quinta-feira, 30 de junho de 2016

Flamengo 1 x 0 Internacional - Econômico

Mapa de Calor: Flamengo pelas pontas. Espaço aberto no meio.
E no caldeirão fantástico do estádio de Kleber Andrade, o Flamengo, enfim, jogou relativamente bem e ganhou ao fim. Seu serviço delivery não funcionou, ambos zagueiros tiveram boa atuação, e o Mengo conseguiu manter o resultado magro obtido no primeiro tempo, à partir do gol de Ederson depois de belo passe de Guerrero funcionando como pivô na grande área, o que sabe executar muito bem.

Mas o que dizer do Flamengo do Zé Ricardo, o interino? É um time bem mais organizado que o que Muricy deixou, sem dúvida, mas com a diferença que os jogadores efetivamente parecem motivados como há algum tempo não via no Flamengo, que antes parecia um desfile interminável de walking deads em campo.
Organização + Motivação, formam uma sequencia de resultados razoáveis/bons que deixam o Flamengo ficar ali, por perto do G4. O que quer dizer muito perante ao passado recente. 

Zé Ricardo, (infelizmente) auxiliado por Jayme, é um técnico que, ao menos por enquanto, apresenta um estilo, no meu modo de ver, bem parecido com o do Parreira. Times certinhos, geralmente mono-esquemáticos, sem rodízios de titulares, jogando por resultados magros e se contentando em ser assim, apesar do desespero da torcida pela fatalidade sempre eminente do empate e do anseio por jogos mais vibrantes com a criação de resultados largos. Não se terá isto, aparentemente, com ele.  Parreira era assim,estudado e tranquilo, fazia o time organizado, sabia o que queria e era adepto do "menos é mais". Menos opções para titulares e menos gols. Achando o tal "time" na cabeça dele dificilmente mudava.

Mas pode ser que mude. Entrou agora. Pode estar jogando na zona de segurança e também, convenhamos, "finalizadores" como Cirino e seu pé sempre descalibrado não ajudam a fazer mais gols. O lado esquerdo do ataque, setor em que muda mais durante os jogos, pode ter-se resolvido com Ederson, que é um jogador mais habilidoso e quase um Einstein em comparação às outras alternativas de ponteiros no fatídico 4-3-3 (e suas variantes) que o Flamengo parece condenado a jogar. Com isto perdemos a chance do Ederson atuar mais junto de Guerrero em um 4-4-2 imaginário aumentando, com isto, a troca de passes entre ambos. Hoje Ederson fica pela esquerda, Cirino correndo pela direita, e Alan Patrick e Arão, sem cacoetes de atacantes, se aproximando mais pelo centro, junto ao Guerrero, que prende muito bem a bola.  

Temos também um time que sai pouco pelo centro. Na saída de bola do Flamengo, marcam bem o Arão e deixam a natureza marcar Marcio Araujo, quando ele mesmo não se marca se escondendo atrás dos atacantes adversários. Daí fazem uma pressão em cima do Alan Patrick e o time fica vendido. Palmeiras quem executou isto melhor, anulando o Flamengo. 

Quanto as substituições, Zé Ricardo optou por Everton no lugar do Ederson, querendo acelerar o lado esquerdo, Pará substituindo Rodinei por contusão e no final a grata surpresa do Thiago Santos, que fez dois belos lances, nos mostrando luz em meio a uma certa escuridão de inteligência ali pelos...cantos.

E o Inter? Bem, o Inter depois que tomou gol acordou pro jogo. Pressionando fortemente o Flamengo, pegando todas as segundas bolas, parecia que teríamos um massacre ou gol a qualquer momento. Mas mesmo com a bola rondando nossa área de cá para lá, Inter não finalizava ou se fazia era muito mal. Parecia não estar querendo muito. Aliás, achei bem estranha a postura do time de Inter neste jogo. Principalmente no final, quando já nos acréscimos, perdendo, não parecia muito disposto a ir com "tudo em cima". Ficou tocando a bola entre os zagueiros esperando acabar...sei não...se fosse o Argel já abria o olho. Ao menos no Flamengo temos um histórico de problemas, digamos, comportamentais neste sentido entre os jogadores...

Bem, teorias da conspiração ou não. Ganhamos. 3 pontos. E isto que vale ao final das contas. Mas se fiquei satisfeito? Ainda não. Vejo lacunas na formação tática do Flamengo, na capacidade de ver o jogo do Zé Ricardo e ainda fico intrigado pelo não aproveitamento do Cuellar e Mancuello no time. Principalmente o Cuellar que resolveria, em tese, nosso enorme problema de marcação e transição de bola pelo centro.



quarta-feira, 29 de junho de 2016

Flamengo x Internacional

 


Campeonato Brasileiro 2016 - Série A - 12ª Rodada

FLAMENGO: Muralha; Rodinei, Rever, Rafael Vaz e Jorge; MárciAraujo, Willian Arão e AlaPatrick; Marcelo Cirino (Mancuello), Guerrero Ederson. Técnico: Zé Ricardo - interino.

Internacional - Jacsson (Muriel); Willian, Leandro Almeida, Ernando e Arthur; Rodrigo Dourado, Fernando Bob, Anderson e Seijas; Eduardo Sasha e Vitinho. Técnico - Argel Fucks.

Data, Local e Horário: Quarta-feira, 29 de Junho de 2016, as 19:30h (USA/ET 18:30), no Estádio Kleber Andrade, em Cariacica/ES.

Arbitragem - Ricardo Marques Ribeiro (FIFA/MG), auxiliado por Pablo Almeida da Costa (ASP/FIFA/MG) e Celso Luiz da Silva (MG). Quarto Árbitro: Devalry Lira do Rosario (ES).

Pendurados - Guerrero, Everton e Léo Duarte.

 

Alfarrábios do Melo

Um ano.

Vai fazer um ano que ele estreou. Uma noite de festa que já soa longínqua, distante, enevoada em meros e fugazes espasmos de reminiscência que hoje recendem a melancolia. Frustração. Decepção.

A torcida comemorou tanto quando ele chegou...

O anúncio de sua contratação, decorrente de uma operação tão ousada quanto inesperada, rebentou como uma bomba nos meios esportivos de todo o país. Jogador de ponta, vitorioso, currículo de campeão do mundo. Era o símbolo de um Flamengo grande, gigante, que voltava aos seus melhores dias de predador. Um Flamengo que tornaria a disputar, e a ganhar, competições nacionais, continentais, mundiais.

Essa era a ideia. Desde a apresentação.

A crônica esportiva, atônita, perdia-se em digressões aturdidas: “como vai pagar?”, “isso é loucura, não há dinheiro”. Outros ponderavam que um círculo virtuoso poderia ser gerado, pois craque traz gols, títulos, chama a torcida pro campo, faz o adepto comprar, consumir, ostentar sua paixão.

Um ano. Não houve conquistas, não houve títulos, não houve sucesso. E pouca gente comprou, consumiu, ostentou.

O goleador foi recebido com euforia. Desfrutou do carinho de um torcedor carente de ídolos. Ganhou musiquinha. Recebeu todas as demonstrações de afeto possíveis, quase de idolatria. Tudo parecia caminhar para uma sintonia fina, uma troca de energia que catapultaria o time ao êxito.

Mas não foi bem assim.

O time passou longe do protagonismo. No Estadual, sofreu com a irregularidade e a incapacidade de derrotar um rival e colocar fim a uma incômoda sequência de reveses contra o adversário que, com um punhado de jogadores rejeitados em outros centros, foi mais competitivo e ergueu a taça. No Brasileiro a coisa foi ainda pior, um elenco limitado, desunido, desmotivado e coalhado de problemas extracampo simplesmente não foi capaz de transpor as camadas intermediárias da tabela, lá chafurdando até o final da competição.

Houve o desempenho em clássicos. O torcedor é muito cioso de sua superioridade nos jogos contra os rivais regionais. No entanto, no último ano o Flamengo, nos dez embates com a presença da estrela em campo, conseguiu aproveitamento de apenas 30%, com o craque marcando em apenas três desses jogos. Muito pouco para quem erigiu reputação de “goleador de jogo grande”.

Analisando os números, no entanto, não há que se falar em desempenho “sofrível”. O goleador manteve a média de gols registrada na carreira, repetindo a performance auferida em outros clubes. Decidiu alguns jogos, viveu até bons momentos. Individualmente, de certa forma, contribuiu dentro do escopo que permeou sua carreira, embora o desempenho no Brasileiro tenha sido fraco até para seus padrões. Mas, coletivamente, não pareceu capaz de conduzir o Flamengo às conquistas e aos títulos que se julgava e se esperava lograr. Aterrada, uma Nação começou a perceber que seu heroi não reunia estofo para ser o comandante, o líder da travessia à glória.

Em que pese sua personalidade forte, dura, a estrela mostrou-se de caráter arredio, taciturno, excessivamente quieto. Em alguns momentos, mesmo certa melancolia e introspecção pareciam dar o tom. Os gols comemorados com discrição faziam supor infelicidade, incômodo. “Ele se cobra muito, está triste porque os resultados não estão vindo”, alguns apunham. E a Nação, antes de braços abertos, retraiu-se diante do craque em crise, estrela única em um plantel de coadjuvantes de nível menor.

