segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Vocação pra Golear

Salve, Buteco! Alguém saberia me dizer se os times de menor investimento que disputam o Campeonato Estadual do Rio de Janeiro/2016 estão particularmente mais fracos do que em edições anteriores ou o Flamengo é que vem apresentando melhor futebol e com isso obtendo placares mais elásticos com mais facilidade? Parece inegável que, com a boa saída de bola proporcionada por jogadores como Rodinei, Juan, Jorge e, agora, Cuéllar, além do esquema tático ofensivo funcionando com pontas do nível de Marcelo Cirino e Emerson Sheik, além de meias como Willian Arão e Mancuello, a tarefa é facilitada. Porém, Muricy Ramalho parece ter escolhido uma filosofia de jogo perfeitamente adequada à tradição flamenga de atacar, marcar gols, golear, e à medida em que o time vai se entrosando o time cria cada vez mais situações de gol. Falta agora aprimorar o último passe e as conclusões.

No Fla-Flu de Brasília, por exemplo, contingências como a expulsão de Cuéllar e a maratona de jogos enfrentada por boa parte do time titular colocaram em risco uma vitória que tinha tudo para estar assegurada quando da parada técnica ocorrida na segunda etapa acaso algumas das inúmeras chances criadas houvessem sido aproveitadas. Ontem, em Volta Redonda, contra o Resende, após um início fulminante, a equipe se desconcentrou dentro de campo e, por mais que tenha diminuído o ritmo, pode-se dizer, diante da existência de muitos espaços oferecidos pelo adversário, que o time errou bastante o "último passe", só vindo a retomar a precisão após a volta no intervalo, fazendo um segundo tempo "mais ligado" na partida. Enfim, não estou reclamando de uma vitória com bom futebol em um clássico e nem de uma goleada com cinco gols (mais uma!), mas apenas pontuando que é um dos aspectos em relação aos quais o time precisa evoluir, até para otimizar uma das principais características desse esquema tático.

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Muricy começa um trabalho promissor no Flamengo. Gosto do fato de ter sido recebido e ainda ser completamente desacreditado não apenas pela mídia esportiva brasileira, como também pela torcida "arco-íris", ambas se apressando em compará-lo a Tite com o indisfarçável intuito de desmerecê-lo por antecipação. A situação combina bastante com o estilo "fênix" do Flamengo, que apresenta o seu melhor quando é subestimado. Mantendo os pés no chão, é claro que o time tem um longo caminho a percorrer, inclusive em nível de manutenção de regularidade nas apresentações, mas até aqui, tomando especialmente os desafios mais difíceis, decepcionou bem menos do que surpreendeu, e inegavelmente o treinador começa a entregar aquilo que havia prometido quando assumiu o time: posse de bola, velocidade e intensidade na transição e evolução de jogo, ofensividade, marcação compacta e alto índice de acertos de passe. Tudo isso pode ser apresentado em qualidade e quantidade bem superiores, mas seria um erro negar que o começo é promissor e até surpreendente para quem foi recebido e ainda é tratado com tanto ceticismo e descrédito.

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Apesar de todas as complexas e duras disputas que o clube trava fora de campo, acho que a sorte do clube começa a mudar em seu Departamento de Futebol, claro que em maior parte por conta do aprendizado com os erros cometidos no primeiro triênio e de opções corretas tomadas no início dessa nova etapa - escolha do treinador e investimento em tecnologia no preparo e recuperação de atletas são exemplos.

Acredito que o Flamengo teve até um pouco de sorte (repito, aliada a competência!) na escolha dos atletas que vieram para compor o elenco. Exemplo: o excelente e indiscutível Marcelo Diaz, favorito da torcida, talvez exigisse um grau de "compactação" do esquema tático bastante difícil de se alcançar em um início de trabalho, algo que poderia exigir da impaciente torcida um nível de compreensão que talvez não estivesse preparada para ter. Já Cuéllar e sua grande capacidade de marcação parecem se adaptar melhor ao momento do elenco (composição da zaga, por exemplo), do Departamento de Futebol e do próprio clube.

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Três rápidas enquetes com @s amig@s do Buteco: 

1) Quem se tornará ídolo primeiro? a) Mancuello; b) Cuéllar ou c) ambos cairão igualmente nas graças da Maior do Mundo?

2) Quem é o seu goleiro titular: a) Paulo Victor ou b) Muralha?

3) Quem é o seu zagueiro central titular: a) Wallace, b) César Martins ou c) Léo Duarte?

Bom dia e SRN a tod@s.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Flamengo x Resende


Campeonato Estadual - 7ª Rodada

FLAMENGOPaulVictor; Rodinei, Wallace, JuaJorgeCuéllar, WilliaArão e MancuelloMarcelo CirinoGuerrero e Emerson Sheik. Técnico: Muricy Ramalho.

Banco: Muralha, Pará, César Martins, Márcio Araújo, Everton, Gabriel e Felipe Vizeu.

Resende - Arthur; Muriel, Rogério, Thiago Sales e Kim; Robinho, Léo Silva, Gustavo Moura e Marcel; Wandinho e Borja. Técnico - Aílton.

Data, Local e Horário: Domingo, 28 de fevereiro de 2016, as 17:00h (USET 15:00h), no Estádio General Sylvio Raulino de Oliveira ou "Estádio da Cidadania" ou "Raulino de Oliveira", em Volta Redonda/RJ.

Arbitragem - Luiz Antônio Silva dos Santos, auxiliado por Jackson Massara dos Santos e Gabriel Conti Viana.

Pendurado: Wallace.



Alfarrábios do Melo

Há cerca de 100 anos...

Tarde linda.

Uma expressiva massa de gente, tudo engalanado em seus paletós e vestidos, ostentando vistosos chapéus, bengalas e lenços, entre outros adornos, aguarda pacientemente o momento de entrar e se acomodar, enquanto se entretém com conversas sobre os mais distintos temas ou, já que ninguém é de ferro, arrisca descompromissados “flirts” com jovens do sexo oposto. Afinal, a tarde é de lazer. É dia de football.

O Flamengo está inaugurando seu estádio.

Para a esquina da Rua Paissandu com a Rua Guanabara (onde se localiza a sede do Fluminense FC) aflui neste risonho domingo a mais elegante aristocracia carioca. Jovens que já demonstram fervor na defesa das cores que escolheram para se alinhar, no pavilhão que optaram por honrar. E hoje o já robusto contingente de adeptos do febril rubro-negro do CR Flamengo converge para as instalações da novíssima praça de esportes da Capital Federal. Orgulhosos, apontam para o peito. Nossa casa.

