação.

O NÍVEL DA BASE

O primeiro aspecto que chama a atenção relaciona-se com o nível dos jogadores que estão compondo o “time alternativo” do Flamengo. Para isso, invoca-se as escalações utilizadas nas estreias de 2018 a 2021:

2018 (2-0 Volta Redonda): Gabriel Batista, Klebinho (Dantas), Thuler, Patrick, Ramón; Jonas, Ronaldo, Jean Lucas (Jajá), Pepê (Hugo Moura); Lucas Silva, Wendel (Vitor Gabriel);

2020 (0-0 Macaé): Gabriel Batista, Matheuzinho, M Dantas (Pepê), Rafael Santos, Ramón; Hugo Moura, Vinição, Yuri Cesar, Luiz Henrique; Lucas Silva (Rodrigo Muniz), Vitor Gabriel (Wendel);

2021 (1-0 Nova Iguaçu): Gabriel Batista, Matheuzinho, Noga, Natan, Ramón; João Gomes, Daniel Cabral (Max), Yuri Oliveira (Mateusão), Lázaro; Thiaguinho (Gabriel), Rodrigo Muniz;

Perceba-se que em cada escalação é possível encontrar uns quatro ou cinco jogadores que se mostraram capazes de, ao menos, participar de jogos no profissional, mesmo sem necessariamente reunir capacidade de figurar na equipe titular (ou mesmo reserva recorrente). Mas a mínima condição de, ao menos “tapar um buraco” existia.

Matheus Cunha, Wesley, Noga, Cleiton, Ramón; Igor Jesus, Victor Hugo (Everton Araujo), Matheus França (Lorran); Thiaguinho, Mateusão (André), Werton (Petterson);

Desse time que atuou contra o Audax, quantos jogadores reúnem condição de pertencer ao elenco do Flamengo? Ou de sequer serem úteis como solução contingencial?

A ATITUDE EM CAMPO

É bem verdade que a condição física não era das melhores, como já pontuado. Início de preparação, “perna presa”, coisas que se sabe que atrapalham. Não surpreende, por exemplo, outras equipes grandes brasileiras também estarem às voltas com resultados ruins. O que não tem nada a ver com evidências de certa indolência e preciosismo mostrados domingo passado e, especialmente, na quarta. Com efeito, só na primeira etapa contou-se quatro/cinco toquinhos desnecessários de letrinha ou calcanhar, um deles desferido pelo intrépido Leo Pereira que, não surpreendendo, redundou na mais clara chance de gol do adversário, em um contragolpe de escanteio.

Já se teorizou e ponderou sobre uma suposta má vontade do elenco nessas partidas muquiranas de Estadual que, de fato e a rigor, pouco ou nada agregam. Mas elas estão aí, e o Estadual é uma poderosa máquina de crises, capaz de produzir as mais incômodas tormentas. Então, convém levar minimamente a sério.

ATITUDE FORA DE CAMPO

Os três jogos do Flamengo no Estadual guardaram certa semelhança, no sentido de que o rubro-negro enfrentou adversários que praticaram um jogo ríspido, truculento e mesmo violento. Todos, sem exceção, sob a complacência de arbitragens, no mínimo, negligentes ou incompetentes para coibir o antijogo. O de Cariacica, aliás, não só deixou de impedir como estimulou a cera e o sebo do adversário, inventando motivos inusitados para chamar a paralisação do jogo.

Imaginava-se que arbitragens maliciosas ou inadequadas haviam ficado em um passado enevoado pelas brumas de um charuto que se apagou. Mas não parece ser o caso. Cumpre aos membros da Diretoria do Flamengo, tão alertas para defender pautas que lhes convêm, atuar no sentido de, ao menos, proteger seu patrimônio milionário. Porque não será nada bom imaginar perder algum jogador do milionário plantel campeão continental por ter sido abatido a patadas em algum confronto contra um sparring rural.

VITOR PEREIRA E O ELENCO

A despeito da visível irritação provocada pelas alterações promovidas pelo Genro da Nação, especialmente na noite de quarta, as explicações dadas pelo Quincas na coletiva soaram um tanto convincentes, por enquanto.

A cautela no uso de Pedro e Everton Ribeiro e a falta de opções para a lateral-esquerda (cadê a base?) acabaram fazendo com que soluções extravagantes fossem tentadas, como o uso de Marinho na lateral-esquerda e a tentativa com o inexplicável Mateusão.

Um parêntese. Mateusão é daqueles camaradas que apresentam severos problemas de relacionamento com a bola, que lhe é estranha, fria, até hostil. Isso não seria um entrave maior, haja vista que outros jogadores, também indiferentes aos encantos da pelota, lograram alguma projeção neste abrangente mundo da bola (Dario Dadá, Jardel, Souza Caveirão, entre tantos outros). Mas a dificuldade de posicionamento e a falta da fome e da tarimba de finalizador o colocam em um nível similar ao dos esquecíveis expoentes do comando do ataque flamengo de 2004 e 2005. Sim, nosso simpático Mateusão teria dificuldades em se fixar como titular em uma eventual disputa de posição com os inesquecíveis Negreiros, Josafá, Dill, Whelliton e Dimba. Donde, insistir com o rapaz será malhar em ferro frio.

Entende-se que o momento de testar e avaliar determinados nomes é, de fato, este. Mas que Vitor Pereira não abuse da prerrogativa. É desnecessário recordar que o excesso de testes e invenções foi um dos fatores que minaram a passagem do triste romântico Paulo Sousa. Que o Quincas da vez tenha isso em mente quando pousar os olhos em seu banco de reservas novamente.

GUILLERMO VARELA

Não pretendo engrossar as vozes que marretaram com força as atuações do limitado lateral uruguaio nas duas primeiras partidas do ano. Também é desnecessário repisar as evidentes dificuldades apresentadas pelo jogador nos movimentos ofensivos, com os quais demonstra nítida falta de familiaridade. Como defensivamente, nessas partidas, quase não houve teste, dado o baixíssimo nível dos adversários, fica a imagem dos inúmeros cruzamentos errados e dos irritantes corrupios laterais e para trás, interrompendo ataques promissores.

A questão, a meu ver, passa pelo fato de que, em contextos que demandarão uma postura mais agressiva e ofensiva da equipe, Varela é a peça errada. Jamais terá a condição de emular o papel de Rodinei ou de outros laterais ofensivos de equipes flamengas pretéritas. Para que seja útil, deverá ser escalado em outro contexto ou desenvolvendo outra função, bem mais conservadora. O que demandará a presença de um jogador mais agudo no meio ou no ataque, que seja capaz de ocupar esse corredor pelo lado direito. Esse jogador existe no elenco? Pouco provável (não, Marinho não me parece essa opção).

De qualquer forma, seria interessante Vitor Pereira pensar em utilizar o jogador de uma maneira mais adequada à sua forma de jogo (nem que isso signifique sacá-lo em detrimento de Matheuzinho, outro que não empolga). Do contrário, o risco de derretê-lo será real e palpável.

Porque, se a torcida do Flamengo é inigualável, ela também não perdoa aqueles com quem cisma.