sexta-feira, 31 de março de 2017

Identificação







Irmãos rubro-negros,


antes de iniciar o post, ou melhor, antes de desenvolver o tema central, acho necessário esclarecer alguns pontos.

Vamos lá: hoje, na torcida do Flamengo, há uma certa radicalização do discurso.

Se alguém critica a base, logo é tachado de ser excessivamente tolerante com as más atuações dos gringos ou dos mais experientes; se a crítica, por outro lado, é direcionada aos gringos ou aos experientes, trata-se de complacência com a base.

Entre esses dois extremos, será que existe espaço para a crítica construtiva?

Pois bem, após o preâmbulo, e sem delongas, quero fazer uma sugestão aos talentosos jovens da nossa base: tenham ambição, entendam o que é o Flamengo e o que ele representa.

Moleque da base precisa ter fome de gol, de grama, de ouvir o grito da torcida, nem que seja num carrinho lateral.

Infelizmente, entretanto, muitas vezes prevalecem as jogadas​ de efeito, embora improdutivas.

Mais que uma crítica precipitada, faço aqui uma modesta sugestão.

Olhem como se portavam Zico, Pirillo, Doval, Nunes, Gaúcho, Adriano, Petkovic, defronte ao gol; ou Rondinelli, Mozer, Andrade, Júnior, Charles Guerreiro, Ronaldo Angelim defronte ao adversário em nossa intermediária.






São esses os atletas que devem espelhar o ideal rubro-negro.

Que os erros sirvam de lição.

E retomando o início do post, meu compromisso é com o Clube de Regatas do Flamengo.

Cuéllar, Mancuello, Rômulo, Damião e outros ainda não mostraram a que vieram. Até agora são apenas decepção.

Mas eles não são da nossa base, que deveria por princípio formar atletas identificados com o Flamengo.

Se um jogador de fora, seja brasileiro ou estrangeiro, veste a camisa do Flamengo e porta-se de modo hesitante, não divide bola, não sua a camisa, é apenas um infeliz; mas se é da nossa casa, da nossa escola, é um infeliz ao quadrado.

Ambição e identificação, talvez sejam as duas palavras que melhor resumam o que esta coluna quer dizer.





...


Abraços e Saudações Rubro-Negras.

Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.


quinta-feira, 30 de março de 2017

Flamengo 1 x 1 Volta Redonda - O bom sparring

Desta vez mesmo o Flamengo jogando com time reserva contra um sparring FERJ não conseguiu vencer. Volta Redonda, apresentando uma boa marcação, reduzindo espaços, marcando em cima, com ataque veloz e de boa movimentação, dificultou as coisas para o time B mesclado com C do Flamengo, que pecou no início pela falta de entrosamento e erros em série de posicionamento na defesa em que pese a boa partida do Donatti ao longo do jogo.

Com saída de bola lenta no início de jogo, e zaga exposta a movimentação do ataque do Volta Redonda, o Flamengo preocupou no início de jogo. Visivelmente faltava entrosamento entre Cuellar e Ronaldo. Parecia que os dois tinham dificuldade de se encontrar em campo. No ataque Vizeu parecia dispersivo, e Cafú, embora com boa vontade, se enrolava nas jogadas competindo com Rodinei neste quesito. Mancuello, que entrou como capitão, flutuava pelo campo, não exatamente rápido, e tentava passes e viradas de jogo, enquanto sofria faltas em sequencia, inclusive um penalti não-marcado pela arbitragem, em que foi literalmente agredido pelo goleiro. Matheus Sávio fazia uma partida muito discreta e Renê, como sempre, bem regular na lateral.

Ronaldo, que à partir de uma, talvez, D.R bem sucedida com Cuellar, passou a jogar mais de segundo volante e o Cuellar ali de primeiro volante, na posição que o atual treinador já disse que ele não joga. Não deve ter assistido jogos da Colômbia. Talvez. Isto resolveu o meio do Flamengo, ao menos o buraco defensivo. E em um belo lançamento, Ronaldo alcançou seu amigo ex-sub20 Cafú, que dominou a bola, girou para trás e tocou pro outro ex-sub20 Vizeu, que fez uma bela finalização ao gol. Flamengo 1 x 0, um tanto imerecido pela falta de jogadas a gol do Flamengo.

Ronaldo então, inebriado pelo sucesso, passou a fazer belos lançamentos, a jogar com autoridade pelo campo. Cuellar centralizou a saída de bola e o Flamengo terminou bem o primeiro tempo.

Veio o segundo tempo. Paquetá entra no lugar do Mancuello. E em que pese sua boa movimentação, não conseguia dar sequência as jogadas. Zé Ricardo quis agitar o campeonato e resolveu colocar Cirino, o "Chama-Gol" no lugar do Cafú. Mal entrou fez juz ao apelido. Em cruzamento pela direita, Cirino, marcando o atacante, não sobe junto com ele e permite o cabeceio livre na meta do bom goleiro Thiago. Flamengo 1 x 1 Volta Redonda. Resultado justo. Zé Ricardo faz sua substituição indefectível, colocando Damião no lugar do Matheus Sávio para dar mais volume no ataque e ter mais gente para cabecear na tática numero 1, os cruzamentos na área. Mas, paradoxalmente, cessaram os cruzamentos. Em duas boas jogadas pelo meio, tanto Vizeu como Damião perderam oportunidades para ampliar. Volta Redonda pressionou nossa meta, conseguindo várias jogadas, bem anuladas por Donatti, em boa atuação, mostrando que tem vaga no time titular, inclusive fazendo bons lançamento com direção, ao contrário daqueles de seu companheiro hoje titular, o Vaz. Leo Duarte fez uma partida bem insegura no primeiro tempo, melhorando um pouco no segundo tempo.

Enfim, não dá para avaliar tanto a parte tática de um time B/C desentrosado. Fica complicado exigir isto de técnicos e jogadores. Mas o time, ao menos, mostrou vontade e buscou, mesmo que confuso e atabalhoado, a vitória. Enfrentou um adversário interessante, bem treinado com alguns jogadores razoáveis. Bom teste. Serviu para ver alguns jogadores em ação, que saíram direto do freezer que Zé Ricardo os condenou.


quarta-feira, 29 de março de 2017

Volta Redonda x Flamengo

 


Taça Rio - Grupo C - 5ª Rodada

Volta Redonda: Douglas; Henrique, Luan, Mailson e Cristiano; Pablo, Higor Leite, Fabiano e Marcelo; Luã Lúcio e Pipico. Técnico: Felipe Surian.

FLAMENGO: Thiago; Rodinei, Léo Duarte, Donatti e Renê; Cuéllar, Ronaldo, Matheus Sávio, Mancuello e CafúFelipe Vizeu. Técnico: Zé Ricardo.