O terreno pertence à Família Guinle. Era utilizado como campo de treinamentos do Paysandu Cricket Club, clube de ingleses que encerrou as operações no futebol por conta da Primeira Guerra Mundial (que lhes privou de seus atletas, convocados pelo Governo Britânico para as escaramuças), e, posteriormente, pelo Guanabara FC, que não possuía recursos nem a intenção de ali erguer nenhuma construção. A diretoria do Flamengo, cansada de mandar jogos em General Severiano e percebendo a oportunidade, conseguiu o arrendamento do terreno por 15 anos, responsabilizando-se pela construção do que entendesse necessário para erguer um estádio na área.

Os portões se abrem e não demora se descortina um cenário absolutamente impressionante, capaz de chamar a atenção mesmo dos mais céticos. O gramado possui dimensões descomunais, situando-se no limite superior do estipulado pelas entidades que regem o jogo. O piso é impecável, de um verde faiscante, minuciosamente plano, absolutamente diverso das verdadeiras casas de pasto exibidas em outros centros. Na lateral que faceia para a rua de elegantes e vistosas palmeiras, ergue-se, cuidadosamente pintado em cinza-claro, o lance de arquibancadas, com seus nove degraus de largura, o mais amplo do Rio de Janeiro. No centro de sua cobertura, o dístico CRF irrompe altivo, orgulhoso, pleno. O estandarte onde se pendura o pavilhão negro e rubro é cuidadosamente localizado, para que não atrapalhe a visão dos espectadores. Há duas opções de acomodações, as arquibancadas e as gerais, onde, pagando meia entrada, é possível acompanhar de pé, a descoberto, praticamente à beira do gramado (deste separado por cercamento em ofuscante cor branca), as peripécias dos footballers. Alguns assistentes mais entusiasmados não se furtam a aplaudir delirantemente as instalações que se despem diante dos seus olhos. O Flamengo realmente consegue impressionar a sociedade carioca.

Celebrado o contrato de arrendamento, a administração flamenga correu para arranjar uma empreiteira capaz de levar a cabo a construção do equipamento antes do início das partidas da Liga, o Campeonato Carioca. Escolhida a empresa Moniz & Cia. e definido o projeto, partiu-se para as obras (não sem um arrojado processo de captação de recursos), que, infelizmente, não lograram conclusão no prazo inicialmente desejado, por conta de uma temporada particularmente chuvosa. De qualquer forma, antes da inauguração oficial o Flamengo realizou dois “eventos-teste” no campo. O primeiro aconteceu na última partida do Campeonato do ano anterior, em que, acomodados sobre improvisados blocos de compensado, os torcedores acompanharam o rubro-negro se sagrar bicampeão ao golear o Bangu por 5-1. E o segundo, já na temporada atual, com as obras concluídas, restando pendentes apenas acertos de acabamento, no dia em que o Flamengo goleou o Fluminense por 4-1, em jogo válido pela segunda rodada do Campeonato.

Mas a inauguração formal, oficial, com o estádio rigorosamente pronto, é hoje.

As instalações do Estádio da Rua Paissandu não se limitam ao campo de futebol. Sob as arquibancadas há um stand de tiro, um salão de jogos, uma biblioteca, uma luxuosa sala onde se abriga a secretaria do clube e um bar. Na outra lateral, estão construídas e entram em operação três quadras de tênis de excelente padrão. Há planos para a construção de uma área reservada para a prática do basquete. E está em conclusão a montagem de um placar, onde será possível acompanhar o andamento da partida, equipamento inédito no Rio de Janeiro. Tudo colocado à disposição dos sócios, que agora possuem um equipamento diversificado e capaz de atender aos mais variados anseios de entretenimento e lazer.

A preliminar, disputada entre os “segundos teams” (espécie de aspirantes) de Flamengo e Botafogo, termina empatada (2-2). Já não há mais lugar disponível no estádio, seja nas arquibancadas, seja nas apinhadas gerais. Dentro de instantes adentrarão no gramado, para se bater em um match amistoso, as formações do CR Flamengo e da AA São Bento*, da capital paulista, seu atual campeão e mais forte team. E tido pela crônica esportiva como o favorito do encontro.

Com efeito, o Flamengo vive problemas. A geração que arrebentou as portas do Fluminense e fez nascer no 22 da Praia o Departamento de Esportes Terrestres já começa a encontrar problemas na conciliação da prática do futebol (cuja demanda por jogadores preparados física e tecnicamente já começa a se acentuar) com a sua vida acadêmica. Nomes como Baena, Píndaro, Couriol e Borgerth aparecem esporadicamente no eleven titular, que, da formação original, somente apresenta Nery, Gallo e Arnaldo como integrantes assíduos. É verdade que há o perigoso atacante inglês Reid (reforço recente), ou o mortífero forward Riemer, capaz de atuar no comando do ataque ou na ponta-esquerda com o mesmo potencial goleador. Ou ainda o “crack” da equipe, maestro e verdadeira alma do conjunto, o “center-half” Sidney Pullen, o primeiro grande “camisa 10” da história do popular Clube de Regatas. E que, afinal de contas, está-se falando do atual bicampeão da cidade, melhor e mais aclamado team do nosso futebol. Mas, com as idas e vindas dos antigos heróis, há a tendência a uma perigosa irregularidade, que já começa a se refletir em campo. O mesmo Flamengo que surrou impiedosamente o Fluminense nos já citados 4-1 foi, decorridos apenas quinze dias, fragorosamente derrotado pelo modesto Bangu por inapeláveis 2-4 (marcando seus dois tentos nos minutos finais). Esta falta de consistência começa a gerar viva desconfiança na crônica esportiva carioca, que não hesita em embarcar nas caudalosas loas que seus colegas paulistas tecem ao seu campeão, elegendo-o como o grande candidato à vitória no match que está por iniciar.

O Flamengo ainda apresentará uma importante novidade à cena futebolística carioca nesta festiva tarde. Enfim chegaram da Inglaterra, encomendados da conceituada Casa Davidson & Cia, onde foram fabricados com o mais moderno e refinado tecido (que reluz ao sol e retém as cores por mais tempo), os novos uniformes de jogo, que substituirão as (agora, por conta da semelhança com a bandeira alemã) controversas camisas cobra-coral. Camisas em mangas longas, dividida em listras horizontais em preto e vermelho, apresentando à altura do peito um monograma com as letras CRF entrelaçadas em branco, emulando o estilo inglês de apresentar o símbolo da agremiação. O uniforme deveria ter sido estreado em março, mas as agruras da guerra ocasionaram o inesperado retardo no envio. Melhor assim, cria-se outro elemento de atração para o grande evento de hoje.

