segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

O Olho do Furacão e a Reconciliação

Salve, Buteco! Escrevo esse post na tarde de domingo, 21 de fevereiro de 2016, pouco antes do almoço e de partir rumo ao Estádio Nacional Mané Garrincha para assistir ao Fla-Flu. O resultado da partida não influencia o meu ponto de vista. Não é novidade para qualquer torcedor (a) do Flamengo que acompanhe com um pouco mais de atenção as notícias do futebol que a Diretoria vem encampando antigas reivindicações da torcida (sócios ou não) que inegavelmente afetam as relações externas do clube, tais como busca de melhores condições contratuais em negociações de direitos de transmissão televisiva, calendário, formato e priorização de competições; estádio próprio ou modelo de relação jurídica na utilização do Maracanã, formato e promoções do programa sócio-torcedor (assunto diretamente influenciado pelo tema estádio próprio), finalização do centro de treinamentos e captação de investimentos e patrocínio para o setor (futebol).

A questão do Maracanã é particularmente relevante e intrincada. O amigo @Bcbfla, em um comentário bastante perspicaz no texto do Bruno Trink de sábado, ressaltou a complexidade da situação e a eventual possibilidade do Flamengo partir para a opção, repleta de incertezas, de construir um estádio próprio, e o Maracanã vir a ser cedido a um dos três rivais do Rio de Janeiro. É apenas um exemplo da miríade de complexos assuntos que a Diretoria enfrenta atualmente para colocar o Flamengo no patamar que tod@s sonhamos. Para mim, é como se estivéssemos sendo afetados pelo epicentro de um grande furacão ou tornado, ou seja, passando por seu pior momento, haja vista que os assuntos, em sua maioria, estão em fase de discussão ou execução, mas não de resolução.

Não acho que a Diretoria possa ser criticada por qualquer dessas bandeiras (sem qualquer trocadilho!) que assumiu, haja vista que são antigas reivindicações da torcida, porém é inegável que, uma vez assumidas e publicamente enfrentadas (porque era o momento!), formaram um contexto político bastante adverso para o clube, e que ao meu ver vêm produzindo efeitos negativos dentro de campo. 

Por outro lado, seguindo o planejamento divulgado originalmente pela Diretoria, o Flamengo teria um primeiro semestre, até a estreia no Campeonato Brasileiro, dividido entre o Campeonato Estadual disputado por um time misto entre reservas e juniores e a Primeira Liga e amistosos com o time principal. Com a divulgada exigência, baseada em cláusulas contratuais relacionadas com direitos de transmissão, da utilização dos titulares no Estadual, modificou-se totalmente o planejamento divulgado e agora o time principal vem sendo utilizado em ambas as competições. Obviamente, a primeira consequência é a diminuição do tempo disponível para treinamentos - físicos, táticos e técnicos, além de toda a preparação fisiológica e recuperação. Percebam, porém, que até a utilização de reforços de maior investimento provavelmente foi acelerada e bastante intensificada, logo no início da temporada, em relação ao cronograma inicialmente traçado.

Para complicar ainda mais, a esse difícil contexto se somam, em posição de contradição, a necessidade de jogar mais próximo do Rio de Janeiro, minimizando os efeitos deletérios da diminuição do tempo e das viagens, e a necessidade do clube arrecadar com a negociação de mandos de campo para praças distantes do Rio de Janeiro, de modo a minimizar o prejuízo decorrente do Campeonato Estadual (retenção das cotas de direito de transmissão pela FERJ e arrecadação por bilheteria) e de não haverem sido renovados, até o momento, os contratos de outros patrocinadores da camisa, mas apenas o principal.

O torcedor está impaciente, frustrado por dois anos com campanhas ruins na Libertadores (2014), Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro. Vivemos o tempo da interação virtual, que potencializa tanto as cobranças e insatisfações, como, quando é o caso, o efeito das glórias e vitórias. O treinador Muricy Ramalho ressaltou, ao assumir o time, que os resultados precisam aparecer dentro de campo, mas para tanto deve ter todas as condições para preparar o time. Na medida do possível, penso que a Diretoria deveria atendê-lo com menos jogos fora do Rio de Janeiro, acrescentando ao planejamento um especial suporte psicológico ao elenco.

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Até aqui, como frisado, a coluna foi escrita antes do Fla-Flu. A partir de agora, escrevo após voltar do estádio. O discurso do treinador Muricy Ramalho pode até parecer um amontoado de reclamações rabugentas, mas ao ver faz todo o sentido. Em uma semana que começou com grande desconfiança após uma atuação ruim contra o Vasco da Gama e uma vitória burocrática "rodando o elenco" contra o América/MG, a estratégia de poupar alguns jogadores parece ter funcionado contra o Fluminense, pois, ao menos até aqui, parece-me ter sido a melhor atuação da equipe no ano, até porque se tratou do time titular, que finalmente deu mostras do que poderá apresentar de positivo ao longo do ano. Tive a oportunidade de assistir ao vivo, no estádio, o esquema tático 4-1-4-1 funcionando de forma compacta, com a segunda linha de quatro marcando com a efetiva colaboração dos dois pontas (Cirino e Emerson Sheik) e dos dois "meias internos" (Willian Arão e Mancuello) pressionando o Fluminense, que, por ter atuado em um 4-4-2 anacrônico com dois atantes lentos e isolados no ataque (Fred e Diego Souza), pode ter facilitado muito a efetivação da supremacia tática rubro-negra na partida.

Não vi nenhuma atuação exuberante; porém, o time todo jogou bem, o conjunto funcionou. O mais legal foi ver os jogadores efetivamente ligados e jogando com intensidade, seja na marcação, seja na movimentação durante a articulação de jogadas no ataque. Embora no começo do jogo tenha detectado um espaço entre Cuéllar e a segunda linha de 4, aos poucos o problema foi corrigido e a equipe se posicionou de forma harmônica em campo. A expulsão de Cuéllar, que fazia uma ótima partida, dificultou muito para a equipe que estava melhor distribuída no gramado. Logo após a parada técnica da segunda etapa, o treinador Eduardo Baptista, do Fluminense, tirou Diego Souza e colocou Oswaldo, situação que basicamente "igualou" os esquemas táticos e equilibrou a partida. Ocorre que vários de nossos jogadores a partir de então exibiram sinais claros de fadiga, casos de Rodinei, Willian Arão e Sheik. Acredito que as substituições de Mancuello, primeiramente, e depois de Sheik tenham se dado, respectivamente, pela forte pancada sofrida pelo argentino, na altura do joelho, e pela entrada de Oswaldo, no caso do nosso veterano, que até então vinha ajudando Jorge de forma absolutamente aplicada em nível tático.

Para que atuações como a de ontem se tornem regra e o padrão de jogo do time possa ser elevado, a Diretoria precisa fazer sua parte para ajudar a tornar o contexto, que como visto é adverso, um pouco menos árido. O treinador pode ser rabugento, mas está coberto de razão, ainda que na partida de ontem a sinergia com a torcida distante do Rio de Janeiro tenha sido perfeita. Os jogos como mandante em outras praças devem ser menos constantes e exceções.

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O destaque final vai para a reconciliação do time com a torcida de Brasília (Distrito Federal e Entorno), com direito a Guerrero comemorando gol com a torcida, algo inédito em sua trajetória no Flamengo até aqui, salvo engano. O clima no estádio foi de alto astral desde antes da partida, e a torcida, que pulou, gritou e apoiou o jogo todo, até debaixo de chuva, desceu as rampas do estádio, feliz da vida, cantando "no estilo Maracanã".

Bom dia e SRN a tod@s.