segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Sobre Zé Ricardo

Salve, Buteco! O primeiro turno do Campeonato Brasileiro 2016 termina dia 4.9 com duas das três partidas restantes ocorrendo hoje à noite, nesse novo formato de jogos em plena segunda-feira. Ocorre que o Mais Querido, atualmente em segundo lugar na tabela de classificação, pode terminar a rodada e o turno em quinto, fora do "G4", sigla que se convencionou utilizar para o grupo dos quatro primeiro classificados, que ao final do campeonato terão direito a uma vaga na Libertadores ou sua fase pré-classificatória. Mesmo que o pior dos cenários venha a se concretizar, já que nas três partidas teremos em campo adversários nessa luta pelo título e pelo G4 - Corinthians, Grêmio e Atlético/MG, ainda assim entendo que é um cenário positivo, podendo-se falar até em "hipótese menos positiva", na qual o Mais Querido estaria distante apenas dois pontos do líder, com um turno inteiro pela frente e ainda com a perspectiva de voltar a jogar no Maracanã.

Dito com outras palavras, a campanha até aqui foi alcançada sem Maracanã, um feito inédito na história do clube em Brasileiros, fato digno de nota.

Um dos temas atualmente mais palpitantes e controvertidos dentro dessa fase positiva do Flamengo, por mais incrível que pareça, é o trabalho do treinador. Há quem defenda arduamente, há quem critique, desde a escolha de algumas peças até a falta de variações táticas. E como não gosto de discussões polarizadas, vou pontuar os aspectos positivos e negativos que enxergo até aqui, não sem antes destacar que não vejo, a não ser em caso de catástrofe absoluta, qualquer sentido em se cogitar a substituição de Zé Ricardo antes do final do ano e, assim, retomar a ciranda trimestral/quadrimestral de treinadores que marcou o clube nas últimas gestões.

Aos fatos, então.

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Acho que  Zé Ricardo desenvolveu um trabalho planejado e inicialmente executado por outro treinador - Muricy Ramalho. Foi Muricy quem articulou ou no mínimo foi consultado, por sua experiência em estruturas vitoriosas e consolidadas (especialmente São Paulo Futebol Clube) a respeito do desenvolvimento e evolução de vários pontos no Departamento de Futebol, incluindo Centro de Treinamentos e integração com o Departamento Médico, como também foi Muricy quem escolheu a maior parte do plantel e de novos jogadores que hoje são titulares ou reservas muito importantes, em qualquer caso devendo ser reconhecido que, em conjunto com a Diretoria, acertou na maioria dos nomes. Ei-los: Muralha, Rodinei, Juan, Cuéllar, Mancuello, Donatti (sim, Donatti, tentado desde o início do ano). Foi infeliz em nomes como Chiquinho e Fernandinho, além de uns outros menos cotados? Sim, mas há de se duvidar que o saldo é positivo?

Também foi Muricy quem idealizou e inciou a execução dos esquemas táticos hoje utilizados por Zé Ricardo. O time varia entre o 4-1-4-1, o 4-2-3-1 e o 4-3-3, raramente utilizando o 4-4-2. A questão é: por que Zé Ricardo executa melhor esses esquemas táticos e o rendimento do time vem sendo superior sob o seu comando?

Os fatores são múltiplos, mas dentre eles certamente estão os méritos do Zé Ricardo. Antes enumerar alguns, sinto-me na obrigação de encerrar a parte do Muricy. Muit@s de nós já observamos treinadores, dos mais variados patamares, em declínio nas suas carreiras, perderem a capacidade de "conquistar" os jogadores, como se não tivessem mais aquele ímpeto para persuadi-los e motivá-los. Penso que algo assim pode ter ocorrido com Muricy.

Paralelamente a esse contexto, penso que Muricy, com sua experiência e seu nome, teve um papel importantíssimo com suas reclamações públicas, as quais, com todo o respeito, em quase a totalidade coincidentes com as feitas pela torcida em redes sociais como blogs e Twitter, direcionadas a mudanças no planejamento, ao Flamengo itinerante, ao desgaste das viagens, às três competições simultâneas e à falta de mando de campo, todas desagradando o elenco.

De alguma maneira, o problema, relevante, foi discutido e percebo evolução e alguma direção que inexistia anteriormente. As diversas fontes de pressão foram primordiais. A torcida, uma; o treinador experiente e rabugento, queiram ou não, gostem ou não, outra.

A Muricy, o meu respeito.

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Zé Ricardo parece ser um treinador estudioso taticamente. Conhecedor dos meandros internos do clube, vem nitidamente administrando um antigo e ainda não resolvido problema do Departamento de Futebol do clube, que são as "panelas" que se formam entre jogadores da base e/ou "antigos" no elenco e que muitas vezes dificultam bastante a vida de atletas vindos de fora. Porém, a administração dessa política parece que vem produzido alguns reflexos na escalação.

Um exemplo é Márcio Araújo: está provado que é um jogador altamente resistente, profissional extremamente comprometido e que dificilmente se lesiona. Ao mesmo tempo, é incompreensível o motivo de rigorosamente em quase todas as outras posições do time haver mudanças de jogadores, menos na dele.

Taticamente, Zé Ricardo tem variado dentro do que Muricy já tentou e tem sido mais eficiente no pouco que tem variado. A impressão é que o equilíbrio defensivo que conseguiu passa pela utilização de meias/pontas ou atacantes/pontas jogando pelos lados nos formatos já explicados e tentativas fora desses formatos se deram contra adversários que ofereceriam em tese, e na prática ofereceram (tanto que foram derrotados) menos resistência. Saber alterar o time de acordo com o adversário, ao meu ver, é uma das qualidades positivas dos melhores treinadores. Se Zé Ricardo conseguir desenvolver essa característica que já apresenta, será muito importante para a sua carreira e proveitoso para o Flamengo.

A questão está nas peças: nomes como Fernandinho, ainda mais quando joga "torto" pela ponta direita, Márcio Araújo (volante) e reservas Chiquinho não se apresentam como opções de qualidade e não foram por ele escolhidas, embora nos dois primeiros casos seja o próprio Zé Ricardo que insista em suas respectivas utilizações. Acredito que seja até certo ponto aceitável que um jovem treinador tenha alguma dose de insegurança ao tentar variações táticas e até erre em substituições. Contudo, jogadores como Mancuello, especialmente, e Gustavo Cuéllar cada vez mais pedem passagem. Veremos, com o tempo, como o nosso treinador se comportará, e o normal é caminhar pra frente, evoluir. Quem anda pra trás é caranguejo...

O elenco não foi montado por Zé Ricardo. Não sabemos o que é Zé Ricardo planejando uma temporada. Começamos a ter uma ideia do que é Zé Ricardo pegando o bonde andando em meio a muitas críticas, ainda que com os melhores elencos e estrutura que um treinador já teve no Flamengo nas últimas décadas. Ainda assim, com as gigantescas pressão e cobrança que são inerentes ao clube de maior torcida do mundo.

Zé Ricardo está se saindo bem, embora tenha muito o que evoluir e consertar (até em seus próprios erros) e, como disse o meu amigo Luiz Mengão Eduardo na sexta-feira, merece uma chance.

Só que Flamengo é pressão, é cobrança. Todos os treinadores anteriores passaram por isso. Zé Ricardo não será tratado como "café-com-leite" e muito provavelmente não é isso que deseja.

Bom dia, ótima semana e SRN a tod@s.