sábado, 31 de outubro de 2015

O que sobrou...

Goleiros: Paulo Victor, César, Daniel, Thiago
Laterais: Pará, Ayrton, Jorge, Armero(+)
Zagueiros: Marcelo, Samir, Wallace, César Martins
Volantes: Canteros, Jonas(x), Luiz Antonio, Márcio Araújo
Meias: Éverton, Almir, Alan Patrick, Jajá, Ederson(+)
Atacantes: Marcelo Cirino, Gabriel, Nixon(+), Paulinho, Emerson(x), Guerrero, Kayke
Outros: Douglas Baggio, Matheus Sávio, Rafael Dumas, Ronaldo, Thiago Santos

Esse é o elenco do Flamengo, como indica o site do clube, acrescido de alguns jogadores do sub-20 que já participaram de alguma partida entre os profissionais ou que foram convocados nos últimos dias. Tirando afastados, suspensos e lesionados, Oswaldo tem a sua disposição para a partida de amanhã contra o Grêmio 23 jogadores, sendo quatro goleiros e cinco que até essa quinta-feira ainda estavam disputando competições da base.

Nos últimos dois dias, depois do anúncio do afastamento do bonde da Stella, o treinador indicou que pode escalar o time titular com PV; Ayrton, César Martins, Wallace e Jorge; Márcio Araújo, Canteros, Luiz Antonio e Jajá; Gabriel e Guerrero. Assim, mesmo, um 4-4-2, como divulgado pela imprensa. Como eu não assisti nenhum dos treinamentos, não sei dizer exatamente como o time se postou em campo, mas, pelo que mostrou nos últimos jogos (e anos até), Oswaldo tem dificuldades pra se descolar do seu 4-2-3-1 favorito. Por isso, quando eu vejo essa escalação, eu penso nisso:



Eu tentaria diferente. Ao contrário do Jorge, não vejo o Jajá pronto para segurar a pressão de estrear no time titular do Flamengo, ainda mais num confronto historicamente complicado como é esse contra o Grêmio em Porto Alegre. Vou mais além: tenho minhas dúvidas sobre o aproveitamento dele como um todo. Começou como um volante mas marca mal, passou a ser escalado como meia, mas não tem habilidade e visão de jogo para tal. Espero estar muito errado, mas pra mim é um misto de Ibson com Renato Canelada.

Olho pra lista de jogadores disponíveis e não consigo ver nada melhor que os outros dez da escalação do Oswaldo. Meu décimo-primeiro seria o Kayke. Apenas por uma questão de selecionar os onze melhores. E, com esses onze, os disporia em campo num 4-4-2 simples. Luiz Antonio pela direita, Gabriel pela esquerda, dois volantes e dois atacantes. O grande problema disso, ao meu ver, é que acredito que o Oswaldo nunca tenha treinado alguma formação que seja nesse esquema. E, para compactar as duas linhas de quatro, necessita-se treinamento.

O que fazemos, então? Torcemos, muito! Torcemos para que o choque dado pelo afastamento do "Bonde da Stella" mexa com os ânimos dos que ficaram e provoquem uma boa atuação depois de tantas partidas ruins.

E você me pergunta o que eu achei dessa confusão toda? Achei tudo perfeito. Afastamento por tempo indeterminado, multa, até o atrapalhado anúncio sem abrir pras perguntas da imprensa. Não havia o que responder sem correr algum risco de problemas jurídicos. O afastamento, está claro, foi apenas a gota d'água. Esse grupinho, capitaneado pelo sr. Paulo Beraldo, vulgo Paulinho, já estava abusando da nossa boa vontade e foi tudo demais até para o leniente comando do nosso futebol. Isso significará que, além dos reforços que já pensávamos necessários para a defesa, precisaremos também trazer um ou dois meias atacantes. Acabará que teremos, forçosamente, renovar praticamente a metade do nosso elenco.

Renovação que pode passar, inclusive, por troca no comando técnico. Muito tem se falado em Muricy que, para mim, é muito limitado taticamente. Seus times costumam ter uma defesa forte e ataque baseado em jogadas de bola aérea. Muito longe do que eu imagino como filosofia de jogo para o meu Flamengo. Hoje, meu nome para treinador seria Alejandro Sabella. Campeão da Libertadores com o Estudiantes em 2009, classificou a seleção argentina em primeiro lugar para a Copa do Mundo de 2014, quando chegou ao vice-campeonato. Conseguiu montar uma defesa forte com zagueiros bem medíocres e laterais bastante limitados. Mostrou variações táticas, jogando ora com uma estruturada linha de cinco defensores, ora em duas linhas de quatro e até com três atacantes. Além disso, finalmente não teremos as já conhecidas desculpas para não buscar um treinador estrangeiro, principalmente a questão da adaptação no meio da temporada. Começaríamos um trabalho do zero, com tempo para entrosar comandante e comandados e sem a pressão também de estar no meio de um processo eleitoral.

Que, por sinal, está extremamente chato... Mas isso é outra história.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Gigante por Natureza






Irmãos rubro-negros,



mais uma semana de muita turbulência na Gávea.

Para o Flamengo não basta esse processo eleitoral extremamente disputado e o rendimento vergonhoso dentro de campo. 

Existe espaço ainda para a indisciplina e o desrespeito de parte dos atletas, os mesmos de sempre, que a diretoria há muito tempo já deveria ter enquadrado. Essa reprovável hesitação da diretoria do Flamengo em tratar e cuidar atentamente do futebol do clube tem cobrado seu preço. E ele é muito alto.

A despeito disso, o Flamengo sempre gera notícia, sempre movimenta a massa rubro-negra e a imprensa, trazendo para si todos os holofotes. 

Se não há notícia, o Flamengo cria uma.

Pensando sobre isso, refleti detidamente sobre a eleição deste ano.

Meus amigos, nunca a eleição de um clube mobilizou tanto as redes sociais e a própria grande imprensa.

Nada menos que três, repito, três grandes redes de televisão já anunciaram interesse em realizar debates com os candidatos à presidência do Flamengo. Isso para não mencionar as inúmeras mídias rubro-negras que têm acompanhado passo a passo, com enorme repercussão, todo esse processo que elegerá o presidente do Mais Querido para o próximo triênio.

Meus amigos, a eleição presidencial do Clube de Regatas do Flamengo tornou-se assunto de interesse nacional.

Inacreditável.

O Flamengo é portador de um gigantismo que independe de fase ou de humor: ele arrasta consigo mais de quarenta milhões de fanáticos e leva de roldão a imprensa, sempre ávida por audiência e notícias.

Outro dia li que de cada cinco camisas vendidas no futebol brasileiro em 2015, uma é do Flamengo, ou seja, 20% do total.

É muita grandeza, que nem os resultados ruins e a péssima administração do futebol podem diminuir.

...

Parabéns ao basquete rubro-negro, o primeiro a conquistar onze Campeonatos Cariocas da modalidade.





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Encerrarei este curto post com uma mensagem que deveria estar gravada em cada parede do Ninho do Urubu e da Gávea, para servir de inspiração aos atletas que vestem o Manto Sagrado.

