segunda-feira, 20 de julho de 2015

O Flamengo, os Gênios e os Craques

Salve, Buteco! Enquanto Paolo Guerrero indica que virá a se tornar, em termos de desempenho dentro de campo, a contratação mais bem sucedida do Flamengo desde Renato Gaúcho, em 1987, veio-me à mente a relação que o clube tem com os chamados "fora-de-série", ou seja, os craques e gênios do futebol, e o papel decisivo que sempre tiveram na conquista dos principais títulos. Relembrando o passado, a partir do final da década de 70 e início dos anos dourados na década de 80, os principais títulos do Flamengo foram conquistados tendo em campo ao menos um jogador com esse perfil. Os títulos brasileiros de 80, 82, 83 e 87 talvez sequer constituam exemplos ideais, tamanha a quantidade de "foras-de-série" que aqueles times possuíam. Porém, a partir da década de 90 a tese ganha força. Craque mesmo, na verdadeira acepção da palavra, o time que conquistou a Copa do Brasil de 1990 tinha Renato Gaúcho e Júnior, enquanto que o de 1992 tinha "apenas" o próprio Maestro Júnior, o qual, porém, revelou-se mais do que suficiente para formar um time a sua volta. Desde então, podemos citar como exemplos a Mercosul de 1999, cujo time teve Romário (que jogou até as semifinais); a Copa dos Campeões de 2001, cujo time tinha Petkovic, e o Brasileiro de 2009, que tinha o mesmo Petkovic e também Adriano. Ainda que nas Copas do Brasil de 2006 e 2013 não se possa dizer que o time tivesse ao menos um craque, tinham por outro lado no mínimo um jogador acima da média - o time de 2006 tinha Renato Augusto e a experiência de Luizão, além de um Renato Abreu jovem, decisivo e que chamava para si a responsabilidade; já o time de 2013 tinha Elias e Hernane Brocador em um ano "fora-de-série", com espetaculares 45 (quarenta e cinco) gols, ainda que se possa afirmar, hoje, que não seja a tônica de sua carreira.

Os tabus, tão comuns no futebol, da mesma forma desmoronam, assim como as vitórias mais difíceis ocorrem quando o Flamengo tem em campo um jogador desse porte. São exemplos as vitórias no Estádio Olímpico sobre o Grêmio em 1982 (Zico, Júnior e Cia, finalíssima), na Vila Belmiro sobre o Santos em 2009 (Adriano) e 2011 (Ronaldinho Gaúcho), na Arena da Baixada sobre o Atlético/PR em 2011 (Ronaldinho Gaúcho), e as recentes vitórias sobre o Internacional no Beira-Rio e, quebrando um tabu de 6 (seis) anos, sobre o Grêmio no sábado, no Maracanã, ambas com Guerrero decidindo. Na década de 90, com Renato Gaúcho, Marcelinho Carioca ou Romário, era comum vencer o Cruzeiro no Mineirão, situação que se repetiu pela última vez em 2001, com Petkovic no time. Em todas essas partidas, quando não decidindo, a simples presença do "fora-de-série" foi fator decisivo para o resultado final.

 Tenho para mim que o Flamengo precisa de um jogador com essas características, a quem a torcida possa chamar de ídolo e em torno do qual seja montada a equipe, para criar a temida sinergia entre o time dentro de campo e os torcedores nas arquibancada. Parece ser uma característica do Flamengo. Enquanto outros clubes possuem jogadores desse nível e às vezes se contentam com boas campanhas, no Flamengo a presença do "fora-de-série" cria uma combustão de proporção tsunâmica. Não há nada mais opaco e sem graça do que um Flamengo apenas com jogadores sem o brilho próprio do "fora-de-série", sem aquele jogador por quem a torcida é apaixonada, por ser capaz de fazê-la se incendiar e levar o time às mais altas conquistas como se fosse algo natural e predeterminado.

Reconheço que não é fácil encontrar ou ter condições financeiras para ter esse jogador. Ao novo Flamengo que vem sendo construído forte e com saúde financeira, porém, a meta já não parece ser inatingível. Guerrero é prova disso. O segundo "tiro certeiro" que infelizmente não veio, mas era possível, outra. Guerrero também prova, fazendo jus à história do Mais Querido, que mais vale um jogador de sua estirpe do que várias contratações de jogadores medianos. Espero que, daqui em diante, seja esse o parâmetro da Diretoria.

***

A vitória de sábado foi como uma subida de degrau. Pela primeira vez no Campeonato Brasileiro de 2015 o Flamengo conseguiu superar um dos times mais fortes da competição, sem condescendência ou possibilidade de questionamentos. Cristóvão, porém, ainda tem um longo caminho para fazer do Flamengo um time regularmente competitivo. O posicionamento da defesa, por exemplo, em vários momentos chegou a ser esdrúxulo, com zagueiros marcando na intermediária, laterais marcando pelo meio deixando as laterais abertas, além de várias falhas na cobertura dos próprios laterais. Por outro lado, se quiser mesmo jogar com dois atacantes abertos pelas pontas, Cristóvão terá que encontrar uma solução para o meio campo, onde Canteros parece jogar melhor como segundo volante, ao invés de armando. Nesse contexto, a falta do meia é evidente. Além disso, a recomposição defensiva não pode ser prejudicada.

Por isso mesmo, mais importante do que imaginar conceitualmente que uma determinada função será melhor desempenhada por um meia ou um atacante é encontrar a peça que melhor a executa dentro do elenco. Por exemplo, a ponta direita. A função tanto pode ser executada por um "volante" como Luiz Antonio ou Márcio Araújo, como por um meia-atacante como Gabriel ou Matheus Sávio, ou ainda por um atacante como Marcelo Cirino ou Paulinho. Para a ponta esquerda, o dilema é semelhante. Qual será a solução que melhor atende à meta de compactação do time, que facilita a articulação das jogadas ofensivas e simultaneamente a própria recomposição defensiva?

Será que ainda há tempo para contratar o meia?

A palavra está com vocês.

***

Sete anos de Buteco do Flamengo

Feliz Aniversário ao Buteco Mais Querido do Brasil!



Bom dia e SRN a tod@s.