quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Alfarrábios do Melo


“Se o chute do Paquetá entra no gol, a conversa seria diferente...”

Tá.

Se o time aguentasse mais trinta segundos no Gasômetro…

Se o Diego não perdesse o pênalti contra o Palmeiras…

Se o Diego não mandasse pra lua o gol da vitória contra o Corinthians em Itaquera...

Se o Diego (de novo) não perdesse o pênalti na final contra o Cruzeiro…

Se o Everton não perdesse na cara do goleiro do Independiente…

Se entrasse a bola que o Dourado chutou na trave contra o Botafogo…

Se o Uribe não perdesse um gol sem goleiro contra o São Paulo…

Se o árbitro marcasse o pênalti no Marlos contra o Cruzeiro…

Se a canelada do Pará na trave de Itaquera fosse no gol…

Se…se...SE…

Futebol não tem “SE”. Tem resultado.

RE-SUL-TA-DO.

Quando pararmos com o “veja bem”, tirarmos a planilha do altar e passarmos a respeitar as mensagens que o RESULTADO nos tem sistematicamente enviado, talvez voltemos a erguer taças.

Porque trabalho que não dá RESULTADO é um trabalho indefensável.

É simplista? É. Mas anda faltando simplificar determinadas coisas no Flamengo.

Boa semana a todos,


terça-feira, 30 de outubro de 2018

O Enigma Paquetá



SRN, Buteco.

Pela enésima vez esse ano, o Flamengo não consegue ser decisivo em jogo , desc ulpe a redundância, decisivo.

E, mais uma vez, seus principais jogadores, os nomes de destaque, se escondem e se omitem em campo.

Quanto maior o jogo, piuor a atuação.

Mas quero falar particularmente de Lucas Paqueta.

Jogador de porte privilegiado.Forte sem ser pesado, alto sem ser lento.

Habilidoso, boa capacidade de movimentação e finalização.

Muitos pontos fortes, jovem, com espaço para evoluir técnica, fisica e mentalmente.

E o que se vê é um vagalume em campo.

Dispersivo, alheio ao que se passa a sua volta, erra passes infantis, faz firula onde não deve.
E tudo isso vem de meses, desde a parada para a Copa, para ser mais preciso.

Sim, eu sei que ele é um dos artilheiro do time no ano, tem feito muitos gols.Poderia até dizer que ele faz a parte dele em campo.

Mas é inegável que, assistindo aos jogos, percebe-se que tem alguma coisa diferente , algo se quebrou e não houve capacidade para se resolver, ou talvez não tenha conserto.

O fátidico lance do gol perdido contra o Palmeiras ilustra a situação.

Quando o Maracanã viu Marlos Moreno a beira do campo, o estádio ficou dividido.Metade achava que não iria dar em nada.A outra metade tinha certeza disso.

E no entanto, ele, contra todo o senso comum, fez o gol.

E o Maracanã ferveu , virou um vulcão, sentia-se no ar a expectativa da virada quando o mesmo Marlos rolou a bola para Paquetá na linha da pequena àrea, goleiro já ajoelhando.

O jogo acabou ali.O campeonato, também, me parece.

Paquetá virou uma incógnita.Qual é o verdadeiro, o jogador elétrico , explosivo, veloz e participativo do começo do ano ou esse poço de indiferença que ele se transformou após a copa?



segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Hesitação

Salve, Buteco! A distância pro Palmeiras infelizmente não diminuiu. O cenário era quase-perfeito: adversário com alguns importantes desfalques e vindo de uma séria derrota em Buenos Aires para o Boca Juniors, inevitavelmente pensando no segundo jogo da semifinal da Libertadores, e o Flamengo com todo o elenco a disposição, mais descansado e com o Maracanã lotado. Quase-perfeito porque a crise fora de hora com Diego Alves e o gramado do Maracanã realmente jogaram contra. Talvez em outra época nesses dois fatores não significassem tanto, mas para esse Flamengo são um grande peso. Com a bola rolando, a maneira pela qual o Palmeiras truncou o jogo desde os primeiros minutos, com Felipe Melo deitando e rolando na catimba, foi um presságio de que não seria nada fácil conquistar os três pontos. E como vem acontecendo em todas as decisões, o Mais Querido não deu sinais de que dessa vez seria diferente.

Na hora de decidir, mais uma vez o Flamengo hesitou.

***

O Palmeiras teve duas chances de gol durante os noventa minutos e acréscimos: na primeira, apesar da marcação de impedimento, César praticou uma grande defesa em um chute à queima-roupa de Guerra, fechando o ângulo com sua grande envergadura e mostrando bom reflexo. No segundo lance, Dudu se aproveitou da limitação de Pará, que desde o primeiro tempo dava todos os sinais de que iria entregar, e colocou bem a bola no canto. Analisando o replay, principalmente a partir das câmeras posicionadas atrás do gol de César, reconheço que o amigo Gabriel Mengão tem razão: nosso arqueiro pulou algumas frações de segundo atrasado. Bola defensável, mas apenas por goleiros absolutamente extra-série. Talvez as chances de Diego Alves defender fossem maiores, talvez não.

Em outros tempos, a catarse pelo gol marcado por Marlos Moreno se transformaria em virada e arrancada para o título. No Flamengo atual, o Flamengo do quase, o melhor jogador do time isolou a bola cara-a-cara com o goleiro no momento de decretar a vitória e escrever seu nome na história do clube. Será que Paquetá estaria mais focado se tivesse que mostrar serviço para merecer a tão sonhada transferência para o futebol europeu? Jamais saberemos. O certo é que a pré-anunciada transferência o Milan, para mim totalmente fora de hora, em absolutamente nada ajudou.