Os times entram em campo, recebidos com uma corbeille de flores. O Flamengo, pela primeira vez trajando rubro-negro. O São Bento, em listras verticais em branco e anil. Uma bandinha executa, pela primeira vez em público, a marcha “Flamengo, Flamengo, tua glória é lutar”, que mais tarde se tornará o hino oficial do clube. Os capitães se perfilam, respeitosa e elegantemente. É tirado o toss. Vai começar a partida.

Não é difícil imaginar o que se segue. Quando se conjuga um Flamengo motivado, uma tarde festiva, uma torcida particularmente eufórica e com ânsia de gritar a plenos pulmões o nome dos seus heróis, isso tudo imerso em um contexto em que toda a crônica “especializada” teima em desacreditar as cores rubro-negras e a insistir em relativizar sua grandeza, elegendo outros favoritos e a eles reservando suas palavras mais carinhosas, o desenlace soa até natural.

O único elemento de convergência entre as previsões dos “notáveis” e a realidade dos fatos é a incidência de um massacre em campo.

Com quatro minutos, a trave do goleiro paulista Orlando é carimbada, o próprio arqueiro faz duas defesas difíceis e Sidney, após uma jogada antológica em que se livra de três oponentes, abre o placar com um tiro enviesado que conta com a ajuda do pobre goleiro do São Bento. Passa-se algum tempo e o poderoso time de São Paulo ainda não é apresentado à intermediária adversária. Aos 17 minutos, depois de um gol (mal) anulado e de outra bola que rebentou na trave, o Flamengo amplia. Sidney, que desfila seu talento em campo, é um verdadeiro motor. Vem buscar uma bola no meio e vê o deslocamento do baixinho Gumercindo. Com rara precisão, lança primorosamente a bola, que cai aos pés do atacante, que manda um tiro forte, cruzado. 2-0. O Flamengo não para, segue criando e desperdiçando chances de gol. Orlando faz quatro defesas dificílimas em um intervalo de poucos minutos. Tudo parece apontar para uma goleada verborrágica, de grandes proporções. Apenas nos minutos finais da primeira etapa, em um esparso momento de fadiga e distração, a defesa rubro-negra afrouxa, permitindo que os paulistas respirem um pouco. É o que basta para mostrarem sua força e diminuírem a contagem, em um bonito chute do atacante Hopkins, que explode na trave e vai aos pés de Dias, que emenda o rebote para o gol quase vazio, defendido apenas pelo caído Cazuza (que substitui Baena). 2-1.

O curto intervalo (apenas cinco minutos) é marcado por certa apreensão. Quase o clima de festa é rompido quando um ajuntamento de botafoguenses se põe a gritar palavras de apoio ao São Bento e é “convencido”, de forma relativamente coercitiva, a se manter em silêncio.

A segunda etapa se reinicia e o Flamengo defende sua mínima vantagem da forma que melhor lhe apraz. Atacando. O time emenda uma blitz insuportável, mas o goleiro Orlando segue em grande tarde. A multidão parece ansiosa com o gol que não sai. O placar é mais ameaçador que o São Bento, que já parece cansado. Somente aos 27', após uma belíssima tabela entre Gumercindo, Arnaldo e Borgerth (que está de volta, fazendo seu primeiro jogo no ano), a bola é rolada para o venenoso Riemer, que enfim executa as redes de Orlando, cravando os números finais do encontro. Flamengo 3, São Bento 1.

Os últimos minutos do match são crivados de palmas, cantos, hurras e manifestações de calor, como só o Flamengo já se mostra capaz de prover. Encerrada a partida, a enchente humana, num aluvião, invade o gramado para ter com seus favoritos, que se imiscuem ao meio daquela calda de gente. É um dia ímpar, especial, mágico, em que absolutamente tudo parece ter dado certo. O Flamengo abre oficialmente seu estádio, derrota de forma incontestável um forte adversário e eleva às alturas sua auto-estima de campeão. É claro que hoje vai ter reco-reco na sede.

E o torcedor, agora, pode se ufanar de ter seu estádio, sua casa, seu templo. Lá, o Flamengo construirá sua história. Será vencedor, triunfará soberano, emergirá campeão. Criará laços de identificação e afeto, confundir-se-á com as próprias instalações, fará sua gente criar uma relação de pertencimento e intimidação aos oponentes que lá aterrissarem. A Rua Paissandu será a casa do CR Flamengo. Seu lar. Seu recanto. Vai ser intenso. Febril. Sanguíneo. Marcará uma época. Uma era. E, citando o poeta, será absolutamente eterno.


Enquanto durar.


* Não confundir a AA São Bento da capital paulista (extinta em 1933), equipe aqui mencionada, com o EC São Bento, de Sorocaba-SP, clube fundado em 1913 e atualmente em atividade.


sábado, 27 de fevereiro de 2016

Bem vindo Mancuello

Em meio a tantas polêmicas, resolvi tecer algumas linhas sobre um dos principais reforços do Flamengo para esta temporada, o argentino Mancuello. Depois de lidarmos com tantas decepções com os últimos hermanos que vestiram o manto, parece que finalmente contratamos um argentino que represente fielmente o futebol sul americano.

Além de boas exibições dentro de campo, é o comportamento fora dele que tem feito com que o jogador em poucas semanas tenha conquistado boa parte da Nação. Mesmo que, “sem querer, querendo”, em menos de dois meses no clube, já provocou o Vasco, retirou o escudo do Fluminense de campo, criou polêmica com jornalista, dançou funk, assistiu ao Flabasquete e combinou de tomar um açaí com o Meyinsse.



Dentro das quatro linhas vemos um jogador que ainda está tentando encontrar o seu espaço dentro de campo, mas que já se destaca com sua entrega e seus venenosos lances de bola parada.

Um lance para mim é emblemático. Flamengo x Cabofriense. Trinta e poucos minutos do segundo tempo, a bola no lado esquerdo de ataque do Flamengo, eis que o Mancuello erra um passe relativamente simples. Inconformado, o jogador se joga na frente da bola, mandando-a para a lateral e logo em seguida dá um soco no gramado, lamentando a chance desperdiçada.

Repito. Flamengo x Cabofriense, quarta-feira a noite, em um jogo que mal vale os três pontos disputados. Para quem ficou mal acostumado com jogadores desinteressados, dando toquinho para o lado, esperando o árbitro decretar o final da partida, me impressiona essa entrega diferenciada dentro de campo.

Não sei até que ponto há um envolvimento do marketing do clube, mas ontem o jogador destinou algumas horas do seu dia para conversar com a Nação pelo Twitter através da hashtag #MancuChat. A ação foi um sucesso!



É complicado fazer comparações, até por que o Guerrero é uma pessoa muito mais reservada, mas até então o argentino tem feito muito bem um papel, que deveria estar sendo desempenhado pelo peruano.