Uma frase cunhada no tempo em que havia verdadeiros heróis rubro-negros, que escreveram, com raça, sangue, suor, lágrimas e muito amor, a mais bela história do desporto mundial.


"Eu queria tanto ganhar uma camisa do Flamengo neste aniversário, porque eu amo tanto meu clube, que não há ninguém que possa imaginar o sentimento profundo que eu sinto em meu coração pelo meu querido Flamengo."


Agustín Valido (autor do gol do primeiro Tricampeonato Carioca do Flamengo: 1942-43-44. Declaração feita por ocasião do centenário do clube).





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Abraços e Saudações Rubro-Negras a todos.

Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Por um alto desempenho

Todo bom desempenho começa com objetivos claros.
Ken Blanchard

 E lá fomos nós, torcida do Flamengo, agraciados com mais um "espetáculo" global de má conduta profissional por parte de jogadores do Flamengo, já reconhecidos como parte de um grupo de boêmios pejorativamente alcunhado de "Bonde da Stella", em alusão a famosa foto em que apareciam com uma garrafinha da cerveja Stella Artois na mão. No que pese demonstrarem bom gosto na bebida, são jogadores de futebol de uma grande equipe de Série A, não só grande, como o time de maior torcida do mundo! De forma frequente, dizem, este mesmo grupo aparecia em diversas comemorações, casas de show e outros tipos de entretenimento. 

Bem, sabemos que a atividade profissional de jogador de futebol pode ser considerada de extrema competitividade. A grande e vasta maioria dos profissionais estão longe dos grandes centros. Considerando um universo de cerca de 30.000 jogadores (http://extra.globo.com/esporte/triste-realidade-no-brasil-82-dos-jogadores-de-futebol-recebem-ate-dois-salarios-minimos-6168754.html) cerca de 82% destes jogadores recebiam até 2 salários mínimos. E quantos destes jogadores têm oportunidade de compor o elenco dos chamados outrora " Clube dos 13", que, considerando uma media de 30 jogadores profissionais por clube, teríamos 390 jogadores, pouco mais de 1% do total.

São jogadores da elite do futebol brasileiro. Que envolve quantias milionárias dado o interesse cada vez maior no país pelo entretenimento que o futebol proporciona. Estes clubes estão envoltos em um ambiente de competitividade extrema em relação a outros clubes, buscando o diferencial em termos de performance técnica, física e tática. Mas consegue-se isto sem disciplina no elenco? Com jogadores desmotivados, que nitidamente correm para não chegar, não apertam a marcação, recusam passes a companheiros melhores localizados, deixando o jogo correr frouxo?

Não. Obviamente que não. Quando acontece isto não se atinge o alto desempenho. E como se chega a ele? Entre diferentes estudos, um deles (Quatro catalisadores para equipes de alto desempenho) afirma que uma equipe o atinge quando sua liderança ativa quatro catalisadores essenciais:
- Confiança: Quando a expertise da liderança é percebida, há crédito às indagações e no cumprimento das palavras. Uma equipe com relação de confiança entre liderança e liderados alcançam altos níveis de desempenho mais rapidamente.
- Comprometimento: Senso de responsabilidade, disciplina em atender normas e processos. Manter uma equipe altamente comprometida é mérito da liderança.
- Conhecimento: Vai além dos saberes funcionais e técnicos, engloba visão sistêmica do processo a que está envolvido, alinhamento dos membros em termos de obtenção de conhecimento, inteligência emocional, capacidade de aprendizagem coletiva.
- Significado: Alinhamento de propósito. Cria o vínculo emocional para um desempenho em grupo muito além das capacidades isoladas dos membros da equipe.

Pois bem, verificamos ao menos em relação a estes catalisadores listados que o Flamengo, ou sua liderança de futebol, está longe de conseguir ativar qualquer um deles. Jogadores não tem confiança no treinador, sequer um no outro...comprometimento nem preciso dizer, é inexistente...Na minha opinião nem técnico nem jogadores estão interessados em obter ou colocar em prática mais conhecimento de jogo, de variação tática, etc .Os jogadores não sabem o que significa jogar no Flamengo ou sequer seu objetivo para este semestre. O propósito de boa parte deles é se divertir.

Como conseguir?

Primeiro, como fez, isolando um subgrupo símbolo da problemática. Pode não ter pego "todos". Este Bonde tem mais vagão, mas ao menos, força o grupo a se olhar. A se conhecer. Ao mesmo tempo que em situação de crise os objetivos passam a ser mais focados. Jogadores têm a ciência que o grupo não está agradando. Apareceu o problema na mídia e isto não só pode causar problemas profissionais porque atinge diretamente suas imagens, como familiares, pelo clima de devassidão demonstrado nas reportagens.

Segundo, estabelecendo uma relação de confiança. É preciso que os jogadores confiem na liderança. Que ela não tolerará mais atos de descomprometimento, que o técnico escalará jogadores não mais baseado em panelas ou simpatias pessoais, se é que acontece. Confiança que o Flamengo é uma instituição séria. Não é para fazer esbórnia. Sendo assim se consegue o comprometimento que haverá força de vontade de jogar de forma profissional com o melhor desempenho possível, pois se conhecerá o "Significado" do que isto representa para o Flamengo neste momento e para o ano que vem, em termos de competição.

Evidente que para atingir o alto desempenho não só os catalisadores devem ser ativados pela Liderança, como a própria Liderança deve ser capaz de ativá-los...isto é, a Liderança deve... Liderar. Deve inspirar, levar a equipe atingir as metas, inspirar confiança, mostrar a expertise necessária, impor normas e disciplinas, correções de rumo quando preciso. Criar um clima de confiança mútua entre todos os membros da equipe. E no futebol temos liderança executiva, gerencial e técnica, no qual dirigente amador voluntário é colocado pelo clube a supervisionar e lidar com o assunto, que envolve relação de poderes bem complexas. 

Enfim, como fazer então com que o Flamengo passe a condição de alto desempenho nesta estranha relação de amadorismo com profissional?

Releia o que escrevi no início. Comece com objetivos claros. O diretor executivo deve tê-los em mente, cobrados pela direção amadora eleita para a governança, e através destes objetivos servir de norte para criação de metas, contratação de recursos, nível de cobrança e busca de comprometimento do elenco e profissionais sob seu comando para atingi-los. 

Claro que não é tão simples. Mas...tenha objetivos claros.

Por Flavio H Souza
twitter: @PedradaRN 


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Últimos suspiros

Essa imagem rodou nas redes sociais no dia do mestre, 15 out pp, e caracteriza uma das principais carências no Departamento de Futebol do Flamengo, atualmente: a liderança carismática de quem sabe o que quer e que sabe como conduzir os seus destinos profissionais.