***

A teimosia em não aceitar que o ciclo com o Maracanã acabou e que o clube precisa ter o seu próprio estádio, a insistência em tentar transformar estagiários virginais em grandes treinadores, a dificuldade para implementar a meritocracia no Departamento de Futebol e a incapacidade de se planejar para os momentos críticos do calendário são apenas alguns aspectos que, somados, mostram como o Flamengo ainda está atrás do Palmeiras, que por sinal está longe de ser um modelo perfeito de gestão.

***

E agora? Bem, acabar não acabou, porém ficou bem mais difícil. No apagar das luzes da gestão banana, minha sugestão é que o Flamengo primeiramente foque nos dois próximos jogos, contra São Paulo e Santos, históricos rivais paulistas, inclusive pensando nas próximas temporadas. Entre os grandes clubes do futebol brasileiro, o São Paulo tem a maior vantagem sobre o Flamengo em nível de retrospecto. Já o Santos, ao lado do Grêmio o único clube a vencer o Flamengo na Ilha do Governador em 2017, vem fazendo a segunda melhor campanha do returno.

Para construir um futuro vencedor, a reação precisa começar no presente.

A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.

domingo, 28 de outubro de 2018

Pará, me dá sua camisa (ler antes de gritar)

No twitter: @alextriplex

Não, você não leu errado. Só não entendeu que é uma ironia grossa.

Faz algum tempo que um torcedor, gaiato ou não, aparecia no Maracanã pedindo a camisa do jogador com número 21. Eu confesso que tinha vontade de xingar duplamente: o 21 para manter o hábito, e o torcedor por alimentar o ego deste atleta.

Ontem, mais uma vez, fomos agraciados com um erro tosco do portador da camisa 21. Para variar, virou gol do adversário. DO DUDU. Logo de quem, do Dudu (sim, esse eu escrevo com maiúscula, pois apesar do meu ódio, tem um sangue no olho digno de quem quer ganhar/conquistar alguma coisa).

O Flamengo não jogou mal. O Flamengo jogou contra um grande time, que se propôs a jogar por uma bola, se defendendo com a eficiência de reservas querendo mostrar seu valor. Foi a tônica, queiram vocês ou não. Basta ver a posse de 62%, mas pouquíssimos chutes certeiros a gol, se considerarmos a eficácia destes.

Ainda no "não jogou mal", fomos muito menos ameaçados do que no jogo de ida. Réver deve ter tomado um torsilax de tanta bola que rebateu de cabeça, de tanta bicuda que vinha de lá...então, veio o usuário da camisa 21.

Uma bola que ele poderia ter dado um peixinho e recuado pro César. Talvez uma bicuda de canela, pra isolar pela lateral (ele até poderia vibrar daquela forma tosca que costumava fazer), ou dar uma porrada no Dudu e cometer a falta, ou até o pênalti.

Mas não. Ele resolveu dominar a bola (claro, é bem provável que quem vê aqueles vídeos dele no vestiário o tenham encorajado a fazer isso, achar que é um Leandro pra dominar e sair jogando). E deu no que deu.

O que veio depois foi um daqueles sinais divinos. Coisas que só acontecem no Flamengo dos "heróis" improváveis. Marlos Moreno entrou com gritos de "NÃÃÃOOO" de um Maracanã cheio, de uma mídia social furiosa com tudo. E empatou. E depois, deu um toma-e-faz pro Paquetá, que perdeu o gol mais feito da vida dele (xinguei o Paquetá na hora, mas não vou persistir. Prefiro o Paquetá fazendo 2 e perdendo 1 ao manequim que usa a 21 fazendo uma merda  a cada 15 anos. Mas é a minha preferência, simples assim).

No meu entender, o campeonato não acabou. Faz parte da minha Fé, ou da minha birutice, como queiram. Só terminará quando acabar, e até o juiz apitar o fim do Brasileirão, teremos esperança.

Com ou sem o boneco de posto que usa a 21.

E nada mais digo.

sábado, 27 de outubro de 2018

Flamengo x Palmeiras


Campeonato Brasileiro/2018 - Série A - 31ª Rodada

FLAMENGO: César; ParáLéo Duarte, Réver e Renê; Cuéllar e Willian Arão; Everton Ribeiro, Lucas Paquetá e VitinhoUribe. Técnico: Dorival Júnior.

Palmeiras: Weverton; Luan, Antônio Carlos, Edu Dracena e Victor Luis; Thiago Santos, Felipe Melo e Guerra; Hyoran, Borja e Dudu. Técnico: Luis Felipe Scolari.  

Data, Local e Horário: Domingo, 27 de Outubro de 2018, as 19:00h (USA ET 18:00h), no Estádio Jornalista Mário Filho ou "Maracanã", no Rio de Janeiro/RJ.

Arbitragem: Rafael Traci, auxiliado pelos assistentes Ivan Carlos Bohn e Rafael Trombeta, além do Quarto Árbitro Jefferson Claiton Piva da Silva e dos Assistentes Adicionais 1 e 2 Fábio Filipus e Adriano Milczvski, todos da Federação Paranaense de Futebol.

Pendurados: Diego Alves, Everton Ribeiro, Geuvânio, Marlos Moreno, Pará, Piris da Motta, Rodinei, Willian Arão e Vitinho.


sexta-feira, 26 de outubro de 2018

É final!












Irmãos rubro-negros,




O Maracanã vai ficar pequeno amanhã.

É praticamente a final do Campeonato Brasileiro.

Para o Flamengo, é vencer ou vencer.

E que o Mengo conquiste uma grande vitória.

Na raça, no coração, no grito da Nação Rubro-Negra e na bola.



...



Abraços e Saudações Rubro-Negras.

Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.


quinta-feira, 25 de outubro de 2018

O Reality Show

A cobertura intensa do futebol dos meios jornalísticos vinculados a grandes mídias e as mídias independentes, que formam opiniões, contextualizam, articulam paradoxos, tentam arrancar qualquer vestígio de informação para então armar um grande circo, como se este vestígio amparasse qualquer conjectura doida do articulista da ocasião.