Além do carisma do Mancuello, você percebe outros jogadores do elenco utilizando adequadamente as redes sociais que tem a disposição e conquistando a cada dia mais pontos com a Nação. São posts exaltando o clube, torcida, o patrimônio, além de ações conjuntas com outros esportes como o basquete e a garotada sub-20.

Quer um bom exemplo?

Ontem tivemos outra ação muito bacana no Twitter intitulada de #oMeuMaraca e jogadores como Kayke e Everton participaram publicando fotos de momentos especiais no Maracanã.



Particularmente tenho achado o grupo muito unido e o astral dos jogadores é bem diferente do ano passado. Parece que o investimento em estrutura aliado a chegada do Muricy, mudou completamente os ares da Gávea e um grupo que ano passado conviveu com sérios problemas de responsabilidade, parece que voltou este ano muito mais comprometido.

Nas próximas rodadas devemos ter o Ederson novamente sendo relacionado para um jogo. Confesso que já não sei mais o que esperar do nosso camisa 10, já fui mais empolgado com o seu futebol e hoje só espero que ele consiga manter uma boa sequência de jogos sem voltar a sentir uma lesão.

Torço para que o Ederson seja um caso semelhante ao que foi o Renato Augusto no Corinthians, onde depois de passar um bom tempo no departamento médico, conseguiu ser um dos destaques do título brasileiro do clube paulista.

Com todos os jogadores a disposição, o meu time titular seria Muralha; Rodinei, Cesar Martins, Juan e Jorge; Cuellar, Arão, Mancuello e Ederson; Cirino e Guerrero.

Hoje temos a reabertura do Ninho do Urubu e pelas fotos já divulgadas pelo clube, devemos ter mudanças significativas, inclusive com ações realizadas junto a sócio-torcedores. Já estou aqui na expectativa e acredito ser um passo fundamental para o sucesso do time na temporada.

Bom final de semana a todos e espero que o Mengão nos brinde com mais uma vitória, mesmo o jogo tendo zero importância.


SRN!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O Flamengo na Rede




Irmãos rubro-negros,


nós nos queixávamos amiudamente de como o Flamengo explorava muito mal sua relação com o torcedor nas redes sociais.

Em regra, os perfis do clube limitavam-se a algumas manifestações burocráticas, sem qualquer identificação com o torcedor flamengo.

Paulatinamente, essa relação tem mudado, com o clube buscando cada vez mais interagir com a massa através das mídias sociais.

Essa mudança ganhou aplausos de grande parte da torcida, sendo que o canal do Flamengo no YouTube, a FLAtv, ultrapassou a marca dos 111.000 inscritos.

Pois bem, na quarta-feira passada, durante o jogo com a Cabofriense, o perfil oficial do clube no twitter reproduziu, em tom bem humorado, uma brincadeira que a torcida do Flamengo faz a respeito do amigo imaginário do Canteros, ficção criada em razão dele ter o hábito de fazer lançamentos muito precisos para...ninguém.




Houve rubro-negros que acharam graça e gostaram do tweete e houve aqueles que acharam inadequado, por se tratar do perfil oficial do clube.

Embora respeite quem encarou de outra forma, eu gostei da brincadeira. Não vi problema algum. Pelo contrário. E acho importante contextualizar: jogo insosso, contra um adversário minúsculo, num campeonato sem graça, com o Flamengo vencendo e se impondo sem maiores dificuldades. Enfim, acho que se existe um momento propício a esse tipo de interação, foi exatamente o jogo de quarta-feira.

E confesso discordar da reclamação de que "o Flamengo estaria a desvalorizar o atleta." Muito humildemente, não vejo dessa forma. Não será uma singela, uma pueril brincadeira do perfil oficial, feita e dirigida para o rubro-negro, que eventualmente desvalorizará o Canteros.

O que, isso sim, desvalorizará os direitos econômicos do Canteros é o futebol medíocre que ele tem apresentado desde o ano passado.

Se ele estivesse honrando a camisa do Flamengo, se tivesse conquistado merecidamente a titularidade, creio que ninguém teria se importado com a piada.

O problema é o azedume que o futebol recente dele tem causado a todos nós.

De todo modo, para muito além de minha modesta opinião sobre esse caso específico, me vi refletindo sobre os limites que não deveriam ser ultrapassados pelo clube nas suas interações com o torcedor flamengo.

Obviamente, seria estultice o perfil do Flamengo reproduzir, ipsi litteris, as loucuras dos alucinados flamengos que encaram, mais que qualquer um, de peito aberto, com imensa criatividade e inigualável destemor, qualquer adversário nas redes sociais.

Há, porém, um amplo espaço a ser explorado pelo Flamengo. O processo está apenas em seu início.

Daí surge o dilema relacionado às fronteiras impostas pelo fato de tratar-se do perfil oficial. 

Alguns limites têm de ser observados, e eu pergunto-lhes: quais limites seriam esses?

Seria possível traçar objetivamente um parâmetro que deva ser estritamente respeitado, em toda e qualquer situação? Ou há espaço para flexibilizar as manifestações do clube nas redes sociais, de acordo com cada situação vivenciada?

Como o clube deveria orientar seus funcionários a respeito da postura desejável no relacionamento com o torcedor?

Como misturar elegância, educação e informação séria com brincadeiras, provocações aos adversários e bom humor? 

Até que ponto pode-se conferir autonomia e independência ao funcionário para comandar o canal, interagindo e captando o espírito e a alma fanática do torcedor do Flamengo, tornando, assim, mais sincera, intensa e emocionante a relação?

Enfim, são indagações que remetem a este assunto tão atual: a relação do Flamengo com seu torcedor através das redes sociais.

A palavra é de vocês, fraternos amigos.




...

Abraços e Saudações Rubro-Negras a todos.

Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Flamengo 1 x 0 Cabofriense

Uma vitória magra e nada empolgante. Jogando com os reservas na penumbra de Macaé para algumas poucas testemunhas presenciais, Flamengo fez um jogo que poderia ser considerado como plenamente esquecível se não fossem as boas atuações de Mancuello e de Felipe Vizeu, além do Juan, nosso zagueiro símbolo, ser finalmente capitão.

O primeiro tempo começou movimentado. Flamengo se deslocava rápido pelas pontas, com Gabriel e Everton, sendo bem municiados por Mancuello que corria o campo todo. Pará tinha uma espécie de corredor livre e avançava bem pela direita, dando início a boas jogadas. Vizeu se posicionava como um poste, sem se mover muito pelo campo, sendo uma referência para cruzamentos. E em um deles, após boa jogada de Mancuello e cruzamento de Pará, o Vizeu fez o único gol da partida em belo cabeceio que não deu chances ao goleiro, que, curiosamente, se machucava a todo momento na partida. 