Data, Local e Horário: Quarta-feira, 29 de Março de 2017, as 21:45h (USA/ET 20:45h), no Estádio General Sylvio Raulino de Oliveira ou "Raulino de Oliveira" ou "Estádio da Cidadania", em Volta Redonda/RJ.

Arbitragem - Wagner do Nascimento Magalhães, auxiliado por Luiz Cláudio Regazone e Michael Correa.

 

Alfarrábios do Melo

É nos jogos grandes que os grandes aparecem.

Domingo a tabela agenda Fluminense x Flamengo, no Maracanã. Uma partida que tem tudo para se tornar histórica. Seja pelo posicionamento das equipes na tabela, seja pelo momento atual, seja pelas declarações polêmicas que têm esquentado a semana dos dois clubes.

Todos os prognósticos apontam para um jogo sensacional. Épico. Inesquecível.

E, de certa forma, os palpites estão certos.

O Flamengo não vive seus melhores dias. Com os jogadores envolvidos com uma série de amistosos que demandam longas e cansativas viagens, o atual Campeão Estadual, Brasileiro, Sul-Americano e Mundial tem apresentado sensível queda de rendimento. É bem verdade que há momentos como os 3-0 sobre o Botafogo (inesquecível olé no primeiro encontro após os 6-0 de novembro passado), ou um vistoso 8-0 no Madureira. Também é verdade que o time lidera a Taça Guanabara, um ponto à frente de Vasco e Fluminense. No entanto, algumas atuações recentes acendem uma luz de preocupação na torcida e chamam a atenção, negativamente, da crônica. O rubro-negro foi recentemente derrotado pelo Americano (0-1) em Campos, venceu a duras penas o Volta Redonda no Maracanã (enganoso 3-1 conseguido nos minutos finais) e, na última rodada, sofreu para virar em cima do Bonsucesso (3-2) em Moça Bonita, com direito a um gol extremamente discutido de Adílio aos 45 da segunda etapa, uma cabeçada no travessão que quicou no solo e saiu, lance prontamente confirmado como gol pelo controverso árbitro Luís Carlos Gonçalves, o Cabelada. Para complicar, uma estafante viagem a Assunção durante a semana, para enfrentar o Olímpia em um amistoso. O Flamengo vence os paraguaios (2-0), mas o desgaste pode ser um fator negativo.

Do lado das Laranjeiras, mal se contém a euforia. Após um desastroso, quase melancólico, primeiro semestre, o tricolor parece dar sinais de recuperação. Com o que sobrou do dinheiro da venda de Edinho, monta uma equipe barata, que começa a dar liga nas mãos do treinador Lula (ex-jogador, atacante do forte Internacional dos anos 70 e do próprio Fluminense, anos antes). Embalado, o Fluminense vem de resultados expressivos (3-0 Campo Grande, 5-0 Americano, 4-0 Portuguesa) e exala otimismo. Buscando capitalizar esse bom momento e injetar ainda mais confiança em seu jovem plantel, Lula inicia uma “guerra de nervos” pelos jornais, fustigando o rival.

“Vi os últimos jogos do Flamengo. Time deles não assusta. Dependem demais de Zico. Ademais, andam ganhando jogo com gol que não foi. Disso tenho medo. Dentro de campo, somos favoritos.”

É usual, diante de declarações do tipo, que o rival “provocado” recorra a clichês como o trabalho em silêncio, a colocação de jornais nas paredes do vestiários, entre outras manjadas artimanhas motivacionais. O Flamengo opta por não seguir nada disso. Quem retruca é o próprio Presidente.

“Não estou entendendo o Fluminense. Ganha dois ou três jogos e já quer pagar de grande. Pois pra mim continuam com o mesmo timinho. Domingo vão apanhar de muito. Vai ser um treino.”

As bravatas do dirigente rubro-negro espirram nos jogadores. Mesmo os comedidos Zico e Júnior resolvem soltar o língua: “Esse time do Fluminense, com muito, mas muito boa vontade, é a terceira força do futebol carioca. Estão bem longe de nós e um pouco abaixo do Vasco. O resto é conversa pra vender jornal”

Enquanto dirigentes, jogadores e membros de comissão técnica vão batendo boca (e ajudando a promover o clássico), uma personagem resolve escolher o silêncio. Carpegiani, treinador do Flamengo, que começa a sofrer algumas críticas veladas acerca do desempenho do time, sabe que, mais do que nunca, precisa de uma vitória no Fla-Flu. De preferência, com boa atuação. As declarações fortes estão dando à partida um viés de confronto aberto. Para piorar, Lula (que é seu amigo pessoal, ex-companheiro dos tempos de Inter), segue com sua deliberada tática de tentar tirar o equilíbrio emocional do Flamengo.

“Soube que o Flamengo vem com dois volantes. Isso é um sinal de que nos respeitam e nos temem. Vamos partir pra cima, vamos sufocar. Não terão espaço para respirar.”

Com efeito, Carpegiani testou em Assunção um meio-campo com Andrade, Vítor e Zico, deslocando Adílio para a esquerda, saindo Lico, poupado por uma pancada. Satisfeito com o resultado, pensa em mantê-la para o Fla-Flu. Mas há outras alternativas. Além de Lico, que é dúvida, Nunes está voltando da cirurgia no joelho e já pode ficar à disposição. Caso deseje manter o artilheiro no banco, a opção é seguir improvisando Peu. Na direita, Tita poderá seguir no time, ou o irrequieto Wilsinho poderá ser lançado. Carpegiani testa uma série de variações e recusa-se a dar qualquer pista. “escalação, só quando entrar em campo”. Sério e calado, faz treinos reservados e conversa. Conversa muito com seus jogadores.

Aqueles habituados às coisas da Gávea percebem. Os olhos do treinador estão marejados de sangue.

Finalmente chega o dia em que Fluminense e Flamengo duelarão pela liderança da Taça Guanabara, que abrirá o caminho para o título do turno e a consequente vaga às finais do Estadual. O Maracanã está belíssimo, esfuziante, ensolarado, colorido. E trajado em gala. 122 mil pagantes.

Valquir Pimentel trila o apito.

* * *

Os passos são arrastados. As feições, sombrias, compõem um semblante taciturno, que contrasta brutalmente com a postura loquaz dos dias de prelúdio do clássico. Os olhos parecem perdidos, a dicção tateia gorgolejante em busca de alguma palavra que consiga minimamente explicar o que acaba de acontecer no sagrado relvado do Maracanã. Sem êxito. O treinador apenas balbucia, aos ávidos microfones que teimam em lhe negar a tão ansiada paz, frases desconexas, com pouco sentido aparente.