Este ambiente de reality show, em que até primo do primo de amigo do jogador, torna-se uma fonte confiável e relevante, com direito a mensagens de voz por whatsapp que são logo triplicadas, quintuplicadas em grupos e mais grupos tornando-se um tsunami de "Pura verdade" que constitui-se de uma grande farsa ilusória, com seus autores rindo na cara de quem conseguiu enganar. De novo. E de novo.

Jogadores-celebridades, dirigentes-celebridades, técnicos-celebridades, câmera, ação. Holofotes e mais holofotes porque a mídia, o pequeno monstro, cria do Leviatã, precisa disso para se retroalimentar, reforçar uma imagem qualquer em seus seguidores, crias, vítimas.

Deduções feitas com base em zero experiência, do "eu acho que", são postas na mesa. Repercutidas, compartilhadas, virando certezas que ao trazer a luz da verdade, são bolhas ridículas de pura fantasia, muitos originadas no recalque, na fascinação, ou no desejo de parecer diferente e independente.

E o reality show aparente pela torcida, tem seus mocinhos e vilões preferidos. Forjados na construção temática de jornalistas, colunistas, articulistas, alguns com objetivos de fato esportivos e analíticos, dentro do que raciocinam, e outros, com fins meramente políticos, seja construtivos ou "desconstrutivos". 

Os memes turbinam a realidade aparente. A repetição deles, objetificam jogadores e dirigentes, formam uma opinião simples.. A complexidade da vida exige a simplicidade de vários temas. Ficamos com a simplicidade dos memes para desnudar uma complexidade.

Enquanto isto o futebol com seus profissionais lá dentro. Regras, discussões de trabalho, punições, elogios, treinamentos, disciplinas, ações operacionais, pensamentos estratégicos,  horários, que ficam fechados em sua caixa. Sem acoplamento externo. E o fato de várias e várias ações não serem passadas ao público externo, porque, ora, é um ambiente de trabalho, são consideradas inexistentes pelo público consumidor de "reality show". "Se não vejo, então não existe." São Tomé posto em prática.



quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Alfarrábios do Melo

 

Saudações flamengas a todos,

Logo após trilar o apito final de Paraná 0-4 Flamengo, surgiu no meu WhatsApp a esperada pergunta: “e aí Melo, qual havia sido a última vez que o Flamengo havia feito quatro de diferença fora de casa em Brasileiros”? Resolvi fazer uma pesquisa mais abrangente, procurando todos os jogos em que o rubro-negro logrou tal feito. E confesso que me surpreendi com o resultado.

Assim, apresento nas próximas linhas a relação de TODAS as goleadas do Flamengo por 4 ou mais gols, jogando fora de casa, nas edições do Campeonato Brasileiro “strictu sensu”, ou seja, desde 1971.

* * *

FLUMINENSE/BA 0-6 FLAMENGO
Estádio Joia da Princesa, Feira de Santana-BA
26 de outubro de 1977

Flamengo e Fluminense-RJ vão disputando ponto a ponto a liderança do Grupo E da Primeira Fase do Brasileiro. Dividem a ponta com 7 pontos em 3 jogos (um sistema de pontuação diferente atribui 3 pontos para as vitórias por dois ou mais gols de diferença, mantendo-se os usuais dois pontos para as vitórias simples). O Flamengo, que vem de duas vitórias convincentes e um truncado 0-0 com o Bahia na Fonte Nova, agora vai a Feira de Santana enfrentar o Fluminense local. Um jogo marcado por muita polêmica nos bastidores.

A confusão se inicia quando o Supervisor do Flamengo desaprova as condições do Estádio Joia da Princesa, o que faz com que o clube interceda junto à CBD para a realização de uma vistoria no campo. A Confederação atende ao pleito do rubro-negro e desaconselha a realização da partida, apontando problemas na iluminação, no tamanho das balizas e na falta de isolamento adequado dos torcedores. No entanto, a Federação Baiana se recusa a reparar o estádio, alegando que a CBD já o havia liberado em inspeção anterior. O Flamengo não se mostra disposto a entrar em campo, sugerindo que o jogo seja transferido para a Fonte Nova. A polêmica irrita dirigentes, cronistas e torcedores locais, e a expectativa é de um “clima de guerra”. A Federação Baiana defende que, caso se recuse a entrar em campo, o Flamengo perca os pontos do jogo.

Mas a partida transcorre em clima surpreendentemente tranquilo. Uma solução é costurada pelo Presidente do Flamengo, alguns reparos paliativos são realizados e o rubro-negro entra normalmente em campo. Com Cláudio Adão barrado, o time abre o placar aos 7 minutos, através de Tita. Depois recua e chega a sofrer alguma pressão do time da casa. Mas, na segunda etapa, o “Touro do Sertão” cansa e se coloca à mercê do talentoso ataque do Flamengo que marca cinco vezes (Zico 2, Osni e Toninho 2), construindo o elástico 6-0 que o mantém na liderança do grupo.


MOTO CLUB 1-5 FLAMENGO
Estádio João Castelo, São Luís-MA
09 de fevereiro de 1983

Baltazar recebe na entrada da área e toca na saída do goleiro, que ainda consegue fazer a defesa. Na sobra a bola vai a Zico, mas antes de completar para o gol vazio o Galinho leva um “chega pra lá” do esbaforido centroavante, que acaba por mandar para as redes. É o quinto e último da goleada. E o estopim para uma crise no vestiário.

Antes da partida, o Flamengo faz campanha insossa. Está invicto e divide a liderança do Grupo A da Primeira Fase com o Santos (a quem já derrotou por 2-0, no Maracanã). No entanto, alguns resultados magros acendem a luz amarela na Gávea. O time vem de um empate suado em Manaus contra o modesto Rio Negro, e de um apertado 3-2 sobre o Paysandu em Belém, vitória conquistada graças a um gol de Baltazar em posição duvidosa. Antes disso, havia protagonizado um vexame, ao empatar, em pleno Maracanã, com o desconhecido Moto Club-MA, justamente seu próximo adversário.

