quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Alfarrábios do Melo



01 de abril de 1983 – O Fluminense vive uma das mais graves crises de sua história. Gravemente endividado, é incapaz de manter em dia os salários dos jogadores de seu elenco. No início do ano, vê-se forçado a negociar seu melhor jogador, o ponta-direita Robertinho (que anda sendo convocado para a Seleção) ao Flamengo. O clube acaba de ser eliminado da Segunda Fase do Brasileiro, não conseguindo se impor em uma chave que ainda reúne Náutico, Goiás e Rio Negro. Desesperado em busca de alguma fonte extra de recursos, cede o gramado do histórico Estádio das Laranjeiras (que sofre com a falta de manutenção) ao Circo Garcia, tornando-se motivo de chacota. A situação é tão séria que a Revista Placar lança a campanha “SOS Flu”, buscando chamar associados e torcedores a discutir a situação do clube. Há quem defenda o fechamento do Departamento de Futebol. Tem início uma mobilização institucional buscando evitar o pior.

1 ANO, 1 MÊS E 26 DIAS DEPOIS

27 de maio de 1984 – O Fluminense segura o empate em 0-0 com o Vasco e, diante de 128 mil pagantes, conquista o Campeonato Brasileiro. É o coroamento de uma campanha brilhante, em que o clube venceu 15 das 26 partidas disputadas. O tricolor das Laranjeiras é considerado, de forma quase unânime, a melhor equipe do País, com jogadores como Romerito, Paulo Vítor, Ricardo Gomes, Branco, Delei, Assis, Washington e Tato. No ano seguinte, cravará a conquista do Tricampeonato Estadual.

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17 de novembro de 2002 – O Internacional entra na última rodada do Brasileiro em situação muito complicada. Para escapar do rebaixamento, precisa vencer o Paysandu em pleno Mangueirão, onde dificilmente os paraenses são derrotados, e ainda torcer por uma combinação de outros três resultados. É a segunda vez em quatro anos que os colorados se veem às voltas com a briga para fugir do descenso. Entretanto, o imponderável acontece, os demais jogos têm desfecho favorável aos gaúchos e, em Belém diante de 40 mil pessoas, o Internacional consegue se impor a um (estranhamente, segundo alguns) desinteressado Paysandu, vencendo por 2-0, gols de Librelato e Fernando Baiano. A salvação alvirrubra é tratada como um milagre pela imprensa gaúcha.

3 ANOS, 8 MESES E 29 DIAS DEPOIS

16 de agosto de 2006 – O Internacional, após vencer por 2-1 o jogo de ida no Morumbi, segura no Beira-Rio o empate em 2-2 contra o São Paulo de Muricy Ramalho e se sagra, pela primeira vez em sua história, Campeão da Libertadores. As duas cardíacas partidas, talvez as melhores disputadas no País no ano, consagram o aguerrido e talentoso conjunto comandado por Abel Braga, em que brilham nomes como Fabiano Eller, Jorge Wagner, Tinga, Rafael Sobis e Fernandão. É o início de um ciclo que agraciará o Colorado com mais alguns títulos continentais e um Mundial.

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28 de novembro de 2004 – Ocupando a lanterna do Brasileiro desde a 29ª Rodada e realizando uma das piores campanhas da história dos pontos corridos, o Grêmio enfrenta, em Erechim (punição do STJD) o líder Atlético-PR a três rodadas do final, com o rebaixamento iminente. E, apesar de uma inesperada reação (busca o empate quando perdia por 3-0, marcando dois dos três gols nos descontos), o tricolor gaúcho é rebaixado pela segunda vez em sua história. Não surpreende. O clube já havia escapado por muito pouco do descenso no ano anterior, e nessa temporada as coisas caminham de forma ainda mais caótica. Jogadores vêm e vão praticamente sem atuar, os salários atrasam periodicamente, há registros de gravíssimos episódios de indisciplina e em campo as goleadas se empilham. O Grêmio toca o fundo do poço com os dedos.

2 ANOS, 5 MESES E 8 DIAS DEPOIS

06 de junho de 2007 – O Grêmio chega à Vila Belmiro trazendo a vantagem de ter vencido por 2-0 a primeira partida da Semifinal da Libertadores em casa. Com um time modesto mas extremamente organizado e aguerrido, em que a espinha dorsal está fincada em nomes como Diego Souza, Tcheco, Sandro Goiano e nos jovens Douglas e Carlos Eduardo, os comandados de Mano Menezes freiam o ímpeto inicial do Santos, abrem o placar e sofrem a virada. A poucos minutos do final, o Santos chega aos 3-1, mas ainda precisa de um tento. O Grêmio se entrincheira atrás e segura o ímpeto do time da casa. O placar é confirmado e os gaúchos chegam à Final da Taça Libertadores.