 

As seis derrotas do Flamengo nos últimos sete jogos o deixaram na 6a colocação do Segundo Turno do Campeonato Brasileiro e a seis pontos do G-4. Um ponto de distância para cada revés sofrido desde a vergonhosa noite da falta de vontade, em Brasília, que marcou o início da "catastre" como dizia Gentil Cardoso;

Para evitar um vexame maior havia um Joinville no meio do caminho e a curva sofreu uma momentânea descontinuidade numa manhã ensolarada no Maracanã, com o bônus de um golaço de falta, que o mito assinaria, feito pelo reserva Aírton. Contornada essa dócil pedra vinda do Sul, retomamos o status de fáceis presas aberto lá atrás e com extrema facilidade pelo Coritiba;

Faltando seis partidas até o apito final do Brasileirão deste ano, o que esperar desse time sanguessuga, desmotivado (???), desorientado, mal treinado e sem comando fora e dentro de campo?

Para o torcedor resta aguardar que o time tome vergonha na cara e não seja esculachado dentro de campo por qualquer adversário, seja onde for jogada uma partida de futebol, e que seus jogadores tenham a mínima noção do que representa serem empregados de um clube que lhes paga régios salários em dia para simplesmente fazer aquilo a que se propuseram ao assinar os respectivos contratos: trabalhar com vontade jogando futebol;

Há dias, numa entrevista, um boleiro brasileiro (sim, boleiro, como a maioria merece ser rotulada) afirmou que não gostava de assistir futebol. Pasmem, algo semelhante a um escritor não gostar de ler, um médico querer manter distância dos seres humanos, um engenheiro não curtir números ou um advogado desprezar a Constituição Federal;

Também seria de muito bom alvitre que os responsáveis pelo futebol do clube, do presidente Eduardo Bandeira de Mello ao treinador Oswaldo de Oliveira, tratassem de colocar as suas obrigações com a nação rubro-negra em dia, no sentido de cobrar responsabilidade do elenco a fim de que a torcida não seja enxovalhada a cada vez que o atual bando entra em campo representando milhões de torcedores, pois a atual diretoria foi eleita baseada num discurso de transformações em todos os setores, porém, no carro-chefe chamado futebol sua atuação é simplesmente lamentável.

SRN!

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Os Planos Para o Futebol

Não posso, não devo e nem quero ser referência para ninguém, contudo busco informações que me façam compreender a algumas das coisas quais enxergo à “olho nu”. Talvez me considere um grande interessado em Flamengo, em diversos assuntos, de sua política, estrutura organizacional, dos esportes disputados, serviços distribuídos, etc., não apenas no futebol. Um curioso. Mesmo curioso, não consigo enxergar as entranhas do futebol, e as pessoas que dirigem, neste mandato ou em mandatos dos últimos 25 anos ao menos, também não conseguem. Tavez por ter menos de 2 anos de associado, ou por ser obscuro mesmo. Não sei se por sorte, providência divina, não consegui assistir à peleja de domingo, onde me relataram que o Flamengo fez apenas uma finalização decente em 90 minutos e o técnico da equipe se disse satisfeito com o desempenho, quando o adversário “treinou” vencendo por 1x0. Como mudar?

Para a mudança de paradigma é preciso o investimento. Em profissionais de melhor qualidade, para funções-chave, os melhores profissionais do país, muito treinamento e controle das ações da pasta. Talvez seja preciso mudanças em postos-chave e a busca pelos melhores profissionais do mercado brasileiro não é simples, e deve ser executada a qualquer custo, mesmo que seja para mexer com os brios de quem esteja lá. Não se trata de instabilizar o departamento, apenas deixá-lo eficaz, competitivo, eficiente.

Como o título da coluna diz, e “o futuro do futebol”? O que pensam as chapas? Como os programas de governo são o documento que referendam estatutariamente os planos das campanhas, as diretrizes das chapas. Li as ideias da Chapas Azul e da Chapa Verde, tentei ler a da Chapa Branca, mas disconsiderei o último, tamanha pobreza do que se espera para o Flamengo. Tentarei me ater à parte do Futebol dos Planos de Governo (PDG).

O PDG da Chapa Verde é  meio decepcionante. Tudo bastante genérico. De uma forma geral ele é pautado em pessoas, não em ideias. Para o futebol prometem:
  • Conclusão do CT com investimentos de R$ 30MM, está junto com os planos do futebol, assim como a construção de um estádio na Gávea para 25 mil pessoas.
  • Investimento de R$ 60MM no triênio, para a base. R$ 20MM por ano, que seria comandada por um ex-jogador do clube.
  • Contratação de um “gerente de campo”, o supervisor que eu cito acima.
  • Posicionamentos institucionais relacionados ao futebol também estão nos planos do futebol.
As questões objetivas, mesmo que poucas me agradam: a contratação do supervisor e aviso de quanto será gasto na base. Excelente! Isso é o que eu desejo em um plano de governo. O que fazer e como fazer. Repito, muito pobre este plano relacionado ao futebol. Meio decepcionante. Pautado em pessoas, não em ideias.