O vestiário rubro-negro anda tenso, ainda em reflexo da má temporada anterior e das crises daí decorrentes. Mas o empate contra os maranhenses deixa os jogadores mordidos, ainda mais diante das manifestações dos locais, que se consideram em condições de derrotar o Bicampeão Brasileiro. Concentrado, aplicado taticamente e jogando em velocidade, o Flamengo enfim desenvolve um futebol compatível com o nível da equipe e chega com facilidade aos 5-1 (Baltazar 2, Adílio 2 e Lico). Mas aí acontece a explosão de Zico, o melhor em campo mas, curiosamente, sem ter marcado nenhum tento.

“Quando tá 0-0, que o jogo tá duro, vem todo mundo jogar a bola no Zico, né? Pro Zico resolver, né? Agora, quando tá uma baba como hoje, é todo mundo querendo driblar três, quatro, fazer gol de placa. O outro quase me jogou no chão pra me tomar a bola! Quero ver na Libertadores como vai ser. Se vão atrás de mim de novo”. Enfurecido, Zico brada seu inconformismo com a atitude “pouco coletiva” da equipe. A crise ainda dura alguns dias, mas, como usual no Flamengo, rapidamente se dissipa e cede lugar a outros assuntos. Mas a tensão latente no vestiário ainda durará algum tempo.


GOIÁS 0-4 FLAMENGO
Serra Dourada, Goiânia-GO
02 de novembro de 1986

É falta na entrada da área. Na lateral do campo, o ponta Marquinho já se posiciona para entrar em campo. Sócrates, sabendo que irá sair, toma a bola nas mãos e pede a Bebeto: “Deixa eu bater essa, vai ser meu último chute no jogo”. Frisson no estádio.

O Flamengo vive um momento turbulento. Fora de campo, sofre com os desdobramentos do escândalo das papeletas amarelas e com recente entrevista de seu médico, atribuindo o excesso de lesões do elenco a métodos “obsoletos” de preparação física, o que gera péssima repercussão interna. Dentro dos gramados, o time não vence há três partidas (entre elas, o vexame de Caruaru, derrota para o Central local por 2-1) e Lazaroni já começa a enfrentar vozes que defendem sua saída. Pressionado, o treinador antecipa o retorno de Sócrates, que ainda se recupera de uma cirurgia de hérnia de disco, alega sentir dores nas costas e apresenta dois quilos acima do peso. “Estou louco pra voltar”, diz o Doutor.

A volta de Sócrates, o intervalo de uma semana para treinar e a fragilidade do adversário (que vive séria crise) são elementos que o Flamengo aproveita. Em um Serra Dourada lotado com 50 mil pagantes, o rubro-negro se transforma com a presença do experiente craque. Sócrates desfila sua classe em campo, com requintados passes de primeira, deslocamentos inteligentes e perfeito entendimento com o outrora criticado Bebeto, que sobe assustadoramente de produção. É de Sócrates o brilhante passe que deixa o atacante Kita na cara do gol, para abrir o marcador. Logo depois, o baianinho cruza na cabeça do centroavante barbudo, 2-0. Na segunda etapa, o Flamengo roda e gasta a bola, para deleite de um público encantado com um futebol ainda não apresentado pelo rubro-negro em toda a temporada. O ponto alto se dá quando ocorre uma falta na entrada da área. “Deixa eu bater”. E Sócrates coloca “com a mão” a bola nas redes goianas, saindo de campo ovacionado. Ainda há tempo para Kita aproveitar um contragolpe e cravar seu terceiro gol, o quarto da goleada.

No fim, um aliviado Lazaroni suspira. Seu emprego é salvo justamente por Sócrates, por quem o treinador jamais morreu de amores. “Dificilmente se encaixará em uma realidade competitiva”. A exibição de Goiânia mostra que o craque sempre se enquadra em qualquer equipe. E faz a diferença.



GUARANI 1-5 FLAMENGO
Brinco de Ouro, Campinas-SP
23 de outubro de 1988

O Guarani é uma das sensações do campeonato. Invicto em casa (venceu as quatro partidas jogadas em Campinas), lidera o Grupo B da Primeira Fase ao lado do Vasco. Possui uma equipe veloz e qualificada, comandada por Neto, Boiadeiro e João Paulo. A crônica confere aos bugrinos o amplo favoritismo diante do errático Flamengo, que faz campanha medíocre na competição. O principal trunfo do rubro-negro é a estreia oficial de Telê Santana. Indagado sobre sua expectativa para o jogo, e lembrado de todo o contexto que cerca a partida, Telê dispara: “Exijo a vitória. O Flamengo tem a obrigação de derrotar qualquer adversário”.

A simples presença de Telê, treinador tarimbado e querido por vários jogadores do elenco, já desanuvia um ambiente que andava carregado desde a controversa passagem de Candinho pelo clube. A reação já havia se feito presente na ótima exibição contra o Santos (1-0, no Maracanã), ainda sob o comando do interino João Carlos. Agora, é a vez de Telê começar a mostrar sua cara de fato.

O início do jogo parece confirmar o favoritismo do Guarani. Neto abre o placar, cobrando pênalti, e logo depois acerta a trave de Zé Carlos. Mas o Flamengo se acalma, coloca a bola no chão e equilibra o jogo. Chega ao empate ainda no primeiro tempo com Sérgio Araújo, num lance confuso. Na segunda etapa, Zico, de cabeça, assinala a virada. O Flamengo, então, passa a exercer forte bloqueio no meio e a contragolpear em massa. Assim nasce o terceiro gol, por meio de Alcindo, e o quarto, quando Zico cobra falta na área e, após duas tentativas, Aldair mergulha pro gol. Nos minutos finais, Zinho consolida o placar, aproveitando um erro na saída de bola do adversário.