Canteros, talvez pela falta de ritmo de jogo, não acertava o último passe embora procurasse se posicionar mais a frente que o Márcio Araujo, que, pasmem, fez uma bela jogada no fim do primeiro tempo, entrando na área driblando causando perplexidade em todos. Mas como toda jogada que sai deste jogador, acabou em nada. Depois do gol se pensava que o Flamengo deslancharia. Mas perdendo, como de costume, boas chances o time foi pro vestiário com Mancuello, pela movimentação, liderança em campo, sendo o destaque.

No segundo tempo o time entrou em campo no mode 2015. Sem vontade, jogadas não saiam, totalmente espalhado em campo e jogadores se escondendo do passe. Cabofriense recheou mais o meio campo e impediu maiores avanços da dupla Gabriel e Everton, que pecam pela falta de inteligência em suas movimentações.  Pará teve seu corredor interditado e pouco avançou. Liberaram o corredor pro Chiquinho, o que não assusta ninguém. Chiquinho fez uma partida sofrível.  

A falta de jogadas foi tanta que Vizeu acabou saindo mais da área e recuando para armar. Talvez se continuasse sendo "referência" cairia no sono. Articulou algumas boas jogadas, mas todas que iam para a linha de fundo acabavam em cruzamentos sofríveis, com exceção de um cruzamento de Gabriel pro próprio Vizeu, que em bela cabeçada, proporcionou boa defesa do goleiro do Cabofriense.

Canteros saiu, entrou Arão. Gabriel saiu, entrou Cirino. Mas tudo continuou na mesma. Foi seis por meia dúzia. Cabofriense chegou a fazer boas jogadas rodando a bola em nossa área, mas finalizando sempre mal ou errando o último passe.

No final, Flamengo 1 a 0. 3 pontos. Em um campeonato decadente, em estádio distante e sem torcida presente. Um retrato menor do Brasil que não dá certo. Do Brasil sujeito a politicagens e interesses escusos de dirigentes menores em suas pequenas políticas para manter seus feudos de interesse. E aí mais um jogo que não deveria ocorrer mais no século XXI, caso se pretenda que os grandes clubes brasileiros tenham melhor competitividade e condições econômicas para sustentar seus caros elencos.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Cabofriense x Flamengo


Campeonato Estadual - 6ª Rodada

Cabofriense - Andrey; Julio Sales, Juliano, Rafael Lopes e Leandro; Gilson, Pedro Henrique, Keninha e Carlnhos; Marquinhos do Sul e Charles Chad. Técnico - Eduardo Húngaro.

FLAMENGOPaulVictor; ParáC. MartinsJuaChiquinhoMárcio AraújoGabriel, CanterosMancuello e Everton; FelipVizeu. Técnico: Muricy Ramalho.

Data, Local e Horário: Quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016, as 19:30h (USET 17:30h), no Estádio Cláudio Moacyr ou "Moacyrzão", em Macaé/RJ.

Arbitragem - Carlos Eduardo Nunes Braga, auxiliado por Wendel de Paiva Gouvêa e Francisco Pereira de Sousa.



Passem reto, "fakes" !


O Buteco ofereceu ao Flamengo uma realista visão da torcida rubro-negra quanto ao desempenho do seu time dentro de campo em tempos recentes, através das caprichadas letras do companheiro Adriano Melo, em sua coluna do último domingo;

O texto que versou sobre o que é jogar no Flamengo e a vontade de vencer deveria ser emoldurado e pendurado nas paredes da sala da presidência do clube e do departamento de futebol, além de se tornar leitura obrigatória dos atuais e futuros jogadores que vestem e vestirão o manto sagrado, consagrado, provado e comprovado em vários campos de batalha ao redor do mundo;

Como torcedor, desejo sempre que o meu time entre na contenda para jogar e ganhar bonito, mas que jamais se omita se o adversário considerar que do tornozelo pra cima tudo faz parte da bola. É a lei do "bateu levou", exatamente como ocorreu no Fla x Flu, quando não nos permitimos perder no grito do adversário; 

Por via misteriosa, a coluna contagiou o time para a partida disputada no Mané Garrincha e vencida com todos os predicados enunciados nas linhas da carta ao presidente: raça, destemor, sede pela vitória, comprometimento com o clube e a torcida que compareceu ao estádio e com outros milhões de flamengos que acompanharam a merecida vitória pelas diversas mídias;

Até então, um Flamengo "fake" vinha entrando em campo como uma assombração, principalmente nas partidas contra os vices de sempre. A consequência foram algumas derrotas injustificáveis para um time da Segunda Divisão do futebol brasileiro, inferior tecnicamente, porém, bem superior no compromisso em ganhar suas partidas. Assimilando os conceitos relembrados na carta, aposto que em dez jogos ganharemos oito, empataremos um e talvez percamos outro, afinal, no futebol e na vida não dá para ganhar todas;

Segue o jogo e o que temos para hoje, valendo pela 6a Rodada do Estadual, é um pulinho à Região dos Lagos para encarar a Cabofriense, com uma zaga formada por César Martins e Juan, já que o capitão Wallace, aparentemente o jogador mais esclarecido do elenco, está suspenso por haver provocado infantilmente a sua expulsão no último clássico;

Temos que manter o espírito de atuar com muito suor e talento e, assim, voltaremos para casa com mais três pontos conquistados.