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02 de dezembro de 2007 – Desnorteado com o fim da parceria com a MSI, o Corinthians acumula vexames e derrotas. Durante o Brasileiro, utiliza três treinadores (Carpegiani, José Augusto e enfim Nelsinho Baptista) e, antes dispondo de jogadores estelares como Tevez, Mascherano, Roger e Nilmar, agora manda a campo times com nomes como Betão, Zelão, Clodoaldo e Finazzi. A crise institucional se agrava com a renúncia de seu Presidente. Os resultados logo se refletem dentro de campo, com a equipe paulista hospedada de forma permanente na Zona de Rebaixamento. Após ligeira ameaça de recuperação, o alvinegro chega à última rodada precisando de uma improvável vitória contra o Grêmio, no Olímpico. Dá tudo errado. O time ainda briga, mas não consegue mais do que um empate em 1-1. Com isso, os corintianos precisam que o Internacional (rival ainda ressentido pela briga no Brasileiro de 2005) vença o Goiás. Não acontece. Os goianos fazem 2-1 e o Corinthians é rebaixado à Segunda Divisão do Brasileiro.

4 ANOS E 2 DIAS DEPOIS

04 de dezembro de 2011 – Num jogo nervoso e catimbado, o Corinthians segura o 0-0 contra o Palmeiras no Pacaembu, resultado suficiente para manter-se à frente do Vasco e conquistar o título brasileiro, dando continuidade a uma sequência vencedora que redundará em mais algumas conquistas nacionais e aos sonhados títulos continental e mundial.


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04 de agosto de 1976 – O Flamengo vai a Campos enfrentar o Americano no Godofredo Cruz buscando se manter vivo no Estadual, que já está em seu Terceiro Turno (Vasco e Botafogo venceram os turnos anteriores). O clube vive momento turbulento, com diversos casos de indisciplina se acumulando, muito em função da falta de respaldo ao treinador Carlos Froner (há relatos de intromissão da Diretoria no trabalho do técnico, inclusive com interferência em escalações). O centroavante Luisinho, barrado, não é relacionado para o jogo (consta que teria se recusado a sentar-se no banco de reservas, o que foi negado pelo clube, que alegou “tontura” do jogador). Nervoso, o time não consegue se impor ao adversário, embora acerte uma bola na trave num chute de Geraldo. O jogo vai se arrastando num empate, até que numa cobrança de escanteio os campistas abrem o placar. O Flamengo sente o gol e se desespera, tornando-se exposto a contragolpes, que os da casa aproveitam. No fim, uma humilhante derrota por 3-0, com Zico, Geraldo, Rondinelli & Cia. O vexame praticamente sela a eliminação do rubro-negro, que, amargando o quinto lugar do Estadual, está fora do quadrangular que decidirá o título da competição.

3 ANOS, 10 MESES E 27 DIAS DEPOIS

01 de julho de 1980 – Numa das mais espetaculares e controversas decisões da história do Campeonato Brasileiro, o Flamengo faz valer sua superioridade técnica e derrota por 3-2 o Atlético-MG no Maracanã com 154 mil pagantes, sagrando-se Campeão Brasileiro, confirmando uma tendência já constatada no ano anterior, quando o rubro-negro já era tido como uma das melhores equipes do País. O título catapulta a ascensão internacional do Flamengo, que dali viverá os mais gloriosos anos de sua rica história, mantendo domínio absoluto do futebol brasileiro por cerca de uma década.

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20 de novembro de 2005 – O Flamengo, de 2001 a 2005, sofre com a ameaça de rebaixamento em quatro de cinco Brasileiros disputados (em 2000 também padeceria se houvesse descenso). Mas é justo em 2005 que a Série B parece refulgir em cores cintilantes. A oito rodadas do término da competição, o clube está na penúltima colocação e vem de três derrotas seguidas (uma delas, de seis). No entanto, o rubro-negro se mobiliza e, numa inacreditável jornada de superação, engata quatro vitórias em cinco jogos. A duas rodadas do fim, o Flamengo vai jogar em Curitiba, contra o Paraná. O jogo vai se arrastando em um 0-0 que já parece bom para o rubro-negro, até que, aos 47 minutos do segundo tempo, o contestado atacante Obina acerta uma bomba de fora da área e define a vitória por 1-0 que salva matematicamente o rubro-negro do rebaixamento.

4 ANOS E 16 DIAS DEPOIS

06 de dezembro de 2009 – O Flamengo, atuando para um público estimado de 100 mil pessoas, vence o Grêmio por 2-1, com gols de David e Ronaldo Angelim, e conquista o Hexacampeonato Brasileiro, colocando ponto final a uma sequência iniciada em 2006, que colocou nas prateleiras da Gávea dois títulos nacionais e três estaduais, entre outras jornadas inesquecíveis (como a de 2007). Aquela tarde ensolarada de domingo marca o ápice das trajetórias flamengas de nomes como Bruno, Leonardo Moura, Juan e, naturalmente, Petkovic e Adriano Imperador, os artífices da conquista.

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27 de dezembro de 2012 – Toma posse o Presidente Eduardo Bandeira de Mello após uma renhida eleição em que a atual mandatária, Patrícia Amorim, vê frustrada a tentativa de se reeleger. A Chapa vencedora, denominada Azul, assume o clube acenando com a perspectiva de promover uma profunda reestruturação estrutural, pavimentando o caminho para o retorno sustentável aos dias de protagonismo de um passado que parece a cada dia mais distante. O clima entre torcedores e associados em geral é de uma esperança quase eufórica. O adágio “Dias Melhores Virão” nunca pareceu tão real.

5 ANOS, 7 MESES E 24 DIAS DEPOIS…

Boa semana a todos.