Do banco de reservas, Telê mal contém o sorriso. O que não o impede de esbravejar e cobrar mais empenho dos jogadores até o apito final. É um Flamengo renovado que surge.

* * *
E assim, com esses quatro jogos (agora cinco), termina a relação.

* * *
Encerro o texto de hoje com breves palavras acerca do episódio envolvendo o goleiro Diego Alves, iniciado sábado passado e ainda hoje, quatro dias depois, tendo desdobramentos repercutidos.

Alves certamente errou. A comissão técnica, talvez. Mas, no fundo, trata-se de um corriqueiro caso de jogador que externa de forma inadequada sua insatisfação com a reserva. Algo que sempre houve, sempre há e sempre haverá em um ambiente de um clube de futebol profissional. Situação usualmente corriqueira e resolvida rapidamente por Diretorias experimentadas. No entanto, o Flamengo sangra o incidente por quatro, cinco dias, permitindo-se especulações, suposições, julgamentos públicos, horas e horas de exploração nas mesas redondas da vida. Isso em semana de jogo decisivo.

A Diretoria pode não ter dado causa ao problema. Mas, certamente, ajudou a transformá-lo em algo de dimensões muito maiores do que deveria.

Que São Judas Tadeu nos proteja da fúria punitiva da bola.


terça-feira, 23 de outubro de 2018

Resta 1

Olá Buteco, bom dia!

A minha infância foi marcada, além do futebol na rua que arrebentava a tampa do dedão do pé, pelos jogos de tabuleiro: Ludo, War, Banco Imobiliário, Mini Senha, Combate, Cara a Cara e outros. Um deles era um desafio geral: o famoso Resta 1.


A proposta do jogo era bem simples: saltando sobre uma peça e parando no espaço vazio, retirava-se do tabuleiro a peça pulada. O objetivo era deixar apenas uma peça no tabuleiro. 

O Campeonato Brasileiro chegou numa fase similar: a partir de agora, a cada rodada novos times vão sendo retirados do tabuleiro, até que só reste o campeão. São Paulo e Grêmio, a 9 e 10 pontos do líder, acabaram de ser pulados e saíram da brincadeira. A partir de agora, só há três peças, sendo o Flamengo uma das que resistiram até aqui.

Para não ser retirado do tabuleiro na próxima jogada, precisamos vencer o líder, sábado, no Maracanã. O cenário é plenamente favorável: o time vem de três goleadas, com 10 gols marcados e nenhum sofrido, o estádio estará lotado (imagino que na sexta-feira já não tenha mais ingressos disponíveis) e o adversário virá de uma viagem desgastante à Argentina, enquanto nós teremos a semana inteira à disposição para os treinamentos e concentração para a partida. É aproveitar e marcar posição!

A sequência do campeonato é pesada: depois do Palmeiras, temos o São Paulo no Morumbi, o Botafogo no Engenhão, o Santos no Maracanã e o Sport, em Pernambuco. O checkpoint para o título, ao final dessa sequência é de 70 pontos, de forma que precisaríamos fazer 12 pontos. Muito difícil. De qualquer forma, 10 pontos ainda deixam nossa peça no tabuleiro, pronta para o bote final. Uma vitória sábado é essencial para este objetivo.

***

Em 2009 estávamos, exatamente, os mesmos 4 pontos atrás do líder, após 30 rodadas...

Vamos Flamengo!!!

Saudações RubroNegras!!!

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Novos Tempos

Salve, Buteco! Suave? Como não, né? Três jogos sob o comando de Dorival Júnior, três vitórias por goleada, 10 (dez) gols marcados e nenhum sofrido. Parte da torcida estava ressabiada. Jogo fora de casa, adversário sem vencer há 15 (quinze) jogos, com técnico recém trocado e retrospecto amplamente favorável contra o Flamengo (embora não o recente). E para piorar, uma treta totalmente imprevista e desnecessária com o Diego Alves aumentou ainda mais o nível de apreensão. Porém, já se foi a época das lutas contra o rebaixamento e dos sustos frequentes contra adversários minúsculos e de baixo orçamento. Vivemos novos tempos, nos quais o Flamengo, como previsto desde a montagem da Chapa Azul original, tende a figurar sempre entre os primeiros colocados de todas as competições que disputar. Com um centro de treinamento de primeira linha, o Mais Querido está prestes a inaugurar outro de padrão ainda maior, deixando o atual para a base. Algo inimaginável há uma década atrás. O desafio agora é outro, também inesperado: gerir bem o futebol e conquistar títulos, algo que a atual gestão, que executa (com ressalvas, vide "outros" no orçamento) a nova política financeira e administrativa de acordo com o planejamento inicial, definitivamente não conseguiu fazer em seis anos de mandato. Nunca imaginei que o Flamengo precisaria voltar a gostar de ser campeão.

Os novos tempos, ao contrário do que se previa há alguns anos, não trazem o Corinthians como maior opositor ao Flamengo no cenário nacional, mas o Palmeiras, turbinado financeiramente por uma patrocinadora que não poupa investimentos no futebol. Só que o Palmeiras está bem à frente do Flamengo em gestão de futebol (estrito senso). Não é que não tenham tomado decisões equivocadas. Lá, como cá, também caíram no "conto do estagiário estudioso", embora  menos vezes. A gestão palestrina, contudo, inegavelmente montou um elenco mais equilibrado e é mais ágil para tomar decisões difíceis, algo impensável para a insegura e titubeante Diretoria rubro-negra. Não por acaso o Palmeiras disputa como favorito os dois maiores campeonatos do continente. Para não se tornar uma espécie de "Arsenal do Brasil", o Flamengo precisa subir de patamar em gestão de futebol.