SRN!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Meu Pedaço de Chão

O assunto que está na pauta, na ordem do dia é estádio. Já escrevi alguns textos sobre o tema. Tentarei ser rápido desta vez, abrindo o leque e deixando a discussão para os leitores e comentaristas do blog. Entendo que as vantagens que um bom planejamento pode gerar, ganhos reais com vendas de camarotes, direitos de nome, espaços para lojas, bares e restaurantes, ou os valores subjetivos como o orgulho dos realizadores ao ver uma construção notável ganhar forma, ou a satisfação de uma torcida gigantesca e apaixonada ao ver seu time dar um passo tão importante. Sonhando, tiramos nossos pezinhos do chão.
Vislumbro que para dar certo, o Flamengo teria que gerar um projeto que fosse bem além dos seus próprios interesses imediatos, com aliados na luta para conseguir o terreno e os recursos para a construção. O problema é que cada um desses terrenos teria que ser adquirido – factualmente ou através de algum acordo com o proprietário e/ou o poder público – e a construção seria alvo de pressões políticas, associações de moradores, times rivais. A construção de um estádio, simplesmente, deixaria o Flamengo sozinho na luta política pela sua conclusão.
O terreno para o estádio deve ser escolhido, aprovado, comprado (arrendado, adquirido, negociado) de forma – Onde – por algum acordo com o proprietário e/ou o poder público se inicie a construção. Em qualquer hipótese o clube sofrerá pressões de associações de moradores, clubes rivais, imprensa, poder público, etc. Essa batalha, que deve ser encarada, certamente deixará o Flamengo sozinho (Sozinho não! A torcida vai junto!) na luta política. Vejo que para dar certo, o projeto, teria que avançar na perspectiva de se “ter um estádio por ter” e do trânsito.
O Clube deve demonstrar a sociedade o valor e a importância do projeto, os benefícios para todos, mesmo os torcedores rivais. Os projetos abaixo tem potencial viário, e inclusive impactando positivamente na mobilidade urbana. Alguns terrenos foram analisados com todos os seus prós e contras, sem um parecer profundo, apenas uma análise superficial dos mesmos. Parte dos terrenos tem caracerísticas e semelhanças, portanto estão discriminados na mesma “zona de influência”.
Eis as opções: Terra Encantada, Engenhão, Gávea, Jockey Club (também na Gávea) Detran (Irajá, no entroncamento entre a Av. Brasil e a Via Dutra), Refinaria de Manguinhos, Ilha do Fundão, CEFAN (terreno da Marinha na altura de Olaria, na Av. Brasil), Trevo das Margaridas, Parque Olímpico (Barra) e Ilha de Pombeba, Gasômetro, Trevo das Margaridas (na Altura de Brás de Pina, no entroncamento com a Rodovia Washington Luís), CEFAN, Fundão e o Parque Olímpico (Barra).
De uma forma ou de outra já falei sobre todos eles em meus textos, seus prós e contras. Gostaria de saber de vocês: Brigam pelo Maracanã ou buscam um estádio próprio? E em quais condições?


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

O Olho do Furacão e a Reconciliação

Salve, Buteco! Escrevo esse post na tarde de domingo, 21 de fevereiro de 2016, pouco antes do almoço e de partir rumo ao Estádio Nacional Mané Garrincha para assistir ao Fla-Flu. O resultado da partida não influencia o meu ponto de vista. Não é novidade para qualquer torcedor (a) do Flamengo que acompanhe com um pouco mais de atenção as notícias do futebol que a Diretoria vem encampando antigas reivindicações da torcida (sócios ou não) que inegavelmente afetam as relações externas do clube, tais como busca de melhores condições contratuais em negociações de direitos de transmissão televisiva, calendário, formato e priorização de competições; estádio próprio ou modelo de relação jurídica na utilização do Maracanã, formato e promoções do programa sócio-torcedor (assunto diretamente influenciado pelo tema estádio próprio), finalização do centro de treinamentos e captação de investimentos e patrocínio para o setor (futebol).

A questão do Maracanã é particularmente relevante e intrincada. O amigo @Bcbfla, em um comentário bastante perspicaz no texto do Bruno Trink de sábado, ressaltou a complexidade da situação e a eventual possibilidade do Flamengo partir para a opção, repleta de incertezas, de construir um estádio próprio, e o Maracanã vir a ser cedido a um dos três rivais do Rio de Janeiro. É apenas um exemplo da miríade de complexos assuntos que a Diretoria enfrenta atualmente para colocar o Flamengo no patamar que tod@s sonhamos. Para mim, é como se estivéssemos sendo afetados pelo epicentro de um grande furacão ou tornado, ou seja, passando por seu pior momento, haja vista que os assuntos, em sua maioria, estão em fase de discussão ou execução, mas não de resolução.

Não acho que a Diretoria possa ser criticada por qualquer dessas bandeiras (sem qualquer trocadilho!) que assumiu, haja vista que são antigas reivindicações da torcida, porém é inegável que, uma vez assumidas e publicamente enfrentadas (porque era o momento!), formaram um contexto político bastante adverso para o clube, e que ao meu ver vêm produzindo efeitos negativos dentro de campo. 

Por outro lado, seguindo o planejamento divulgado originalmente pela Diretoria, o Flamengo teria um primeiro semestre, até a estreia no Campeonato Brasileiro, dividido entre o Campeonato Estadual disputado por um time misto entre reservas e juniores e a Primeira Liga e amistosos com o time principal. Com a divulgada exigência, baseada em cláusulas contratuais relacionadas com direitos de transmissão, da utilização dos titulares no Estadual, modificou-se totalmente o planejamento divulgado e agora o time principal vem sendo utilizado em ambas as competições. Obviamente, a primeira consequência é a diminuição do tempo disponível para treinamentos - físicos, táticos e técnicos, além de toda a preparação fisiológica e recuperação. Percebam, porém, que até a utilização de reforços de maior investimento provavelmente foi acelerada e bastante intensificada, logo no início da temporada, em relação ao cronograma inicialmente traçado.

Para complicar ainda mais, a esse difícil contexto se somam, em posição de contradição, a necessidade de jogar mais próximo do Rio de Janeiro, minimizando os efeitos deletérios da diminuição do tempo e das viagens, e a necessidade do clube arrecadar com a negociação de mandos de campo para praças distantes do Rio de Janeiro, de modo a minimizar o prejuízo decorrente do Campeonato Estadual (retenção das cotas de direito de transmissão pela FERJ e arrecadação por bilheteria) e de não haverem sido renovados, até o momento, os contratos de outros patrocinadores da camisa, mas apenas o principal.

O torcedor está impaciente, frustrado por dois anos com campanhas ruins na Libertadores (2014), Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro. Vivemos o tempo da interação virtual, que potencializa tanto as cobranças e insatisfações, como, quando é o caso, o efeito das glórias e vitórias. O treinador Muricy Ramalho ressaltou, ao assumir o time, que os resultados precisam aparecer dentro de campo, mas para tanto deve ter todas as condições para preparar o time. Na medida do possível, penso que a Diretoria deveria atendê-lo com menos jogos fora do Rio de Janeiro, acrescentando ao planejamento um especial suporte psicológico ao elenco.

***

Até aqui, como frisado, a coluna foi escrita antes do Fla-Flu. A partir de agora, escrevo após voltar do estádio. O discurso do treinador Muricy Ramalho pode até parecer um amontoado de reclamações rabugentas, mas ao ver faz todo o sentido. Em uma semana que começou com grande desconfiança após uma atuação ruim contra o Vasco da Gama e uma vitória burocrática "rodando o elenco" contra o América/MG, a estratégia de poupar alguns jogadores parece ter funcionado contra o Fluminense, pois, ao menos até aqui, parece-me ter sido a melhor atuação da equipe no ano, até porque se tratou do time titular, que finalmente deu mostras do que poderá apresentar de positivo ao longo do ano. Tive a oportunidade de assistir ao vivo, no estádio, o esquema tático 4-1-4-1 funcionando de forma compacta, com a segunda linha de quatro marcando com a efetiva colaboração dos dois pontas (Cirino e Emerson Sheik) e dos dois "meias internos" (Willian Arão e Mancuello) pressionando o Fluminense, que, por ter atuado em um 4-4-2 anacrônico com dois atantes lentos e isolados no ataque (Fred e Diego Souza), pode ter facilitado muito a efetivação da supremacia tática rubro-negra na partida.

