quarta-feira, 25 de abril de 2018

Alfarrábios do Melo

OS DOZE - PARTE II

(Continuação - Primeira Parte aqui)


7 - CRISTÓVÃO BORGES (Maio 2015 – Agosto 2015)

PERFIL
Jovem, estudioso, razoáveis a bons trabalhos recentes (Vasco, Bahia, Fluminense), conhecimento do futebol carioca, boa relação com os jogadores, dificuldades de impor disciplina.
CONTEXTO
Mais uma vez, o Flamengo larga mal no Brasileiro, mas dessa vez não teme o rebaixamento. O elenco é nitidamente mais qualificado que nos anos anteriores. É confirmada a primeira contratação de primeira linha da Administração, o atacante Paolo Guerrero, artilheiro da Copa América e titular do Corinthians. O objetivo da temporada é conquistar uma vaga para a Libertadores.
RESULTADOS
Cristóvão perde cinco dos primeiros oito jogos e não consegue tirar o Flamengo da parte de baixo da tabela. O time se propõe a exercer marcação alta e intensa mobilidade, filosofia de jogo incompatível com o nível do elenco (ainda limitado, apesar da melhora). O comportamento hesitante de Cristóvão (chega a demonstrar indecisão em alterações durante os jogos) não ajuda. O treinador ganha sobrevida com a estreia de Guerrero e a empolgação e as vitórias dela decorrentes. Mas a irregularidade da equipe, que jamais decola, faz a torcida perder a paciência com Cristóvão, que reage invocando “excessivas e estranhas” cobranças. Muito querido entre os jogadores, conta com a simpatia do Presidente, que resiste a demiti-lo. Mas uma derrota para o Vasco, no jogo de ida das Oitavas de Final da Copa do Brasil, é a gota d’água.


8 - OSWALDO DE OLIVEIRA (Agosto 2015 – Novembro 2015)

PERFIL
Experiente, com várias passagens por equipes de ponta, com alguns bons trabalhos recentes (Botafogo e Santos, junto com um mau desempenho no Palmeiras), de excelente relacionamento com jogadores, capaz de mobilizar líderes de elenco, é considerado uma opção de “continuidade” a Cristóvão. A exemplo de seu antecessor, não lida bem com casos de indisciplina.
CONTEXTO
O Flamengo já conta com alguns bons jogadores, mas o conjunto é fraco. O time é instável, irregular e sofre muitos gols, especialmente pelo alto. O ambiente interno é bom, embora haja rumores de problemas isolados de relacionamento. Há relatos de comportamento extracampo inadequado de alguns jogadores.
RESULTADOS
Oswaldo “eletriza” o elenco, dando confiança aos jogadores. Esperto, pede apoio da torcida (que anda ressabiada). Apesar de não conseguir reverter a desvantagem para o Vasco na Copa do Brasil, consegue uma sequência de seis vitórias seguidas que leva a equipe ao G4 do Brasileiro. Mas a possibilidade de classificação à Libertadores é afastada após três derrotas seguidas, que desmotivam os jogadores. Com a política do clube fervendo pelas eleições que se aproximam, Oswaldo perde o comando do grupo, que se arrasta até o final da temporada. O escândalo do “Bonde da Stella” simboliza o final melancólico de uma temporada frustrante. Oswaldo não tem seu contrato renovado e, de comum acordo, deixa o clube antes da penúltima rodada. Ironicamente, é o único treinador dentre os doze a, de certa forma, cumprir seu contrato até o final.


9 - MURICY RAMALHO (Janeiro 2016 – Maio 2016)

PERFIL
Experiente, currículo vastamente vitorioso, tido como capaz de reestruturar o Departamento de Futebol do Flamengo através do desenvolvimento de uma filosofia de jogo que abrange desde a base até os profissionais. Notório adepto do futebol defensivo, acena com a perspectiva de arejar suas ideias de montagem de equipes, após um curto intercâmbio com o Barcelona.
CONTEXTO
Renovação e recomeço. O Flamengo reformula seu elenco, trazendo vários reforços dos mais distintos perfis. A ideia é iniciar um trabalho duradouro, mas capaz de render resultados imediatos.
RESULTADOS
Muricy não consegue êxito na tentativa de montar uma equipe de posse de bola e marcação alta. O Flamengo se mostra vulnerável e pouco contundente. Falhas individuais sistemáticas de alguns jogadores comprometem o trabalho, mas Muricy se mostra reticente em promover alterações radicais. O relacionamento com o plantel é delicado, jamais harmonioso. O efeito em campo logo se faz sentir. O time sofre derrotas humilhantes para equipes inexpressivas, é eliminado do Estadual, da Copa do Brasil e da Primeira Liga. Com poucos meses de trabalho, Muricy enfrenta severos questionamentos e vê seu cargo ameaçado. Na estreia do Brasileiro, surpreende e monta uma equipe de postura mais conservadora. A vitória por 1-0 sobre o Sport se dá sem encanto, mas sem sustos. No entanto, o treinador sofre com a reincidência de problemas de saúde e acaba sendo forçado a entregar o cargo.