O Plano de governo da Chapa Azul tem 51 páginas, sete delas voltadas para o futebol. O PDG promete realizar reformas estruturais em quatro eixos do departamento: Gestão; Avaliação de Desempenho e Inteligência de Mercado; Capacitação; e Categorias de base. O plano diz que “são diretrizes para nos conduzir a um nível de excelência nas Américas, coincidindo com a previsão de um orçamento superior para o futebol em 2016-2018. Um salto que nos alçará à condição de competidor de alto desempenho em todos os campeonatos que disputarmos nos próximos anos”. Prometem:
  • Com a i) conclusão do nosso Centro de Treinamento; ii) mais recursos financeiros disponíveis para o departamento de futebol (qualificação do elenco, inclusive); e iii) reformas em quatro eixos fundamentais (Gestão; Avaliação de Desempenho e Inteligência de Mercado; Capacitação; e Categorias de Base), atingiremos um outro patamar de governança, investimento e rendimento esportivo no próximo triênio.
  • Implantação do Plano Diretor do Futebol, com estrutura de governança, redefinição do organograma dos profissionais do Departamento de Futebol e desenho de funções, adaptados a partir das principais experiências de sucesso;
  • Será elaborado um Regimento Interno para o Departamento de Futebol com documentação do job description e definição das competências e limites de atuação dos principais participantes - inclusive a respeito da escolha de profissionais e dos valores de contratações de atletas, salários e luvas;
  • O modelo de gestão do Futebol terá liderança visível e assídua, com possibilidade de uso de consultores externos com comprovada expertise no futebol e/ou carreira esportiva no clube;
  • A condução esportiva/técnica do departamento terá especial ênfase, para que as categorias de base e o futebol profissional tenham uma diretriz e filosofia únicas. Serão estabelecidas metas de rendimento para a Comissão Técnica, com comparação entre os resultados de campo e o método empregado nos treinamentos;
  • Buscaremos importar conhecimento e promover o intercâmbio com os grandes clubes europeus para implantar as melhores práticas e processos para o nosso Departamento de Futebol, se possível com intermédio da Adidas, nossa patrocinadora de material esportivo;
  • A política de remuneração dos profissionais do Futebol será atrelada a resultados, principalmente coletivos. O modelo levará em conta o orçamento do clube e será apresentado ao elenco no início de cada temporada e suficientemente exposto aos novos atletas contratados;
  • Serão aprimoradas as normas de conduta e de comunicação aplicáveis aos atletas e integrantes do departamento;
  • Haverá maior integração do Departamento de Futebol com outras áreas do clube como Marketing, Comunicação, Financeiro, Patrimônio, Jurídico e Recursos Humanos;
  • As realizações e decisões estratégicas da gestão do Futebol serão comunicadas mais frequentemente aos associados:
  • Manutenção e aperfeiçoamento dos projetos estruturantes do Futebol do Flamengo, como o Centro de Excelência em Performance, o Centro de Inteligência de Mercado, criados em 2015, e o desenvolvimento da abordagem psicológica e de coaching;
  • Investimento em tecnologia, com aquisição de equipamentos e softwares;
  • Criação de processos de avaliação de todos os funcionários do Departamento de Futebol com estabelecimento de prazos e feedbacks sobre cumprimento das metas;
  • Criação de base de dados suprida com relatórios de avaliação periódica de cada atleta do clube e observações contendo dados como informações técnicas, físicas e psicológicas.
  • Toda contratação de atleta profissional será avalizada por relatório em que conste a avaliação técnica sobre o rendimento atual do profissional, seu histórico e produtividade; e analise física e psicológica. O relatório será assinado por cada profissional que avaliou o atleta;
  • Aumento e qualificação da rede de “olheiros”, inclusive no mercado sul-americano.
  • Criação de Programa de Formação de Talentos focado no suporte à gestão executiva e técnica do Departamento de Futebol;
  • Incentivar, monitorar e exigir a qualificação e desenvolvimento permanente dos profissionais do departamento, tanto das divisões de base, quanto do Futebol profissional, através de graduações, cursos de especialização, workshops, palestras e afins;
  • Estabelecimento de planos de apoio à educação dos jovens atletas e um programa paralelo para que conheçam a história rubro-negra e seus personagens, com amparo de projetos incentivados.
  • Manutenção do Certificado de Clube Formador, emitido pela CBF em 25 de maio de 2015;
  • Formação de plano de atração e retenção de talentos, através do fornecimento de transporte e auxílio-refeição/moradia para os atletas da base, especialmente das categorias sub-13, sub-15 e Sub-17 (com amparo de projetos incentivados);
  • Desenvolvimento de processos de captação, “peneiras” e parcerias para atrair os jovens mais promissores;
  • Implantação dos métodos de avaliação de desempenho e excelência em performance às categorias de base;
  • Implantação de uma filosofia única de jogo do Flamengo, para melhor preparação e adaptação do atleta de base à equipe profissional. Todas as equipes de base praticarão o esporte da mesma forma, privilegiando a posse de bola, o ataque e a raça rubro-negra, exigências da nossa torcida;
  • Integração das categorias de base de futebol de campo com o futsal;
  • Estabelecimento de metas específicas para os profissionais da base do Futebol, levando em consideração a quantidade de atletas convocados para as seleções brasileiras de base, aproveitamento nas categorias imediatamente superiores, arrecadação com venda de atletas e títulos conquistados no ano;
  • Estabelecimento de meta para que, em médio/longo prazo, pelo menos 50% da nossa equipe profissional seja composta por atletas oriundos das divisões de base do Flamengo;
  • Este plano tem uma meta: vencer uma Libertadores até 2018.
Os tópicos acima estão na íntegra, foram retirados do plano de governo (existem discrições entre estes tópicos; preferi trazer apenas os tópicos para reduzir e ser mais objetivo). Particularmente, gostaria de ouvir mais sobre o setor de RH, não apenas para o futebol, para os planos do clube, incusive sobre as job discriptions. Para mim, os atletas devem saber sobre a história da “empresa”, do clube, como acontece normalmente em grandes empresas. Deveria ser obrigatória uma aula de introdução, como se fosse uma preparação e conscientização da “utilização de EPI”.

É preciso dotar o clube de profissionais que melhorem seu desempenho em campo, facilitando sua vida fora do campo. Uma espécie de secretaria temporária que cuide dos atletas recém-chegados. Escola para filhos, aula de línguas para estrangeiros e família, assistência para quem vem de fora do estado, também. Extensível a base, que por sua vez, deveria utilizar o futsal na formação dos atletas do futebol. Instituir a modalidade como setor indissolúvel da Vice-Presidência de Futebol, aplicada diretamente nas categorias de base. Há uma brecha na lei Pelé que o Flamengo pode utilizar. Não podemos formar atletas para o futebol de campo, menores de 14 anos, mas podemos “guardá-los” enquanto atletas do Futsal e buscar talentos desde cedo, com estrutura, lógico.

Precisamos de estruturas e processos. Pra isso, tem que vir gente de fora pra criar o que se deseja. Ficar imaginando a alma Flamengo desde a década de 80, parece utópico em minha visão. Temos que formar algo novo, um modelo Flamengo, para o Século XXI. Trazendo profissionais de sucesso e experimentados e formar em casa. Devemos buscar parceria ou comprar “grandes sistemas integrados de informação”, como o SAP usado pelo Grêmio, por exemplo. Adotaria critérios objetivos de avaliação e desempenho das equipes e dos atletas do clube, baseados em eficiência. Caso já existam, explicar como funcionam. Particularmente, sou contrário à “filosofia única”. O que é isso? Como se forma? O clube pode dar diretrizes de formação, mas é impossível jogar como os profissionais. A não ser que o treinador venha e fique os três anos da gestão, faça chuva ou faça sol.

Não sou daqueles que torce mais para a chapa do que para o clube, porém acredito no que vejo, no que vi dentro do clube no último ano, onde pude ajudar a fazer um Flamengo melhor, acredito nos meus pares. O que mais me chateia são os ataques à pessoas que suam a camisa para ajudar ao clube, ataques de pessoas que não fazem ideia do que está dizendo ou do que se faz. O importante é o Flamengo, ajudar o clube de forma voluntária para mim e para muitos é um orgulho, um prazer e vejo em cada um daqueles que se dispõem a melhorar o clube como um todo. Tento fazer um comparativo baseado no lançamento dos planos de governo. Os PDGs vão resolver os problemas do futebol do Flamengo? Não sei, mas apontam um caminho. Recomendo que todos leiam. Aos planos das três chapas. Que os sócios escolham o melhor caminho, assim como os gestores saibam conduzir o Flamengo para o lugar que esperamos!



segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Sobre 2016: Barca ou Rumo e Estabilidade?