Não vi nenhuma atuação exuberante; porém, o time todo jogou bem, o conjunto funcionou. O mais legal foi ver os jogadores efetivamente ligados e jogando com intensidade, seja na marcação, seja na movimentação durante a articulação de jogadas no ataque. Embora no começo do jogo tenha detectado um espaço entre Cuéllar e a segunda linha de 4, aos poucos o problema foi corrigido e a equipe se posicionou de forma harmônica em campo. A expulsão de Cuéllar, que fazia uma ótima partida, dificultou muito para a equipe que estava melhor distribuída no gramado. Logo após a parada técnica da segunda etapa, o treinador Eduardo Baptista, do Fluminense, tirou Diego Souza e colocou Oswaldo, situação que basicamente "igualou" os esquemas táticos e equilibrou a partida. Ocorre que vários de nossos jogadores a partir de então exibiram sinais claros de fadiga, casos de Rodinei, Willian Arão e Sheik. Acredito que as substituições de Mancuello, primeiramente, e depois de Sheik tenham se dado, respectivamente, pela forte pancada sofrida pelo argentino, na altura do joelho, e pela entrada de Oswaldo, no caso do nosso veterano, que até então vinha ajudando Jorge de forma absolutamente aplicada em nível tático.

Para que atuações como a de ontem se tornem regra e o padrão de jogo do time possa ser elevado, a Diretoria precisa fazer sua parte para ajudar a tornar o contexto, que como visto é adverso, um pouco menos árido. O treinador pode ser rabugento, mas está coberto de razão, ainda que na partida de ontem a sinergia com a torcida distante do Rio de Janeiro tenha sido perfeita. Os jogos como mandante em outras praças devem ser menos constantes e exceções.

***

O destaque final vai para a reconciliação do time com a torcida de Brasília (Distrito Federal e Entorno), com direito a Guerrero comemorando gol com a torcida, algo inédito em sua trajetória no Flamengo até aqui, salvo engano. O clima no estádio foi de alto astral desde antes da partida, e a torcida, que pulou, gritou e apoiou o jogo todo, até debaixo de chuva, desceu as rampas do estádio, feliz da vida, cantando "no estilo Maracanã".

Bom dia e SRN a tod@s.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Fluminense x Flamengo



Campeonato Estadual 2016 - 5ª Rodada

Fluminense - Diogo Cavalieri; Wellington Silva, Henrique, Marlon e Giovanni; Pierre, Cícero, Gustavo Scarpa e Diego Souza; Marcos Junior e Fred. Técnico - Eduardo Baptista.

FLAMENGO - Paulo Victor; Rodnei, Wallace, César Martins e Jorge; Cuéllar, Willian Arãe Mancuello; Marcelo CirinoEmerson Sheik e Guerrero. Técnico - Muricy Ramalho.

Data, Local e Horário - Domingo, 21 de fevereiro de 2016, as 19:30h (USA ET 17:30h), no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha ou "Mané Garrincha", no Brasília/DF.

Arbitragem - Bruno Arleu de Araújo, auxiliado por Rodrigo Henrique Correa e Thiago Henrique Neto Farinha.

Alfarrábios do Melo

Senhor Presidente,

É a primeira vez que me dirijo ao senhor nesses três anos.

Antes, permita-me uma apresentação rápida. Sou sócio, votei no senhor, aliás me despenquei de Salvador até o Rio para votar. Sou adepto e entusiasta da sua administração.

Sempre bom frisar esse tipo de coisa para que não se me confira um inadequado viés político, porque tudo hoje em dia parece ter conotação eleitoral, manifesto, terceiro turno, blá. As linhas que seguem não refletem situação, oposição e muito menos as palavras da mais nova praga digital, a do “isentão”, que critica por criticar, para parecer “independente”.

Acho que basta de prolegômenos, Senhor Presidente.

Daí que vim aqui para falar de um assunto chato. Incômodo.

O senhor, decerto, acompanhou os acontecimentos do último domingo, lá naquele estádio encravado nos arredores de São Cristóvão. Quero falar um pouco daquilo. Do jogo, dos seus antecedentes e de seus efeitos.

Time jogou mal, não é? Fez um primeiro tempo razoável, equilibrado, com boa postura, revidando as pancadas, realmente deu a impressão de que estávamos diante de um grupo com certa fome. Criou chances de gol, essas coisas.

Mas tudo ruiu no segundo tempo, Senhor Presidente. Fomos engolidos, mastigados e cuspidos. Qual um olaria da vida, Senhor Presidente. Mal passamos da intermediária. Eu contei, Senhor Presidente. Depois dos 25 minutos não ganhamos UMA bola dividida. UMA bola dividida num clássico. Fomos encurralados como ratos, Senhor Presidente. Bola na trave, defesa difícil do goleiro, o diabo, Senhor Presidente. Até o esperado golpe final, já nos descontos.

Alguém frisará, foi uma tarde ruim.

Todos temos tardes ruins, Senhor Presidente, lá isso é verdade. Há dias em que a coisa simplesmente não anda, que nada dá certo, que o espírito coletivo é tomado por alguma apatia mesmo, e todo o planejamento técnico, tático, arrisca afundar água abaixo. Não nego o fato.

Acontece, Senhor Presidente, que essa foi a sétima “tarde ruim” seguida contra o MESMO adversário. Repito, a sétima. Sétima, Senhor Presidente.

Deixa eu falar uma coisa pro senhor. 2013 era a tal terra arrasada, 2014 houve aquele entusiasmo excessivo pela Libertadores que gerou uma ressaca perigosa e 2015 foi comprometido pelos erros na montagem inicial do elenco, além da questão da eleição (que não vou desenvolver aqui). No entanto, de uma forma ou de outra, nós entendemos a mensagem de reconstrução, tivemos uma paciência inusitada, brigamos na defesa do modelo adotado, vislumbrando um trabalho de reestruturação, de longo prazo, dessas coisas todas. Engolimos toda uma plêiade de reveses (também houve esparsas alegrias), suportamos toda uma miríade de humilhações e constrangimentos, esperando o pote de ouro no fim da estrada de tijolos amarelos.

Mas isso não é eterno, Senhor Presidente. A carência acabou. Tá na hora do resultado.

