segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Deixemos o Favoritismo com o Lado de Lá

 

"Depois do 4 a 0, o Palmeiras é favorito em qualquer jogo. Menos no jogo de domingo, contra o Juventude, porque vai estar muito cansado. Mas, assim, 4 a 0 tem um efeito psicológico gigantesco para a decisão."

Paulo Vinicius Coelho

Salve, Buteco! Vi muitos rubro-negros incomodados com uma declaração feita por um jornalista declaradamente palmeirense, mas que, já há um bom tempo, tem se comportado mais como torcedor do que como um profissional de imprensa. 

Para ser bem justo, devo lhes contar que outro dia assisti a uma transmissão da Paramount+ (Flamengo 1x0 Racing, jogo de ida das semis da Liberta) na qual ele era o comentarista e achei que se comportou de maneira bastante digna e isenta.

Por isso mesmo, nem me animo em pegar no pé do sujeito. Só para começar, tem cronista medalhão fazendo muito pior, jogando com o nome e a reputação (hoje, talvez injusta), mas agindo de maneira extremamente canalha:

O ponto é o seguinte: a imprensa 011 não tem o menor interesse que não seja um clube da capital paulista o maior vencedor da História da Libertadores, nem muito menos que se descole dos demais, atingindo o patamar de maior clube do Brasil.

Se o torcedor rubro-negro não tomar cuidado e não filtrar o que vier de lá, pode cair em perigosas armadilhas. Uma delas é a do favoritismo e vou tentar explicar por que penso dessa maneira.

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Quem me dá a honra de acompanhar o Blog e as minhas postagens sabe que eu sempre gostei de analisar o Flamengo a partir de um ângulo autocrítico. Posso nem sempre ter encontrado o tom certo, como, aliás, nem sempre o faz a torcida como um todo, mas se tem algo que eu gosto na Nação é justamente a cobrança pela melhor performance possível, dentro e fora das quatro linhas.

Por isso mesmo, tenho convicção de que, antes de qualquer debate a respeito de favoritismo e, portanto, de apontar fragilidades ou posição de inferioridade no adversário, é melhor olhar para o nosso próprio umbigo e enxergar problemas que precisam ser resolvidos.

Sim, o Flamengo tem problemas e não são nem um pouco simples de resolver. Pedro, o centroavante mais técnico das Três Américas, tem uma fratura no pulso e, hoje, as condições nas quais estará no dia da final em Lima são uma incógnita. Percebam que não coloco em questão sua presença entre os relacionados, mas questiono as condições de jogo ou ritmo de competição, para ser mais exato.

Gonzalo Plata, atacante que, muito embora não tenha uma veia artilheira, otimiza o time taticamente com sua alta capacidade de movimentação e associação, não estará presente por conta do absurdo cartão vermelho que a equipe chilena de arbitragem lhe aplicou na partida no Cilindro.

Bruno Henrique, jogador vocacionado para decisões, mas que vem tendo uma temporada bastante irregular (embora tenha sido decisivo em alguns jogos importantes), provavelmente será julgado pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva antes da final. O tempo de afastamento pela inevitável punição é mais uma incógnita.

Juninho e Wallace Yan, as demais opções do elenco para a posição de centroavante, possuem baixa minutagem na temporada, por diversos motivos, alguns justos, outros não. E sua utilização pelo treinador no mês que antecede a grande decisão, neste momento, não pode ser definida por outro termo que não... incógnita!

Jorginho, recém lesionado e peça-chave do time, uma das melhores e mais importantes contratações que já vi o Flamengo fazer (lembrem-se que acompanho o clube há mais de meio século), parece ter sofrido uma lesão importante. Já há um "disse-me-disse" quanto ao tempo de recuperação.

São problemas mais do que suficientes para frear discussões a respeito de quem terá "mais bala na agulha" no sábado de 29 de novembro, concordam?

Mas deixem-me falar um pouco sobre o treinador, um dos temas preferidos dos estimados Amigos do Blog.

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Com 50 vitórias em 78 jogos, e alcançando, portanto, 75,3% de aproveitamento, como aponta esta matéria do GE, Filipe Luís vem conseguindo sobreviver com excelentes números, coisa que antecessores da experiência (ordem cronológica) de Renato Gaúcho (2 Copas do Brasil e 1 Libertadores), Jorge Sampaoli (1 Copa América e 2 participações em Copa do Mundo) e Tite (todos os títulos possíveis em clubes e 2 ciclos de Copa do Mundo) não conseguiram.

É importante contextualizar. O Flamengo/2025, na minha opinião, representa um upgrade em seriedade e profissionalismo em relação à gestão anterior. Este fator, somado à condição de jogador histórico do clube, de certa forma blinda Filipe Luís, inclusive pela torcida, garantindo-lhe um ambiente de trabalho que seus antecessores não tiveram.

