Irmãos
rubro-negros,
passados
dois anos e meio do início da atual gestão, podemos dizer que, do ponto de
vista administrativo e financeiro, o trabalho até aqui realizado é bastante
exitoso.
O
processo de resgate da credibilidade institucional do Flamengo, que se
apresentava como o maior e mais importante desafio do primeiro triênio da gestão, tornou-se um
sucesso graças ao trabalho incansável da diretoria.
Ninguém
poderia imaginar que, em tão pouco tempo, o clube, que era sinônimo de calote e
caos administrativo, seria reconhecido, no Brasil e alhures, como um exemplo de
gestão responsável e ética.
Os
méritos da diretoria nessa seara são inquestionáveis, e não creio existir
rubro-negro que seja saudoso de tempos recentes, obscuros, em que os
dirigentes, em vez de servirem ao Flamengo, dele se serviam.
Alcançado,
porém, esse primeiro e tão relevante objetivo, com o controle das dívidas, e
resgatada a credibilidade institucional no plano administrativo e financeiro,
cumpre dar o próximo passo: o resgate da credibilidade esportiva do Clube de
Regatas do Flamengo.
...
Esse
resgate, embora tenha nele um ponto fundamental, vai muito além dos resultados
imediatos do campo.
Em
outras palavras: o resgate da credibilidade esportiva do Flamengo passa pela
conquista de títulos e pela formação de equipes vencedoras, mas não se esgota
nisso.
O
Flamengo precisa se fazer respeitar não apenas dentro de campo, mas também fora
dele.
São
várias as situações que demonstram estar o Flamengo ainda muito longe de
resgatar sua proeminência esportiva, seja perante sua própria torcida, seja
perante terceiros.
E
repito: não me refiro ao que acontece dentro de campo, mas fora dele.
Exemplo:
o presidente Eduardo Bandeira de Mello foi publicamente ofendido pelo Rubinho.
Ele tinha duas alternativas: pular a mesa e enfiar a mão na cara daquele
vagabundo; ou retirar-se da reunião. Ele optou pela segunda, acertadamente, a
meu ver. Mas o ato de levantar-se e sair da reunião, sendo ele presidente do
Flamengo, representava ali o ato de retirada do próprio Flamengo do campeonato.
"Ah, mais não pode abandonar o campeonato". Então que pusesse em
campo o time reserva e fizesse de tudo para esvaziar a competição. Mas
curvando-se às imediatas necessidades financeiras, preferiu-se jogar a competição
"sob protesto". Esse disputar "sob protesto" foi, na
verdade, apenas figura de retórica, pois o Flamengo jogou a competição pra
valer, encheu o Maracanã com sua torcida, canalizou muitos milhões para os
cofres da Ferj e do Rubinho, e como prêmio foi alijado da final, após ter sido
vítima de um roubo descarado dentro de campo. Ou seja: um vexame dentro e fora
de campo. Fomos os otários da competição e pagamos a conta da festa alheia.
Outro
exemplo: Jayme de Almeida. Um
técnico que aos setenta anos de idade nunca havia treinado um clube grande,
vivendo sempre à sombra de ex-companheiros que se tornaram técnicos de sucesso.
Pois o Flamengo deu-lhe a única oportunidade de sua vida para trabalhar num
clube de enorme expressão. Depois da conquista de um título emocionante, o
trabalho do Jayme mostrou-se muito ruim. O que fez o Flamengo, assim como faria
qualquer clube do mundo? Demitiu o treinador. O Jayme, em vez de demonstrar gratidão pela chance
inédita dada pelo Flamengo em sua carreira, protagonizou uma campanha sórdida
de difamação do Flamengo e da diretoria do clube. Ele poderia ter evitado tudo
o que ocorreu, bastando para isso que mostrasse agradecimento ao clube. Mas
onde havia uma fogueira, o Jayme tratou de jogar gasolina. Quase um ano após
esse episódio lamentável, o que fez o Flamengo? A pedido do Vanderlei
Luxemburgo, vejam de quem, recontratou o Jayme de Almeida. Parece piada, mas
infelizmente não é.
Outro exemplo: Vanderlei Luxemburgo. Era de conhecimento
geral que ele veio para o Flamengo com prazo de validade. Veio para tirar o
time da situação desesperadora em
que nos encontrávamos no
Campeonato Brasileiro do ano passado. Profissional de caráter duvidoso, era evidente que, na
primeira oportunidade, ele deveria ser demitido. E a chance surgiu quando do
vergonhoso revés no jogo de volta
pela semifinal da Copa do Brasil. Depois da partida, ao mostrar seu verdadeiro
caráter, ele
derreteu-se em elogios ao presidente do adversário, sinalizando duas coisas: seu desapreço pelo Flamengo e pela diretoria do clube, e a completa tibieza da sua
personalidade. Mas vá lá, o Brasileiro ainda não havia terminado, embora o perigo
estivesse sob controle, e demiti-lo na ocasião seria insensato. Tão logo terminado o
certame, porém, ele deveria ter
sido colocado na rua. Imediatamente. No entanto, ele foi prestigiado, permaneceu no
clube, trouxe Pico, Thalysson e mais meia dúzia de bagaços, e após realizar um trabalho medíocre no primeiro semestre deste ano,
com direito a abanar o rabo para um time paulista, foi finalmente demitido. E o
quê fez a nobre
figura? Na primeira entrevista após a demissão, desancou de
alto a baixo a diretoria do Flamengo.