“Eu falei... Não era pra avançar... Eles foram... Deu no que deu... Time deles queria isso... E nós caímos na armadilha... Mereceram... Mas eu falei, eu falei...”

O placar eletrônico do Maracanã segue reluzindo, na forma de um implacável epitáfio em letras feéricas e garrafais, “FLUMINENSE 0 FLAMENGO 3”. Mas a mensagem transmitida pela luminosa engenhoca não chega nem perto de traduzir, de exprimir, de definir o mais completo, o mais inapelável, o mais irretorquível massacre que se fez presenciar em toda a Temporada de 1982 no Maior Estádio do Mundo. Uma surra técnica, física, moral e acima de tudo tática. O Flamengo acaba de quebrar a espinha do adversário. A derreter-lhe as entranhas.

Do outro lado, o principal responsável pela escovada sorri, estranhamente tímido, talvez assustado com a repercussão da obra que concebera e que seus comandados souberam executar com tanta perfeição.

Carpegiani entrou em campo com os tais dois volantes. Mais, manteve Wilsinho na ponta-direita e improvisou Tita na posição de centroavante, um “falso nove”. No entanto, a verdadeira surpresa, o real “pulo do gato”, não se deu com a formação que enviou a campo. Mas com o que fez com esses onze jogadores.

O Flamengo iniciou o jogo em postura completamente retraída. Carpegiani mandou Wilsinho, Tita e Adílio formarem uma linha mais adiantada e recuou para formação “de defesa” os demais jogadores. Isso criou um buraco na intermediária do Flamengo. Ávidos e plenos de confiança, os fluminenses avançaram, ocupando todos os suculentos espaços colocados à sua disposição. Foram com todo mundo. Começaram a criar chances, perder gols. O Flamengo sabia que precisaria sofrer um pouco. E sofreu. Cantarele fez defesas. Zagueiros foram pra bicuda. E, a cada dificuldade flamenga, os tricolores avançavam mais e mais. Atacavam com oito, nove. Volantes viravam meias, laterais se tornavam pontas.

A presa estava definitivamente atraída.

A armadilha do falso domínio territorial já havia sido usada outras vezes (como, por exemplo, no dia que o Flamengo deu 6-0 no Botafogo). Mas a artimanha mais letal, mais desconcertante, mais espetacular, ainda iria começar a se mostrar.

Aos poucos, o Flamengo foi saindo para o jogo, trocando passes, envolvendo. Mas algo bizarro parecia acontecer. Zico estava posicionado como volante, ao lado de Andrade. Recuava e começava a meter lançamentos longos a Wilsinho ou Adílio. Tita voltava para a meia, para fazer a armação. Vítor se projetava como um “camisa 10” autêntico. E foi como um ponta-de-lança que o “volante”, após bela troca de passes, aproveitou um rebote em um chute de Adílio, deu um corte em Aldo e, como um atacante, bateu seco, no canto, para abrir o placar, aos 17 minutos.

Pouco depois do gol, Wilsinho levou uma pancade e teve que sair. E Carpegiani completou seu plano, colocando Lico em campo. Assim, o Flamengo passava a estar escalado com Cantarele, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Vítor e Zico; Lico, Tita e Adílio. Dois volantes, quatro meias, NENHUM atacante de ofício. E seu jogador mais ofensivo, Zico, atuando como volante, enquanto Vítor atuava mais solto. Mas ainda haveria mais.

A alucinante movimentação do Flamengo não parecia conhecer limites. Júnior, que sempre atuara avançado, participando das ações do meio, dessa vez ficou preso, cuidando do perigoso ponta Robertinho. Com isso, o zagueiro Mozer passou a participar de triangulações pelo lado esquerdo do ataque. Quando Mozer ia, Adílio voltava e Tita abria. Ou Lico. Não havia centroavante. Pelo lado direito, o Flamengo armava jogadas de ataque com Leandro e o zagueiro Marinho, enquanto Lico voltava para a lateral, fazer a cobertura. Zico, sempre como regista, cantando, lançando e dando esporro. Os volantes Delei e Rubem Galaxe, confusos, sem saber se adiantavam para marcar os lançamentos do Galinho ou se guardavam suas posições. Enquanto a marcação do Fluminense batia cabeça, o Flamengo desfilava em campo. Uma sequência rápida e antológica de passes, todos de primeira, terminando numa cabeçada perigosa de Tita, Maracanã indo abaixo. O Flamengo e seus globettroters da bola. Mesmo o rabugento comentarista Márcio Guedes, sempre pronto a trazer uma palavra crítica, parecia se render, “a atuação do Flamengo na tarde de hoje é irrepreensível.”

E os gols saindo, um atrás do outro. Após mais uma alucinante troca de passes, a sobra com Adílio, o passe pra Zico, vindo de trás, o Galinho emulando Pelé pro Capita Torres e rolando a bola com desdém, com nojinho, para a bomba de Andrade. 2-0. Logo depois, Zico apanhando a bola na intermediária, Mozer e Marinho se projetando pra receber na frente, a bola na direita pra Lico, a entrada “em facão” driblando a defesa, o toque de lado para Marinho finalizar como ponta-direita. 3-0, aos 34 minutos do primeiro tempo. O Flamengo dizimava o Fluminense em 17 minutos.

Era uma atuação de almanaque. O Flamengo praticava naquele Fla-Flu a coisa mais parecida, em gramados brasileiros, com o futebol do mitológico Carrossel Holandês de Rinus Michels, um jogo de movimentações verdadeiramente revolucionárias, o estado da arte da perfeição técnica e tática.

Foi demais para o torcedor Edgar. Trôpego, esbaforido, o geraldino tricolor driblou policiais e seguranças, cortou jogadores de Flu e Fla e se aproximou do árbitro. Não queria agredir. Não queria xingar. Seu olhar porejava súplica. “Parem com isso, pelo amor de Deus. Respeitem meu Fluminense!”, repetia, aos prantos. Implacável, a torcida flamenga cantava, ao som ritmado e gostoso de uma percussão em festa, “Queremos seis! Queremos seis! Queremos seis!”

Carpegiani, agora mais calmo, está no vestiário, sentado, expressão tranquila. Ri quando se lembra da história de Edgar, diverte-se com os comentários de algum torcedor gaiato. Responde com calma e inusitada simpatia a todas as insistentes perguntas dos repórteres, “Por que não apertou o ritmo? Por que não deu de seis?”, e lembra que o Fluminense é um grande time, e coisa e tal, e tal e coisa, que o Flamengo vem cansado de viagens, que tinha que reduzir o ritmo, “Marinho e Mozer é a nova dupla de ataque, professor?”, e que isso foi exaustivamente treinado, que ele tinha que surpreender o amigo Lula, que o Flamengo tinha um plantel fácil de trabalhar, e as respostas protocolares vão se sucedendo, “e a Seleção, Carpegiani? Você se considera pronto pro lugar do Telê?”, e aí o semblante se torna sério, parece pouco à vontade, não gosta de falar do assunto, prefere a discrição, “se vier, será no tempo certo”.