Mais ainda do que em 2016, o Campeonato Brasileiro de 2018 tende a colocar em prática o que considero a tendência dos próximos anos, que é a disputa do título entre Flamengo e Palmeiras, clubes com mais estrutura e saúde financeira para encarar o sistema de pontos corridos. Mas por enquanto o Flamengo não é o principal protagonista e só corre atrás. Sábado, no Maracanã, véspera do segundo turno das eleições presidenciais, as duas equipes se enfrentarão no que tende a ser a primeira de muitas decisões entre ambas nas próximas temporadas. Se o Mais Querido não quiser comer poeira, não pode pensar em outro resultado que não a vitória.

***

Agora disputando apenas uma competição, o desgaste pela maratona de jogos ficou para trás e não é mais um obstáculo. A sua frente o Flamengo tem por maior desafio reverter o retrospecto dos últimos anos e se impor em uma sequência de quatro clássicos, três deles interestaduais e contra grandes clubes paulistas: Palmeiras (c), São Paulo (f) e, após o Botafogo (c), o Santos (c), este último a segunda melhor campanha do returno. O Palmeiras, líder embalado por uma impressionante sequência de vitórias, também enfrentará sérias dificuldades nas próximas rodadas com Santos (c), Atlético/MG (f) e Fluminense (c), porém no mínimo por duas semanas intercalará esses jogos com as semifinais da Libertadores e tendo por adversário ninguém menos do que o Boca Juniors. Por mais que não possa criticar o início avassalador de Dorival Júnior no comando do Flamengo, teremos uma melhor ideia da evolução do time sob o seu comando após ao final da 34ª Rodada.

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A treta com Diego Alves foi desnecessária e era totalmente evitável. Não vi motivos para Dorival dar o mesmo tratamento a ele e Diego Ribas, mas não falta quem pense o contrário. Unânime parece ser a reprovação à atitude do goleiro. Contudo, acho que é uma posição sensível demais para ter a titularidade decidida sob esses parâmetros. O momento é de enorme pressão e absolutamente decisivo. Por isso mesmo, o problema precisa ser resolvido rapidamente e é indesejável que tome maiores proporções. Espero que o bom senso e o critério de qualidade prevaleçam. A margem de erro do Flamengo praticamente não existe, é bom lembrar.

***

Dorival não tem muito o que fazer em termos de escalação, inclusive porque a formação dos últimos três jogos parece ter extraído o melhor de Vitinho e Paquetá, que cada vez mais se procuram e se acham dentro de campo. Agora é pensar na melhor estratégia para bater o líder, que vem embalado mas ontem demonstrou visível fragilidade nos escanteios (bola aérea).

Deixo para vocês falarem do jogo de ontem contra o fraco Paraná Clube.

Bom dia e SRN a tod@s.

domingo, 21 de outubro de 2018

Paraná x Flamengo


Campeonato Brasileiro/2018 - Série A - 30ª Rodada

Paraná: Richard; Júnior, René Santos, Brayan e Igor; Jhony Lucas e Alex Santana; Mansur, Silvinho e David; Rafael Grampola. Técnico: Dado Cavalcanti.

FLAMENGO: César; ParáLéo Duarte, Réver e Renê; Cuéllar e Willian Arão; Everton Ribeiro, Lucas Paquetá e VitinhoUribe. Técnico: Dorival Júnior.

Data, Local e Horário: Domingo, 21 de Outubro de 2018, as 19:00h (USA ET 18:00h), no Estádio Durival Britto e Silva ou "Vila Capanema", em Curitiba/PR.

Arbitragem: Bráulio da Silva Machado, auxiliado pelos assistentes Kleber Lúcio Gil (FIFA) e Neuza Inês Back (FIFA), além do Quarto Árbitro Johnny Barros de Oliveira e dos Assistentes Adicionais 1 e 2 Edson da Silva e Evandro Tiago Bender, todos da Federação Catarinense de Futebol.

Pendurados: Diego Alves, Everton Ribeiro, Geuvânio, Marlos Moreno, Piris da Motta, Rodinei, Willian Arão e Vitinho.


sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Com Amor ao Mengo










Irmãos rubro-negros,



Domingo temos uma decisão. Vale título! O Flamengo está na disputa do título!

E esse deve ser o propósito do clube: ser campeão!

Tem de vencer no Paraná.

Para o Flamengo, só vale a vitória nos jogos desta reta final.

Só a vitória!


...



Lamento pelo momento político que vive o clube.

De um lado, uma diretoria que exalta o fracasso, relativiza o vexame e aplaude a derrota. Muitos bajuladores. Torcedores de diretoria.

De outro, uma oposição vazia de ideias e nomes. Quem vai tocar o futebol do Flamengo se o Rodolfo Landim for eleito? Quem será o técnico? Quem será o diretor-executivo?

Em relação à diretoria atual, já se sabe, eles não vão mexer. Esperaram o time ser eliminado da Libertadores, da Copa do Brasil e estar em quinto no Campeonato Brasileiro, para mudar a comissão técnica.

Mas e em relação ao Landim? Quem serão os responsáveis pelo futebol do clube? 

São informações importantes.


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Avante Mengão! 





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Abraços e Saudações Rubro-Negras.

Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.


quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Gangrenando

Política nacional em conflito. Acusações de "istas" para cá, "istas" para lá, o que, certamente, agrada ao(s) lado(s) sem proposta alguma que não seja atacar o adversário e "esquecer" que a população precisa saber como e com quem irá conduzir a sua gestão de 4 longos anos (na maioria dos casos). O ganha-voto pela negação do outro. A tática do espantalho. O voto pelo anti. Isto não me representa. Isto não sou eu. Aquele é o mau. Este não é bom mas não é o mau. O desastre apocalíptico está do outro lado da calçada. Eles dizem. Enquanto isto, a população inteira, como sapos sendo cozinhados lentamente sem perceber, já no desastre apocalíptico, com enormes problemas de desemprego, de saúde, de segurança, de ordem jurídica, enfim, de tudo.