O extracampo. O excesso de lesões, que o tirou de vários jogos importantes. As suspeitas de problemas de relacionamento com outros jogadores, os rumores de brigas com alguns companheiros. Mesmo boatos de boicote, como em uma derrota em que o time andou em campo pelo Brasileiro sem lhe passar a bola. A inquietação e o relacionamento conturbado com alguns dos muitos treinadores que passaram pelo comando técnico nesses doze meses. Enfim, a série de polêmicas envolvendo seu nome fazendo crer que talvez sua convivência no vestiário não fosse tão harmônica, enfim. Talvez pelo fato de auferir o maior salário do elenco e não estar entregando os títulos prometidos.

E as chacotas. O que fere e sangra a alma do torcedor flamengo é a bazófia. A humilhação. A vergonha. O rubro-negro acreditou em um time vencedor, recebeu de volta derrotas doloridas, contundentes. Alguns flamengos ilustres torcem a cara para o craque, “é o símbolo maior de um time sem identificação com nossas raízes”. Ironicamente, os dois melhores jogos recentes do Flamengo (uma virada histórica fora de casa e uma goleada em um clássico) aconteceram sem sua presença em campo. Dois jogos em que o time correu, brigou, buscou. Que foi, ainda que por escassos momentos, Flamengo.

Doze meses se passaram. Algo frustrada, a diretoria já não parece refratária à corredeira de sondagens que inunda os telefones da Gávea interessada nos gols da estrela. O próprio craque não parece indiferente à ideia de sair, embora dê sinais, em sua vida pessoal, de que pretende permanecer no Rio.

No entanto, as duas partes reconhecem que algo deu errado. Que algo está errado. E que é necessário aplicar vários elementos de correção, se se pretende prolongar a relação com o clube. Um novo período se inicia. Acredita-se melhor, embora haja consistentes razões para o ceticismo.

1996 está no início. E Romário, enfim, estreará de verdade.



terça-feira, 28 de junho de 2016

Chekpoint do Título 2 (G4) e o Campeonato de 2009

Mais uma vez, meu primo Leandro Machado segue com o combinado e nos traz o checkpoint do Flamengo no campeonato brasileiro. Depois de uma conversa, ele traçou um paralelo com a campanha de 2009 e se surpreendeu com o resultado, como eu também. Leiam! Divirtam-se! E Vamos, Flamengo!




E lá se foi o segundo bloco. A noção de tempo é algo realmente ímpar: enquanto para muitos o campeonato ainda está no início, a minha sensação é a de que está passando rápido demais. Outro dia estava fazendo a análise dos campeonatos anteriores e as projeções para este ano e agora já estou voltando pela segunda vez!

Começamos muito mal o Bloco 2, perdendo para Palmeiras e Figueirense. Felizmente, conseguimos pontuar nas outras rodadas e chegamos a 7 pontos após a vitória sobre o Santa Cruz. Os 17 pontos acumulados nos levaram à 4ª posição, como indicava nossa projeção inicial. Embora o time esteja muito irregular, estamos na briga.
Aliás, esta irregularidade do time me levou a uma busca que se mostrou muito interessante: após o pênalti perdido pelo Alan Patrick e os dois pontos desperdiçados contra o São Paulo, comentei no nosso grupo do zap que estávamos com uma campanha de rebaixado no bloco 2, naquela altura. Meu primo Luiz relativizou e apontou que, mesmo com um baixo rendimento no bloco, estávamos em 6º, coladinhos no G4.

Então, todas as projeções estariam erradas? Seria possível que, pelo campeonato estar mais embolado este ano, os números mágicos fossem menores que os previstos no início de toda essa história? Para tentar responder estas questões, fui atrás do histórico do campeonato de 2009, o mais equilibrado dos pontos corridos e conquistado brilhantemente após uma poderosa arrancada! São esses os dados que quero compartilhar com vocês hoje. Ao final da minha busca, alguns dados me surpreenderam bastante. Acredito que muitos também se surpreenderão. Vamos lá.

A tabela abaixo mostra o total de pontos projetados para o título deste ano, a trajetória do Flamengo no título de 2009 e a nossa performance neste ano. Para quem está chateado após a derrota no Fla x Flu, note que chegamos ao final do 2º bloco com mais pontos que em 2009...

Por outro lado, a tabela acumulada pode esconder algumas nuances que envolvem o campeonato brasileiro de pontos corridos, onde a regularidade é fundamental. Vejam a mesma tabela, montada bloco a bloco:

O ponto que mais me surpreendeu quando olhei estes números foi ao constatar que o Flamengo de 2009 fez campanha de Campeão ou G4 em 75% daquele campeonato! Esse é um resultado impressionante, uma vez que vai contra o senso comum da arrancada na segunda metade do campeonato. Mas os números estão lá: em 4 dos 7 blocos atingimos pontuação igual ou superior à projeção para o título, enquanto que no Bloco 2 atingimos a pontuação projetada para G4. Se considerarmos o “sprint final” (últimos 3 jogos) como um oitavo bloco, chegamos ao percentual destacado, 6 de 8.

E aquela sensação de ter ficado o tempo todo atrás no campeonato? Bem, tivemos um mal primeiro bloco e, embora tivéssemos reagido nos Blocos 2 e 3 (com campanha de título!), fizemos um péssimo quarto bloco, o que nos deixou no meio da tabela – eramos 9º ao final da 20ª rodada. Dez jogos (e 21 pontos) depois estávamos em 2º (rodada 30) e o resto é História!

E onde tudo isso aí pode nos levar? Aí cada um pode tirar suas próprias conclusões. Compartilharei aqui algumas que tive:
  • Temos que valorizar a campanha feita até aqui: embora o time ainda não esteja “nos cascos”, os 17 pontos acumulados no período devem ser vistos como prova de força. Ficamos somente a dois da projeção e temos uma campanha melhor que em 2009. Imaginem quando o time embalar!
  • Pontuar regularmente é fundamental para o título: vitórias, mesmo jogando mal, nos permitem brigar pelo título lá na frente. Todos se lembram da arrancada final em 2009 (gol do Zé Roberto contra o São Paulo no Maracanã, vitórias épicas contra Palmeiras e Atlético MG fora), mas, talvez poucos se recordem da vitória contra o Santo André lá, na 3ª rodada: 2x1 com dois gols do Josiel!
  • Fases ruins em um campeonato de 38 rodadas acontecem: no desastroso Bloco 4 de 2009 constam, no Maracanã, um empate com Náutico e uma derrota para o Cruzeiro, com uma única vitória (Corinthians). Fora, duas derrotas, Goiás e Grêmio.
  • Vamos ser campeões!!!!!!!!!!!!

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Falha Nossa

Salve, Buteco! O que dizer quando, em um clássico equilibrado, duas falhas individuais, cometidas por dois atletas que vêm jogando bem, resultam nos gols que dão a vitória ao mais tradicional adversário? É preciso muita serenidade para não comprometer a análise do desempenho da equipe. Rafael Vaz entrou e vinha jogando bem na zaga, apoiando constantemente e com qualidade o ataque, ao passo que Willian Arão não apenas conquistou a braçadeira de capitão, como vinha sendo um dos principais jogadores da equipe, além de ter sido o destaque e autor do gol da vitória contra o Santa Cruz em Recife, na quarta-feira, pela 10ª Rodada.

As infelizes falhas poderiam ter ocorrido em qualquer lugar: Maracanã, Mané Garrincha, Volta Redonda, Juiz-de-Fora, Cariacica. O certo é que ocorreram na Arena das Dunas, para azar da briosa Fla-Nordeste. Dessa vez não se poderá culpar Brasília, mas talvez a falta de sorte do time.

***

O Fluminense de Levir Culpi estava sob grande pressão e, por isso, fora a motivação intrínseca a todo Fla-Flu, jogou de forma ofensiva especialmente no segundo tempo. Ofensividade, por sinal, é a principal característica do tradicional clássico, e ontem pode-se até dizer que o vencedor foi menos competente do que o Flamengo no quesito finalização, porém contraditoriamente levou os três pontos pela infelicidade defensiva do Mais Querido.

No geral, achei o Flamengo superior, mas não vi grandes novidades no time de Zé Ricardo, o qual continua com suas idiossincrasias, como manter Cuéllar na reserva de Márcio Araújo. De bom, o gol de Guerrero e as finalizações de Mancuello, que sem sombra de dúvida mostrou merecer melhor aproveitamento por parte do nosso (xenófobo?) treinador. Ainda assim, não substituiria Zé Ricardo, a não ser que viesse um treinador realmente de alto nível no cenário internacional. Sua substituição por qualquer treinador brasileiro apenas retomaria o deletério rodízio quadrimestral de treinadores que marcou o futebol rubro-negro as últimas décadas.

***

A falha é nossa, coletiva, e por isso o post será curto como a inspiração para escrevê-lo.

Quarta-feira será dia de receber o forte Internacional e da torcida rubro-negra capixaba apoiar o Mais Querido. Mandem a escalação ideal e ajudem Zé Ricardo a fazer esse time decolar.

Bom dia e SRN a tod@s.

domingo, 26 de junho de 2016

Flamengo x Fluminense

 


Campeonato Brasileiro 2016 - Série A - 11ª Rodada

FLAMENGO: Muralha; Rodinei, Rever, Rafael Vaz e Jorge; MárciAraujo, Willian Arão e AlaPatrick; Marcelo Cirino (Mancuello), Guerrero Everton. Técnico: Zé Ricardo - interino.

Fluminense: Diego Cavalieri; Jonathan, Henrique, Gum e Wellington Silva; Pierre (Edson), Douglas, Cícero e Gustavo Scarpa; Maranhão (Oswaldo ou Richarlison) e Magno Alves. Técnico - Levir Culpi.