Urubu arrepiado e nada satisfeito
Salve, Buteco. Eu sei que ninguém aguenta mais jogador render mais em outros times do que no Flamengo, adversários e rivais demonstrarem mais vibração e pegada dentro de campo, saldo de vitórias/derrotas e de gols negativos no campeonato brasileiro, fuga do rebaixamento ao menos em parte do campeonato, todo mundo ter centro de treinamento e estádio, mas o Flamengo não; trocar de técnico e preparador físico a cada quatro meses, trocar de diretor executivo todo ano, tantas contusões e um Departamento Médico que parece não existir, conselho gestor no qual ninguém parece entender do assunto, as noites cariocas serem culpadas por tudo e o futebol tão ruim dentro de campo. Acho que está se tornando uma espécie de "senso-comum" que há algo de muito errado na forma como o clube lida com o Departamento de Futebol, como um todo, e que pode ser a principal causa de todos esses problemas. Por isso mesmo, numa boa, "papo-reto": será que a solução é uma barca ampla, geral e irrestrita, como se costuma sugerir em situações como a atual? Que segurança temos que os jogadores que virão não repetirão o círculo vicioso que vem se perpetuando nas duas últimas décadas?

Gostaria de deixar claro que minha intenção não é, a partir dessas primeiras reflexões, passar a mão na cabeça de um grupo de jogadores que perde quatro partidas no ano pro lanterna do campeonato brasileiro, que ganha seis partidas seguidas e depois perde outras seis em sete disputadas na sequência. Porém, tenho a mais absoluta certeza de que grande parte dos jogadores desse elenco renderiam muito mais do que atualmente rendem no Flamengo se estivessem em clubes como o Corinthians, Cruzeiro, Atlético/MG, São Paulo ou Internacional, ou alguém tem alguma dúvida que isso aconteceria com Gabriel, Paulinho, Marcelo Cirino, Canteros e o próprio Guerrero, só pra ficar em alguns exemplos? Será que em todos os casos podemos falar em falta de vibração, profissionalismo ou comprometimento?

Para ilustrar o meu raciocínio, ficarei em um exemplo sempre mencionado com muita lucidez pelo amigo Helio Santoro aqui no Buteco, que é o meia-atacante Gabriel. Após fazer um trabalho de reforço muscular e tópico de finalização (com o assistente técnico Deivid), melhorou substancialmente sua performance no segundo semestre de 2014 até a fatídica contusão na vitória contra a Chapecoense no Maracanã (3x0), que antecedeu o desastre da partida de volta no Mineirão pelas quartas-de-final da Copa do Brasil. Será que esse trabalho teve sequência? Como foi a recuperação desse jogador? Até que ponto os explícitos conflitos entre a comissão técnica e o Departamento Médico atrapalharam a retomada desse trabalho?

A partir desse exemplo pontual, sugiro que observem quantas contusões tivemos nos últimos anos, inclusive no atual, e a duração da recuperação de cada atleta. Tentem sincronizar esses períodos com as mudanças de treinador e preparador físico e depois digam, com toda a sinceridade, até que ponto podemos concluir, com absoluta certeza, que o problema essencial do elenco é de postura e profissionalismo? Se quiserem outro exemplo extremo e esquisito, talvez bizarro, analisem detalhadamente o que se passou com Marcelo Cirino recentemente.

Fico por isso na dúvida: a barca não seria um mero paliativo? Não alimentaria um círculo vicioso? O Flamengo não teria que atacar a raiz do problema ao invés de mais uma vez combatê-lo superficialmente?

Pergunto então aos amig@s do Buteco: o Departamento de Futebol do Flamengo precisa de uma barca ou de rumo e estabilidade?

Só para esclarecer, quando me refiro a barca quero dizer ampla reformulação no elenco, e não mudanças pontuais e seu reforço com peças de qualidade.

***

Oswaldo de Oliveira (que não acho que seja treinador para o Flamengo), o terceiro treinador do clube no ano, tentou, em uma semana, montar um esquema tático que anulasse o líder e ataque mais positivo do campeonato. Tarefa inglória, sem a menor sombra de dúvida. A impressão que tive é que o sistema defensivo do Flamengo se perdeu entre os sistemas de marcação por zona e individual, quando ao menos para mim a marcação por zona deveria ser a opção contra um ataque que é baseado na ampla movimentação e troca de passes em velocidade, viabilizando a penetração na área dos meias e atacantes. Tinha jogador marcando individualmente e jogador marcando por zona, o que facilitou para o Corinthians, apesar do inegável empenho do time na marcação. O certo é que, em meio a esse desacerto defensivo e apesar dos dois volantes mais marcadores, não fosse a imperícia de Vagner Love, que desperdiçou de três a quatro chances claras de gol, o placar poderia ter sido até elástico. O primeiro tempo apenas reforçou minha opinião de que o problema do sistema defensivo não é Canteros, volante com excelentes números no campeonato brasileiro, e sim tático.

De qualquer modo, a diferença entre os times também pôde ser constatada na articulação das jogadas ofensivas. Com dois volantes marcadores, o meio de campo do Flamengo se limitava a Alan Patrick. Aliás, eu não consigo entender o que Oswaldo esperava com dois volantes que não sabem sair pro jogo, um meia e dois pontas abertos e estáticos, isolados. O modelo, importado do futebol europeu, funciona com volantes que executam múltiplas funções em campo, dentre elas a articulação das jogadas ofensivas. Nenhuma surpresa, portanto, que, enquanto detinha a posse de bola, o Flamengo não encontrava espaços e os seus jogadores sempre encontravam de dois a três corintianos em volta. Por isso mesmo, logo cediam os contra-ataques nos quais jogadores absolutamente comuns como Vagner Love e Malcolm trocavam passes e movimentavam-se em velocidade e de forma sincronizada pelos espaços vazios na sempre surpreendida defesa do Mais Querido. Eu não tenho a menor dúvida de que esses atletas não têm qualidade superior aos jogadores do nosso elenco, muito pelo contrário. Não trocaria qualquer dos dois por um dos atacantes do nosso elenco. Porém, integram um sistema tático muito mais eficiente e que tem o ataque mais positivo do campeonato brasileiro, além da liderança cada vez mais folgada.

É nesse ponto que volto a convidar @s amig@s a uma reflexão detida e serena a respeito do tema levantado no tópico anterior e a enorme responsabilidade que a Diretoria e o Departamento de Futebol terão na reformulação e montagem do elenco, além do planejamento para 2016. Mas é preciso um norte, de uma vez por todas. Ontem, por exemplo, o presidente Eduardo Bandeira de Melo classificou o trabalho de Oswaldo de Oliveira como "excelente".

Acaba logo, 2015...

Bom dia e SRN a tod@s.

domingo, 25 de outubro de 2015

Corinthians x Flamengo


Campeonato Brasileiro 2015 - Série A - 32ª Rodada

Corinthians: Cássio; Edilson, Felipe, Gil e Guilherme Arana; Ralf, Jadson, Elias, Renato Augusto e Malcolm; Vagner Love. Técnico - Tite.

FLAMENGO: PaulVictor; ParáCésaMartinsWallace JorgeJonas, Márcio Araújo e Alan Patrick; PaulinhoGuerreroEverton. Técnico: Oswaldo dOliveira.

Data, Local e Horário: Domingo, 25 de Outubro de 2015, as 17:00h (BSB/Horário Brasileiro de Verão) (USET/PR15:00h), no Estádio Arena Corinthians ou "Itaquerão", em São Paulo/SP.