Aliás, o ato covarde
do Mano Menezes não foi também um grande gesto de desrespeito ao
clube e à diretoria?
Por que isso tem ocorrido com indesejável repetição? Por que vários profissionais, quando saem do
clube, manifestam essas impressões extremamente
desrespeitosas?
Por que o Flamengo, sob a batuta do seu presidente, celebrou um "acordo de cavalheiros" com um adversário que sempre nos encarou como inimigos, e que sempre procurou nos prejudicar? Um acordo que nos foi extremamente nocivo, e inaceitavelmente benéfico ao adversário? Por que, presidente? Multa, apresentação antecipada, liberalidade do empresário? Qual será a desculpa para justificar esse ato? A verdade é que nada explica a celebração de um ajuste verbal altamente prejudicial aos interesses do Clube de Regatas do Flamengo.
Por que o Flamengo, sob a batuta do seu presidente, celebrou um "acordo de cavalheiros" com um adversário que sempre nos encarou como inimigos, e que sempre procurou nos prejudicar? Um acordo que nos foi extremamente nocivo, e inaceitavelmente benéfico ao adversário? Por que, presidente? Multa, apresentação antecipada, liberalidade do empresário? Qual será a desculpa para justificar esse ato? A verdade é que nada explica a celebração de um ajuste verbal altamente prejudicial aos interesses do Clube de Regatas do Flamengo.
...
A lista, sem ser exaustiva, não termina por aqui.
Não poderia, nessa
breve explanação, deixar de
mencionar uma situação que tem causado
grande desgosto à Nação Rubro-Negra: a relação do clube com o Maracanã e com os times visitantes.
Amigos flamengos, desde a reabertura do Maracanã, em 2013, temos visto o Consórcio que administra o estádio desenvolver uma política de atração das torcidas de fora do Rio de
Janeiro.
Sinceramente, acho isso
sensacional.
Desde que o mesmo tratamento seja
dispensado ao torcedor do Flamengo quando jogamos fora de casa.
Porque não existe argumento algum
que possa explicar o fato do torcedor rubro-negro ser tratado como gado, quando
o Flamengo joga fora de casa, e o torcedor visitante ser recebido com tapete
vermelho no Maracanã, podendo inclusive escolher o setor do estádio que melhor
lhe aprouver.
Alguém imagina o torcedor do
Flamengo, fora de casa, dividindo o setor do meio de campo com o palmeirense?
Ou com o santista? Ou com o atleticano? Ou com o corintiano? Ou com o
cruzeirense? Ou com o gremista? Ou com o colorado? Ou com o são paulino?
Alguém imagina o torcedor do
Flamengo comemorando um gol no meio dos adversários na casa deles?
Então, com o perdão do meu latim,
por quê cacete o torcedor visitante pode zoar o rubro-negro em pleno Maracanã?
É evidente que o Consórcio,
visando exclusivamente seu objetivo de maximização dos lucros com a exploração
do estádio, tem se esforçado para fazer do Maracanã um "campo
neutro".
E essa política reprovável, que
se opõe frontalmente aos interesses esportivos do Flamengo, teve um episódio de
particular relevância no último domingo, quando não apenas permitiu-se ao
adversário transitar livremente por onde desejasse, compartilhando com o
torcedor flamengo espaços e setores que nos são vedados quando somos nós os
visitantes, mas ainda chegando ao absurdo de executar o hino deles antes da
partida.
E eu pergunto: presidente Eduardo
Bandeira de Mello, por um acaso será celebrado um "acordo verbal"
para que o hino do Flamengo também seja executado no estádio do adversário
quando lá jogarmos?
Mais: por que eles, assim como o
Palmeiras, sob o pretexto canhestro da "segurança", disponibilizam
para nossa torcida uma carga de ingressos muito inferior aos 10% determinados
pela lei?
O Flamengo então é um clube
cidadão apenas quando cabe a ele cumprir a lei?
Quando cabe ao Flamengo exigir do
adversário tratamento idêntico ao que a ele reservamos no Maracanã, ou impor
com firmeza as mesmas condições a nós dispensadas quando somos visitantes, o
clube torna-se subserviente?
Isso não pode sequer ser objeto
de conjecturação.
...
Amigos, não penso que o Flamengo deva sair aos tapas por aí sempre que se sentir lesado em seus interesses.
Tampouco acho, embora pense ser
louvável, que o Flamengo deva concentrar suas energias na moralização do
futebol brasileiro, como vimos na luta pela aprovação da MP do Futebol.
O que este humilde, porém
sincero, texto propõe, é que o Flamengo, o clube que amamos, uma vez obtido o
controle das dívidas e resgatada a credibilidade administrativo-financeira, passe a lutar pelo resgate do respeito
esportivo da instituição.
Que o Flamengo seja respeitado e
temido.
E isso não será obtido apenas com
a formação de equipes vencedoras ou com a conquista de títulos.
Na realidade, o resgate da
credibilidade esportiva do Flamengo somente será pleno se o êxito dentro de
campo for acompanhado, fora dele, de uma mentalidade vencedora e alinhada com a mais
genuína tradição rubro-negra.
E essa mentalidade não requer
dinheiro, nem estrutura e muito menos "conhecimento de futebol", mas apenas uma postura adequada e valente de quem
representa o Clube de Regatas do Flamengo.
...