10 – ZÉ RICARDO (Maio 2016 – Agosto 2017)

PERFIL
Treinador campeão da Copa SP de Juniores em 2016, apresentando um futebol pragmático, compacto, de forte índole defensiva e com ênfase no conjunto, em detrimento das individualidades. Surge como alternativa para assumir a equipe em caráter interino em função do forte desgaste do auxiliar Jayme de Almeida. A ideia é mantê-lo no cargo enquanto a Diretoria conclui as negociações com Abel Braga, escolhido para ser o sucessor de Muricy.

CONTEXTO
O desastroso primeiro semestre afunda o Flamengo em séria crise. Antes da primeira rodada do Brasileiro, o contestado zagueiro Wallace pede para não mais atuar pelo clube, o que, com a lesão de Juan e a recusa do Benfica em negociar o limitado César Martins, faz com que o Flamengo se veja na quase inverossímil situação de iniciar o Brasileiro sem uma dupla de zaga profissional. O time não chega nem perto de apresentar algo semelhante a um jogo coletivo estruturado. O elenco se queixa das excessivas viagens, decorrentes do fechamento do Maracanã. Para complicar, a torcida demonstra forte rejeição à escolha de Abel Braga, que, ressentido, paralisa as negociações.

RESULTADOS
Zé Ricardo demonstra estrela logo na sua estreia, ao derrotar a Ponte Preta, de virada (2-1) em pleno Moisés Lucarelli. O jovem treinador rapidamente consegue organizar defensivamente a equipe, e, mesmo com as alterações decorrentes da chegada de vários reforços, não demora a construir uma equipe sólida e consistente. Assim, acaba sendo efetivado, até por conta do impasse com Abel. Com isso, o Flamengo ascende na tabela e, impulsionado pela chegada de Diego, chega à inesperada condição de sério postulante ao título. Mas sucumbe às próprias limitações e acaba em um frustrante terceiro lugar. No ano seguinte, Zé Ricardo (repetindo erros de antecessores de perfil semelhante) encontra sérias dificuldades para desenvolver variações táticas, resiste a revezar o elenco e apresenta excessivo apego aos jogadores com que contou no início do caminho (segrega alguns jogadores nitidamente superiores aos titulares das respectivas posições). Conquista o Estadual, mas acaba eliminado precocemente da Libertadores. O trauma que se segue implode seu trabalho, mas, por insistência da Diretoria, Zé Ricardo ainda vagueia moribundo por um turno inteiro do Brasileiro, até ser tardiamente demitido após a derrota para o Vitória (0-2) na Ilha do Urubu.


11 – REINALDO RUEDA (Agosto 2017 – Dezembro 2017)

PERFIL
Treinador colombiano, experiente, com bons trabalhos nas Seleções de Honduras e Equador, vive seu auge na carreira ao comandar o Atlético Nacional-COL, levando os “verdolagas” à conquista da Libertadores. Recentemente desligado do clube de Medellín, é contratado após intensa pressão das redes sociais, que durante alguns dias exerce um verdadeiro “efeito manada” sobre a Diretoria, que vê frustrada a tentativa de trazer Roger Machado e cogita trazer de volta Jorginho.

CONTEXTO
O Flamengo vive a mais séria crise desde que a Administração Eduardo Bandeira de Mello assumiu o clube, em 2013. A eliminação da Libertadores abre forte fissura entre o elenco e a torcida, farta dos reveses recentes e já impaciente com a limitação de alguns jogadores. A postura do Presidente, que desafia abertamente as vozes contrárias e admite isolar e “proteger” certos jogadores, joga gasolina na fogueira. Enquanto se concluem as negociações com Rueda, o time “caminha” em campo numa derrota para o Atlético-MG. Na quarta seguinte, há uma partida decisiva com o Botafogo, pela Copa do Brasil, num momento em que a rivalidade entre os dois clubes está acirrada e o alvinegro vive seu melhor momento na década.

