segunda-feira, 6 de junho de 2016

Uma Tarde no Chiqueiro

Salve, Buteco. Cheguei ao Estádio Nacional Mané Garrincha com minha irmã, que mora em Lisboa, e minhas filhas cerca de duas horas antes do início da partida. Até achei que a entrada foi melhor organizada do que em outros eventos. A fila andou mais rápido, porém algo me chamou a atenção: a proporção de palmeirenses era alta. Do lado de fora do estádio, o número era inferior, porém não distante do número de rubro-negros. Ao entrar, dirigi-me ao local onde gosto de assistir às partidas do Flamengo: inferiores, setor sul, defronte à parte central do gramado. Contudo, em volta havia uma horda verde ensandecida que cantava todas as marchas das torcidas organizadas palmeirenses, as quais, ressalte-se, encontravam-se isoladas nas cadeiras superiores, no setor sul, lado direito. Minha filha mais nova bradou: "Pai, aqui só tem palmeirense maluco; estou nervosa." Minha irmã: "Você me trouxe para um covil. Por quê?" Antes que a minha filha mais velha me culpasse pela crise na Faixa de Gaza e pela falta de contratação do zagueiro, picamos a mula e fomos parar em uma "quina" no setor norte do estádio. Boa visão, abaixo em diagonal de algumas das TOs do Flamengo - Jovem e Urubuzada. Mais rubro-negros em volta, o clima melhorou, inclusive pra mim (rsrsrsrsrs).

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A situação me lembrou muito a que vivenciei em 24 de agosto de 2013, no mesmo Mané Garrincha, contra o Grêmio, sob o comando de Mano Menezes, pelo Campeonato Brasileiro daquele ano. Assim como o Palmeiras, o Grêmio não jogava na capital federal havia vários anos. No caso do Palmeiras, acredito, salvo engano, que não havia jogado no Mané Garrincha reformado para a Copa do Mundo/2014. Naquela partida de 2013 tinha bem menos gente no estádio, mas pude perceber, tal como ontem, uma torcida "carente" em assistir ao seu time ao vivo em um estádio de futebol. Acredito que o efeito, sob o ângulo esportivo, não só poderia como de fato foi calculado e cedeu à perspectiva de arrecadação, a qual, se analisada isoladamente, foi um tremendo sucesso. Mas estamos falando de um esporte, não? Futebol é um esporte de alto rendimento. Onde foi parar a competitividade?

Neste ponto lembro que Brasília, por ser a capital federal, tem população descendente ou oriunda de todos os estados e portanto é proporcionalmente composta por torcedores de todos os times grandes do país. A do Flamengo é maior e compareceu em maior número ao estádio, mas a disputa de clássicos no Mané Garrincha, especialmente em condições como a de ontem, e aqui me refiro a uma torcida "carente", que não assiste ao time jogar na cidade há anos, equivale a ceder ou no mínimo dividir o mando de campo, tornando-o neutro, e abdicar de uma vantagem no quesito esportivo. A rigor, o estádio ficou dividido - nas superiores, inegável maioria rubro-negra; nas inferiores, a torcida do Flamengo, mais acostumada a comparecer ao estádio em Brasília, parece ter chegado em cima da hora, mas foi o setor em que havia mais palmeirenses e onde parece ter havido equilíbrio presencial.

Coincidência ou não, tanto na partida em que me vi rodeado por gremistas histéricos, como ontem, cercado pela horda palmeirense, o instável Flamengo perdeu. Volto então ao centro da discussão: até que ponto é válido abdicar de uma vantagem esportiva em troca de arrecadação?

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A Polícia Militar mais bem remunerada do país, paga pela União, no segundo jogo consecutivo pelo campeonato brasileiro (um da Série B, outro da Série A) não consegue impedir confrontos entre torcidas organizadas e a disseminação de substâncias tóxicas no ar, causando ânsia de vômito, tosses e mal estar nos torcedores. Primeiro, na partida entre Vila Nova/GO x Vasco da Gama, pela Série B, na terça-feira, 24 de maio; ontem, na partida entre Flamengo x Palmeiras. Para quem não sabe, o Vila Nova/GO, minúsculo no cenário nacional, tem uma TO digna de futebol inglês, que não afina e nem "deixa a desejar" no quesito brutalidade a qualquer TO de time grande do Brasil ou da América do Sul. Uma força de segurança pública tão bem remunerada não deveria conhecer esses marginais, preparar-se adequadamente e prevenir situações como essas?

Lamentavelmente, dois membros da Nação Rubro-Negra foram hospitalizados em graves condições de saúde por conta de agressões de uma TO palmeirense, notória por sua selvageria e imbecilidade. A cada dia que passa nós brasileiros perdemos uma parcela de nossa cidadania.

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As duas equipes jogaram de forma "espelhada", cada uma com seu 4-3-3. Zé Ricardo deu a impressão de querer explorar os contra-ataques com a velocidade de Everton e Fernandinho pelas pontas. O time, porém, também porque se encontrava sem saída de bola, cedeu campo ao Palmeiras e o que se pôde ver frequentemente foi Muralha cobrar tiros de meta com longos chutes para o campo adversário, que sempre retomava a posse de bola. Nesses momentos, a primeira linha de quatro do Flamengo se adiantava até a altura do círculo central, no nosso campo de defesa, demonstrando que, se não foi orientação do treinador, o time, como equipe, taticamente dentro de campo se ajustou dessa maneira na primeira etapa. O resultado foi o Flamengo acuado a maior parte do primeiro tempo.

Gostei do fato de Zé Ricardo haver tentado corrigir esse defeito. A primeira linha recuou e passou a trabalhar a saída de bola. Talvez não por acaso a equipe começou a segunda etapa jogando muito melhor, pressionando o o Palmeiras e criando algumas situações de gol. O jogo passou a ser equilibrado, diferente da primeira etapa, quando houve predomínio palmeirense, até a jogada em que Léo Duarte, que até então fazia ótima partida, errou no bote e propiciou o lance de gol em que César Martins... Bem, a zaga comprometeu em dois lances capitais que propiciaram ao Palmeiras a vitória. Como a zaga adversária não retribuiu a gentileza, o Flamengo perdeu a vaga no G4. Como Zé Ricardo, acho que a expulsão definiu as chances do Flamengo na partida.

O saldo, ao meu ver, considerando o nível do elenco e do treinador adversário, é a urgente necessidade de reforçar a zaga, inclusive porque terminamos com Willian Arão jogando como quarto-zagueiro, assim como a necessidade do nosso treinador, muito promissor, trabalhar a saída de bola do time, começando por explicar o porquê de optar por Márcio Araújo ao invés de Cuéllar como primeiro volante. 

Sobre Márcio Araújo, é um profissional exemplar, de invejável preparo físico e grandes explosão e velocidade. Todavia, além de ser aflitivo assisti-lo jogar, por sua tendência quase natural de afastar-se de sua posição tática deixando espaços que ele parece acreditar que pode ocupar em recuperação com sua velocidade, cuida-se de um jogador sem a menor condição de participar de uma saída de bola com qualidade, tanto que seus companheiros efetivamente o alijam dessa atividade quando a saída ocorre na base do toque de bola.

Zé Ricardo, que começou fazendo bom trabalho, precisa se explicar.

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A propósito, Zé Ricardo terá uma semana de treinos para a partida contra o Figueirense, no próximo domingo, em Florianópolis, no Orlando Scarpelli.

A palavra, como de costume, está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.