terça-feira, 27 de outubro de 2015

Os Planos Para o Futebol

Não posso, não devo e nem quero ser referência para ninguém, contudo busco informações que me façam compreender a algumas das coisas quais enxergo à “olho nu”. Talvez me considere um grande interessado em Flamengo, em diversos assuntos, de sua política, estrutura organizacional, dos esportes disputados, serviços distribuídos, etc., não apenas no futebol. Um curioso. Mesmo curioso, não consigo enxergar as entranhas do futebol, e as pessoas que dirigem, neste mandato ou em mandatos dos últimos 25 anos ao menos, também não conseguem. Tavez por ter menos de 2 anos de associado, ou por ser obscuro mesmo. Não sei se por sorte, providência divina, não consegui assistir à peleja de domingo, onde me relataram que o Flamengo fez apenas uma finalização decente em 90 minutos e o técnico da equipe se disse satisfeito com o desempenho, quando o adversário “treinou” vencendo por 1x0. Como mudar?

Para a mudança de paradigma é preciso o investimento. Em profissionais de melhor qualidade, para funções-chave, os melhores profissionais do país, muito treinamento e controle das ações da pasta. Talvez seja preciso mudanças em postos-chave e a busca pelos melhores profissionais do mercado brasileiro não é simples, e deve ser executada a qualquer custo, mesmo que seja para mexer com os brios de quem esteja lá. Não se trata de instabilizar o departamento, apenas deixá-lo eficaz, competitivo, eficiente.

Como o título da coluna diz, e “o futuro do futebol”? O que pensam as chapas? Como os programas de governo são o documento que referendam estatutariamente os planos das campanhas, as diretrizes das chapas. Li as ideias da Chapas Azul e da Chapa Verde, tentei ler a da Chapa Branca, mas disconsiderei o último, tamanha pobreza do que se espera para o Flamengo. Tentarei me ater à parte do Futebol dos Planos de Governo (PDG).

O PDG da Chapa Verde é  meio decepcionante. Tudo bastante genérico. De uma forma geral ele é pautado em pessoas, não em ideias. Para o futebol prometem:
  • Conclusão do CT com investimentos de R$ 30MM, está junto com os planos do futebol, assim como a construção de um estádio na Gávea para 25 mil pessoas.
  • Investimento de R$ 60MM no triênio, para a base. R$ 20MM por ano, que seria comandada por um ex-jogador do clube.
  • Contratação de um “gerente de campo”, o supervisor que eu cito acima.
  • Posicionamentos institucionais relacionados ao futebol também estão nos planos do futebol.
As questões objetivas, mesmo que poucas me agradam: a contratação do supervisor e aviso de quanto será gasto na base. Excelente! Isso é o que eu desejo em um plano de governo. O que fazer e como fazer. Repito, muito pobre este plano relacionado ao futebol. Meio decepcionante. Pautado em pessoas, não em ideias.