Senhor Presidente, a gente aceita perder. A derrota dói, incomoda, fere. Mas a gente assimila, desde que tenha sido colhida apesar da luta, da briga, do inconformismo, da postura altiva, da ATITUDE em campo. Somos vencedores em essência, Senhor Presidente. Nascemos entre os grandes, já surgimos alinhados ao escol do futebol nacional. A fibra, o denodo, o élan, está em nosso sangue, do torcedor ao ponta-esquerda, passando pelo médico, pelo roupeiro, por quem quer que vista as sagradas cores negra e encarnada da nossa bandeira. São valores, sinais de identidade, Senhor Presidente. Cada flamengo carrega em suas entranhas a inextinguível e ardente chama que se alimenta do sangue e do suor derramado nas encarniçadas batalhas intrínsecas às grandes vitórias, às conquistas que se perpetuarão gravadas nos anais da história.

Isso não pode ser tirado de nós, Senhor Presidente.

Vou dar um exemplo. Não, não quero citar decantados exemplos de Zico, Zizinho, Dida. Retroagirei exatos 100 anos, aterrissando na temporada de 1916. Não foi um bom ano, Senhor Presidente. O Flamengo começava a viver uma fase de transição, a vitoriosa geração que forjou a criação do Departamento de Esportes Terrestres começava a sair de cena, e o time não logrou obter nada mais expressivo do que um opaco quarto lugar no Campeonato da Cidade. Daí, Senhor Presidente, que nesse ano, mais precisamente em 29 de outubro, enfrentamos o Botafogo no nosso campo inaugurado poucos meses antes, na Rua Paysandu. O time estava mal e foi dominado desde o início pelo rival, que não demorou para abrir 3-1 no placar. Lutamos, brigamos, mas o Botafogo sustentava a vantagem e quase nos goleou. O tempo escoava, mas nosso torcedor não arredava pé do estádio. O time levando um baile, e o torcedor lá, balançando seus chapéus e lenços, gritando “Fla-men-goal”, Senhor Presidente. E então, a dois minutos do fim, o Nery, nosso zagueiro e capitão, se aventurou ao ataque e diminuiu. Viramos bichos, Senhor Presidente. E a seguir, na última bola do jogo, o mesmo Nery meteu o gol de empate. As arquibancadas, tinta ainda fresca, foram abaixo. “Fla-men-goal, Fla-men-goal!”, teve jogador nosso quase desmaiando do esforço. 1916, Senhor Presidente. CEM anos atrás, Senhor Presidente. Um time não tão forte, num momento ruim, mas que honrava a camisa, jamais se entregava. Como praticamente todos os que se seguiram desde então. Um Flamengo que, quando estava perdendo, suscitava a máxima, “se diminuir, empata”, “se empatar, vira”.

Eu faço acrobacias, dobro-me em verdadeiras cambalhotas mentais, entrego-me a lisérgicos exercícios de imaginação, tentando transpor para o nosso momento atual, com o nosso time atual, um cenário em que estivéssemos perdendo um clássico por 2-0 e em que empatássemos nos minutos finais. Só me ocorrem frouxos de riso, Senhor Presidente. Risos frouxos. Frouxos.

Senhor Presidente, nosso torcedor foi segregado a tapumes, qual gado, num gueto de cimento quente, com sol na cara, sem água pra beber, sujeito a porrada, a tiro, a mijo, a pedrada. Mesmo quem não se dignou a expor sua integridade física e mental e se manteve em casa estava sequioso, Senhor Presidente. Estava clamando por uma atuação que mostrasse a todos do que somos feitos, qual nossa verdadeira essência, nossa força. Queríamos que aqueles onze jogadores, de alguma forma, nos representassem, Senhor Presidente. Que colocassem em campo nossas cores. Nosso coração. Nossa alma.

E o que se viu foi aquilo, Senhor Presidente. O nosso goleiro fazendo cera pra segurar o “precioso” empate.

Senhor Presidente, fomos jogar em São Januário para torcida única. Quem conhece minimamente o espírito que move as rivalidades locais tem ideia do que isso significa. Não me interessa o contexto, Senhor Presidente. Aquiescemos, sem dizer UMA palavra em contrário, em participar de uma situação que, por si só, feriu de morte nossa dignidade institucional. Fomos tratados como camundongos, Senhor Presidente. Chegamos ao estádio camuflados, quase escondidos em ônibus de carreira. Nosso representante foi enxotado a pontapés da Sala de Arrecadação. Quebraram lá uma ou outra louça, aceitamos nos cobrarem o reparo do banheiro inteiro, Senhor Presidente. Fomos achincalhados dentro e fora do campo. E o nosso goleiro fazendo cera, Senhor Presidente.

Senhor Presidente, o Flamengo não poderia colocar os pés naquele estádio, diante daquelas circunstâncias. E, se tivesse falado minimamente grosso, esse jogo não seria lá. Ministério Publico a favor, imprensa doida para criar clima de guerra. Torcida única, Senhor Presidente?

Não nos iludamos, Senhor Presidente. A postura de uma equipe em campo reflete a cultura de toda uma organização, de uma instituição. Por mais competitiva que seja a mentalidade de um profissional da envergadura de um Muricy Ramalho, ela somente permeará o espírito de um grupo se ela estiver fundamentada nos mesmo pilares de cobrança e exigência de toda a cúpula. Do Departamento de Futebol. Da Administração. Vem de cima, Senhor Presidente.

Porque, a partir do momento que o clube aceita jogar no estádio inimigo, sem torcida, recebendo sua cota do inimigo como esmola, se esconde em ônibus de carreira, é espezinhado em rede nacional na véspera do jogo e responde com palavrinhas refinadas e sutis (aquilo do “falar russo” é o tipo de ironia que eu fazia no meu tempo de escola) em vez de apresentar atitudes firmes e convictas, a partir do momento em que se escuda e se escora no raso e fácil argumento do “somos minoria no Arbitral”, Senhor Presidente, isso tudo transmite uma sensação de falta de firmeza, de cupidez, de leniência, de bovina resignação à exposição e ao enlameamento do nome da instituição. E isso transborda, mas transborda de forma farta, ampla, caudalosa, no corpo funcional, no “chão de fábrica”. Se a Diretoria não demonstra fome, os jogadores o farão?

Estou terminando. Sei que o trabalho administrativo levado a cabo no Flamengo nesses últimos três anos tem sido exemplar, modelo, prêmio de gestão, enfim. É um trabalho sem precedentes para que o ranço obsoleto e amadorista seja extirpado da Gávea e o clube passe a ser gerido de forma compatível com sua envergadura. Nunca mais o atraso, o amadorismo, as gestões predatórias. Mas ganhar do Vasco é coisa anacrônica?


É só isso, Senhor Presidente.