RESULTADOS
Rueda, apesar de uma rejeição de um nível de agressividade sem precedentes por parte de imprensa, profissionais e mesmo alguns ex-dirigentes rubro-negros, consegue rapidamente reorganizar o sistema defensivo da equipe. Identifica um crônico problema de falta de competitividade, que tenta atacar, entre outras formas, através de entrevistas contundentes. Apesar de não conseguir fazer o Flamengo jogar um futebol vistoso (é uma equipe que abusa das bolas paradas), constroi uma equipe aguerrida, apropriada para a disputa de torneios eliminatórios. O Flamengo elimina de forma apoteótica o Botafogo e vai avançando na Sul-Americana. No entanto, sucumbe na Final graças a (mais) uma deficiência de gestão de elenco. Dessa vez, é a falta de um goleiro de alto nível que cobra seu preço. Na Sul-Americana, o time se classifica de forma dramática contra Fluminense e Junior-COL, e também chega às Finais, não resistindo ao Independiente-ARG. A priorização das competições “matamata” por pouco não tira do Flamengo a vaga direta à Libertadores através do Brasileiro. Em dezembro, Rueda, ainda bombardeado por sucessivas críticas, sai de férias. Há rumores, cada vez mais fortes (inclusive expressos em reportagens) de aumento de rejeição ao colombiano por parte de jogadores e mesmo membros da comissão técnica. Em janeiro, ao se reapresentar ao clube, Rueda anuncia ter aceitado dirigir a Seleção Chilena, dando fim a um rumoroso e mal-explicado processo de negociação que se arrastou por semanas. Como legado, Rueda deixa a recuperação do volante Cuellar (praticamente marginalizado por Zé Ricardo) e o aproveitamento mais intenso de jogadores como Lucas Paquetá, Vinicius Jr e Felipe Vizeu.


12 – PAULO CÉSAR CARPEGIANI (Janeiro 2018 – Março 2018)

PERFIL
Treinador old-school, com carreira iniciada há 37 anos, com o último título de expressão conquistado em 1994 (campeão paraguaio), vindo de dois trabalhos razoáveis por Coritiba e Bahia, afastando-os do risco de rebaixamento. Inicialmente contatado para trabalhar como Coordenador Técnico, é efetivado treinador após a saída de Rueda. Adepto da posse de bola e da marcação em bloco, costuma enfrentar problemas de relacionamento com os jogadores, em função de seu temperamento difícil.

CONTEXTO
A perda da Sul-Americana e a saída de Rueda volta a provocar forte onda de pessimismo entre a torcida. A efetivação de Carpegiani (apresentado numa atrapalhada entrevista coletiva) não ajuda. Começam a transbordar indícios de desavenças entre o Presidente e o Vice Ricardo Lomba. O elenco é enxugado, com a saída de alguns jogadores fortemente contestados. Alegando falta de recursos, o Flamengo praticamente não se reforça. A ideia é “apostar na base” que, de fato, já demonstra resultados consistentes, tanto em títulos quanto na revelação de talentos.

RESULTADOS
Em função das férias do elenco titular, o Flamengo atua com uma formação improvisada nos primeiros jogos do Estadual, repleta de jovens das Divisões de Base. E surpreende, com um futebol alegre e aplicado. Mas a empolgação se esvai quando o time titular retorna aos gramados. A equipe até conquista a Taça Guanabara (com apenas uma exibição realmente boa, contra o Botafogo), mas acaba estagnando. Apresenta espasmos de competitividade nos dois primeiros jogos pela Libertadores (uma partida fraca, no empate contra o River Plate, e uma boa atuação coletiva contra o Emelec). Mas cai assustadoramente de rendimento no Estadual. É eliminado, com sobras, da Taça Rio pelo Fluminense. E, dias depois, cai diante do Botafogo nas Semifinais da competição, na pior exibição da equipe sob o comando do treinador (que abusa do direito de errar na escalação). O resultado faz com que o Vice-Presidente dê declarações inflamadas à imprensa, das quais logo se retrata. Mas o estrago está feito. Carpegiani não resiste e é demitido, juntamente com o Executivo Rodrigo Caetano e alguns membros da Comissão Técnica. O Flamengo afunda em crise. E, sem norte, mergulha em incertezas.