Data, Local e Horário: Domingo, 26 de Junho de 2016, as 16:00h (USA/ET 15:00), no Estádio Arena das Dunas, em Natal/RN.

Arbitragem - Luiz Flávio de Oliveira (FIFA/RN), auxiliado por Emerson Augusto de Carvalho (FIFA/SP) e Rogério Pablos Zanardo (ASP/FIFA/SP). Quarto Árbitro: Caio Augusto Max Vieira (RN).

 

sexta-feira, 24 de junho de 2016

A Sequência






Irmãos rubro-negros, 


mais uma vitória fora de casa do Mengão, que, é importante reconhecer, não atuou bem. 

Acho, porém, que chegamos num ponto em que o importante é vencer, jogando bem ou mal. 

O Flamengo faz boa campanha, sobretudo se considerarmos o planejamento muito ruim feito pela diretoria. 

E o time terá agora aquela que é, provavelmente, a sequência de jogos mais difícil do certame:

Fluminense (Natal), Internacional (casa), Corinthians (fora), Atlético-MG (casa) e Botafogo (indefinido). 

O campeonato é longo, mas são em sequências como essa que se define o potencial da equipe e aonde ela pode chegar.

Serão jogos difíceis, mas o Flamengo, o gigante Flamengo, sempre cresce nas adversidades.

É a nossa tradição e a nossa história. 

Eu não gosto muito de fazer conta. Prefiro o jogo a jogo. 

Mas sem fanatismo, nada disso, apenas analisando racionalmente a tabela, eu acho que o Mengão vai conquistar os quinze pontos da sequência. 





... 

Marcelo Cirino. 

Veio com enorme expectativa. Custou uma fortuna a um grupo de investidores que o repassou ao Flamengo. 

Da forma como tem jogado desde que chegou ao clube, ele está se tornando uma bomba relógio, com data e hora para explodir. 

A sua atuação diante do Santa Cruz foi lamentável. Mais uma, dentre muitas. 

Para o Flamengo seria muito interessante negociá-lo o quanto antes e livrar-se da responsabilidade de pagar milhões pelos seus direitos econômicos. 

Mas com a bolinha que ele vem jogando, vai ser difícil. 

Será uma tarefa hercúlea, digna de um super-herói, negociar o Cirino. 

... 


O Willian Arão e o Muralha já são o oposto. 

Chegaram, não se assustaram com a grandeza do Flamengo e tomaram conta das suas respectivas posições. 

Foram, na minha modesta opinião, os destaques da vitória de quarta-feira. 

Aliás, eles têm mantido boas atuações com regularidade. 

Duas ótimas contratações da diretoria.





... 


Abraços e Saudações Rubro-Negras a todos. 

Uma vez Flamengo, sempre Flamengo. 

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Flamengo 1 x 0 Santa Cruz - O recuo

Willian Arão - O destaque

E o Flamengo saiu do estádio do Arruda com mais três pontos na carteira. Que é que vale. Sem espetáculo. Aliás, quer ver espetáculo vá ao Teatro Municipal, não o Flamengo de Zé Ricardo. Um técnico interino que vem organizando taticamente o time do Flamengo, embora escolhendo, ao meu ver, mal o esquema tático e o elenco a aplicá-lo. Coincidentemente ou não, é o mesmo time que seu auxiliar técnico Jayme, mais experiente e com voz ativa a nível desconhecido mas potencialmente perigosa,  infelizmente colocaria em campo.

O Primeiro tempo, apesar do gol e de algumas oportunidades que o Flamengo fez questão de isolar, foi bem ruim. Rodinei, péssimo, distraído, junto com Cirino que errava todos os lances. Jorge e Everton competiam, pelo outro lado do campo, qual era pior dupla. Displicência, erros em série de posicionamento e erros de passe. Na frente Vizeu literalmente sumiu. Sua função deve ser tática ("Prende os zagueiros deles quando tiverem atacando!") e só. No meio, Marcio Araújo no seu usual desfile de mediocridade em campo.  Não se posicionava nunca para uma transição rápida para frente. Flamengo excessivamente dependente do tirocínio do Arão e da visão de jogo do Alan Patrick que distribuía bons passes na meia, embora com aproveitamento ruim dos jogadores do Flamengo.

Santa Cruz, então, mesmo com elenco tecnicamente inferior, avançou bem suas linhas do meio para o fim do primeiro tempo, e teve predomínio do jogo, chegando com muita facilidade ao gol do Muralha, que fez, mais uma vez, uma ótima partida. Flamengo, muito desorganizado, lembrava bem aqueles momentos fúnebres sob a direção do Jayme. Mas saiu ganhando no primeiro tempo, graças ao belo gol do Arão, em chute de longa distância pegando o goleiro adiantado. Deve ter sido o único chute que foi pro gol que o Flamengo deu em toda partida.

No segundo tempo, Flamengo acertou a marcação pelas laterais, mas não a falta de inteligência de jogada de ataque pelas pontas. Até porque com Everton e Cirino não se deve ter grandes esperanças. Santa Cruz passou a ir pro ataque, ,estava perdendo e o Zé Ricardo substituiu Vizeu pelo Cuellar, garantindo assim, mais marcação pelo meio e ganhando também mais um para se posicionar e fazer transição. O problema é que o ataque continuava nulo com nossos pontas que não funcionam. Santa Cruz passou a pressionar, mas, da forma "arame liso", cercando sem machucar, sem criar grandes chances de gol. Flamengo, vivendo perigosamente, atraía o adversário para seu setor defensivo para poder armar contra-ataques que só existiam no mundo das idéias. Zé Ricardo, portanto, mostrou-se um aprendiz de técnicos com este perfil do "1x0 é goleada". Um Zagalo redivivo. Muricy. Joel. Enfim, ao menos no segundo tempo viu-se um setor defensivo organizado, bem arrumado. Rodinei e Jorge se encontraram e o meio deixou de ser a peneira que o Santa Cruz atravessava. 

Mas, ironicamente, acabou que a melhor chance de gol do segundo tempo veio de uma falha do Cuellar, o tão lastimado como reserva do controvertido Marcio Araujo. Cuellar vacilou em um lance, e o atacante do Santa Cruz recuperou a bola e avançou livre para grande defesa do Muralha. Mostrando o quanto perdemos com um goleiro bem fraco como Paulo Vitor no gol. Espero que seja efetivado como reserva. Mas Zé Ricardo sinalizou que o pode colocar em breve como titular. Para os que se espantam com este absurdo  lembrem-se que seu auxiliar é o Jayme. Esperem sempre o pior.

Enfim, quanto a ainda interinidade do Zé Ricardo, concordo com ela. Mostrou que falta muito a ele ainda para fazer do Flamengo um time à altura do potencial do elenco. Embora, claro, haja melhores sensíveis em relação a terra arrasada encontrada antes dele. Mas no momento me parece que conseguiria fazer do time qualificado, ao final do campeonato, para estar ali pelo G8, G10. Melhor que estaria com Muricy? Sem dúvida. Mas para mim com um técnico bom e experiente poderíamos sim conseguir G4, classificando-se para a Libertadores.





  

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Santa Cruz x Flamengo



Campeonato Brasileiro 2016 - Série A - 10ª Rodada

Santa Cruz - Tiago Cardoso, Vitor, Alemão, Danny Morais e Tiago Costa; João Paulo, Leandrinho, Lelê e Arthur; Keno e Grafite. Técnico - Milton Mendes.

FLAMENGO: Muralha; Rodinei, Rever, Rafael Vaz e Jorge; MárciAraujo, Willian Arão e AlaPatrick; Marcelo Cirino, FelipVizeEverton. Técnico: Zé Ricardo - interino.

Data, Local e Horário: Quarta-feira, 22 de Junho de 2016, as 21:00h (USA/ET 20:00h), no Estádio José do Rego Maciel ou "Arruda" ou "Colosso do Arruda" ou "Mundão do Arruda, em Recife/PE.

Arbitragem - Wagner Reway (ASP/FIFA/MT), auxiliado por Eduardo Gonçalves da Cruz (FIFA/MS) e Fabio Rodrigo Rubinho (ASP/FIFA/MT). Quarto Árbitro: Gilberto Rodrigues Castro Junior (ASP/FIFA/PE).


Alfarrábios do Melo

O prejuízo parece incalculável.

Com o retorno de Zico, o Flamengo monta um dos mais caros elencos da América do Sul. Um plantel que, para se tornar viável, precisa de grandes jogos, grandes arrecadações, grandes conquistas.

No entanto, em vez de um Maracanã com 100 mil numa Semifinal de Brasileiro, o lodoso gramado da gelada Blumenau. Amistoso caça-níqueis catado de urgência.

Não sem responsáveis.

A culpa recai sobre o o treinador Zagalo, que teria subestimado os adversários de um grupo teoricamente fraco. O Bahia, único oponente razoavelmente respeitado, foi inapelavelmente batido no Maracanã (3-0), e se pensou que tudo estaria resolvido. Aí veio Pelotas. E a tragédia.

