Até quando?

Planejamento é a palavra da moda no futebol tupiniquim, tanto para o lado bom no sentido de exaltar os que estão no topo da tabela no começo do Brasileirão quanto para sacrificar os que fecham a sua parte de baixo, neste início de procissão que vai se arrastar até o fim do ano;

E como "Isso aqui é Flamengo" tendo a comparar as "planejadas" do Mais-Querido com as daquele querido amigo que a maioria de nós tem ou teve em algum ponto da linha do tempo de nossas vidas, que entra em seu carro para fazer uma viagem de 500 km, digamos uma Rio-São Paulo, sem realizar a necessária revisão do veículo e segue pela estrada "apagando os fogos" à medida que vão surgindo;

Mal rolam as quatro rodas pela Via Dutra é obrigado a trocar o  velho pneu careca, ou na lona, logo ali em Nova Iguaçu. Ainda tranquilo vai em frente todo pimpão ao volante até que, em Volta Redonda, a fumaça proveniente do motor tapa-lhe a visão do asfalto, levando-o a parar no acostamento, desconfiado de que esqueceu de completar a água do radiador que, a essa altura, borbulha graças à fervura. Acerta na mosca do alvo e providencia o reabastecimento com o líquido refrigerador cedido por um providencial companheiro anônimo, de estrada, compadecido com a sua aflição e de seus passageiros;

Pelo menos a Terra da Garoa está mais perto, faltam 380 km, mas o suor da tardia preocupação não o desanima. "Let's go, turma!" Brada mantendo o ânimo em alta, "Sampa nos espera!" e pisa fundo no acelerador na volta à pista;

Cruza a bela Penedo e mais à frente atravessa a divisa dos estados, mas não passa incólume por Taubaté, pois o velho companheiro carrinho de muitas guerras começa  a chacoalhar, trafegando aos trancos. Teve mais sorte dessa vez, pois surge o anjo da guarda da hora, um posto de gasolina, onde sempre há uma auto-peças ao lado com um entendido nessas coisas. Abre a  tampa do motor, acelera tudo o que pode e o som de britadeira permite ao bom moço avaliar de primeira que "o carburador está mais entupido do que artéria de enfartado". Pausa para um lanche devagar enquanto o serviço é feito;

Pronto de novo, com a capital da pauliceia cada vez mais perto, apesar de ultrapassado o tempo normal de viagem, "Vamos nessa, gente", segue sempre animado apesar dos pesares, mas não passa de Guarulhos. As velas de ignição com mais de 50 mil km de uso não aguentam o  tranco. Entretanto, isso é mole para quem já passou por poucas e boas nesse aventureiro estilo de vida, "basta pegar quatro velas usadas e em bom estado na mala e realizar a troca que dá para chegar". E, finalmente, chega mesmo, 15 horas depois de sair de casa, para a surpresa de muitos que cravaram que dessa vez ficaria pelo meio do caminho;

Essa estorinha resumida, que neste momento deve estar acontecendo em muitos pontos de nossas BR's, é o retrato do Flamengo nos Campeonatos Brasileiros, com as exceções que servem para justificar a regra. Todos sabem que a pré-temporada e o Estadual devem ser usados para preparar o time para as competições mais importantes, há tempo e adversários de sobra para isso, mas teimam em apostar e arriscar no primeiro turno com uma equipe medíocre que, invariavelmente, nos leva para dentro da Zona de Rebaixamento. Então, é o momento de agir, apagar o fogo sob a pressão das necessidades e da torcida.

Sem alternativa, com o motor pifando, para nos acostamentos do certame a fim de adotar as ações que deveriam ser impostas, no máximo, dentro do Campeonato Carioca, para permitir aos homens do futebol a montagem de um time que represente com dignidade aquilo que os 120 anos de vida do clube e sua multidão de torcedores merecem;

Será que não percebem que já passou da hora de mudar esse estilo de gerir o nosso futebol?

SRN!