E temos a política do clube. Rasteiras, acusações de falta de propostas e falta de nomes aparecem aqui e ali. Novamente a tática do espantalho servirá magicamente para um lado ou outro. Vota-se pelo medo e não engajamento. Que chapa realmente reúne condições de levar o Flamengo adiante? Que chapa reúne nomes e proposições para isto? Porque existe um Flamengo HOJE. E existe o Flamengo de AMANHÃ. Este Flamengo de AMANHÃ tem que ser melhor que o Flamengo de HOJE. Se piorar seria um desastre. Estragaria anos de trabalho intenso. E isto já ocorreu antes no clube. Flamengo dos anos 80 imbatível, administrativamente era muito bem visto, esportivamente idem, porém, más escolhas eleitorais degringolaram em um Flamengo apocalíptico do início deste século. Votamos na esperança de melhorar, a não ser que sejamos masoquistas, o que, creio, não seja o caso da maioria das pessoas.

Enfim, em meio a este stress político eleitoral, em que nosso país certamente será outro pós-eleição, qualquer que seja o resultado, com o surgimento de grupos agora mais fortemente antagônicos, espero que o bom senso prevaleça no associado que irá votar, que analise bem nomes e propostas, tire suas dúvidas, se houver,  em eventos das campanhas fora ou dentro do clube, e vote com razão e esperança de um Flamengo melhor ainda, na candidatura que optar, e que esta não seja objeto de rasteira daqueles com poder que desrespeitem a livre escolha dos associados de votar.



quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Alfarrábios do Melo


Afrouxa a gravata.

Já vislumbra o mortal relaxamento proporcionado por uma tépida ducha, o lasso abandono de ser arremessado à tenra pele da poltrona que parece clamar por um abraço, e o descontraído, quase leviano dedilhar no controle remoto à escolha despojada de alguma série ou filme que o entreterá, enquanto tem à disposição, para sorver sem pressa, o aveludado néctar escocês que se esgueira entre as pequenas geleiras erigidas dentro do robusto copo que repousa ao seu alcance. Enfim, o merecido descanso.

O alarido rebenta aos tropicões, invadindo a sala em gritos que arfam e ventam pra longe qualquer perspectiva de repouso imediato. Sem sequer chegar a desabotoar a camisa, já se percebe envolto por aquela enérgica fúria própria dos adolescentes.

- Paiê, paiê, você precisa me ajudar!

- O que houve agora?

- O Vicente, pai! Ele falou uns negócios lá que eu não entendi direito.

E explica mais ou menos, com palavras meio que tropeçadas, meio que esbarradas, mas que conseguem remeter ao que exatamente o colega do filho quis dizer. Respira fundo, suspira o ar resignado de quem constata que o uísque terá que esperar um pouco.

- Filho, esse Vicente é tricolor igual ao tal Tavinho?

- Não. Vascaíno.

- Tinha certeza. Mas vamos lá. Vou logo avisando que esse assunto é espinhoso e chato. E outra. O que eu sei é o que saiu em jornal e revista. É coisa de bastidores e tal. Tem certeza que quer mesmo saber?

- Quero. Quero calar a boca do Vicente.

- Ok. Então senta aí. Tudo começa quando chega perto da época da eleição.

- Ihhhh… Política… (torce o nariz)

- Eu avisei. Agora fica quieto. Então, chega a época da eleição. Acontece que o Presidente já havia prometido que iria apoiar o cara do Conselho para ser seu candidato de Situação. Mas, na hora da coisa se definir, o vento passou a ventar de outro jeito e o arranjo teve que ser desfeito. E o Presidente passou a dar aval pra outro.

- Eita. Tipo House of Cards?

- É. Quase isso. Evidentemente, o cara do Conselho não gostou nadinha da novidade. E, como você deve saber, o pior inimigo é o ex-amigo.

- Faz sentido.

- E com isso o Conselho, que era aliado do Presidente, começou a fazer oposição. Nas maiores e menores coisas. Tipo picuinha mesmo.

- Essa parte já entendi. Só não sei onde isso vai chegar.

- Tenha calma. Vocês são muito agoniados. Antes de seguir, preciso lhe explicar uma coisa. Normalmente, em toda organização que lida com dinheiro, as despesas precisam ser comprovadas. É o que se chama de prestação de contas.

- Sim. Lá no grêmio da escola tem isso.

- Pois é. Só que esse processo normalmente envolve uma burocracia, tem autorização, tem tramitação de documento, essas coisas. E muitas vezes é preciso fazer uma despesa rápida, comprar uma passagem, resolver um imprevisto, essas coisas. Então, para esses casos a exigência de formalidades é menor. E no Flamengo havia, na época, um mecanismo desses, o que era normal. O Dirigente, dependendo do cargo, podia avalizar uma despesa sem comprovação, assinando apenas uma espécie de vale. Com aquilo, o gasto estava coberto, sem precisar de nota etc.

- Hum…

- Pois. O cara do Conselho descobriu que havia uma ressalva importante num relatório fiscal, justamente por causa de um desses vales. Pelo que falaram no jornal, parece que o vale era de um valor mais alto que o normal.

- Imagino que ele tenha feito um inferno com isso.

- Exatamente. Convocou uma reunião e exigiu explicações, avisou que iria recomendar a reprovação das contas, e coisa e tal. Como você deve imaginar, foi uma reunião com dedo na cara, cadeira voando, troca de amabilidades, filho disso, filho da quilo, enfim.

- Tipo como tá o twitter hoje em dia.

- É, só que presencial (risos). Continuando, a questão é que havia a tal lacuna, e com a pressão criada a Situação precisaria se explicar. Lembre que era ano de eleição, e ânimos inflamados poderiam desaguar em resultados imprevisíveis.

- Hum… Interessante. E como a Situação saiu dessa sinuca?

- Aí é que está o caso. Não saiu. Na verdade, tentou remendar da pior forma possível.

