segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Gestão Zero

Salve, Buteco! Outubro chegou com o Mais Querido sem título e fora do G4 na competição mais importante do futebol nacional. Lembrando-me de quando escrevi o post Carta Aberta aos Indecisos, em 3 de dezembro de 2012, posso lhes afirmar seguramente que nunca imaginei, como outros e talvez alguns dos membros da Chapa Azul, que o Flamengo atingiria rapidamente a meta de conquista dos títulos mais altos. Já havia passado da idade de acreditar em contos de fada. Futebol é um esporte altamente complexo e entre os coletivos, talvez o mais imprevisível, pois apesar de, em número de jogadores escalados, ser igualado pelo futebol americano e superado pelo rugby (quinze), parece-me ser o que tem mais variáveis com a bola rolando. Logo, qualquer previsão, para ser minimamente sensata, deveria contar com um tempo de aprendizado dos dirigentes que, advindos de outras áreas profissionais, eram muito pouco familiarizados com a realidade do futebol profissional. Aliás, não é a primeira vez que escrevo isso aqui.

O Flamengo, de 2013 para cá, equilibrou suas finanças e evoluiu patrimonialmente, a ponto de já ter um centro de treinamentos do nível europeu, com integração de tecnologias de ponta de vários ramos da medicina esportiva, e estar prestes a concluir as obras de outro que, dizem, estará entre os melhores do mundo. Incrível, não? Tão surpreendente quanto a evolução administrativa (lato sensu) é a estagnação da gestão do futebol, área na qual o Flamengo simplesmente não deu um passo à frente desde 2013. Chega a ser surreal: o clube se preparou e, em nível de estrutura, tem simplesmente tudo para deslanchar e conquistar um título importante atrás do outro, porém paradoxalmente continua a gerir o futebol da mesma forma que nas piores épocas do futebol amador. 

Atenção, por favor, pois estou falando de gestão zero, de nulidade, do vazio, do vácuo, da ausência de matéria, pensamentos e qualidade. Afirmo e reafirmo que o Flamengo não evoluiu absolutamente nada em quase seis anos na gestão do futebol (estrito senso), seja nos formatos azul + verde ou azul nutella ou fake (como queiram).

Basta um simples dado para fundamentar essa constatação: o Flamengo teve, até aqui, nos dois mandatos de Eduardo Bandeira de Mello, o assustador número de 14 (quatorze) treinadores (desprezando sequências de simples interinato). Ora, existe prova maior da completa ausência de planejamento, de ideias, de simplesmente saber o que se pretende fazer com o Departamento de Futebol? Observem os nomes e as diferenças de perfil, concepção teórica e tática de futebol, além de experiência. Ao contrário do que ocorre no futebol das categorias de base, no futebol profissional o Flamengo pós-Chapa Azul é uma verdadeira nau sem rumo e não deve, em nível de incúria, a nenhuma gestão anterior nos piores momentos dos nossos "anos de chumbo".

Alguém pode argumentar que desde 2016 o Flamengo só figura na página 1 da tabela do campeonato brasileiro e provavelmente se classificará para a Libertadores da América pela terceira vez consecutiva. Sem dúvida é diferente de não disputar nada e só conseguir lutar para fugir do rebaixamento. Mas essa "evolução" é pura e simples consequência da organização administrativa e financeira, pois mesmo gastando mal e errando demasiadamente nas contratações, que não raro possuem relação de custo x benefício duvidosa, ainda assim o Flamengo, desde 2016, montou elencos que se sobressaem na atual realidade do futebol nacional, a qual, não precisaria dizer, é de qualidade bastante duvidosa. A Nação Rubro-Negra quer mais do que boas colocações. Flamengo não é Arsenal, se é que vocês me entendem...

Aliás, o desempenho do Palmeiras no Brasileiro/2018 jogando com time alternativo expõe ainda mais a absurda incompetência na gestão do futebol. E vou mais além: pode-se até mesmo falar que em pelo menos uma esfera houve involução, eis que até mesmo nos piores anos do Século XXI o Flamengo predominava no cenário estadual, o que não ocorre atualmente, já que não prevalece em cenário algum no futebol profissional.

Reparem que nem as finais disputadas em 2017 podem ser computadas como alguma forma de "ganho", já que, em anos nos quais penou para não ser rebaixado, o Flamengo chegou a duas finais de Copa do Brasil (2003 e 2004). A única diferença, de ínfima relevância, é que os vice-campeonatos foram "conquistados" no mesmo ano (2017), o que para mim é inclusive um demérito. Afinal de contas, isso aqui não é Vasco... E nem pode passar a ser.

Absolutamente nada se aproveita, em nível de gestão de futebol, dos seis anos de Eduardo Bandeira de Mello. A partir de 2019 é imperioso que o Flamengo dê um salto de qualidade nessa área. Para mim, é muito difícil acreditar que isso possa acontecer com quem apoiou e ainda faz parte da desatinada gestão (futebolística) atual. Mas, por amor ao debate, tradição do Buteco, gostaria de conhecer os argumentos em sentido contrário.

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De Dorival a Dorival. Nada mais simbólico. Minha expectativa é de muito papo e um grande abraço na panela. Não acredito em choque de gestão nos onze jogos que faltam. 

Pouparei vocês e a mim mesmo da análise do jogo de sábado, que seguiu o padrão dos jogos seguintes aos das competições paralelas (Copa do Brasil e Libertadores). Dorival afirmou com razão que o jogo preocupava pelo estado psicológico dos jogadores. 0x0 foi lucro, pelo primeiro tempo.

Acredito que o time suba um pouco de produção pelo simples fato de não mais disputar competições paralelas, ou seja, apenas porque o desgaste será menor. Basta lembrar, como fiz neste post, que a melhor fase do time no ano correspondeu a uma pequena sequência de jogos disputados exclusivamente pelo Brasileiro. Mas nada indica que o desempenho será o mesmo. Uma vaga no G4 é o máximo que podemos aspirar, porém com as barbas de molho, evitando assim mais uma grande decepção.

Sexta-feira o Mais Querido visitará mais uma vez o Corinthians, dessa vez pela 28ª Rodada do Brasileiro. A palavra, como sempre, está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.