As vozes pela demissão do Lobo já são estridentes. Parte da diretoria não digeriu a hesitação do experiente treinador quando sondado para treinar a Seleção Brasileira. Outros já enxergam que o time não joga com a mesma motivação e alegria de outrora. A gota d'água é a eliminação do Brasileiro. Irritada, a diretoria transmite a Zagalo a exigência de montar e entrosar a equipe nos amistosos pelo Brasil. No entanto, um time desmotivado é derrotado em Blumenau (0-1). Zagalo é avisado que seu cargo está por um fio. Cria-se a bizarra obrigação de vencer o periférico Juventus de Rio do Sul para que o emprego de Zagalo seja mantido. O Flamengo joga bem, faz 5-0, mas Zagalo volta ao Rio e avisa ao Presidente George Helal que está fora. O Lobo, brioso e experiente, antecipa o inevitável e pede demissão.

A saída de Zagalo encerra uma contradição. Após a perda da vaga no Brasileiro, Helal chamara a imprensa para avisar, com todos os efes e erres, que estaria a partir de então assumindo a responsabilidade “única e indelegável” pelo futebol. “A partir de agora, sou o presidente, o vice e o diretor de futebol do Flamengo”. No entanto, o responsável “indelegável” declara ter sido “voto vencido” na demissão do Lobo. Os desavisados não entendem.

O Flamengo segue em seus delírios de fartura. Cogita contratar Éder, Renato Gaúcho, Marinho (Bangu). Negocia a troca de Serginho Chulapa pelo centroavante Chiquinho (que, apesar do mau desmpenho na Gávea, possui prestígio no futebol paulista). Transações que não são levadas adiante por falta de perspectivas financeiras. O segundo semestre acena com um Estadual provavelmente deficitário e mais nada. A realidade impõe se desfazer do caro e problemático Fillol (que falhou nos dois gols em Pelotas), vendido ao Atlético Madrid.

Para substituir Zagalo, o Flamengo vai atrás de Ênio Andrade, que acaba de ganhar o Brasileiro pelo Coritiba. Experiente e vencedor no futebol do Sul do país, Ênio é visto com reservas, pois costuma montar sólidos esquemas defensivos e atuar em contragolpes, um sistema de jogo com o qual o Flamengo não está habituado. Ainda assim, Ênio parece seduzido e sinaliza positivamente à sondagem do rubro-negro. Deixa-se fotografar e manifesta simpatia à ideia de dirigir o rubro-negro, “um caminho curto para uma Seleção Brasileira”. Já sinaliza a intenção de contratar o volante Renê, do Fluminense. A diretoria já dá a chegada de Ênio como certa. No entanto, após uma reunião com o Coritiba, Ênio Andrade desiste e recusa a proposta oficial que lhe chega. Vai permanecer em Curitiba. “Ele tem receio de trabalhar no eixo Rio-São Paulo, já fez isso com o Palmeiras outro dia”, resmunga um diretor flamengo.

Sem o campeão brasileiro, a diretoria age rápido e de imediato anuncia Edu Antunes. O “irmão de Zico” é o novo treinador do Flamengo.

Reduzir Edu à pecha de “irmão de Zico” soa simplista, raso, pela intensa luz própria de seu currículo. Como jogador, construiu uma carreira brilhante em um América que disputava títulos contra os melhores do país. Virou ídolo e um dos maiores atletas da história do clube rubro. Após parar, tornou-se treinador. Novamente no América, conquistou a Taça Rio de 1982, o último troféu de expressão da história americana. Revelou nomes como o lateral Jorginho. Montou um time veloz, compacto e de futebol vistoso, ofensivo. Chamou a atenção do Vasco, para onde se transferiu em 1984. Com um time leve, de um ataque devastador, chegou ao Vice Brasileiro, o que lhe abriu caminho para uma experiência na Seleção Brasileira onde, ainda imaturo, não foi bem. Agora, Edu chega ao Flamengo com o objetivo de implantar na Gávea o mesmo futebol bonito e alegre que pontuou sua carreira. E que “casa” de modo perfeito com o rubro-negro.

A confirmação do nome de Edu faz Helal, principal entusiasta da contratação, exultar. Em tom quase eufórico, chega a declarar: “foi até bom o Ênio não ter aceitado, acho que estamos melhor servidos agora”. Edu recebe a imprensa em sua casa e, visivelmente motivado, profere longas palestras expondo suas ideias, do que pretende fazer no time, da intenção de recuperar jogadores em má fase, como Adílio e Tita, de fixar de vez Bebeto no comando do ataque (aproveitando ideia inicial de Zagalo), “imaginem uma dupla com Zico e Bebeto”. O contrato é de seis meses, o que o motiva. “O bônus de desempenho é minha permanência aqui. Sinto-me desafiado, e isso me anima”.

Cai a tarde.
Vultos. Muros. Latas de spray. Pichações. Barulho, muito barulho. Fogos. Pedras na vidraça.

Os muros da Gávea estão emporcalhados e rabiscados com mensagens enfáticas. “EDU NÃO”. “FORA EDU”. “EDU É DERROTA”. “EDU VASCAÍNO”. “MARAJÁ”.

Com rapidez impressionante, surgem câmeras por todo lado. O protesto é fartamente documentado. Vai pro Jornal Nacional, que dá duas linhas sobre a contratação de Edu e longos minutos sobre o protesto. Torcedores são entrevistados falando mal de Edu. A Rádio Globo, em seus plantões, bombardeia a contratação de Edu. Mais torcedores aparecem criticando. “A diretoria insiste em trazer um treinador que é repelido pela torcida”.

A madrugada será o bálsamo de merecido repouso. Para alguns.

Manhãzinha. Telefones badalam estridentes. Reunião de emergência é marcada. Mais tumulto à vista.
Edu Antunes avisa ao Flamengo que desiste de ser seu treinador. Assusta-se com a repercussão negativa e resolve aceitar uma proposta, que já havia recusado mas ainda não fora retirada, para dirigir a Seleção do Iraque. Para o lugar do “irmão de Zico” assumirá o auxiliar Joubert Meira, que irá para sua terceira passagem no clube.

A recusa de Edu é uma derrota de Helal, que bancara e insistira na opção, apesar de seus evidentes riscos. Helal robustecera-se com a bem sucedida operação de repatriamento de Zico e vinha ganhando uma musculatura já tida como incômoda mesmo por seus pares. Muitos conselheiros e mesmo diretores não digerem bem o estilo personalista e impulsivo de Helal e se irritam quando o Presidente insiste na ideia de contratar um profissional tão ligado a Zico, seu principal trunfo político. Soltam muxoxos junto a jornalistas amigos, falando que Edu é uma “armação de Zico”, que “Zico vai mandar e desmandar na Gávea”, entre outras ilações. Atacando Zico, mina-se Helal.

E há um elemento relevante. A Globo, irritada por ter sido preterida pela Rede Manchete na cobertura do processo de retorno do Galinho, mantém linha editorial bastante crítica em relação ao jogador. Conseguiu emplacar o folclórico Jacozinho no amistoso festivo do Galinho, atrapalhando e ofuscando o evento. No dia da eliminação do Flamengo no Brasileiro, ostentou uma gigantesca foto no jornal mostrando um Zico cabisbaixo e de joelhos. No cotidiano, tem amplificado algumas declarações mais críticas do Galinho, elevando a manchetes que podem trazer potencial teor polêmico.

E a Globo dá especial atenção à reação contra a vinda de Edu. Reverbera em tom talvez desproporcional, em tevê, em rádio. Há uma ênfase em cravar que o “irmão de Zico” não serve para o Flamengo, que se tornará uma “bagunça” e “refém” de um jogador. Fala-se em “pisar na história do clube”.

No dia seguinte, os jornais afirmam que “a torcida não deixou Edu assumir”. Ironicamente, a mesma (a mesma?) torcida que, pouco mais de uma semana antes, havia brindado o Maracanã com o coro de “Eduuuu, Eduuu, Eduuu”, no final do jogo em que o Flamengo empatara com o Ceará (2-2) pelo Brasileiro. O que teria mudado desde então? Talvez o fato de que a manifestação do estádio tenha sido espontânea.

E assim Edu Antunes ganha o caminho do Oriente Médio. Irá assumir a Seleção do Iraque. Em um bom trabalho, logrará classificar os iraquianos para a Copa do Mundo de 1986, feito inédito na história do país. No entanto, durante a preparação para o Mundial, o Iraque virá ao Rio de Janeiro disputar um amistoso com o Flamengo (Fla 3-1, Maracanã). Em um dia de folga, alguns jogadores se renderão aos encantos da noite carioca, sem saber que estão sendo seguidos e fotografados. O escândalo disso decorrente derrubará toda a comissão técnica, Edu inclusive. Após a passagem pela Seleção iraquiana, Edu ainda seguirá sua carreira, mas jamais tornará a ser protagonista em nível nacional.

Joubert assumirá o Flamengo com um dos mais duros discursos registrados por um treinador recém-contratado. Defende que “a partir de agora, todos os onze precisam correr e marcar”, “futebol mudou, precisa de transpiração. Talento é dispensável”, “jogador precisa do corpo, não pode ir a teatro, restaurante. Não pode ter vida social”, entre outras posições, no mínimo, controversas.

Não durará muito.

É bem verdade que seu trabalho será prejudicado por sérias baixas. Zico será abatido a patadas já no segundo jogo da Taça Guanabara. Tita será negociado, reposto por Sócrates (derradeira extravagância da diretoria). Mas o Doutor sequer estreará. Adílio e Mozer também sofrerão com contusões. Mas o time, sem alegria, submetido a um regime quase marcial, irá se arrastar em campo em um futebol pobre e absolutamente sem imaginação. Joubert arrumará problemas com jogadores, imprensa e mesmo a torcida. E, após uma humilhante goleada para o Vasco, encerrará melancolicamente sua passagem pelo Flamengo, entregando o time na quarta posição do turno.

