segunda-feira, 30 de maio de 2022

A Queda do Tabu

 

Salve, Buteco! A expectativa que antecedeu o Fla-Flu de ontem me gerou grande ansiedade. Um misto de sentimentos contraditórios tomou conta de mim. A vontade de quebrar o inusitado tabu se misturou com um incomum ceticismo, por conta da falta de confiança em Paulo Sousa e nos jogadores, a qual, por sua vez, colidia com a improbabilidade estatística de, considerando a História do clássico, o Flamengo perder mais uma vez. A vontade de vencer ainda brigava com o anseio pelo alívio que só viria com o fim de um trabalho no qual ainda não acredito.

Esta análise publicada pelo jornalista Marcello Neves (@mneves_) em O Globo logo após a vitória do Fluminense sobre o Fortaleza no Castelão me intrigou. Ora, se foi reativo contra o Fortaleza, Fernando Diniz armaria da mesma forma o time contra o Flamengo, seguindo o que Abel Braga havia feito de maneira bem-sucedida no Estadual.

O que se viu em campo foi justamente o contrário. O início trouxe um Fluminense bem melhor postado e com controle do clássico, entrando mais uma vez na mente do time rubro-negro. Durante todo o jogo, a maior posse de bola do adversário e o número muito maior de finalizações mostrou que Fernando Diniz não temeu se arriscar a subir as linhas contra o Flamengo de Paulo Sousa.

Minha visão sobre os noventa minutos foi sintetizada por este breve fio do jornalista Rodrigo Mattos (@_rodrigomattos_) no Twitter

"Fluminense foi melhor no clássico, mais organizado, com uma proposta mais clara. Flamengo conseguiu a virada nos minutos em que encaixou sua marcação pressão. Depois disso, foi na base do Deus nos acuda e do seu goleiro. Placar não refletiu o que foi o jogo

E foi mal o Paulo Sousa. Time zoneado quase o tempo inteiro, só a marcação pressão funcionou em certos momentos. Demorou muito para perceber que era dominado no 2º tempo e, em vez de consertar para controlar, jogou o time para trás e só não tomou empate por sorte e pelo Hugo" 

Como escrevi neste post logo após a vitória sobre a Universidad Católica, o Flamengo de Paulo Sousa vive de "excertos de bom futebol, muito embora sem regularidade e nem sempre com bons resultados correspondentes." Econômico a ponto de ser sovina na prática do futebol de qualidade, nos únicos excertos durante os 90 minutos o Mais Querido construiu a virada.

Se o bom futebol foi escasso, felizmente as vitórias voltaram a acontecer.  

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Os irmãos Mário Filho e Nélson Rodrigues certamente escreveriam boas crônicas sobre pelo menos dois dos Fla-Flus de 2022. Arrisco dizer que os jogos seriam o primeiro das finais do Estadual e o de ontem. Isso porque o os times inverteram os papéis em nível de protagonismo e os acuados e reativos venceram os jogos.

Quem escrevesse sobre o Fla-Flu de ontem teria nas sagas de Andreas Pereira e Hugo Souza o enredo perfeito para contar mais um capítulo desse clássico, que pode não ser o maior, mais certamente é o mais místico e singular do futebol mundial.

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O Campeonato Brasileiro de 2022 é, até a 8ª Rodada, o mais equilibrado dos últimos anos. Embora tenham ocorrido algumas goleadas, a tônica é os clubes mais fortes enfrentando dificuldade para vencer equipes de menor investimento e elenco inferior.

Já na temporada passada era possível assistir a saídas de três e formações de ataque posicional ou passes "quebra-linhas" até na Série B. Em 2022, a coisa se generalizou. Logo, é importante reconhecer a qualificação da concorrência.

Esta constatação não pode servir de muleta para Paulo Sousa, que tem quase um semestre de trabalho, mas ainda não conseguiu montar um time coeso e impositivo como pede o elenco. Os jogadores parecem ter noção do quão aquém estão as atuações do time. Na entrevista pós jogo, ainda no gramado Gabigol ressaltou a necessidade de melhoras, inclusive ter maior percentual de posse de bola e jogar com mais intensidade. É confortante saber que os jogadores não estão satisfeitos e têm consciência do problema.

Olhando pelo ângulo do copo meio cheio, considero vitória de ontem como a segunda da temporada na qual o time foi muito pressionado, mas saiu de campo com três pontos. A primeira havia sido aquela sobre a Universidad Católica em Santiago, no Estádio San Carlos de Apoquindo, pela Copa Libertadores da América.

Já pelo ângulo do copo meio vazio, é impossível negar que, como bem diz o nosso amigo Bcbfla (@Bcbfla), o time sofre demasiadamente quando abaixa as linhas e cede muitas finalizações aos adversários. Observem que não se trata de preconceito com jogar de linhas baixas e explorar contra-ataques nos espaços vazios. É que o Flamengo não faz nem uma coisa, nem outra, ou seja, não tem conseguido se defender bem e nem encaixar contra-ataques, o que, justiça seja feita, esteve longe de ser um problema quando Renato Portaluppi, antecessor de Paulo Sousa, dirigiu a equipe.

Enquanto Everton Ribeiro alterna boas a fracas atuações, ou mesmo bons e maus momentos durante os 90 minutos, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol andam muito mal das pernas. Não é justificável que as maiores estrelas do elenco estejam rendendo tão abaixo. É evidente que há um problema coletivo, de responsabilidade do treinador.

Afinal, no frigir os ovos os jogadores estão se esforçando para executar as complexas e conceituais ideias de jogo de Mister Paulo Sousa.

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No próximo domingo, as 16:00h, o Mais Querido receberá o "posicional" Fortaleza de Juan Pablo Voyvoda, que, assim como o coirmão Ceará, parece ter perdido a mão na administração do Campeonato Brasileiro simultaneamente a uma competição internacional (Libertadores e Sul-Americana, respectivamente). Falta estrada a ambos os cearenses para essa prática, que, como bem sabemos, é bastante desafiadora, quase uma ciência.

Será a última partida da sequência no Rio de Janeiro. Três pontos são fundamentais e correspondem à atual distância para os três líderes - Palmeiras, Atlético/MG e Corinthians.

A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.