As luzes se apagam, e Carpegiani enfim vai deixando o estádio. Postura ereta, séria, a satisfação da missão cumprida. A tarefa de mostrar, mais uma vez, que o Flamengo possui um treinador à altura de seu exuberante elenco. Um comandante em condições de criar estratégias capazes de surpreender e desnortear seus adversários. Um “professor” respeitado como um dos melhores profissionais do país, a despeito de sua pouca experiência, sempre invocada em contraponto à miríade de taças conquistadas.

Carpegiani abre a porta do carro, acomoda-se. O melhor em campo do Fla-Flu dá a partida e ganha o rumo de casa.


Sim, é nos jogos grandes que os grandes aparecem.

terça-feira, 28 de março de 2017

Público e Renda: mais um capítulo acerca do estádio próprio

Semana passada, a imprensa esportiva fez uma carga excessiva a respeito dos últimos públicos do Flamengo no campeonato carioca, culminando em um texto intitulado “O dia em que o Juventus levou mais público do que o Flamengo...”, de um conhecido jornalista.

Não querendo fazer juízo de valor, o referido texto me impulsionou a olhar com atenção para os borderôs dos jogos do Flamengo na temporada, especialmente neste momento em que o clube está em guerra com a futura administradora do Maracanã. Desta forma, levantamos público e renda líquida do Flamengo em todos os jogos do ano em que teve direito à bilheteria:


Um resumo do apresentado pode ser visto na tabela abaixo:


Não é nenhuma surpresa o fato dos jogos contra os clubes pequenos do Rio serem deficitários. A novidade é o Flamengo levar pouco mais de mil pagantes nos seus jogos.  Naturalmente, há que se analisar o contexto: sem o Maracanã, impossibilitado de usar o Engenhão e com a Arena Ilharão ainda em fase final de acabamento, tivemos que jogar mais da metade das partidas do carioca em Volta Redonda, o que saturou o público local. 

Outro ponto a destacar está na venda das partidas. Os jogos contra Boavista e Vasco, renderam R$ 650.000,00 de cotas fixas ao Flamengo, o que corresponde a 86% de todo o lucro aferido com a bilheteria da competição, até aqui. Pela Primeira Liga, o Flamengo foi o operador do jogo contra o Grêmio, em Brasília, e conseguiu um bom lucro em torno de R$ 550.000,00. Isto mostra o quão prejudicial será, para nós, a regra que não permite que o clube leve os jogos do brasileiro para outras praças. 
Para o futuro próximo, nossa aposta é o Ilharão. O estádio está sendo remodelado de forma a ser um verdadeiro alçapão e aposto que, em termos esportivos, o Flamengo estará bem servido. O problema é que, com uma capacidade máxima em torno de 20.000, o estádio não nos atenderá nos jogos mais importantes, nesta e nas próximas temporadas, especialmente nas fases mais agudas da Libertadores.


Há pelo menos outros três fatores a serem observados, quando se pensa em colocar a maioria das fichas no estádio da Ilha: com um estádio de baixa capacidade, além da geração de renda ser menor que as dos demais clubes grandes do país, fica mais difícil cooptar novos sócios e atingir a meta compatível com o tamanho do Flamengo. Ainda, por mais que o contrato com a Portuguesa pareça ser de médio prazo (3 + 3), a verdade é que seis anos passam rápido demais. Se o Flamengo não se planejar agora, em breve se verá novamente com o mesmo problema de não ter lugar para jogar. 

Por tudo isto, urge o debate pela questão do estádio próprio. A meu ver, esta é uma questão importante demais para ser tocada apenas pela diretoria atual do clube. Os conselheiros, ex-presidentes, oposição e todos os demais torcedores deveriam ser chamados às discussões, para o bem do clube. Se há uma corrente política que defenda um acordo com a nova concessionária do Maracanã, a hora de expor suas razões é essa, em debates onde as vaidades pessoais seriam deixadas na entrada da Gávea. Da mesma forma, devem se fazer ouvir aqueles que entendam que o Flamengo deva se acertar com o Botafogo e assinar um contrato longo para utilização do Engenhão. 


A meu ver, todas as possibilidades devem ser analisadas com muita cautela. Pessoalmente, entendo que um estádio na Gávea, para 45 mil pessoas, seria acessível do ponto de vista financeiro e nos satisfaria a médio prazo. Porém, esta é apenas mais uma das inúmeras possibilidades quando se pensa em estádio próprio.

No meu mundo ideal, todas as correntes políticas do clube seriam trancadas em uma sala e só sairiam de lá com uma solução consensual. 

segunda-feira, 27 de março de 2017

Além do Roubo

Salve, Buteco! Clássico dos Milhões no Mané Garrincha, em Brasília, após o Flamengo se classificar antecipadamente para as semifinais do Campeonato Estadual e o Vasco da Gama correndo o risco de ser vergonhosamente eliminado da Taça Rio, perdendo a vaga para o "poderoso" Nova Iguaçu. É verdade que o contexto não se mostrava exatamente convidativo, mas ainda assim a torcida do Flamengo, como sempre, foi maioria no estádio. Já o time, como pudemos constatar, deixou a desejar, especialmente no primeiro tempo, no qual foi incomodado pela postura tática vascaína de marcação na nossa saída de bola via zagueiros, quando não ocorria por meio de chutões de Muralha para a frente. E foi em uma dessas saídas que Réver se enrolou, perdeu a bola e, na sequência, o ataque vascaíno foi mais firme, com Henrique cruzando sem ser incomodado por Márcio Araújo, e Renê e Muralha sendo surpreendidos por Yago Pikachu, que se infiltrou na pequena área para abrir o placar.

***


Muito embora tenha voltado com mais ímpeto no segundo tempo, somente após a expulsão de Luiz Fabiano o Flamengo conseguiu efetivamente tomar as rédeas da partida, tendo em seguida empatado em uma jogada de bola parada perfeitamente executada por Mancuello e Willian Arão, e virado o placar com uma belíssima conclusão de Berrío da entrada da área. Antes disso Réver marcou um gol legítimo, mal anulado, e depois da virada o time ainda criou algumas situações de perigo, mas após a saída de Berrío para a entrada de Marcelo Cirino consolidou-se a inexplicável tendência de recuo que já se desenhava no jogo. Incapaz de ter a posse de bola contra um adversário com um a menos em  campo, o Flamengo chamou para si a pressão como estratégia para segurar o resultado. Apesar do gol de empate vascaíno ter saído de uma marcação de pênalti absurdamente ilegítima, espúria, cafajeste e mal-intencionada, acabou evidenciando a incompetência do sistema tático rubro-negro em se impor pela superioridade numérica dentro de campo.

