segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Foi-se o Brasileiro, Ficam as Copas. Sem Terra Arrasada.

 

Salve, Buteco! O empate foi frustrante e acho melhor deixar claro de uma vez que Dorival acertou na escalação, mas errou em um momento decisivo durante o jogo. A estratégia de escalar o time alternativo, ousada e muito bem sucedida até o intervalo, foi perfeita. Dorival surpreendeu Abel. Foi um primeiro tempo excelente para uma formação reserva (apenas Cebolinha e Lázaro destoaram) contra o líder o certame, fora de casa.  Se Pablo não errasse bisonhamente aquele cabeceio, teria sido 2x0 nos 45 minutos iniciais.

Não discuto com fatos.

O erro foi cometido no timing das substituições, na demora que gerou empate do Palmeiras. Isso porque a pressão, como até as pedras esperavam, veio forte no início da etapa final e, pelo desencadeamento do jogo, com o adversário passando a entrar na nossa área tabelando, diante da inversão de lado de Dudu e Raphael Veiga e a inoperância de Cebolinha,  era intuitivo que o gol de empate estava por acontecer. Então, também era intuitivo que, se os titulares tivessem entrado com o time ainda em vantagem no placar, muito provavelmente o Palmeiras teria se desestabilizado, pois teria menos a bola precisando ao menos empatar o jogo. 

Infelizmente, ocorreu o contrário. E com o jogo empatado, os titulares encontraram um cenário desfavorável, com o Palmeiras administrando a confortável vantagem de 9 pontos na tabela, além do fator psicológico, que pesava ao nosso favor enquanto o jogo estava com 0x1 no placar. Senti falta de convicção em quem entrou. O único que meteu os pés em divididas foi King Arturo Vidal (não por acaso levou o amarelo). Os demais tiveram performance pálida, sendo generoso. Talvez essa falta de convicção comece por cima, por Dirigentes que preferem a arrecadação em detrimento do Campeonato Brasileiro.

No frigir dos ovos, nosso querido Dorival arriscou além do aceitável e acabou se autossabotando, por via de consequência minando as nossas derradeiras chances no Campeonato Brasileiro. O Flamengo não depende mais de si, pois não haverá mais confrontos diretos, e é improvável que o regular e constante Palmeiras perca a ponta da tabela. 

Não discuto com fatos.

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Algumas análises sobre Jorge Jesus caem no lugar-comum da idolatria, desprezando o contexto e detalhes importantes do seu marcante e histórico trabalho à frente do Flamengo, inclusive como leu o cenário brasileiro e o Flamengo como poucos treinadores fizeram no clube, em seus quase 127 anos. O Mister é um exímio conhecedor de tática, mas tem um personalidade complexa, que nem sempre é bem aceita no ambiente europeu. Além disso, no contexto da Europa, é uma espécie de "white thrash" (conceito horroroso e racista, mas real), um homem de origem humilde, que não se comunica em outros idiomas que não o português, e que injustamente sofre com a barreira social em países como Espanha, Inglaterra, Itália e Alemanha. Não fossem essas lamentáveis barreiras, teria feito bons trabalhos nesses mesmos mercados.

Faço essas observações com o intuito de demonstrar o quanto o seu padrão é alto como referência. Treinadores brasileiros não são menos inteligentes do que estrangeiros e nem tampouco têm menos potencial. A questão é de formação, especialmente na parte tática, mas também na interação com importantes setores como fisiologia, medicina e preparação física. No Flamengo, JJ trabalhava até com complexos conceitos como o de motricidade, ao passo que o treinador brasileiro, em geral, ainda que tardiamente, está aprendendo a lidar com todas essas informações e a faceta moderna do futebol globalizado.

O "excesso de prudência" de Dorival pode encontrar explicação, mesmo que parcial, dentro desse contexto. Talvez tenha optado pela segurança dentro de um cenário novo, que não domina, especialmente em um clube como o Flamengo,  sendo por isso mais conservador na aplicação do conceito de minutagem. 

Não se trata de justificativa, mas de uma possível causa, não excludente de outras. Não existe treinador perfeito e parece cada vez mais evidente que encontrar treinador estrangeiro de ponta que se adapte à realidade brasileira e sul-americana, e ao peculiar e gigante Flamengo, está longe de ser uma tarefa simples (muito pelo contrário).

O Flamengo perdeu um semestre com a farsa chamada Paulo Sousa. Dorival chegou e comprovou que é muito melhor ter um treinador brasileiro experiente, com mentalidade ofensiva e abertura para interagir com o que oferece o nosso moderno Departamento de Futebol, do que um estrangeiro autoral sem a menor capacidade para transformar o conhecimento teórico em competitividade e resultados.

Tudo na vida é contexto e acredito na capacidade de qualquer profissional evoluir, até mesmo quem já tenha mais idade. Contudo, fica o alerta (primeiro alerta): Dorival precisa compreender que as virtuais finais contra o Palmeiras de Abel Ferreira e o Corinthians de Vítor Pereira não admitirão vacilos como o de ontem.

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Dorival pode ter sido conservador (nas substituições) também porque, como já divulgado, pretende que essa terceira passagem pelo Flamengo marque uma virada em sua carreira, com a conquista de títulos importantes. Logo, sua prudência no jogo de ontem, que resultou na perda de nossas chances no Brasileiro, gera o inafastável ônus da conquista de ambas as copas (segundo alerta).

Sem nhenhenhém.

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Não sou exatamente um fã da Copa do Brasil, como vocês sabem, e para mim é extremamente frustrante ver o Campeonato Brasileiro ser colocado em terceiro plano. Por outro lado, na edição atual, eliminamos o Atlético Mineiro em um cenário de tensão poucas vezes visto na nossa História, o Athletico/PR em um ambiente muito hostil em Curitiba, e ainda podemos superar o São Paulo para, na final, vencer o Corinthians ou o Fluminense, em dois históricos Fla-Flus.

É hora de virar a chave e dar atenção para a Baranga Rica, já que a Patroa parece que não quer conversa tão cedo e a Musa é sempre muito disputada e traiçoeira.

E lembrem-se: até hoje ninguém conseguiu vencer as três simultaneamente. Talvez nossas expectativas fossem irreais após um semestre de Paulo Sousa. 

Portanto, na minha cabeça, não existe o menor espaço para terra arrasada.

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A palavra está com vocês.

Boa semana e SRN a tod@s.