O Plano de governo da Chapa Azul tem 51 páginas, sete delas voltadas para o futebol. O PDG promete realizar reformas estruturais em quatro eixos do departamento: Gestão; Avaliação de Desempenho e Inteligência de Mercado; Capacitação; e Categorias de base. O plano diz que “são diretrizes para nos conduzir a um nível de excelência nas Américas, coincidindo com a previsão de um orçamento superior para o futebol em 2016-2018. Um salto que nos alçará à condição de competidor de alto desempenho em todos os campeonatos que disputarmos nos próximos anos”. Prometem:
  • Com a i) conclusão do nosso Centro de Treinamento; ii) mais recursos financeiros disponíveis para o departamento de futebol (qualificação do elenco, inclusive); e iii) reformas em quatro eixos fundamentais (Gestão; Avaliação de Desempenho e Inteligência de Mercado; Capacitação; e Categorias de Base), atingiremos um outro patamar de governança, investimento e rendimento esportivo no próximo triênio.
  • Implantação do Plano Diretor do Futebol, com estrutura de governança, redefinição do organograma dos profissionais do Departamento de Futebol e desenho de funções, adaptados a partir das principais experiências de sucesso;
  • Será elaborado um Regimento Interno para o Departamento de Futebol com documentação do job description e definição das competências e limites de atuação dos principais participantes - inclusive a respeito da escolha de profissionais e dos valores de contratações de atletas, salários e luvas;
  • O modelo de gestão do Futebol terá liderança visível e assídua, com possibilidade de uso de consultores externos com comprovada expertise no futebol e/ou carreira esportiva no clube;
  • A condução esportiva/técnica do departamento terá especial ênfase, para que as categorias de base e o futebol profissional tenham uma diretriz e filosofia únicas. Serão estabelecidas metas de rendimento para a Comissão Técnica, com comparação entre os resultados de campo e o método empregado nos treinamentos;
  • Buscaremos importar conhecimento e promover o intercâmbio com os grandes clubes europeus para implantar as melhores práticas e processos para o nosso Departamento de Futebol, se possível com intermédio da Adidas, nossa patrocinadora de material esportivo;
  • A política de remuneração dos profissionais do Futebol será atrelada a resultados, principalmente coletivos. O modelo levará em conta o orçamento do clube e será apresentado ao elenco no início de cada temporada e suficientemente exposto aos novos atletas contratados;
  • Serão aprimoradas as normas de conduta e de comunicação aplicáveis aos atletas e integrantes do departamento;
  • Haverá maior integração do Departamento de Futebol com outras áreas do clube como Marketing, Comunicação, Financeiro, Patrimônio, Jurídico e Recursos Humanos;
  • As realizações e decisões estratégicas da gestão do Futebol serão comunicadas mais frequentemente aos associados:
  • Manutenção e aperfeiçoamento dos projetos estruturantes do Futebol do Flamengo, como o Centro de Excelência em Performance, o Centro de Inteligência de Mercado, criados em 2015, e o desenvolvimento da abordagem psicológica e de coaching;
  • Investimento em tecnologia, com aquisição de equipamentos e softwares;
  • Criação de processos de avaliação de todos os funcionários do Departamento de Futebol com estabelecimento de prazos e feedbacks sobre cumprimento das metas;
  • Criação de base de dados suprida com relatórios de avaliação periódica de cada atleta do clube e observações contendo dados como informações técnicas, físicas e psicológicas.
  • Toda contratação de atleta profissional será avalizada por relatório em que conste a avaliação técnica sobre o rendimento atual do profissional, seu histórico e produtividade; e analise física e psicológica. O relatório será assinado por cada profissional que avaliou o atleta;
  • Aumento e qualificação da rede de “olheiros”, inclusive no mercado sul-americano.
  • Criação de Programa de Formação de Talentos focado no suporte à gestão executiva e técnica do Departamento de Futebol;
  • Incentivar, monitorar e exigir a qualificação e desenvolvimento permanente dos profissionais do departamento, tanto das divisões de base, quanto do Futebol profissional, através de graduações, cursos de especialização, workshops, palestras e afins;
  • Estabelecimento de planos de apoio à educação dos jovens atletas e um programa paralelo para que conheçam a história rubro-negra e seus personagens, com amparo de projetos incentivados.
  • Manutenção do Certificado de Clube Formador, emitido pela CBF em 25 de maio de 2015;
  • Formação de plano de atração e retenção de talentos, através do fornecimento de transporte e auxílio-refeição/moradia para os atletas da base, especialmente das categorias sub-13, sub-15 e Sub-17 (com amparo de projetos incentivados);
  • Desenvolvimento de processos de captação, “peneiras” e parcerias para atrair os jovens mais promissores;
  • Implantação dos métodos de avaliação de desempenho e excelência em performance às categorias de base;
  • Implantação de uma filosofia única de jogo do Flamengo, para melhor preparação e adaptação do atleta de base à equipe profissional. Todas as equipes de base praticarão o esporte da mesma forma, privilegiando a posse de bola, o ataque e a raça rubro-negra, exigências da nossa torcida;
  • Integração das categorias de base de futebol de campo com o futsal;
  • Estabelecimento de metas específicas para os profissionais da base do Futebol, levando em consideração a quantidade de atletas convocados para as seleções brasileiras de base, aproveitamento nas categorias imediatamente superiores, arrecadação com venda de atletas e títulos conquistados no ano;
  • Estabelecimento de meta para que, em médio/longo prazo, pelo menos 50% da nossa equipe profissional seja composta por atletas oriundos das divisões de base do Flamengo;
  • Este plano tem uma meta: vencer uma Libertadores até 2018.
Os tópicos acima estão na íntegra, foram retirados do plano de governo (existem discrições entre estes tópicos; preferi trazer apenas os tópicos para reduzir e ser mais objetivo). Particularmente, gostaria de ouvir mais sobre o setor de RH, não apenas para o futebol, para os planos do clube, incusive sobre as job discriptions. Para mim, os atletas devem saber sobre a história da “empresa”, do clube, como acontece normalmente em grandes empresas. Deveria ser obrigatória uma aula de introdução, como se fosse uma preparação e conscientização da “utilização de EPI”.

