segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

O Reencontro com o Del Valle


Salve, Buteco! Há pouco mais de dois anos eu publicava este post e nós conversávamos pela primeira vez, neste Blog, a respeito do adversário de amanhã, o Club Especializado de Alto Rendimiento Independiente Del Valle. A pandemia de Covid-19 se aproximava, mas a maior parte das pessoas, compreensivelmente, preferia acreditar que seria só um susto. Então, o (Bi) Campeão da Copa Libertadores da América após a conquista do título sobre o River Plate, em 23 de dezembro de 2019, preparava-se, sob o comando do treinador português Jorge Jesus, para enfrentar o então campeão da Copa Sul-Americana daquele mesmo ano, que, sob o comando do espanhol Miguel-Ángel Ramírez, também havia vencido um argentino na final - o Colón de Santa Fé.

Na semana seguinte, publiquei este post abordando especificamente o promissor treinador espanhol da equipe equatoriana e a sucessão de eventos que o levou ao cargo. Já era possível, naquele momento, profetizar um total de 4 a 6 confrontos entre as equipes, a depender do sorteio da Fase de Grupos da Libertadores da América/2020 e o posterior chaveamento até a final.

Acabaram sendo "apenas" quatro, todos muito movimentados, os dois primeiros com público, os dois últimos com estádios vazios. O Mais Querido do Brasil (e do Mundo) levou o título da Recopa Sul-Americana/2020, mas no terceiro confronto, sob o comando do espanhol Domènec Torrent, vinha de derrota para o Ceará no Castelão (0x2) e sofreu uma das maiores goleadas de sua História na Libertadores (0x5) em Quito. 

A goleada foi quase devolvida no Maracanã (4x0), no quarto e último confronto entre os dois clubes, jogo disputado sob o comando de Jordi Guerrero (assistente de Domènec). Sob fortes desconfiança e apreensão, o time foi a campo com Pedro e Gabigol formando a dupla de ataque e Bruno Henrique no banco, porém o nosso hoje Camisa 10 se contundiu durante a partida, sendo substituído justamente por sua contraparte da "fusão". Gabi só retornaria ao time no fatídico confronto contra o Atlético Mineiro de Jorge Sampaoli, no Mineirão, último da passagem de Domè pelo Flamengo...

Na bem executada estratégia do time em campo, o Del Valle foi deixado a vontade na saída de bola, com o time esperando com linhas médias, sem atacar de maneira agressiva o portador da bola. Esperando a região certa para recuperar a posse de bola, o placar veio com contra-ataques fulminantes, para irritação do írrito treinador espanhol do Del Valle.

O jogo contra o Junior de Barranquilla, pela 6ª Rodada da Fase de Grupos, havia se transformado em um simples amistoso.

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Veio a pandemia, foi-se (até que ponto?) a pandemia, foram-se Jesus e Ramírez, e vieram Vítor Pereira e Martín Anselmi. Nesse ínterim, o Flamengo foi octacampeão brasileiro (2020), bicampeão da Supercopa do Brasil (2021), tricampeão estadual (2021), tetracampeão da Copa do Brasil (2022) e tricampeão da Libertadores (2022), enquanto o Del Valle, que modernizou e trocou as cores do escudo, foi pela primeira vez campeão equatoriano (2021), da Copa do Equador (2022) e da Supercopa de Equador (2022), este último título conquistado no 11 de fevereiro passado.

E os treinadores? Bem, desde o último encontro com o Del Valle e até chegar a Vítor Pereira, o Flamengo demitiu Domènec Torrent e passou por Rogério Ceni, Renato Portaluppi, Paulo Sousa e Dorival Júnior. Já o Del Valle, desde o último encontro com o Flamengo, terminou normalmente a temporada/2020 com Miguel-Ángel Ramírez, que foi substituído pelo português Renato Paiva, hoje no Bahia, o qual deixou o clube (não foi demitido) um ano e meio depois para treinar o León do México, tendo sido substituído pelo atual treinador, o argentino Martín Anselmi, que está no cargo desde 30 de maio de 2022.

Os clubes se reencontram num cenário parecido com o dos dois últimos confrontos, qual seja, de incerteza sobre a comissão técnica estrangeira rubro-negra e aparente maior organização e estabilidade da equipe equatoriana.