Tal como no episódio de Edu, a “torcida” terá papel relevante e mesmo decisivo como instrumento de pressão. A partir desses casos, a “torcida” perceberá que o uso de uma linguagem assertiva, agressiva e mesmo violenta poderá render dividendos. Será estimulada. Financiada. Crescerá.

E será uma personagem cada vez mais ativa na política do clube.


Talvez ativa demais.


terça-feira, 21 de junho de 2016

"O Basquete do Flamengo Agradece – 6"

Desculpem-me pela demora!
O post de hoje é a carta de Alexandre Póvoa, nosso VP de Esportes Olímpicos. Não será a primeira vez que isso acontece, e espero que não seja a ultima. Obrigado ao Basquete do Flamengo, "o" Flamengo que "dá certo", que trabalha que luta e que consegue, mesmo com todas as adversidades possíveis, realiza.
Agradeço ao André Amaral, parceiro de longa data pela gentileza.

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"O Basquete do Flamengo agradece – 6"

E saiu a sexta edição da carta "O Basquete do Flamengo agradece", pelo vice-presidente de esportes olímpicos do Flamengo, Alexandre Póvoa.

A primeira foi pelo título do NBB 2013. 
A segunda foi pelo título da Liga das Américas em 2014
A terceira foi pelo bicampeonato do NBB em 2014
A quarta foi pelo histórico título Mundial em 2015
A quinta foi pelo tricampeonato do NBB em 2015

Eis que temos agora a sexta carta dessa trajetória incrível que o basquete Rubro Negro alcançou:

Caros amigos rubro-negros,

O “Orgulho da Nação” - O raro tetracampeonato - Ufa, dessa vez foi duríssimo. Muitos disseram que o NBB8 representou a conquista nacional mais difícil de todos os seis campeonatos nacionais que já vencemos na nossa história.  Apesar de cada “caneco” ter sabor único e diferente, certamente, dentro e fora da quadra, as dificuldades para vencer foram mais agudas do que nos anos anteriores.

Apesar da apresentação de gala no jogo 5 da final, com uma vitória incontestável (100 x 66) contra Bauru, sofremos muito em duas séries de playoff – semifinais e finais – com vitórias de 3x2. A diferença para os nossos adversários foi bem mais estreita nessa temporada, o que valoriza em muito a nossa vitória. Além disso, o passado comprova como é rara a ocorrência de tetracampeonatos consecutivos em esportes coletivos em alto nível. O futebol do Flamengo, historicamente, sempre parou em tricampeonatos. Apenas para reforçar o ponto (e guardando todas as devidas proporções), na era moderna nunca uma equipe passou de um tricampeonato seguido na NBA (Chicago Bulls e Los Angeles Lakers foram os exemplos mais recentes). Em todos os tempos, somente o lendário esquadrão do Boston Celtics ultrapassou essa barreira, conseguindo um incrível octacampeonato na década de 60. Para quem vence todo ano, há o natural desgaste interno a ser bem administrado e o nível de motivação deve ser estimulado o tempo todo. Já as forças externas que, intencionalmente ou não, passam a não aceitar mais a hegemonia avassaladora, devem ser neutralizadas.

Em tempo, o Flamengo é seis vezes campeão brasileiro de basquete de forma alternada (cinco vezes da NBB).  Essa história é linda, ninguém nos tira. Só ressalto a especial extrema dificuldade de se ganhar campeonatos de forma seguida.


Agradecimentos especiais: Nossos agradecimentos aos nossos patrocinadores da temporada – Governo do Estado Rio de Janeiro (Lei de Incentivo de ICMS), TIM, Sky e Estácio. Obrigado por acreditarem no nosso trabalho e esperamos ter feito jus à confiança de nossa parceria. Sem vocês, não teríamos chegado a lugar nenhum. Tão ou mais importante, nossas palmas e parabéns à Nação Rubro-Negra, a maior torcida do mundo, que tanto nos ajudou em plena sinergia com o “Orgulho da Nação”.

Parabéns à comissão técnica e aos atletas que, apesar de todas as dificuldades internas como time e externas (todas as forças querendo nos vencer), souberam juntar tática, técnica e o peso da camisa rubro-negra para tornar o Flamengo tetracampeão (consecutivo) brasileiro de basquetebol.


O desabafo contra a autofagia rubro-negra - Peço licença para começar com um desabafo.

O Flamengo, que foi o meu segundo lar na minha formação de atleta, é aquele de sábado, multicampeão, o Orgulho da Nação, unido e forte. O clube que todos respeitam e o arco-íris inveja. Moderno sim, mas sem jamais deixar de olhar para o passado e suas raízes. Responsável financeiramente sim, mas sem jamais deixar de respeitar nosso maior ativo, que é a nossa torcida e contar com ela integralmente nos momentos mais decisivos.

O Flamengo unido, respeitando esses princípios e com sinergia dentro e fora das arenas esportivas, é uma força da natureza difícil de ser batida.

O Flamengo é campeão de novo, contra tudo e contra todos, para mim é o que importa. Obrigado a todos que ajudaram, da sua maneira, nessa e trajetória vitoriosa .

Em junho/13, escrevi orgulhosamente uma primeira carta aos rubro-negros (“O Basquete do Flamengo agradece”), comemorando a conquista do título do NBB 5, em uma decisão contra o Uberlândia, o começo dessa linda trajetória dos últimos quatro anos. Lembro-me que à época, alguns oportunistas de plantão, preocupadíssimos mais com o poder do que com o Flamengo, questionavam de forma até agressiva o mérito dos dirigentes, afirmando que “o título, na verdade, pertencia à diretoria anterior”.  Apesar de aquelas afirmações desconhecerem completamente as demandas para um trabalho vencedor em esportes coletivos, na ocasião, respondi com outra pergunta: Que diferença faz? O Flamengo é campeão brasileiro de basquete, todos os rubro-negros têm a sua cota de participação!

Desde então:
 - Março/14, nossa grande vitória na Liga das Américas na final contra o Pinheiros (“O Basquete do Flamengo agradece – Parte 2”).

- Maio/2014, comemoramos juntos o bicampeonato nacional consecutivo – NBB 6 – na final contra o Paulistano (“O Basquete do Flamengo agradece – Parte 3”).

- Setembro/2014, contamos a maior conquista de todas as modalidades do clube no século XXI, repetindo Tóquio/1981: o Flamengo simplesmente Campeão Mundial de basquete, em uma final épica contra o Maccabi Tel Aviv (O Basquete do Flamengo Agradece – Parte 4 - Flamengo Campeão do Mundo).

- Maio/2015, falamos dos bastidores do tricampeonato nacional seguido (NBB7), conquistado em cima de Bauru (“O Basquete do Flamengo agradece – Parte 5”).

 Pois é. 42 meses se passaram desde que iniciamos essa jornada frente ao basquete do Flamengo. Treze competições disputadas, dez títulos, a nível estadual, nacional, continental e mundial.  Fomos juntos com a mesma comissão técnica e aproximadamente 40 atletas vestiram o Manto Sagrado. Apenas quatro deles são tetracampeões nacionais consecutivos, nosso capitão Marcelinho, Marquinhos, Olivinha e Gegê.  Em 2013, a realidade apontava para três meses de salários atrasados (para todos) e alguns outros atletas com dívidas que ultrapassavam a fronteira de três temporadas. Encontramos um grupo inseguro e sem a cultura da vitória.

Na realidade atual, pagaremos até o final do mês a sexta premiação devida em quatro anos e então estaremos 100% quites com todos. Em meados de 2016, não haverá mais dívidas do Flamengo com jogadores de basquete e os nossos lucros e dividendos terão sido convertidos em conquistas e alegrias para a nossa torcida.

Mesmo assim, infelizmente, na véspera da final e durante essa semana voltei a escutar alguns comentários dos quais custo a acreditar que tenham vindo de verdadeiros rubro-negros: “Esse título é azul, verde, branco, do patrocinador, técnico ou dirigente A, B ou C”. Quase quatro anos depois, tendo passado todo tipo de dificuldade e emoção, com o coração explodindo de felicidade, só há uma resposta:  Que diferença faz? O Flamengo é TETRAcampeão brasileiro de basquete, todos os rubro-negros têm a sua cota de participação!

Esse desabafo inicial se encerra, enfatizando que a parte mais triste desse meu período de Vice-Presidente do C.R. Flamengo foi conhecer por dentro a chamada autofagia rubro-negra. Sem medo de errar, digo hoje que muitas pessoas “são mais rubro-negras quando estão no poder ou quando estão avidamente à busca dele”; ou que “muitos estranhamente são muito mais rubro-negros nas vitórias do que nas derrotas, quando o verdadeiro sentido de amor ao clube deveria se expressar no caminho inverso”. Posturas mesquinhas e egoístas, de anti-rubronegrismo explícito, só destroem o Flamengo. 

Até quando as pessoas vão ignorar o fato de que o Flamengo organizado, unido e em sinergia com a sua torcida, torna-se quase invencível?  Paciência, a função do grande rubro-negro é dar sua parcela de contribuição (seja de que forma e tamanho for) na construção de um grande clube na acepção do Flamengo – único, multiesportivo, indivisível no futebol, esportes olímpicos e parte social. Que guerras políticas nascidas de interesses menores fiquem longe desse compromisso inegociável com a vitória do Flamengo.