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O Flamengo, durante o jogo, foi mais do mesmo: lançamentos, principalmente feitos pelos zagueiros, contra-ataques rápidos e jogadas pelas pontas, com muitos cruzamentos para a área. Durante o primeiro tempo viu-se a repetição de uma cena comum em 2016: Márcio Araújo conduzindo a bola e uma linha de jogadores inerte a sua frente, marcada pela zaga adversária. O Flamengo/2017, assim como sua versão 2016, pouco "gira", pouco se movimenta. Sem movimentação, muito menos organizada, o meio, com Mancuello, que está longe de ser o Diego, e Willian Arão, torna-se limitado na armação, embora ambos sejam jogadores de bom passe. Aliás, a ausência de Diego, que imprime enorme volume de jogo ao time, foi muito sentida exatamente por não existir um esquema tático baseado no jogo coletivo, na troca de passes, na movimentação organizada e concatenada dos setores do time, o que poderia suprir o desfalque individual.

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Diego e Guerrero fazem muita falta, como fariam a qualquer time no continente, mas ainda assim o elenco do Flamengo não deixa a desejar em níveis nacional e sul-americano. Zé Ricardo está perto de completar um ano dirigindo o Flamengo, porém seu time pouco evoluiu em relação a 2016 e não apresenta compactação (especialmente ofensiva) nem capacidade de trabalhar a posse de bola de forma criativa e objetiva, o que se dá, via de regra, somente por jogadas de velocidade e cruzamentos para a área. A precariedade da saída de bola decepciona e o time continua apresentando desempenho incipiente em jogos decisivos ou contra adversários mais fortes.

Enxergo qualidades no treinador, que se esforça para se atualizar, busca ser criterioso e justo na administração do elenco e tem dado boas oportunidades para a prata-da-casa. Entretanto, parece-me que a boa vontade que em geral se tem para que seu trabalho dê certo leva a uma confusão entre essas virtudes e o que o nosso treinador tem entregado na prática. Se é injusto negar valor a Zé Ricardo, pior ainda é enxergar nele um profissional de ponta, nível que inegavelmente não atingiu.

Para ser justo, embora a análise seja difícil antes de começar o Campeonato Brasileiro, é bem possível que, dentro do cenário nacional, o time do Flamengo, jogando completo, esteja no mesmo patamar dos mais fortes para um torneio de pontos corridos, porém sou da opinião que o futebol praticado no Brasil atualmente é taticamente ultrapassado, não conseguindo sequer alcançar o padrão que algumas equipes sul-americanas (atenção, algumas) atingiram nos últimos anos. É torcer para que na Libertadores/2017 ninguém jogue nesse nível. Por outro lado, acho que o Flamengo deve sempre buscar o melhor treinador possível, ainda que a procura demore ou que o profissional não seja brasileiro.

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Quarta-feira o Mais Querido pegará o Voltaço no Raulino e domingo será dia de Fla-Flu, em local a ser confirmado. Mandem, como de costume, as escalações e os prognósticos. A palavra, como sempre, está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.

domingo, 26 de março de 2017

Flamengo x Vasco da Gama

 


Taça Rio - Grupo C - 4ª Rodada

FLAMENGO: Muralha; Pará, Réver, Rafael Vaz e Renê; Márcio Araújo e Willian Arão; BerríoMancuellEverton; Leandro Damião. Técnico: Zé Ricardo.

Vasco da Gama: Jordi; Gilberto, Jomar, Rafael Marques e Henrique; Jean, Douglas, Yago Pikachu, Andrezinho e Nenê; Luiz Fabiano. Técnico: Milton Mendes.

Data, Local e Horário: Domingo, 26 de Março de 2017, as 18:30h (USA/ET 17:30h), no Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília/DF.

Arbitragem - Luiz Antônio Silva dos Santos, auxiliado por Daniel do Espírito Santo Parros e Luiz Couto Barcelos.

 

sábado, 25 de março de 2017

Curtinhas



Flamengo x Vasco

Amanhã o Flamengo disputa mais um amistoso de luxo em um dos estaduais mais deficitários do Brasil. O campeonato “nota 11” consegue ser ainda pior do que versões anteriores e agora os vencedores da Taça Guanabara e Taça Rio precisam jogar uma nova semifinal ao invés de já disputarem a grande decisão. Lamentável!

Dito isso, jogo contra o Vasco, independente da competição, tem que ganhar! O Zé Ricardo deve manter a escalação do último jogo, talvez com o Damião no lugar do Vizeu. Jogo para vermos um pouco mais de Rene, Paquetá, Vizeu e Berrio. Vamos ver se no clássico o time jogará mais com a bola no chão, evitando lançamentos longos dos zagueiros e infinitos cruzamentos improdutivos na área.

Rafael Vaz

Sei que o assunto é polêmico e muitas possuem opiniões fortes a respeito, mas para mim vestiu rubro-negro, ganhou a minha torcida! Não caio nessa de que o Flamengo “não vai ser campeão com o Vaz na zaga”. Por que não?

O Corinthians foi campeão da Libertadores com Jorge Henrique e reza Alessandro. O Cruzeiro bicampeão brasileiro com Egídio na lateral esquerda. O mais importante nesse momento é o fator coletivo.

Antes do Vaz e do Rever chegarem ao Flamengo, lembro de sermos uma das defesas mais vazadas do campeonato, cada escanteio na nossa área era um Deus nos acuda e tínhamos que conviver com as presepadas de Wallace, César Martins e cia.

Evidente que o Vaz possui defeitos e cabe a ele e ao Zé Ricardo se atentarem e corrigirem. Um recuo como o que foi dado contra o Universidade Católica e inadmissível e pode nos custar um campeonato. Mas em relação aos fundamentos defensivos, acho o Vaz um zagueiro de razoável para bom, encaixou bem com o Réver e isso conta muito. Já vi muita dupla de zaga com jogadores de nome, mas que simplesmente não dava certo. Não dava “liga”.

Divisões de base

Muitos não concordam, mas neste ano vejo o Flamengo dando boas oportunidades aos jovens da base. Sei que outro dia saiu um gráfico do Footstats mostrando o Flamengo como um dos clubes grandes que menos utilizou a base neste início de ano, mas é preciso pensar em alguns fatores.