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Nessas idas e vindas de treinadores do Flamengo, ao longo dos anos, costumo gostar quando consigo identificar qualidades positivas em alguns deles, enchendo-me de esperanças, e acabo me frustrando quando não evoluem no clube para serem profissionais melhores. Por exemplo, os casos de Zé Ricardo e Rogério Ceni, em quem inclusive vejo traços em comum, a despeito das filosofias de jogo completamente diferentes, talvez até antagônicas.

Os amigos certamente se recordam de como o time de Zé Ricardo muitas vezes começava bem jogos importantes, mas quando na etapa final precisava da leitura de jogo do treinador, vinham as substituições e, não raro, o desastre. Na campanha do Brasileiro/2016, os jogos contra o Atlético Mineiro, no Mineirão, e Internacional, no Beira-Rio, vêm à minha memória como exemplos, mas talvez o mais fatídico tenha sido o do Gasómetro, contra o San Lorenzo, pela 6ª Rodada da Fase de Grupos da Libertadores/2017.

Falo sobre o treinador capaz de "estudar" e até mesmo neutralizar as ações de um adversário, muitas vezes mais forte, mas que peca na leitura de jogo. É que vejo esse mesmo traço em Rogério Ceni. Quando estava no Fortaleza, o Flamengo não teve nenhum jogo fácil contra ele. E no Flamengo, assim como agora no São Paulo, são fartos os exemplos de bons jogos e duelos táticos contra, por exemplo, Abel Ferreira, do Palmeiras.

O que me intriga sobre o atual treinador do Del Valle, o jovem argentino Martín Anselmi, é como o São Paulo de Rogério Ceni foi simplesmente engolido na final da Copa Sul-Americana. Não houve um minuto sequer de superioridade tricolor durante os 90 minutos, o que não me parece normal para os padrões de um treinador como o brasileiro, que tem seus defeitos e muito a evoluir (se é que evoluirá), mas está muito longe de ser um ignorante na parte tática.

O São Paulo Futebol Clube se arrastou durante a temporada/2022, administrando, com um elenco curto e problemas estruturais, o Campeonato Brasileiro e o avanço nas duas copas. É claro que a quantidade de jogos e esse contexto pesaram no desempenho da final da Sul-Americana. Por isso mesmo, é difícil apontar qual foi o fator que prevaleceu, mas pelo sim e pelo não, é bom o nosso experiente treinador Vítor Pereira ficar de olhos bem abertos com relação a esse jovem treinador argentino.

Estou com o pressentimento de que se trata de uma nova revelação da categoria.

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O elenco do Del Valle tem um perfil parecido com o de dois anos atrás e alguns de seus jogadores são nossos velhos conhecidos, como o zagueiro Richard Schunke, os laterais Anthony Landázuri e Beder Caicedo, o volante Christian Pellerano, os meias Lorenzo Faravelli e Júnior Sornoza, além do atacante Michael Hoyos e da talentosa garotada característica do modelo de formação de base, adotado pelo clube.

Olhos abertos no alto e forte ponta direita argentino Lautaro Díaz, que foi muito bem na final da Sul-Americana.

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O Independiente del Valle receberá o Flamengo em seu novíssimo estádio multiuso, o Banco Guayaquil, com capacidade para 12.000 (doze mil) espectadores, localizado na parroquia rural de Amaguaña, jurisdição do distrito metropolitano de Quito, na Província Pichincha. 

As informações sobre a altitude da localização do estádio me pareceram desencontradas. A altitude média da região é de 2.620 msnm, isso porque, se a parte mais baixa está a 444 msnm, as mais altas variam entre 2.780 a 4.210 msnm. Contudo, o site StadiumDB, especializado em informações sobre estádios em geral, nesta matéria aponta a altitude de "apenas" 2.517 msnm no local em que está localizado o Estádio Banco Guayaquil. 

Pelo jeito, tem muita gente equivocadamente tomando por referência a altitude dos estádios Olímpico e Casa Blanca, em Quito.

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Minha fé no treinador do Flamengo permanece firme e vem do currículo. Por currículo, refiro-me não apenas a passagens por outros clubes e os títulos conquistados, mas quem o nosso português já enfrentou, especialmente na Europa.

Vale a pesquisa.

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A palavra, como sempre, está com vocês.

Boa semana e SRN a tod@s.