Arbitragem - Wilton Pereira Sampaio (FIFA/GO), auxiliado por Fabrício Vilarinho da Silva (FIFA/GO) e Bruno Raphael Pires (ASP/FIFA/GO). Quarto Árbitro: Carlos Augusto Nogueira Junior (SP). Delegado: Alício Pena Junior (MG).

Pendurados: Samir, Kayke e Paulinho.

Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos,

O Flamengo está próximo de completar 120 anos de vida. Com isso, essa semana dou início a uma série de textos que remetem aos primórdios da nossa história. O primeiro deles irá detalhar a primeira temporada da vida flamenga no futebol. Com efeito, o que se tem em mente é que no longínquo 1912 o Flamengo jogou com uma camisa esquisita, meteu uma goleada estrondosa na estréia, perdeu o Fla-Flu e não ganhou o campeonato. Para saber um pouco mais sobre este campeonato, convido-os a ler as linhas que se seguem. Para temperar, foram acrescentados alguns termos da época (sem exageros). Então, boa leitura.

(nas próximas semanas, retroagiremos ainda mais na história do clube)

* * *

1912. Vai começar a temporada. Após o confuso campeonato anterior (com abandonos e cisões), a Liga Metropolitana de Sports Athleticos aumenta o número de participantes para oito, abrindo assim quatro vagas. Duas delas são ocupadas por Bangu e São Cristóvão (vencedores da Segunda Divisão), e para as demais são convidados o SC Mangueira (equipe de uma fábrica de chapéus, sem relações carnavalescas) e o novo CR Flamengo, team que abrigou os rebeldes do Fluminense, campeão do ano anterior. O Fluminense, por sinal, que nutre excelente relação com o Flamengo (há intercâmbio de atletas e até dirigentes), cede seu campo para a utilização do rubro-negro, além de interceder pela participação do club, convencendo a LMSA que a presença do Flamengo irá elevar sobremaneira o nível da competição, fazendo-a preponderar sobre a Liga ora comandada pelo arqui-rival Botafogo.

MANGUEIRA 2-16 FLAMENGO
03/05, Ground do América, Rua Campos Sales, Tijuca. Tarde chuvosa. 16 horas. É dada a saída pelo Flamengo. Bola com Galo, que passa a Gustavo, que vem buscar jogo na meia-esquerda. Gustavo domina e faz um belo lançamento à ponta-direita, onde Arnaldo está livre. O right-side forward avança e, antes que a bola passe a linha de fundo, consegue alcançá-la e cruzar para trás, rasteira. O baixinho e arisco Gustavo (1, 58 m), que acompanha o lance, vem na corrida e emenda de primeira, um balaço. 1’, 1-0. O Mangueira dá a saída. Gilberto faz o desarme e aciona Gustavo, que chuta. Após a bola espirrar lá e cá, Gustavo, ele de novo, aproveita a sobra e amplia. 2-0, com 2’. Esses são os dois primeiros minutos da história do futebol do Flamengo.
O restante da partida resume-se a um match-training, dada a diferença técnica dos teams. Ironicamente, o gol mais bonito é de Octavio, do Mangueira, em um shoot de longe. Até hoje a maior controvérsia do cotejo é seu real placar. Os jornais da época falam em 15, 16 e até 17 gols marcados (cinco deles de Gustavo, o destaque). 16-2 é o placar considerado oficial pelo Flamengo.

FLAMENGO 6-3 AMÉRICA
19/05, Laranjeiras. Primeira demonstração de força do Flamengo (que já havia vencido o rival em trainings). O primeiro tempo ainda apresenta certo equilíbrio, terminando 3-2 para o rubro-negro. Mas, no segundo half-time, o América não resiste à pressão do veloz ataque flamengo, que constrói a vitória com naturalidade. Borgerth, Arnaldo e Gustavo, duas vezes cada, dividem os gols.

FLAMENGO 1-2 PAYSANDU
09/06, Laranjeiras. O Paysandu, eleven formado apenas por ingleses, já começa a chamar a atenção por suas três categóricas vitórias iniciais. E o match não decepciona a numerosa assistência que aflui às arquibancadas do ground do Fluminense. Um prélio renhido, disputado com denodo e galhardia, um belíssimo embate entre a excepcional dupla de backs do Flamengo (talvez a melhor do país) e a devastadora linha de forwards do adversário. Mas a partida será definida nos detalhes. Disciplinado taticamente, o team alvianil percebe que a defesa flamenga marca em linha, e explorando essa falha chegará à vitória. O Paysandu abre o placar a dois minutos do intervalo. Com 4’ do segundo tempo, o Flamengo empata num chute forte de Amarante e se atira à frente, mas o Paysandu, em um de vários contragolpes, chega aos números finais, apesar da pressão fortíssima do rubro-negro (em um lance, Amarante chuta por cima do gol de dentro da pequena área, com o goleiro já batido). É a primeira derrota da história flamenga, num jogo celebrado pelos jornais como “um dos melhores do ano”.

BANGU 4-7 FLAMENGO
30/06, Rua Ferrer, Bangu. O Flamengo não conta com o fullback-right (precursor da lateral-direita) Curiol, e a solução adotada acaba por bagunçar toda a estrutura da equipe. Com efeito, o inside-right forward (equivalente ao camisa 8, meia-atacante) Amarante é recuado para a função do ausente, passando o fullback-right (zagueiro) Nery para o ataque (!), no lugar de Amarante, entrando Cintra na zaga. Não poderia mesmo dar certo, como não deu. Contra um dos times mais fracos do campeonato, o Flamengo protagoniza péssima jornada, atuando de forma vulnerável, agravada pela visível falta de motivação da equipe. O placar não é mais apertado em função da desastrosa atuação do goleiro banguense, que falha em quatro gols, um deles após um shoot de quase 40 metros!

FLUMINENSE 3-2 FLAMENGO
07/07, Laranjeiras. O Fluminense, que perdeu seus principais jogadores justamente para o rubro-negro, faz campanha regular, ocupando posições intermediárias. Assim, o Flamengo é tido como favorito pleno. Mas o adversário encara o match como um assunto de honra, e exerce, desde o primeiro minuto, uma resistência que desnorteia e enerva o eleven rubro-negro. O Flamengo, novamente desfalcado de Curiol, mantém a escalação que não funcionou em Bangu. Ademais, segue repetindo o posicionamento errado de sua defesa, que marca em linha. O duelo, de assistência numerosa, inicia extremamente movimentado, e aos 5’ já está empatado em 1-1, score que persiste até o intervalo. No segundo half-time, após chances criadas pelos dois teams, que praticam um jogo duro e até violento, o fullback reserva Cintra comete hands (mão na bola). Freekick (pênalti), que Baena quase defende, mas não evita o segundo gol adversário. O Flamengo se lança em uma luta quase suicida ao ataque, perde gols inacreditáveis (e quase sofre outros tantos), até que a 5’ do final chega ao empate, em um tiro de longe do fullback Píndaro. Enquanto os rubro-negros comemoram, o adversário se lança à frente e, após uma série de peripécias, chega ao gol a poucos segundos do apito final. Uma derrota inesperada, que terá conseqüências fatais no desfecho da competição.