Nossos principais destaques da base estavam disputando o sulamericano sub-20 pelo Brasil. Vizeu, Paquetá e Matheus Sávio, assim que voltaram da seleção, estão aproveitando suas chances e os três jogadores já marcaram gols nessa temporada.

Outro ponto importante é que o Flamengo, assim como o Palmeiras, já possui um time base pronto. O Flamengo perdeu o Jorge (que inclusive era da nossa base) e o Palmeiras o Jesus, fora isso os principais destaques de cada time permaneceram.

Os times que mais estão aproveitando a base são os times que passam por grandes reformulações no departamento de futebol e não possuem dinheiro para investir pesado no mercado, por esse motivo optam pela base, mais por necessidade do que por opção.

Claro que dá para se discutir se jogadores como Ronaldo e Leo Duarte poderiam estar recebendo maiores chances, mas em um contexto geral, diferente de outros anos, vejo a base sendo razoavelmente aproveitada.

Maracanã

Desapega Flamengo.


SRN e um ótimo final de semana a todos!

sexta-feira, 24 de março de 2017

Mais uma Luta!








Irmãos rubro-negros,




a CSM e a GL Events, parceiras do Flamengo no empreendimento, declararam oficialmente, hoje, que encerraram as negociações pela concessão do Maracanã.

O Flamengo, imediatamente, emitiu nota oficial na qual reafirma que não assinará contrato com a Lagardère.

Disso exsurge a seguinte conclusão: ou o Flamengo vai brigar, inclusive judicialmente, pela concessão exclusiva do Maracanã; ou o clube optará por jogar na Ilha do Governador, realizando acordos pontuais para jogos maiores no Maracanã, enquanto constrói o seu estádio próprio.

Por mim, o Flamengo parte em definitivo para a construção do nosso estádio.

Gávea, Niterói, Ilha do Governador, Rua Bariri, Barra, enfim, é chegada a hora do clube ter a sua casa.

E se for essa a decisão do clube, terá todo o meu apoio.







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Domingo, teremos mais um jogo desse modorrento, arrastado e esvaziado campeonato da Ferj.

Praticamente tudo aí funciona como preparação e melhor adequação à disputa da Libertadores e do Brasileiro.

Sem embargo dessa constatação, na hora em que o Manto Sagrado está em campo, eu tenho certeza de que todos nós, rubro-negros, torcemos fervorosamente pela vitória do Mais Amado.

Não será diferente no domingo. 

A campanha realizada pelo Flamengo, a despeito da fragilidade dos adversários, é excelente.

Mas como ninguém ganha de véspera, raça e vontade nunca serão demais.

Pra cima deles, Mengo!







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Abraços e Saudações Rubro-Negras.

Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.


quinta-feira, 23 de março de 2017

Flamengo 3 x 0 Bangu - Sparring sucumbiu no fim

E mais uma vez fomos brindados por um jogo contra um time severamente limitado, no campeonato medíocre e deficitário para clubes de porte do Flamengo. Bangu, que nos tempos do dinheiro fácil dos negócios de contravenção de Castor de Andrade, apresentava até belos times, chegando a ser vice-campeão brasileiro, hoje é um fantasma do clube que um dia foi. Mesmo com o bom técnico Roberto Fernandes e o reforço do Loco Abreu, embora em plena decadência técnica e física, não apresentou nada de relevante a não ser uma defesa que procurou não dar espaços ao Flamengo e um goleiro que foi o destaque do primeiro tempo com defesas ágeis e arrojadas.

E o Flamengo? Bem, o Flamengo mostrou, mesmo contra o Bangu, seu problema crônico em finalizações. Como chutam mal. Talvez acertem todos os chutes no Ninho do Urubu, mas na "vida real" erram tudo. Daí algumas boas jogadas acabam desperdiçadas por finalizações bisonhas. O apreço de atacar pelos lados em detrimento de jogadas articuladas pelo meio, mais uma vez se pôs em campo. Mancuello, com o espaço que times sparring lhe dão, fazia boa partida pela direita. Indo, voltando, fazendo ultrapassagem e ocasionalmente indo pro meio. Everton fazia sua partida regular de sempre. E o Vizeu, não entendi porque, saía tanto da área que quando acontecia um ataque nunca estava presente onde realmente precisavam dele.

Marcio Araujo, com o espaço no meio de campo que o Bangu dava, provocou elogios em série na estranha transmissão do jogo. Por motivos a mim suspeitos, a Globo insiste em incensar um jogador reconhecidamente limitado no Flamengo, provado em jogos contra times de porte. Mas contra o Bangu enganou bem. Ia, voltava, passava, com espaço e tempo sem marcação, fez a festa, como todo bom jogador de pelada. Mas se apertar...a casa cai. Como sabemos a longos 4 anos.

Enfim, o Flamengo terminou o primeiro tempo no 0 a 0, com direito a mais uma (até quando?) cobrança de falta bisonha do perseguido Vaz. O que foi preocupante. No segundo tempo, após falha de marcação e recomposição, Bangu, em raro ataque, caso fez o dele, por má finalização do atacante. Poderíamos estar perdendo até. E o Flamengo começou a rarear mais no ataque. Bangu acertou a marcação em cima do Mancuello.

E aí o Zé Ricardo decidiu entrar novamente no mode "Ney Franco". Ao invés de tirar um dos volantes decidiu tirar o Paquetá, o que mais fazia a bola girar pelo meio auxiliado por Mancuello, também substituído. Entraram Berrio e Damião. Ou seja, mais uma vez, um técnico acredita que atacantes é tudo para marcar um gol, quem passa a bola mero detalhe. Mas, contra um Bangu, adiantou algo de início. Berrio entrou muito bem e melhorou o lado direito junto com Pará. Mas com o tempo a dificuldade de articular jogadas ficou flagrante, até que Renê, o lateral comedido, de repente, do nada, resolve chutar de longe e marca um belo gol.

Uau. Festa. Enfim, temos alguém que ao menos finaliza bem de longe. Com isto imediatamente Zé Ricardo substitui Vizeu, em partida apagadíssima, e coloca Matheus Sávio, que, claro, melhora substancialmente a troca de bolas pelo meio e articulação de jogadas. Com o Bangu nas cordas, Damião marca um gol com bela  cabeçada (agora só gols com bola rolando, que maravilha) e mostra o cobertor curto do reserva centroavante. Quando Vizeu entra desejamos Damião, e quando Damião entra desejamos Vizeu. Ao final da partida Matheus Sávio fez o dele em chute colocado e se emocionou muito.