Contudo, mesmo aplicando esses filtros, tenho a convicção de que nossas chances de título existem porque o trabalho do treinador é consistente, fruto de um talento e de um conhecimento sobre futebol acima da média para um profissional tão jovem e com tão pouco tempo de profissão. No frigir dos ovos, mesmo com esse ambiente favorável, o Flamengo é pressão pura e os números do seu trabalho, ao menos no meu ponto de vista, refletem sobretudo qualidade e competência.

Não que seja perfeito...

A estratégia para o recente confronto contra o Fortaleza, no Castelão, que o diga. Um zunzumzum que andou circulando recentemente aponta para uma divergência interna sobre a minutagem de Jorginho. Segundo essa versão, atleta e treinador divergiram de alguns profissionais do Departamento Médico.

Deu no que deu...

Outro ponto no qual o treinador não se ajuda é no discurso, para além do apego com relação a algumas convicções. É sempre melhor justificar uma tomada de decisão com base em fatos, em vez de ideações. A repetição da expressão "convicções" é desgastante e irrita (com razão) a torcida, transmitindo uma sensação de insegurança. Convenhamos, é bem mais fácil discursar do que debater fatos concretos.

Ainda assim, acho o nosso treinador melhor do que o deles. Nos posts Ainda o Calendário e as Escolhas e Formatos: Treinador, Diretor Técnico e o Vencer, Vencer, Vencer deixei bem claras as minhas ressalvas em relação ao combo diretor técnico e treinador Abel Ferreira, bem como a minha tese segundo a qual o Palmeiras priorizou as grandes copas nas três temporadas anteriores, mas fracassou, tendo conquistado o título do Brasileirão no mesmo modo que o Flamengo de Rogério Ceni o fez em 2020: correndo atrás do prejuízo.

Além disso, se o Palmeiras/2025 encorpou nos quesitos investimento e individualidades de primeira prateleira no futebol sul-americano, o manager ainda não conseguiu montar uma zaga confiável. Não por conta do competente, mas açougueiro Gustavo Gómez, e sim pelos seus companheiros, os quais, juntos, na minha opinião, não dão um Léo Duarte ou um Rhodolfo, para ficarmos na geração pré-2019.

Só que a discussão sobre qual é o melhor treinador é outra pegadinha, irmã gêmea do debate sobre o favoritismo. Abel Ferreira tem os fatos a seu favor. Fatos, no caso, equivalentes a grandes taças. Que fique bem claro: ter caído nas copas antes da conquista dos títulos brasileiros de 2022 e 2023 não tira nem diminui o mérito por essas conquistas. Muito pelo contrário, mostra um planejamento sólido e bem sucedido em seu plano B (ou C), coisa que o Flamengo de Landim e Braz só conseguiu em 2024, com a Copa do Brasil, jamais com o Brasileirão.

Numa final ou em qualquer confronto direto, sou mais Filipe Luís do que Abel Ferreira; porém, além da comparação entre um treinador novato e um que tem um cartel de títulos e um trabalho consolidado de 5 anos não ser conveniente e nem oportuna, os já apontados problemas que se põem diante do Flamengo antes da final merecem bem mais a nossa atenção.

Por exemplo, se a zaga palmeirense é insegura e claramente inferior à rubro-negra, o nosso ataque tem tantos problemas e incertezas que pode não vir a ser consistente o suficiente para aproveitar essa teórica vantagem.

Aliás, vejo esse tema como um subtópico de um mais abrangente: a rodagem do elenco. Como adiantei no Esquenta do último sábado, a CBF ainda não decidiu o que fazer com os jogos de Flamengo, Palmeiras e Atlético Mineiro nas datas das finais das Copas Libertadores e Sul-Americana. 

Os jogos do Atlético contra os finalistas da Libertadores serão afetados por essas duas finais. Contra o Palmeiras, por ser o jogo de meio de semana que antecede a final da Sula, e contra o Flamengo, por simplesmente ser o jogo do final de semana da final da Liberta.

Na iminência uma Data FIFA que dá sinais de que não será monótona como as anteriores, seja pela marcação de jogos (no plural), seja pela convocação de jogadores importantes de Flamengo e Palmeiras (além das contusões), a rodagem do elenco e a competitividade de formações forçosamente alternativas passam a ser, sem a menor somba de dúvida, temas de relevância e urgência.

Por isso vos digo: melhor sempre olhar antes para o próprio umbigo do que apontar o dedo.

Na hora da onça beber água, o mais preparado consegue sobreviver.

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Para quem ainda tem algum resquício de dúvida, é só olhar a foto do início do post e lembrar de 1999.

Deixemos então o favoritismo com o lado de lá. O Flamengo provocado e subestimado é sempre muito mais forte.

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Tenham uma semana abençoada, repleta de paz.

A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.