FLAMENGO 4-0 RIO CRICKET (14/07, Laranjeiras), FLAMENGO 5-0 SÃO CRISTÓVÃO (28/07, Laranjeiras)
Para o restante do campeonato, o Flamengo perde um importante jogador. Gustavo, seu principal forward e goleador, embarca para a Europa, para concluir seus estudos de Engenharia (retornará em 1917). Este fato, somado ao mau desempenho da defesa, enseja uma completa reformulação na escalação da equipe. Com a volta de Curiol, o criticado Cintra retorna ao segundo team, e a formação base fica assim definida: Baena, Píndaro e Nery; Lawrence, Amarante e Gallo; Curiol, Arnaldo, Gilberto, Bahiano e Alberto.
As alterações dão certo, e o time já se mostra mais sólido e combativo nas partidas contra os perigosos Rio Cricket e São Cristóvão, vencendo-os sem dificuldades por placares elásticos (ressalvando-se que o time alvo atuou bastante desfalcado). Mas a mudança para um jogo menos vistoso não agrada a crônica, que recheia de críticas as atuações flamengas. Destaque para a saraivada de censuras ao comportamento do inside-left forward (o ponta-de-lança, camisa 10) Bahiano, que se esmera em dribles e firulas desnecessários, num comportamento considerado “antidesportivo e desleal” pelos periódicos cariocas.

AMÉRICA 0-1 FLAMENGO
25/08, Campos Sales. O América está em ascensão no campeonato e sonha com o título, especialmente após derrotar o líder Paysandu, incendiando a competição. Mas o time rubro sofre uma baixa inesperada quando Jonathan, seu melhor atacante, inesperadamente embarca para São Paulo na véspera da partida. É o sinal, Mais polêmica partida do Flamengo no campeonato, o match é extremamente truncado e violento. Os jogadores Baiano (Flamengo) e Peres (América) distribuem pontapés e bordoadas sob a passiva complacência do referee Villas-Boas (que é o captain do São Cristóvão. À época os jogos são apitados por capitães de outros teams). Logo no início do jogo o América ataca. Uma bola é cruzada, todo mundo se embola, e no meio do batebufo do caterefofo o rubro Belfort vai marcar, mas se embola em um zagueiro, escorrega e cai. No embalo, justo Baiano e Peres dividem a bola, e sobra um bico de chanca na perna de apoio do captain americano, que sai de campo com séria luxação. Cada team acusa o adversário da autoria da “deslealdade”. O América, com 10, passa a resistir bravamente, sustentando um heróico empate, mas, a 30 segundos do apito final, Curiol faz bela jogada pela ponta e cruza para Borgerth, que arremata sem defesa para Marcos, Flamengo 1-0. São os números finais.
Os jornais, que já andavam demonstrando certa preferência aos rubros antes do jogo, colocando-os como favoritos, explodem em críticas. “A vitória foi decorrente exclusivamente da sorte”, “o árbitro foi de uma parcialidade que tocou o cinismo”, “o juiz parece ser parente de um dos jogadores do club vencedor”, “a nosso ver o jogo terminou empatado”, “todos os nossos parabéns de hoje vão ao vencido”, entre outras pérolas. A diretoria do América, esquecendo-se do “detalhe” de, como mandante, ter indicado o árbitro do cotejo, envia um ofício ao São Cristóvão solicitando que, quando da ocasião do próximo encontro entre os dois clubs em campo americano, o team alvo envie outro captain, pois o Sr. Villas-Boas acaba de ser proibido de colocar os pés no club tijucano. Sobra também para o fujão Jonathan, que é sumariamente eliminado dos quadros sociais do América.

FLAMENGO 14-0 MANGUEIRA
08/09, Laranjeiras. Um treinamento de luxo do Flamengo, que conta com uma equipe razoavelmente modificada. Sete vira, 14 acaba, num jogo em que o fraquíssimo adversário somente consegue transpor a linha central duas vezes em toda a partida. Destaque para Arnaldo (5 gols) e para a curiosa alteração do Mangueira no intervalo, que fez com que um jogador da linha assumisse a posição de goal-keeper, indo o titular para o meio do campo (não eram permitidas substituições, mas trocas de posição eram lícitas). O substituto, com belas defesas, acaba sendo mais elogiado que o goleiro original.

FLAMENGO W-0 BANGU
22/09, Laranjeiras. O Bangu, talvez temendo um destino parecido ao do Mangueira, não envia seu time principal a campo. Uma vez que a preliminar, entre os segundos teams, termina 10-0 para o Flamengo, imagina-se que a simpática agremiação suburbana tenha mesmo escapado de um revés histórico.

PAYSANDU 1-1 FLAMENGO
06/10, Laranjeiras. É a final antecipada do campeonato. O Paysandu lidera a competição com dois pontos de vantagem sobre o próprio Flamengo, e à equipe inglesa resta apenas mais um jogo após o duelo contra o rubro-negro. O Flamengo precisa vencer para ter a chance de se igualar na pontuação, forçando assim um match de desempate. No entanto, o rubro-negro mantém seu desenho tático mais combativo e forte na defesa, que vem dando bons resultados. O Paysandu ignora a vantagem e começa pressionando. Logo consegue um pênalti, cometido por Nery, mas H.Robinson desperdiça, chutando para Baena defender. Pouco depois, o goleiro C.Robinson vai repor a bola, mas é desarmado por Miguel (ou Borgerth, segundo alguns jornais), que arromba rede com bola e goleiro junto. Flamengo 1-0. E assim termina a primeira etapa. Na volta do intervalo o Flamengo se posta mais atrás, resistindo à pressão do Paysandu e estocando rápido, em contragolpes. Mas, a 10’ do final, Lawrence comete hands dentro da área, e mais um pênalti é marcado contra o Flamengo. O atacante Sidney Pullen (melhor jogador do Paysandu) desta vez é quem cobra, e não perde. 1-1. Com o empate o Flamengo se atira à frente, mas pouco consegue ameaçar o gol dos ingleses. O empate se mantém até o final, e o Paysandu com isso se torna o virtual campeão da temporada. Ao Flamengo, resta lamentar a inesperada derrota para o Fluminense, que lhe tirou os dois pontos que tanta falta fazem agora. Ou mesmo a imerecida derrota para o próprio Paysandu no primeiro jogo, que o rubro-negro dominou a maior parte do tempo.

RIO CRICKET 1-1 FLAMENGO
20/10, Icaraí, Niterói-RJ. O Flamengo precisa vencer esta partida e torcer para que o Paysandu perca para o Fluminense, o que manteria aceso o sonho do milagre. Mas nada disso acontece. Já algo desmotivado, o Flamengo não consegue se impor ao violento Rio Cricket, perde Borgerth contundido e não sai de um empate. No fim, ainda perde Miguel e Baiano, terminando o jogo com oito atletas. Enquanto isso, o Fluminense até apõe certa resistência no início, mas é sobrepujado pela maior força coletiva do Paysandu, que chega aos 4-2 e assim se sagra o campeão carioca de 1912.