Escrevo essas cartas com prazer, mas também por obrigação.  Todo dirigente amador do Flamengo deve ser a voz da Nação Rubro-Negra dentro do respectivo campo de atuação. Nessas nossas passagens efêmeras, devemos prestar contas de forma transparente, acertando ou errando estamos todos do mesmo lado.


A importância da formação do elenco em esportes coletivos - Falemos então sobre o tetracampeonato brasileiro seguido (NBB 7), o quinto título de NBBs do Flamengo - o maior vencedor da história da competição. O ano começou diferente, perdemos quatro jogadores importantes da nossa equipe campeã mundial do ano anterior. Duas perdas eram esperadas – dos craques argentinos Nico e Herrmann – mas as saídas do Vítor Benite (no último dia da janela de transferências) e do Cristiano Felício (confirmada somente em outubro - aplausos para um querido rubro-negro que terminou o ano arrebentando na NBA) atrapalharam demais o planejamento. Adicionalmente, perdemos o reforço do atleta Humberto do Pinheiros, já acertado, por questões alheias à nossa vontade. Para completar, a economia em frangalhos fez o dólar disparar, afastando algumas alternativas de atletas estrangeiros para reposição em alto nível.

Um dos segredos do sucesso do basquete do Flamengo é que, apesar de termos a mesma competente comissão técnica há quatro anos, não existe a figura do “super-técnico” ou do “super-dirigente ou VP” com “poderes divinos”. A decisão de formação de elenco é largamente discutida, compartilhada, nem sempre unânime. Porém, quando alguém é voto vencido, compra a ideia do mesmo jeito e vamos até o fim juntos. Evidentemente, nunca um atleta será imposto à revelia da vontade do técnico; mas a recíproca também é verdadeira e a diretoria tem sempre o poder de veto.

Dado que dificilmente iríamos conseguir soluções à altura para as perdas no mercado nacional (todos já estavam sob contrato) ou internacional (dólar caro), resolvemos em conjunto mudar a estratégia: Buscar uma equipe com mais rotação e defesa mais forte, um estilo mais “europeu”. Essa passou a ser a nova filosofia para a formação do elenco, materializada com a chegada do JP Batista, Rafael Mineiro, Rafa Luz e Jason Robinson.


NBA , Carioca e começo da NBB, bom início de temporada  -  A trajetória começou com o primeiro jogo de pré-temporada de uma equipe da NBA (Orlando Magic) contra uma equipe local em território latino-americano. Fizemos história novamente, enorme orgulho! Porém, apesar do caráter amistoso da partida, era fundamental, para o projeto de basquete do Flamengo, nos sairmos bem tanto dentro como fora da quadra. Nas arquibancadas, uma festa grandiosa; dentro da quadra, nosso time completamente desentrosado e em começo de trabalho, contra uma franquia de NBA, cuja distância é grande para qualquer outra do mundo. Tomamos um susto no começo do jogo com a diferença dilatada no placar, mas o resultado final – 90 x 73 – acabou sendo honroso. Permanece aqui uma meta, um desafio do qual nenhum rubro-negro deve desistir: Depois de termos entrado no cenário internacional do basquete, um dia vamos vencer uma equipe de NBA em uma pré-temporada. É possível, precisamos sonhar sempre.

Ganhamos, por obrigação, o Campeonato Carioca (hendecacampeonato) e a equipe começou bem o NBB (chegamos a ganhar com tranquilidade do Bauru no Rio). Porém, a partir da virada do ano, começamos a cair de rendimento, alternando bons e maus momentos. A irregularidade não fazia parte do projeto desse time, mas foi a marca que, infelizmente, nos perseguiria até o final do campeonato.

Sempre digo que, ao contrário do senso comum em “time que está ganhando evidentemente pode-se e deve-se mexer, se o resultado final for a correção de equívocos e/ou a evolução”. Isso independe da equipe ter sido campeã ou não. Um trabalho de longo prazo racional busca uma melhora constante do elenco (dentro das condições financeiras) para a temporada seguinte.

Da mesma forma, às vezes o planejamento da equipe é 100% atingido dentro da quadra, mas outra equipe pode ter méritos maiores para ganhar determinado campeonato. Não haveria razões, então, para grandes mudanças.


A Liga das Américas – a vergonha da derrota e as lições aprendidas - Aliás, no meio da temporada, conseguimos corrigir parte dos equívocos na formação da equipe com a contratação providencial do Ronald Ramon, às vésperas da Liga das Américas. Detalhe, quando contatamos o Ramón, ele já havia acertado com uma equipe venezuelana, mas não havia ainda assinado. Voltou atrás na hora, mostrando como hoje jogar no Flamengo virou o objetivo de muitos atletas.  Aliás, nesse aspecto, mais uma vez o nosso planejamento funcionou: Sempre deixar uma vaga de estrangeiro em aberto para a substituição de atletas contundidos e/ou corrigir algum defeito de DNA na formação da equipe. Aconteceu com o Bruno Zanotti na contusão do Marcelinho; do Tony Washam, na contusão do Benite e, finalmente, agora com um a contratação do Ronald Ramon para suprir uma lacuna tática/técnica. Naquele momento, prevalecia o diagnostico de problemas na nossa armação e na posição 2. Fomos cirúrgicos e tempo nos deu razão; ali começávamos a ganhar o NBB.

Infelizmente, o maior trauma ocorreu na Liga das Américas. Muito desgaste físico, viagens e jogos em lugares distantes como Cidade do Panamá e a “inacreditável” Barquisimeto (pelo momento econômico/político terrível que passa a Venezuela) fizeram parte de nossa rotina. Nas duas primeiras fases, vivemos a incrível irregularidade da nossa equipe, que não conseguia manter um mínimo de estabilidade dentro das próprias partidas. Na fase semifinal, chegamos a estar perdendo de 30 pontos para o time de Barquisimeto - Guaros de Lara - para depois nos recuperarmos.

Em tempo e para fechar definitivamente a página de um assunto desagradável: Foi terminantemente proibida pela diretoria (explicitamente falado na preleção) qualquer discussão ou tentativa, dentro da quadra, de “escolher o adversário” no Final Four, atitude muito feia para oesporte (mais comum que as pessoas imaginam) e que foi tomada pelo time da casa ao errar grosseiramente um lance livre ao final da partida, com o objetivo de cruzar intencionalmente com Mogi, ao invés de Bauru.

O pior ainda estaria por vir, naquela derrota humilhante na semifinal diante de Bauru, quando tomamos uma virada inaceitável, quando vencíamos de 17 pontos a 6 minutos do fim. Não adianta tentar explicar o inexplicável, aquele pesadelo não teve uma justificativa razoável que não fosse os nossos próprios erros. O clima no vestiário e no hotel após a partida ficou pesadíssimo.

Lembro-me que, naquela noite, me encontrei com o jogador Jefferson do Bauru no elevador do hotel, que me disse: “Póvoa, já tínhamos jogado a toalha, inclusive o treinador havia tirado o Alex do jogo e pedido para a equipe apenas fazer um bom final de partida. Deu tudo certo.”

Voltamos ao Brasil e eu, literalmente envergonhado, tomei, imediatamente, duas providências: Primeiro, mandar uma carta de pedido de desculpas à torcida em Março/16 – “o Basquete do Flamengo pede desculpas”. Nada mais que a obrigação, perder faz parte do jogo, mas a forma que aconteceu estava longe de ser normal e exigia uma retratação imediata.

A segunda atitude foi reunir a Comissão Técnica para, de um lado, dar o nosso apoio; porém, do outro, fizemos fortes cobranças, dando carta branca e respaldo para qualquer mudança ou atitude necessária.

Já de volta ao Brasil, fizemos talvez a mais dura reunião com o grupo desses últimos quatro anos. Muita roupa suja lavada e a mensagem clara de que a diretoria estava bastante insatisfeita com o ocorrido e com a temporada. O jogo seguinte foi contra Brasília e, mais uma vez, nos desconcentramos ao final da partida e perdemos em casa. Ali, o fundo do poço foi atingido, até com demonstração rara de descontentamento da própria torcida. Mas os bons gestores e atletas vencedores transformam limões em limonadas.


De volta a NBB – Semifinal contra Mogi – Continuamos muito irregulares no restante do NBB (reuniões e mais reuniões com o grupo...), mas conseguimos alcançar o importante objetivo do primeiro lugar da fase de classificação, que nos deu a vantagem de decidirmos sempre em casa. Atuamos relativamente bem (nunca brilhantes na verdade) no playoff (3x0) contra Rio Claro nas quartas-de-final.

Já na semifinal duríssima contra Mogi, mais uma derrota em casa e chegamos ao jogo 4 com uma desvantagem de 2x1. Já fomos diversas vezes jogar em Mogi das Cruzes, mas nunca vi uma pressão tão grande por lá fora da quadra como naquele dia.  Nossa delegação foi ameaçada pela torcida adversária na chegada e na saída do ginásio e recebemos cusparadas dentro da quadra na   passagem para os vestiários. Os juízes, pressionados, fizeram uma “arbitragem caseira” no segundo tempo, o que quase nos eliminou do NBB8. Na saída, após nossa vitória, comentaristas da televisão foram ameaçados e carros dos juízes depredados. Tivemos que ser escoltados até a saída da cidade, parecia filme. O time se comportou bem e mereceu todos os aplausos naquele dia do primeiro “match point contra” que tivemos Nos últimos quatro anos na NBB.