Enfim, ganhamos de 3 a 0, vale os três pontos e classificação antecipada para a semifinal deste campeonato esquecível que não mede nada, a não ser mostra flagrantes do momentos do time e opções do treinador para raras e ocasionais situações adversas. Que daqui em diante, até as semifinais, escalem o Flamengo B. Não podemos perder jogador por causa disso.

quarta-feira, 22 de março de 2017

Flamengo x Bangu

 


Taça Rio - Grupo C - 3ª Rodada

FLAMENGO: Muralha; Pará, Réver, Rafael Vaz e Renê; Rômulo (Márcio Araújo), Willian Arão, Paquetá, MancuellEverton; Felipe Vizeu. Técnico: Zé Ricardo.

Bangu - Márcio; Daniel, João Guilherme, Anderson Penna e Guilherme; Eroza, Raphael Augusto e Carlinhos; Matheus Pimenta, Bruno Luiz e Loco Abreu. Técnico: Roberto Fernandes.

Data, Local e Horário: Quarta-feira, 22 de Março de 2017, as 21:45h (USA/ET 20:45h), no Estádio General Sylvio Raulino de Oliveira ou "Raulino de Oliveira" ou "Estádio da Cidadania", em Volta Redonda/RJ.

Arbitragem - Élton Azevedo, auxiliado por Luiz Antônio Muniz de Oliveira e Márcio Moreira de Queiroz.

 

Alfarrábios do Melo

Os Estados Unidos do Brasil vão completar cem anos.

O Centenário da Independência precisa ser abrilhantado por uma série de festejos e eventos de grande porte, ratificando a grande expressão e força da jovem nação e de sua numerosa gente. Nesse escopo, haverá a monumental Exposição Internacional do Centenário (com a participação de vários países, que exibirão aspectos diversificados de sua cultura, indústria e comércio), dentre uma miríade de solenidades, desfiles militares, visitas de Chefes de Estado. E, no campo esportivo, a ideia é ambiciosa. Realizar, na Capital Federal, os Jogos Olímpicos do Centenário.

O detalhamento do projeto se dá durante as Olimpíadas de 1920, na Antuérpia-BEL. O COI abraça com entusiasmo a iniciativa de se promover mais um evento de celebração do esporte e do congraçamento entre os povos, ainda mais em uma data de importância tão cara ao Brasil. No entanto, entende-se que, pela magnitude da estrutura necessária para a realização de um acontecimento desse porte, o escopo deverá ser restrito ao âmbito continental. Serão Jogos Latino-Americanos e terão caráter extraoficial, amistoso.

Assim, lançam-se as bases para a realização dos Jogos Atléticos Latino-Americanos de 1922, no Rio de Janeiro, envolvendo todas as modalidades olímpicas.

Entre os inúmeros requisitos para que leve adiante a coisa, há o principal deles. O local. A Praça de Esportes.

O Stadium.

A cidade dispõe de apenas um equipamento desse porte, o Stadium das Laranjeiras, recentemente inaugurado (1919), com capacidade para 18 mil espectadores. No entanto, a sede do Fluminense não dispõe de estrutura suficiente para abrigar todas as modalidades que serão disputadas no evento. Ademais, parece pequeno diante da demanda referente à dimensão dos Jogos (basta constatar os registros de superlotação em jogos de futebol de maior apelo, notadamente os clássicos locais e partidas da Seleção Brasileira). Dessa forma, urge a construção de um local maior e mais adequado às necessidades dos Jogos.
É a oportunidade que o Flamengo esperava.

O Flamengo busca, há algum tempo, sanar de forma definitiva a questão envolvendo um local próprio para sediar suas partidas. Com efeito, é o único clube da Primeira Divisão que não dispõe de um campo de sua propriedade. É bem verdade que utiliza, desde 1915, o campo da Rua Paysandu, mas o terreno não é seu, o contrato de uso é temporário e o clube não parece reunir condições para adquirir, junto aos Guinle, o caríssimo terreno localizado em uma área nobre da cidade. Internamente, sabe-se que, ao final do contrato de utilização, dificilmente o rubro-negro permanecerá no local.

Ademais, a ideia flamenga é unificar todas as suas sedes, seus braços náuticos e terrestres, em um só teatro. Um local onde se possa praticar todo o vasto arco de modalidades esportivas colocados pelo clube à disposição dos seus associados. Uma praça ampla, à altura da grandeza do clube.
Um Stadium de Terra e Mar.

O início dos preparativos para os Jogos Latino-Americanos se dá em um momento em que o Flamengo pleiteia, junto ao Governo Federal, a cessão de um terreno na Praia Vermelha, área julgada adequada para erguer o Stadium nos moldes desejados pelo clube. Uma outra alternativa é o derredor da Lagoa Rodrigo de Freitas, mas a região é considerada distante e demandaria custos excessivos para o transporte de embarcações para as regatas na Baía de Guanabara.

A demanda do Flamengo converge de forma perfeita com a necessidade de construção do Stadium dos Jogos. Conversas são intensificadas, reuniões com o próprio Presidente da República são levadas adiante e, após algumas articulações, o Flamengo consegue que o Congresso Nacional autorize o Poder Executivo a ceder-lhe o tão cobiçado terreno na Praia Vermelha.

O projeto do Stadium já está pronto. E é estonteante. Um dirigente flamengo refere-se ao Stadium como “a maior, mais ampla, mais completa e mais moderna arena esportiva do mundo”. Exageros à parte, trata-se de uma obra realmente monumental. Seu colossal projeto inclui, além do campo de futebol, um pavilhão para montagem e guarda de barcos de remos, velas e motor, uma piscina de dimensões olímpicas para a prática de natação e water-polo, uma quadra para basquete, uma quadra para vôlei, seis quadras de tênis, um campo de golfe, um rink de patinação, uma quadra de pelota basca, pista de atletismo com área para competições de saltos e lançamentos, stand de tiro e campo de equitação e hipismo, entre outras instalações, além de um restaurante panorâmico, um restaurante subterrâneo, um terraço e um belíssimo mirante. Inspirado no Stadium multiuso da Antuérpia, será totalmente construído em madeira de lei.

Ademais, o Flamengo parece o ator adequado para liderar esse processo. Com 25 anos de existência, é o clube que mais cresce no Rio de Janeiro, já reúne em carteira o total de 3.000 sócios, recebendo mensalmente cerca de 100 novos pedidos de adesão, em média. É o atual Campeão de Terra (Campeão Carioca de Futebol e Atletismo) e Mar (Campeão Carioca de Remo), além de ser a instituição esportiva da Capital que oferece o maior número de modalidades esportivas, sempre competindo em alto nível e padrão de excelência.
Tudo parece caminhar bem. Em maio de 1921, é celebrado o Termo de Cessão por Aforamento de uma área na região da Praia Vermelha, entre a Urca e a Praia da Saudade, um terreno que fora utilizado para abrigar, em 1908, uma exposição alusiva à abertura dos portos e, desmontados os pavilhões provisórios, encontra-se abandonado, sem uso. Um vasto matagal baldio a beira-mar, próximo à sede do recém-criado Fluminense Yacht Club (sede náutica do Fluminense FC). Segundo o termo, o Flamengo assume o direito de tomar posse do terreno, desde que construa as instalações que entender necessárias para a realização dos Jogos Atléticos Latino-Americanos, a serem realizados em setembro de 1922.