É preciso dotar o clube de profissionais que melhorem seu desempenho em campo, facilitando sua vida fora do campo. Uma espécie de secretaria temporária que cuide dos atletas recém-chegados. Escola para filhos, aula de línguas para estrangeiros e família, assistência para quem vem de fora do estado, também. Extensível a base, que por sua vez, deveria utilizar o futsal na formação dos atletas do futebol. Instituir a modalidade como setor indissolúvel da Vice-Presidência de Futebol, aplicada diretamente nas categorias de base. Há uma brecha na lei Pelé que o Flamengo pode utilizar. Não podemos formar atletas para o futebol de campo, menores de 14 anos, mas podemos “guardá-los” enquanto atletas do Futsal e buscar talentos desde cedo, com estrutura, lógico.

Precisamos de estruturas e processos. Pra isso, tem que vir gente de fora pra criar o que se deseja. Ficar imaginando a alma Flamengo desde a década de 80, parece utópico em minha visão. Temos que formar algo novo, um modelo Flamengo, para o Século XXI. Trazendo profissionais de sucesso e experimentados e formar em casa. Devemos buscar parceria ou comprar “grandes sistemas integrados de informação”, como o SAP usado pelo Grêmio, por exemplo. Adotaria critérios objetivos de avaliação e desempenho das equipes e dos atletas do clube, baseados em eficiência. Caso já existam, explicar como funcionam. Particularmente, sou contrário à “filosofia única”. O que é isso? Como se forma? O clube pode dar diretrizes de formação, mas é impossível jogar como os profissionais. A não ser que o treinador venha e fique os três anos da gestão, faça chuva ou faça sol.

Não sou daqueles que torce mais para a chapa do que para o clube, porém acredito no que vejo, no que vi dentro do clube no último ano, onde pude ajudar a fazer um Flamengo melhor, acredito nos meus pares. O que mais me chateia são os ataques à pessoas que suam a camisa para ajudar ao clube, ataques de pessoas que não fazem ideia do que está dizendo ou do que se faz. O importante é o Flamengo, ajudar o clube de forma voluntária para mim e para muitos é um orgulho, um prazer e vejo em cada um daqueles que se dispõem a melhorar o clube como um todo. Tento fazer um comparativo baseado no lançamento dos planos de governo. Os PDGs vão resolver os problemas do futebol do Flamengo? Não sei, mas apontam um caminho. Recomendo que todos leiam. Aos planos das três chapas. Que os sócios escolham o melhor caminho, assim como os gestores saibam conduzir o Flamengo para o lugar que esperamos!