Enviamos uma Nota de Protesto imediatamente na Segunda-Feira seguinte para a Liga Nacional de Basquete, mas o clima estava totalmente hostil ao Flamengo de todos os lados, também nos gabinetes. Reforçando, hoje entendo porque a transição de um tricampeonato para um tetra é tão difícil, o clima contra a “equipe a ser batida” torna-se quase insuportável.  Vencemos quinto jogo no Rio em um confronto duríssimo.


A grande final contra Bauru, melhor de 5

Arena Carioca 2 - Antes de falar da partida, o processo de negociação para jogar na Arena 2 não foi fácil. A Arena 1 – maior e que será usada pelo basquete nos Jogos Olímpicos - estaria ocupada em algumas datas pelo Grand Prix e Liga Mundial de Vôlei. O ginásio que usamos só oferecia o espaço de alto nível (quadra, arquibancadas e vestiários), mas não possuía os requisitos básicos - sistema de segurança, limpeza, bilheteria, alimentação, enfim, absolutamente nada de infraestrutura. Apesar da boa vontade do Comitê da Rio-2016, o custo total para realizar os jogos acabou sendo bem maior do que nossas experiências anteriores no HSBC Arena e no Maracanãzinho (pelo menos cinco vezes maior do que os valores especulados pela imprensa). Foi até engraçado ver o Prefeito do Rio exaltar o uso da Arena Carioca 2 pelo Flamengo como inicio do legado para a cidade (aliás, prefeito, e a Arena Mc Donald´s ?). Espero sinceramente, como brasileiro e carioca, que o legado pós-jogos fique bem mais acessível para a população e para os clubes do Rio e não seja o vexame que foi o “não-legado” do Pan Americano, dado os equipamentos, construídos com dinheiro público, foram arrendados para entes privados.  Mas a ótima noticia é que a torcida do Flamengo comprou o barulho e tivemos um bom lucro nos três jogos, que vai nos ajudar a pagar a premiação.

Início da série, Jogo 3 e jogo 4 contra Bauru , a famosa “bola presa” e o choque elétrico – Quando vencemos o primeiro jogo em Marília, instalou-se um clima de “oba-oba” típico de quem conhece a história do Flamengo, quando instala-se um clima de euforia acerca da ilusão de que as competições já estão ganhas. Lembro-me que cheguei a um treino na segunda-feira e vi os atletas dando entrevistas a rodo e tirando “selfies”. Chamei todos para uma conversa fechada no vestiário e alertei para a necessária postura dado que, todos nós, ainda éramos devedores no ano, sobretudo pela derrota na Liga das Américas e atuações irregulares. Adicionalmente, perguntei se eles conheciam a história trágica do Flamengo em situações semelhantes (Santo André, América do México, entre outros menos famosos). Já sabedor das características do nosso time, sabia que dificilmente venceríamos por 3x0 a série.

Não deu outra, perdemos o jogo 2, em casa, sendo muito irregulares novamente. Veio o Jogo 3 e aquela celeuma da bola presa, que criou um espetáculo bizarro de reclamação e protesto, a partir de uma conveniente memória seletiva: “Esqueceram” que no lance imediatamente anterior consistiu em uma falta escandalosa do Alex no Ramon; “esqueceram” que há diversos erros de arbitragem em um jogo de basquete (naquele dia, houve vários contra o Flamengo) e não é somente um que decide uma partida isoladamente; e, por fim, “esqueceram” que o Bauru teve a bola nas mãos para decidir a partida e fracassou. Beirou o ridículo o desconhecimento de basquete, a “greve de entrevistas” de Bauru e a campanha (não intencional, mas claramente sensacionalista) da imprensa e de blogs especializados tirando os méritos do Flamengo e focando toda a análise do jogo na “bola presa”. Se o objetivo era criar um clima hostil em Marília, conseguiram, resultando até em choque elétrico dado por um segurança em nosso fisioterapeuta. Mas o Flamengo nunca colocará culpa em terceiros pelos seus problemas. Jogamos muito mal, fomos dominados por Bauru, que mereceu a vitória.

Julgamento do jogo 4 contra Mogi na mesma semana - Na semana anterior ao jogo 4 de Bauru, poucos souberam que foram levados ao tribunal da LNB o pessoal de Mogi (técnico e dirigentes) pelas confusões da semifinal jogo 4 em Mogi das Cruzes e Alexandre Póvoa, do Flamengo, porque reclamou veementemente depois do jogo com os delegados da partida sobre todos os absurdos aos quais nosso clube foi submetido. A conclusão do julgamento mostra bem como estava o clima em relação ao Flamengo: Todos foram absolvidos do lado de Mogi, inclusive o clube, pelas confusões ocorridas dentro e fora do ginásio; o único condenado da noite foi o Alexandre Póvoa, pelo lado do Flamengo, suspenso por 15 dias, por reclamar das agressões sofridas. Só pude participar dos dois jogos finais pela competência de nosso Departamento Jurídico, que conseguiu a concessão de um efeito suspensivo do Pleno do STJD.

Jogo 5 vencido nos detalhes dentro e fora da quadra –  As pessoas em geral não têm ideia de como um playoff melhor de 5 é desgastante. Jogamos 10 partidas decisivas em 40 dias. Afirmo que começamos a ganhar o jogo 5 contra Bauru umas duas horas após o encerramento do jogo 4. Nós da diretoria nos reunimos com a Comissão Técnica e, conhecedores das características do nosso time e de alguns atletas em específico, estabelecemos em conjunto vários procedimentos as serem adotados na semana decisiva para aumentar nossas chances de vitória.

Primeiro, estabelecemos a determinação de treinos fechados todos os dias, sem imprensa, para que não houvesse desvio de foco (alguns jogadores nunca tinham sido campeões antes e ainda existiria a convocação para a seleção olímpica naquela semana); somente Marcelo, Marquinhos e Neto estariam liberados para conceder entrevistas e, mesmo assim, apenas na sexta-feira (pedimos compreensão à imprensa, mas, àquela altura, a prioridade era prover as melhores condições para a  equipe ganhar); antecipação da concentração; treinos na Arena desde o começo da semana,  (a bola tinha que voltar cair !); e, finalmente, conversas muito enfáticas, sobretudo para os que estavam chegando à primeira final conosco, sobre o que é ser campeão com a camisa do Flamengo e como seria necessário aproveitar a sinergia com a nossa torcida.

Para completar, diante da pressão da imprensa para nos posicionarmos sobre os acontecimentos de Marília, soltamos na véspera da decisão uma dura Nota Oficial, desvendando os constrangimentos sofridos pelo Flamengo, mas garantindo que nada ocorreria de anormal no Rio de Janeiro.

Conversamos muito, o vídeo da preleção no dia do jogo foi sensacional, incluindo mensagens de grandes rubro-negros. Não tinha como a gente perder naquele dia do jeito que nos preparamos – física, técnica e psicologicamente - durante uma semana e com a torcida do Flamengo ao nosso lado.


Avaliação da temporada e futuro – Terminamos o ano muito felizes com o tetra, mas reconhecemos que, em termos de produção dentro da quadra, a temporada ficou abaixo de nossa projeção. Não vencemos a Liga das Américas, nossa maior meta era estar jogando contra o campeão europeu novamente em 2016. Em uma gestão equilibrada, um título (mesmo com um time ganhando de 34 pontos na final) não pode apagar os nossos erros; da mesma forma, nem uma eventual derrota poderia desqualificar a parte bem feita do trabalho.

É importante ressaltar que o técnico José Neto e sua comissão técnica renovaram por mais dois anos (com cláusula de saída para os dois lados). Essa decisão já estava tomada e encaminhada desde as semifinais, portanto o Neto ficaria de qualquer maneira, sendo ou não campeão. Isso demonstra a total confiança e crédito que o técnico e seus auxiliares possuem com o C.R. do Flamengo.

Nossa tábua defensiva, pelo rodízio de pivôs que montamos, poderíamos ter sido mais eficazes em pontuação (sobretudo, de dentro do garrafão) e rebotes; na parte externa, muitos chutes de fora e poucas infiltrações, o que torna a equipe mais previsível; na armação, faltou um padrão e equilíbrio maiores, sobretudo em momentos cruciais e quando abríamos largas diferenças nas partidas. Porém, dois pontos importantes a serem exaltados: Grupo extremamente profissional, zero de problemas de disciplina nessa temporada. Cabe lembrar também que foi a primeira temporada no Flamengo de muitos dos atletas, que podem se adaptar mais rápido ou mais devagar, por isso a necessidade da importância do debate na formação da equipe desse ano, ou seja, de como vamos evoluir mais rapidamente com os recursos existentes em época de crise.

 Ao final de cada temporada, fazemos questão de conversar olho no olho com cada jogador da equipe ou com os atletas que queremos contratar, independente do papo posterior com empresário, qualquer oferta financeira ou até dispensa. Esporte coletivo é um “negocio de gente”! Já estamos trabalhando na renovação e na busca de novos atletas.

A temporada foi dura, com intenso desgaste interno (natural de quem convive junto e se cobrando mutuamente há quatro anos) e uma dura pressão externa de todos contra o Flamengo. Como exemplo, eu, que nunca havia frequentado um tribunal esportivo, fui indiciado duas vezes (pela primeira vez na minha vida) e condenado uma vez por me insurgir contra esse estado de coisas (reclamações sempre depois de vitórias) da arbitragem, cujo nível de qualidade definitivamente não evoluiu junto com o NBB através dos anos.