- Acho que estou alcançando.

- Pois é. Instruídos sabe-se lá por quem, alguns conselheiros ligados à Situação começaram a espalhar a história de que os tais vales haviam sido emitidos a título de “Despesas com a Decisão”. Como você sabe, fomos campeões naquele ano. Segundo esses conselheiros, seriam gastos para evitar que o rival subornasse arbitragens. Outros insinuaram algo ainda mais amplo, envolvendo jogos contra times menores.

- Inacreditável! Como alguém torna público uma sandice dessas?

- Justamente para que não se torne público.

- Oi?

- Veja. Qual foi a ideia do “gênio” que inventou esse delírio: criar uma “verdade” constrangedora, fazendo com que o assunto fosse abafado ali mesmo no Conselho. Afinal, se isso vazasse, o dano à imagem do clube seria devastador. Ou seja, a Situação cria uma história tão pesada que o assunto morre “nas internas” e acaba esquecido.

- Só que deu tudo errado.

- Lógico. O Conselho deixou vazar tudo pros jornais, que, evidentemente, deitaram e rolaram com a “revelação” e, mesmo sem nenhuma prova, esparramaram em páginas e páginas.

- Mas que m…

- A coisa logo saiu de proporção. Criou-se um escândalo que durou semanas. Teóricos da conspiração criavam as mais lisérgicas elocubrações. Os rivais, especialmente os vascaínos, que foram os vices naquele ano (como se fosse novidade), grasnavam como gansos. Algo tinha que ser feito.

- Caramba, que confusão…

- Depois de dias de silêncio, o Presidente resolveu dar a versão oficial. Admitiu ter usado o dinheiro para incentivar times menores a “endurecer” jogos contra os grandes. Prática que se sabia recorrente, mas não menos reprovável. E que hoje, inclusive, é oficialmente ilícita.

- Isso resolveu o problema?

- Mais ou menos. A explicação meio que esfriou o assunto na imprensa, mas internamente o clube seguiu em chamas. O Conselho não aceitou a versão do Presidente e exigiu devolução do dinheiro. Pressionado e diante da perspectiva da abertura de um processo de destituição, ele acabou ressarcindo o valor aos cofres do clube, colocando assim ponto final na questão.

- E no fim das contas como essa história terminou?

- Bem, o Presidente não conseguiu eleger seu sucessor. O cara do Conselho também acabou, com o tempo, perdendo relevância. A crise acabou fazendo emergir uma espécie de candidatura “de consenso”, na figura de um antigo cacique político. Ah, o TJD indiciou o Presidente, houve um julgamento, mas ele acabou absolvido. Por unanimidade.

- E o Flamengo nisso tudo?

- Ora, aquilo acabou com o ano do time. O Flamengo estava em alta, tinha acabado de ser campeão, era líder do seu grupo no Brasileiro. A confusão arrebentou com a moral do elenco, teve jogador se dizendo com vergonha de sair na rua, o clima no vestiário azedou, o time começou a cair pelas tabelas e por pouco não perdeu a vaga pra fase seguinte.

- Mas aquele campeonato que o Flamengo ganhou. Teve alguma coisa estranha?

- Teve nada. O time foi ajudado em alguns jogos (“recebeu” um pênalti escandaloso contra o Goytacaz, por exemplo), foi prejudicado em outros (perdeu um jogo pro Botafogo com um gol irregular no último minuto), enfim. Coisas que acontecem em qualquer campeonato.

- Mas o Vasco chora aquela final.

- Vasco sempre chora qualquer coisa que perde pra gente. Sempre. Desde o Valido. Final da Taça Guanabara eles ganharam e teve um gol nosso mal anulado. Na Taça Rio eles chiaram de um pênalti que o zagueiro deles meteu a mão na bola. Na Final em si, nós reclamamos de um pênalti no primeiro jogo, eles de um pênalti no último, ambos não marcados. Fora isso, nada de mais. Nada de nada. Inclusive repetiram o árbitro em dois jogos, porque foi elogiado. O que torna mais delirante essa coisa toda.

- Tá certo. Tá tudo muito bom, tudo muito bem. Só faltou explicar uma última coisa.

- Achei que tinha falado tudo.

- Não. Afinal de contas, o tal dinheiro foi parar onde?

- Isso eu não vou dizer. Porque não sei. Saíram coisas no jornal. Afirmações, desmentidos, enfim. A questão é que a despesa não precisava comprovar. Então o erro está aí. Na falta de limite. Fora isso, não é responsável ficar alimentando especulação.

- Pois é. Mas acabou que o grande prejudicado de tudo isso foi o Flamengo.

- Exatamente. O Flamengo teve quase manchado um título conquistado limpamente no campo, o time perdeu rendimento, a imagem da marca foi inapelavelmente arranhada, tanto que até hoje alguém nos aporrinha com essa história. Como aliás você acabou de perceber.

- Quer dizer que tudo isso aconteceu por causa de uma briga política.

- Perfeito. Você entendeu. E aprenda uma coisa. Quando a coisa envolve política e poder, o interesse da instituição só é relevante até a página 2. É cru, é triste, é deprimente. Mas é o que é.

- Tá bom, pai. Valeu. E eu falo o que pro Vicente?

- Você sabe se virar. Vascaíno adora pagar de vestal, mas em bastidores e política? Não dá, né?

- Beleza. É, ele não vai se criar, não.

Vê o filho sair, pensativo. Mas não se arrepende da “aula” de realpolitik que acaba de ministrar. Às vezes é importante mostrar às pessoas que o fervor por certos ideais acaba por se tornar nocivo. Mas, de qualquer forma, algo parece agora lhe martelar à cabeça. Zumbir à mente. E, enquanto enfim toma o rumo do banho, vai balbuciando, como que absorto.

“O Flamengo… No fim quem se ferra é o Flamengo… Só o Flamengo...”