A solenidade de posse do terreno é suntuosa. O CR Flamengo monta uma flotilha de 14 embarcações, que saem de sua garagem, na Praia do Flamengo e, comandadas por seu Presidente Faustino Esposel, navegam pela Baía de Guanabara em direção à Urca. Ao longo do trajeto, alguns barcos pertencentes a outros clubes vão se somando ao cortejo, numa demonstração de apoio e solidariedade. Após desembarcar, vários associados, dirigentes flamengos, convidados (como o Presidente da LMDT, a Federação Carioca de Esportes Terrestres, como o futebol), torcedores e curiosos em geral compõem uma multidão, que acompanha, sob o hino do clube, o desfraldamento do pavilhão rubro-negro no mastro especialmente instalado para a ocasião. Ao final da solenidade, que ainda conta com um concorrido coquetel, a flotilha retorna à sede, por mar, e os presentes em terra formam um ruidoso corso, que percorre as ruas da Capital, exalando seu orgulho flamengo.

No entanto, uma questão pragmática ainda precisa ser dirimida. O financiamento da obra. Embora goze de invejável saúde econômica, com dinheiro em caixa e as contas em dia, o Flamengo reconhece não ser capaz de alavancar, por si, os recursos suficientes para uma construção de tamanho porte. Será necessário o auxílio de um investidor. O caminho natural é recorrer aos cofres públicos, na forma de um empréstimo que se dará à guisa de um incentivo governamental capaz de viabilizar a realização dos Jogos. Afinal, se é o Governo Federal o idealizador da coisa, que o Governo forneça subsídios para que aconteça.

Aí começam os problemas. Após inúmeras e exaustivas idas e vindas, enfim o Flamengo consegue arrancar da Comissão de Finanças da Câmara um parecer positivo à concessão de um empréstimo de 1.000 contos de réis, destinado ao custeio das obras relacionadas à construção do Stadium da Praia Vermelha. No entanto, ao descer ao Plenário, o projeto se perde em infindáveis e inúmeras discussões, envolvendo tecnicismos (impossibilidade de custear obras em terrenos aforados), discussões filosóficas (várias correntes se põem contrárias à ideia do Governo emprestar dinheiro a uma construção de interesse público que beneficiará uma instituição privada) ou mesmo políticas (parlamentares influentes, ligados a outros clubes, contestam a obra). Além disso, o país não vive um bom momento econômico. O cenário é de recessão e profunda contenção nos gastos públicos. Um empréstimo desse vulto poderia receber péssima repercussão junto aos formadores de opinião.

Como se não bastasse, os vizinhos do terreno alegam terem sido negligenciados no processo de cessão. A Faculdade de Medicina, por exemplo, deseja ampliar suas instalações. O Jóquei Club, detentor de um terreno ao lado, entende que o Stadium, na forma projetada, inviabiliza a sua própria existência no local. Um investidor estrangeiro se queixa que já obtivera autorização para instalar uma espécie de viveiro de peixes ornamentais no local. As discussões e queixas são amplas e cansativas, e, principalmente, vão consumindo tempo. Um tempo precioso.

Os meses se arrastam, e o terreno segue intocado. Os jornais, antes entusiastas do projeto do Stadium, passam a se dedicar a notas irônicas (“as obras evoluíram. Um cavalo ajudou a desmatar o terreno, servindo-se de suas pastagens”). Preocupado, o Comitê Olímpico começa a exigir explicações e prazos à CBD e ao Flamengo. Entra-se no ano de 1922 e a situação não se resolve. Mais algumas semanas são consumidas com um questionamento jurídico acerca da legalidade de cessão da área da praia, onde serão construídas a piscina e a garagem dos barcos.

O fator tempo, antes delicado, torna-se crítico. Está-se a poucos meses dos Jogos. O Flamengo desiste do projeto original e, para conseguir ao menos manter o terreno, apresenta um desenho bem mais simples, para abrigar apenas os esportes terrestres (futebol, atletismo e quadras). Mas é tarde. Sem vislumbrar perspectivas de liberação, por parte do Governo, do capital inicial para a obra, o Comitê começa a estudar outros terrenos, de execução mais barata. Pensa-se na Lagoa Rodrigo de Freitas, ou em São Cristóvão. As dificuldades ecoam fora do país. O COI, que tem prestado consultoria e apoio técnico, cogita seriamente recomendar que os Jogos sejam transferidos para o Uruguai.

Diante da proximidade de um vexame de proporções imprevisíveis, enfim o Governo Federal se sensibiliza. E, após vários encontros, reuniões, conversas, estudos e ensaios, nem sempre de caráter técnico, opta-se pela solução mais “racional”. Uma vez que não há mais tempo para a construção de um Stadium totalmente novo, a escolha é pela ampliação das Laranjeiras, que passará a dispor de capacidade para 25 mil espectadores, além de ser provido de novos equipamentos para a prática de mais modalidades. Os melhoramentos no campo custarão algo em torno de 800 contos de réis.

Assim, na Sala do Presidente da República (sócio benemérito do Fluminense) e na presença de personalidades ilustres (vários, entre eles, conselheiros e membros da diretoria do clube das Laranjeiras), é assinado o contrato para a realização das obras de reforma e ampliação do Stadium das Laranjeiras, que se torna, assim, a sede dos Jogos Atléticos Latino-Americanos de 1922.

E assim, em setembro, os Jogos são levados a termo. A parte terrestre se dá nas Laranjeiras, a parte aquática em um piscinão improvisado no próprio terreno da Praia Vermelha, onde seria construído o Stadium do Flamengo. O evento é recebido com frieza pela crítica (que aponta várias falhas de organização), mas é um sucesso absoluto de público.

O rubro-negro, sem terreno e sem Stadium, retorna ao estágio inicial de sua demanda pelo local próprio. No entanto, ao menos conseguirá, não sem estridente barulho de sua diretoria, nova cessão, por parte da Prefeitura, de um terreno às franjas da Lagoa Rodrigo de Freitas. “Um brejo, um barrão”, segundo alguns detratores.

Mal sabem que o tal brejo, mais do que simples sede, irá se mescolar de forma indelével às coisas rubro-negras.


Será a Gávea do Flamengo.