Ganhamos muita coisa nos últimos anos no basquete, mas há muito a evoluir fora e dentro da quadra, até como exemplo para o desenvolvimento de todos os esportes olímpicos.

Gestão do projeto de basquete do C.R do Flamengo: Talvez seja o momento de reforçarmos a parte de gestão do basquete no clube, com mais um gerente específico para a modalidade, para se juntar ao André Guimarães (atual supervisor com excelente trabalho). Tal avanço se justifica pelo nível de importância que o basquete do nosso clube atingiu e pela premência de aceleração da melhora do trabalho na base, hoje com qualidade bem inferior ao que queremos para o Flamengo. Cabe lembrar que o Marcelo Vido, nosso Diretor Executivo de Esportes Olímpicos, líder geral desse processo, cuida de mais sete esportes, além do basquete, o que torna difícil o foco.

Quanto a mim, Alexandre Póvoa, o projeto traçado em 2013 para minha pasta, incluindo o basquete, se encerra naturalmente com o ciclo olímpico. Inclusive, em proteção ao basquete e demais modalidades, tomei a decisão consciente de não participar do último processo eleitoral do Flamengo, sobretudo após mais um exemplo de autofagia rubro-negra entre azuis e verdes.  Hoje, mais do que nunca, tenho certeza que foi a postura correta, não em prol de qualquer interesse individual (inclusive os meus), mas em favor do clube, que é o mais relevante.

Estaremos trabalhando ainda muito duro até o final da Rio 2016, para que o Flamengo consiga absorver ao máximo esse legado, pavimentando o nosso caminho sem volta de nos tornarmos a maior potência olímpica do Brasil em futuro próximo. Depois disso, missão cumprida! O clube encerrará a Olimpíada com o seu departamento de Esportes Olímpicos em patamar infinitamente superior ao estado em que o encontramos. Juntamente com o estafante esforço de profissionalização e atingimento da sustentabilidade financeira, os sócios e atletas poderão desfrutar de uma evolução relevante nos equipamentos esportivos da Gávea.  Com as reformas encerradas até setembro, após os fortes investimentos realizados (com recursos próprios e oriundos de leis de incentivos e comitês), nossa estrutura esportiva não ficará nada a dever em termos de qualidade a nenhum outro clube no Brasil. O nosso basquete terá sido nossa enorme alegria em termos de alto rendimento. Agradeço a todos que participaram dessa história feliz nos últimos quatro anos.

O Projeto Cuidar, a ponta do iceberg dessa estruturação, estará totalmente equipado e com o espaço pronto embaixo da arquibancada da piscina, com a inauguração do espaço prevista para  setembro. Toda essa prestação final de contas virá no momento certo, logo após a Rio 2016.

Marketing e relação com a torcida: Precisamos evoluir muito ainda, mas melhoramos nesse aspecto. Já criamos o Fla-Passe que precisa ser mais divulgado mas, na verdade, a demanda inicial foi aquém da esperada, incrementamos a relação com o torcedor nos jogos em casa e vendemos 70 mil camisetas de basquete em 12 meses (a maior marca da Adidas no mundo, tirando as vendas de camisas de equipes da NBA). Projetamos, no entanto, nosso grande salto nessas iniciativas quando tivermos a nossa Arena própria, quem sabe para a NBB10. Tenho muita esperança nisso, apesar da absurda demora na aprovação.

Para quem não sabe, nesse ano, o regulamento do NBB foi mudado em relação a uniformes por requisição do Flamengo e pudemos jogar com a camisa rubro-negra em todos os jogos no Rio de Janeiro. Aliás, mais uma história de bastidores:  houve um desgaste na semifinal quando, por conta de um mal-entendido, houve uma decisão de alternar a camisa para jogarmos de branco no Rio.  Imediatamente, quando o erro foi percebido, demos a contraordem para reverter a situação. Há questões técnicas em que não me meto, mas faz parte do trabalho do VP alertar sobre regras institucionais que fazem parte da mística rubro-negra que devem ser “cláusulas pétreas” no Flamengo.

Para encerrar, algumas lições aprendidas desses intensos últimos anos – Ver a torcida do Flamengo mais uma vez feliz, em tempos tão difíceis, não tem preço – Amor maior não tem igual. Agradeço a todos que nos ajudaram a tornar o basquete, definitivamente no coração de todo rubro-negro, o nosso Orgulho da Nação!

“É impossível ganhar sempre, um dia vamos perder, mas deixemos para perder na temporada que vem” - Para continuarmos vencedores, invertemos o senso comum. Para o basquete do Flamengo, o “bom é inimigo do ótimo” e não o contrário. Vamos buscar a excelência, sempre.  Passamos para os diversos jogadores nesses quatro anos que vitória e Flamengo andam juntos e não há espaço para quem não absorver esse espírito vencedor nato. Como vencer sempre é, na prática, impossível em qualquer esporte, sempre repito a mesma frase – “Não vamos ganhar sempre. Um dia, é lógico que vamos perder. Mas tenho convicção que a derrota só virá na temporada que vem”.

Como eu falo isso várias vezes ao longo das temporadas, a gente vai sempre deixando para perder no ano seguinte...rs.

A palavra cansaço é proibida de ser pronunciada no basquete do Flamengo – Foi uma temporada super-desgastante com duas viagens de ida e volta para Barquisimeto (30 horas cada), dezenas de jogos e uma sequência final de 10 partidas decisivas em 40 dias. Combinamos entre a gente que as palavras “desgaste” e “cansaço” não poderiam ser citadas, já que em absolutamente nada ajudam. Basta um falar, que contamina o grupo todo. Em nada contribui, apenas atrapalha, portanto todos seguiram à risca as recomendações da nossa competente comissão técnica para minimizar o problema e superamos as dificuldades nesse campo.

 É totalmente possível sermos, ao mesmo tempo, responsáveis financeiramente e “super-campeões” esportivamente -  Não há a menor contradição entre os dois objetivos; o basquete é um esporte coletivo como outro qualquer – futebol e vôlei, por exemplo – e a fórmula para se conquistar campeonatos está longe de ser apenas contratar, contratar e contratar, até porque há restrições financeiras nos esportes olímpicos. O esporte coletivo vencedor depende de um trabalho estruturado, com continuidade de filosofia, onde não há “super-técnicos”, “super-dirigentes” ou “super-atletas”. Não há o menor constrangimento para a troca de ideias entre o técnico e demais profissionais com dirigentes durante a temporada e após jogos. O debate é incentivado e da discordância saímos campeões, com todos remando para o mesmo lado. A estrela da companhia chama-se Flamengo, ao qual qualquer vaidade ou individualismo não tem o direito de se sobrepor.

Podemos ser modernos na gestão, mas temos a obrigação de respeitarmos nossas tradições e as pessoas que construíram a história do Flamengo e de buscarmos a torcida 100% para o  nosso lado, sempre -  Não há a menor contradição entre assumirmos o papel de um clube-cidadão e fazermos questão de termos a torcida ao nosso lado. No basquete, seguimos isso à risca, a começar pela tradição – que muitos podem chamar de “anti-moderna” – de oferecer meia-entrada para quem comparecer aos jogos com a camisa do Flamengo, nosso Manto Sagrado. Não damos absolutamente nenhuma entrada de graça, mas logisticamente ajudamos as torcidas organizadas que queiram comprar ingressos. Em tempo, em quatro anos de nossa gestão, nunca houve registro de qualquer problema fora da quadra em um jogo de basquete. Parece que a torcida aprendeu a torcer, respeitando os limites. Queremos todos juntos – desde ex-presidentes até o torcedor mais humilde, passando por grandes beneméritos, laureados e profissionais do clube - todas essas categorias estavam presentes em grande número na Arena Carioca 2 e, anteriormente, no ginásio do Tijuca.

Quanto à próxima temporada, recorramos à frase de John Wooden (1910 – 2010), o técnico mais vencedor da história do basquete universitário dos EUA:

“Para vencer uma vez, é preciso ter talento, mas para vencer sempre novamente é preciso ter caráter. Mais importante, preocupe-se mais com seu caráter do que com sua reputação, porque seu caráter é o que você realmente é, enquanto a reputação é apenas o que os outros pensam que você é.”

Definitivamente, para vestir o Manto Sagrado do basquete do Flamengo nos dias atuais, é necessário entender o que significa jogar no nosso clube. No processo de formação do elenco, antes da avaliação da qualidade técnica de um grande atleta, faz-se fundamental o escrutínio acerca do caráter do jogador como ser humano. Queremos atletas com obsessão pela vitória e que se indigne com a derrota. Uma das nossas maiores alegrias é assistir a vários ex-atletas do basquete do Flamengo ainda mantendo forte conexão com o clube, através de declarações em redes sociais. Isso mostra que o nosso trabalho fora da quadra também está funcionando, tornando o Flamengo, no basquete, um pólo de atração de grandes atletas, como em um círculo virtuoso.

Parabéns à comissão técnica e aos atletas que, apesar de todas as dificuldades internas como time e externas (todas as forças querendo nos vencer), souberam usar esse caráter como grupo para tornar o Flamengo tetracampeão (consecutivo) brasileiro de basquetebol.

Acima de tudo rubro-negro, louvemos e agradeçamos à torcida do Flamengo, nosso maior patrimônio.  Até a próxima temporada com o Orgulho da Nação.

Abraços, saudações rubro-negras pelo sexto título brasileiro em nossa história,

Alexandre Póvoa