FLAMENGO 4-0 FLUMINENSE
27/10, Laranjeiras. Mesmo testando alguns reservas e se dando “ao luxo” de atuar boa parte do tempo com um jogador a menos (um de seus jogadores chegou atrasado para a partida), o Flamengo, ao contrário do jogo do primeiro turno, atua de forma bem mais tranquila, concentrada e disciplinada, não tomando conhecimento do adversário e chegando à goleada com facilidade. O goleiro do Fluminense impede uma derrota ainda mais elástica. O Flamengo seguirá goleando o adversário nos jogos e anos seguintes, mas a derrota na primeira partida continuará sendo o jogo a ser lembrado por todos.

SÃO CRISTÓVÃO 0-3 FLAMENGO
01/11, Campos Sales. Sem motivação maior do que cumprir uma formalidade, o Flamengo jogou apenas o suficiente para construir um placar folgado contra o frágil adversário. Na primeira etapa o jogo ainda se arrastou em um enfadonho 0-0, mas na volta do intervalo o Flamengo acelerou o ritmo e chegou sem dificuldades ao placar, confirmando assim a segunda colocação na temporada.

* * *

E assim termina o ano. O Paysandu conquista o titulo de Campeão Carioca, somando 24 pontos, contra 22 do Flamengo. O team inglês, embora desprovido de luminares (exceto o outstanding forward Sidney Pullen, jogador de grande categoria), destaca-se pelo sólido conjunto e pela força de seu ataque. O Flamengo, mesmo coalhado de talentos individuais (Baena, Borgerth, Arnaldo, Curiol, Píndaro, Nery, sem falar em Gustavo, que jogou metade do campeonato), muitas vezes apresentou falhas em seu jogo coletivo, somente encontrando o equilíbrio no returno, quando acertou sua defesa (basta constatar os gols sofridos nas duas metades do campeonato, 14 e 3). Ademais, em vários momentos a equipe apresentou-se com certa leniência e excessiva irreverência, precisando “adoptar caracter mais competitivo”, nas palavras de periódicos da época.

Mas, à guisa de compensação, o Flamengo conquista o campeonato dos segundos teams (algo como os aspirantes), numa arrancada sensacional, em que desconta uma diferença de quatro pontos para o América, derrotando-o em match-desempate (4-2). É a Caxambu Cup, o primeiro troféu da história do futebol flamengo, conquistado já em seu primeiro ano de existência (o team principal ainda irá aguardar até 1914).

Este é o primeiro ano da história do futebol do Flamengo. Da nossa história.


Para maiores informações e detalhes, Livro “Uma Viagem a 1912”, de Marcelo Abinader, ou os jornais da época

sábado, 24 de outubro de 2015

De saco cheio

Uma barca não é a solução! Não adianta o Flamengo mandar embora Paulinho, Cirino, Pará e companhia para trazer no ano seguinte Pikachu, William Arão, Rafael Marques e outros nomes nada animadores, é preciso ter um choque de ordem e uma mudança de filosofia urgente!

Ontem nossos problemas eram Renato Abreu e Leo Moura, depois André Santos e Alecsandro, mudam-se apenas os nomes, mas o problema continua. Se antes a imagem do clube ficava arranhada fora de campo devido figuras como Adriano e Bruno, hoje o problema é a falta de gana dentro de campo.

Hoje os jogadores já aprenderam direitinho todo o manual de conduta que o clube exige como não tirar a camisa na hora de comemorar um gol, vestir o manto para dar entrevistas na beira do campo e ir uniformizado a programas esportivos. Só que ninguém ensina a ser Flamengo, é preciso querer fazer parte, vestir a camisa de verdade como fazem os jogadores de basquete, na vitória ou na derrota.

Adianta trocar o Oswaldo de Oliveira por um Marcelo Oliveira, um Dorival, um Jorginho? É mais do mesmo! No começo teremos uma empolgação inicial devido a troca de treinador e em menos de seis meses já teremos comandante novo na Gávea, não é assim que se faz futebol.

É preciso entender por que um Vagner Love dá certo no Corinthians, ao ponto de já ter marcado 10 gols no Brasileiro e aqui o mesmo atacante provavelmente seria um dos capitães da chamada barca.

Só no Flamengo que tem jogador vagabundo e desinteressado? É tudo culpa das tentações do Rio de Janeiro? Daqui a pouco alguém vai propor ao clube mudar de estado.

Se eu fosse o VP de futebol do Flamengo, a primeira medida que faria seria reformular o departamento médico inteiro. O dinheiro que gastaria para contratar um Arão eu investiria em uma ótima equipe médica. Ia ao Corinthians ou ao Atlético e faria uma proposta irrecusável para os funcionários da área. 

Contrataria 2 ou 3 jogadores acima da média, mas que possuam um perfil de liderança com espírito vencedor, de preferência um zagueiro e um volante. O Rodrigo Caetano não é o mago das contratações? É preciso ter criatividade e focar o investimento em tiros certeiros de verdade.

Procura algum jogador que esteja na China já de saco cheio de comer sopa de cachorro e escorpião, como o Paulinho (ex small), tenta fazer uma oferta para o goleiro Julio Cesar ou busca algum zagueiro com perfil de xerifão - parece que aquele zagueiro Alex está dando sopa no mercado.

De resto é tentar encontrar clubes parceiros e fazer algumas trocas para oxigenar o elenco. Não adianta rescindir o contrato do Paulinho para satisfazer a torcida e daqui alguns meses o jogador entrar na justiça cobrando não sei quantos milhões do clube.

É preciso ser esperto e tentar envolve-lo em alguma negociação, utilizando-o como uma valiosa moeda de troca. Tenta negociá-lo com algum clube que participará da Nova Liga, já que o relacionamento com estes clubes está mais estreito, tenta fazer negócio com o Palmeiras, que tem um elenco inchado, o importante é tentar e acima de tudo não desvalorizar o material humano que possuímos.

O Flamengo precisa de pessoas insensatas e principalmente de pessoas incomodadas em seu futebol, seja dentro ou fora de campo. O Flamengo se acostumou a ser coadjuvante e essa falta de atitude é indefensável. 

Me despeço com um trecho que li de uma entrevista com o publicitário Nizan Guanaes:

"Sou um chato. O homem insensato tenta adaptar o mundo a ele. O sensato adapta-se a ele. Sou do primeiro time. Todo o progresso da ciência se deve ao homem insensato. Alguém, certo dia, deve ter falado "não concordo com a distância" e inventou a roda, "não concordo com o frio" e inventou o fogo, "não concordo com o calor" e inventou o ar-condicionado. Ser assim não é fácil, significa ter uma permanente azia, uma insatisfação garantida e seu dinheiro de volta. Tenha uma vontade irresistível de fazer as coisas. Sou um inconformado. Sempre digo: a vida é uma pista aérea. Ou você voa ou não tem sentido algum. Não liga nada a lugar algum." 


Bom final de semana a todos e que neste domingo os jogadores joguem com dignidade, só isso que peço.