segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Zé Ricardo e a Diretoria na Reta Final

Bom dia, Buteco. E a 28ª Rodada ainda não acabou. Se é verdade que Santos e Atlético/MG tiraram uma lasquinha e se aproximaram, não menos verdade é que ainda há 90 (noventa) minutos de bola rolando para Santa Cruz x Palmeiras no Estádio do Arruda, em Recife/PE. Logo, tanto pode acabar bem pro Flamengo, dividindo a liderança com o Palmeiras, como terminar com a mesma distância para a liderança e com adversários mais próximos ou ainda com o Palmeiras aumentando a margem na liderança. Só nos resta aguardar o que a equipe pernambucana pode fazer jogando suas últimas chances de recuperação para fugir da degola contra o líder do campeonato.

Enquanto isso, seja qual for o desfecho da 28ª Rodada, penso que a Diretoria do Flamengo deve focar em uma palavra muito importante: estratégia. A Copa Sul-Americana se foi e agora só resta o Campeonato Brasileiro e a necessidade de recuperação do desgaste físico, emocional e mental que a equipe claramente demonstrou na última semana. Ao meu ver, nada irreversível, mas se há um momento em que é preciso fazer um diagnóstico preciso, realista e autocrítico sobre o planejamento e o que se mostra viável em nível de mudança e proatividade para as últimas dez rodadas do campeonato, esse momento chegou. É agora.

Quando em 8 de agosto escrevi esse post sobre Zé Ricardo, baseei-me em algumas premissas que só vi reforçadas desde então. Em resumo, entendo que o planejamento de 2016, em seus erros e acertos, é resultado do trabalho de Muricy Ramalho, que ao lado de Rodrigo Caetano e do tal Comitê Gestor mapeou o mercado nacional e internacional e escolheu o elenco, como também (o então treinador) definiu o esquema tático, projetou e testou variações com base nesses atletas. Mesmo os que chegaram após a saída de Muricy, como por exemplo Donatti e Diego, já vinham há muito tempo sendo especulados no Flamengo, e Donatti foi inclusive tentado antes da Libertadores e não liberado pelo Rosario Central. Daí por que escrevi que só saberemos o que é Zé Ricardo planejando quando o Flamengo for colocado à prova em 2017.

Mas isso não significa diminuir o enorme e gigantesco feito de Zé Ricardo. Muito pelo contrário.

O maior mérito de Zé Ricardo (e não é pouco) é executar e desenvolver taticamente o que Muricy projetou e por "n" motivos não conseguiu colocar em prática, de forma eficiente, com um mínimo de regularidade. Zé Ricardo conseguiu não só executar, como ir além, inclusive algumas interessantes variações já ressaltadas em outros posts. Outro grande mérito de Zé Ricardo é conseguir melhorar o desempenho do time na volta dos intervalos de jogo (na maioria das vezes) e ser muito feliz em substituições que a primeira vista não fazem o menor sentido, o que apenas mostra que tem o grupo na palma das mãos e o conhece muito melhor do que seus críticos, torcedores (inclusive blogueiros e tuiteiros, rs) e jornalistas.

O meu querido amigo Rocco Fermo (um sábio) disse, com muita felicidade, que jamais um treinador teve tantos recursos humanos e de infraestrutura a disposição; ao mesmo tempo, é difícil, a não ser que voltemos a Cláudio Coutinho, encontrar na história recente do Flamengo um treinador que tenha um trabalho tão consistente em nível tático. Então, méritos, todos os méritos para Zé Ricardo, ao meu ver um treinador talentoso, jovem e no qual o Flamengo deve investir. Ainda assim, é ao mesmo tempo inexperiente, e se a Diretoria não assumir o seu papel pode comprometer não apenas a evolução desse jovem e promissor treinador, como também a conquista de um título em relação ao qual o Flamengo tem chances reais de conquistar, pois não tenham a menor dúvida: o futebol brasileiro continua o mesmo e a conta sempre chega primeiro no treinador.

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Li com alento a notícia de que, após a entrevista de Zé Ricardo afirmando que não pediria a volta de Felipe Vizeu da seleção brasileira para a partida contra o Santa Cruz (já que Guerrero e Leandro Damião estão suspensos) porque "o momento é importante para o garoto" ou algo do gênero, a Diretoria simplesmente conseguiu a dispensa de Vizeu! Loas à Diretoria do Flamengo! É disso que estou falando: assumir o seu papel. O treinador é ótimo, tem um enorme potencial, mas é inexperiente, como a administração das dificílimas últimas duas semanas que se passaram demonstrou, resultando em confusos aproveitamento dos jogadores e estratégia da equipe nas duas partidas contra o Palestino do Chile, culminando com a eliminação da competição após o Flamengo entrar em campo em Cariacica com um placar favorável obtido em Santiago. Dispensar o Vizeu e jogar sem centroavante contra o Santa Cruz em plena disputa de liderança do campeonato faltando dez rodadas para o final é uma típica decisão de treinador inexperiente, que ainda tem dificuldades em avaliar os cenários mais decisivos e identificar quando deve ser ousado e quando não deve assumir riscos desnecessários.

Há decisões que a Diretoria deve tomar em conjunto com a Comissão Técnica, especialmente o treinador: uma competição deve ser priorizada ou as duas serão disputadas pra valer? O que não pode acontecer é o time jogar "avoado" como aconteceu em Cariacica na quarta-feira. O Flamengo parecia estar em dúvida quanto as suas pretensões na disputa da Sula. Eu já não tenho dúvidas em afirmar que grande parte do problema foi o jovem treinador do Flamengo estar sozinho e mal assessorado para avaliar todo o cenário e tomar as decisões. Talvez a decisão a respeito da priorização já pudesse ter sido tomada contra o Figueirense.

Se Zé Ricardo tivesse ao seu lado um auxiliar à altura (em experiência e conhecimento tático) do desafio que representa dirigir um clube do tamanho do Flamengo, talvez essas dificuldades pudessem ser enfrentadas com mais destreza; mas reconheço que deve ser um assunto a ser postergado para 2017, pois mudar faltando dez rodadas para o final do campeonato poderia trazer muito mais consequências negativas do que positivas.

Então, a pergunta a ser feita é: como fazer diferença nessa reta final?

Arrisco dizer que a resposta está no estádio... Será que ainda não foi possível compreender que jogar em tantos estádios diferentes e viagens compromete e desgasta a equipe? Não nego que é um feito histórico e notável estar disputando o título do campeonato brasileiro de 2016, no formato de pontos corridos, sem o Maracanã, mas a insistência nesse ponto, no limite ao qual as coisas chegaram, é no mínimo insensato, com todo o respeito que a Diretoria merece.

Muricy Ramalho, repito, um dos grandes responsáveis pelo planejamento que resultou nessa ótima campanha no campeonato brasileiro que ainda temos grandes chances de conquistar, com toda a sua ranhetice, tinha razão: o Flamengo precisa de uma casa. Acabou encontrando uma em Cariacica e não sei por que despreza Edson Passos e arrisca tanto mandando partidas no Pacaembu. O certo é que, enquanto o Maracanã ainda é um sonho e uma incerteza com seu "buraco" sendo tapado, a Diretoria deveria facilitar, pois a disputa contra o regular e sólido Palmeiras, e agora com a aproximação do Atlético/MG, será definida por detalhes, e não se pode dar ao luxo de errar por teimosia. Pode custar o título.

Bom dia e SRN a tod@s.