quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Por um alto desempenho

Todo bom desempenho começa com objetivos claros.
Ken Blanchard

 E lá fomos nós, torcida do Flamengo, agraciados com mais um "espetáculo" global de má conduta profissional por parte de jogadores do Flamengo, já reconhecidos como parte de um grupo de boêmios pejorativamente alcunhado de "Bonde da Stella", em alusão a famosa foto em que apareciam com uma garrafinha da cerveja Stella Artois na mão. No que pese demonstrarem bom gosto na bebida, são jogadores de futebol de uma grande equipe de Série A, não só grande, como o time de maior torcida do mundo! De forma frequente, dizem, este mesmo grupo aparecia em diversas comemorações, casas de show e outros tipos de entretenimento. 

Bem, sabemos que a atividade profissional de jogador de futebol pode ser considerada de extrema competitividade. A grande e vasta maioria dos profissionais estão longe dos grandes centros. Considerando um universo de cerca de 30.000 jogadores (http://extra.globo.com/esporte/triste-realidade-no-brasil-82-dos-jogadores-de-futebol-recebem-ate-dois-salarios-minimos-6168754.html) cerca de 82% destes jogadores recebiam até 2 salários mínimos. E quantos destes jogadores têm oportunidade de compor o elenco dos chamados outrora " Clube dos 13", que, considerando uma media de 30 jogadores profissionais por clube, teríamos 390 jogadores, pouco mais de 1% do total.

São jogadores da elite do futebol brasileiro. Que envolve quantias milionárias dado o interesse cada vez maior no país pelo entretenimento que o futebol proporciona. Estes clubes estão envoltos em um ambiente de competitividade extrema em relação a outros clubes, buscando o diferencial em termos de performance técnica, física e tática. Mas consegue-se isto sem disciplina no elenco? Com jogadores desmotivados, que nitidamente correm para não chegar, não apertam a marcação, recusam passes a companheiros melhores localizados, deixando o jogo correr frouxo?

Não. Obviamente que não. Quando acontece isto não se atinge o alto desempenho. E como se chega a ele? Entre diferentes estudos, um deles (Quatro catalisadores para equipes de alto desempenho) afirma que uma equipe o atinge quando sua liderança ativa quatro catalisadores essenciais:
- Confiança: Quando a expertise da liderança é percebida, há crédito às indagações e no cumprimento das palavras. Uma equipe com relação de confiança entre liderança e liderados alcançam altos níveis de desempenho mais rapidamente.
- Comprometimento: Senso de responsabilidade, disciplina em atender normas e processos. Manter uma equipe altamente comprometida é mérito da liderança.
- Conhecimento: Vai além dos saberes funcionais e técnicos, engloba visão sistêmica do processo a que está envolvido, alinhamento dos membros em termos de obtenção de conhecimento, inteligência emocional, capacidade de aprendizagem coletiva.
- Significado: Alinhamento de propósito. Cria o vínculo emocional para um desempenho em grupo muito além das capacidades isoladas dos membros da equipe.

Pois bem, verificamos ao menos em relação a estes catalisadores listados que o Flamengo, ou sua liderança de futebol, está longe de conseguir ativar qualquer um deles. Jogadores não tem confiança no treinador, sequer um no outro...comprometimento nem preciso dizer, é inexistente...Na minha opinião nem técnico nem jogadores estão interessados em obter ou colocar em prática mais conhecimento de jogo, de variação tática, etc .Os jogadores não sabem o que significa jogar no Flamengo ou sequer seu objetivo para este semestre. O propósito de boa parte deles é se divertir.

Como conseguir?

Primeiro, como fez, isolando um subgrupo símbolo da problemática. Pode não ter pego "todos". Este Bonde tem mais vagão, mas ao menos, força o grupo a se olhar. A se conhecer. Ao mesmo tempo que em situação de crise os objetivos passam a ser mais focados. Jogadores têm a ciência que o grupo não está agradando. Apareceu o problema na mídia e isto não só pode causar problemas profissionais porque atinge diretamente suas imagens, como familiares, pelo clima de devassidão demonstrado nas reportagens.

Segundo, estabelecendo uma relação de confiança. É preciso que os jogadores confiem na liderança. Que ela não tolerará mais atos de descomprometimento, que o técnico escalará jogadores não mais baseado em panelas ou simpatias pessoais, se é que acontece. Confiança que o Flamengo é uma instituição séria. Não é para fazer esbórnia. Sendo assim se consegue o comprometimento que haverá força de vontade de jogar de forma profissional com o melhor desempenho possível, pois se conhecerá o "Significado" do que isto representa para o Flamengo neste momento e para o ano que vem, em termos de competição.

Evidente que para atingir o alto desempenho não só os catalisadores devem ser ativados pela Liderança, como a própria Liderança deve ser capaz de ativá-los...isto é, a Liderança deve... Liderar. Deve inspirar, levar a equipe atingir as metas, inspirar confiança, mostrar a expertise necessária, impor normas e disciplinas, correções de rumo quando preciso. Criar um clima de confiança mútua entre todos os membros da equipe. E no futebol temos liderança executiva, gerencial e técnica, no qual dirigente amador voluntário é colocado pelo clube a supervisionar e lidar com o assunto, que envolve relação de poderes bem complexas. 

Enfim, como fazer então com que o Flamengo passe a condição de alto desempenho nesta estranha relação de amadorismo com profissional?

Releia o que escrevi no início. Comece com objetivos claros. O diretor executivo deve tê-los em mente, cobrados pela direção amadora eleita para a governança, e através destes objetivos servir de norte para criação de metas, contratação de recursos, nível de cobrança e busca de comprometimento do elenco e profissionais sob seu comando para atingi-los. 

Claro que não é tão simples. Mas...tenha objetivos claros.

Por Flavio H Souza
twitter: @PedradaRN