sábado, 21 de fevereiro de 2015

A Despedida do Capitão Moicano

Em sete de julho de 1974, nascia, no Rio, um garoto. Pai americano, mãe tricolor. Ficou acertado entre os dois que o menino torceria para o time que vencesse a Taça Guanabara, que seria disputada entre América e Fluminense. Venceu o América. O Vasco conquistou o 2º turno do Campeonato Carioca, enquanto o Flamengo ficou com o título do 3º. Num triangular final, o título carioca daquele ano acabou ficando com o rubro-negro.

Poucos anos depois, esse mesmo garoto acabou convencido e se convencendo a mudar de time. Virou Flamengo, nada mais natural. E o amor nasceu e cresceu junto com um time que ganhava tudo. Um time que foi campeão carioca, brasileiro, sul-americano e mundial. Um time que tinha Júnior, Andrade, Leandro, Adílio. Um time que tinha Zico. Um amor na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Um amor que ainda teve Romário, Renato Gaúcho, Pet, Juan, Gamarra, Bebeto, Júlio César, Gaúcho. Mas que também teve Vandick, Henágio, Kita, Delacir, Bujica, Toto, Iranildo, Maurinho, Negreiros, Jaílton e outros mais recentes.

Esse garoto cresceu e, depois de anos não tão felizes, resolveu estudar para ser treinador de futebol. O sonho não foi para a frente e ficou nos livros mas o que era uma paixão por vezes cega já tinha amadurecido e ficado menos parcial. A torcida deu, em parte, lugar à análise. 

Hoje eu finalmente começo a dividir minhas ideias como vocês no Buteco, agradecendo imensamente pelo convite do Gustavo e do Rocco.

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Poderia falar sobre o jogo de quinta, vitória sem sustos sobre o Boavista com mais uma atuação empolgante do Marcelo Cirino, o Renato Gaúcho do século XXI, como vem sendo chamado. Poderia tentar analisar o confronto de amanhã contra o Madureira em Volta Redonda, no qual existe a possibilidade do Luxa poupar alguns jogadores para testar outros. Só que o assunto polêmico da semana, mais do que o título da Beija-Flor com dinheiro de ditador africano, mais do que o clássico paulista da Libertadores com gol irregular, mais do que a suspensão do Anderson Silva no UFC e mais do que a estreia do 50 Tons de Cinza no cinema, foi a notícia da saída do Leo Moura, o Capitão Moicano, para a incipiente segunda divisão norte-americana.

Quando se fala no Leo, temos, invariavelmente, duas reações: há os que o amam e há os que o odeiam. Do primeiro grupo, a maioria, talvez, fazem parte aqueles vários que o aplaudiram quando os reservas ocuparam o banco antes do início da partida de quinta e os que o ovacionaram quando os mesmos foram para trás do gol aquecer no segundo tempo. Em geral, o capitão é muito ídolo dos mais jovens, dos off-Rio e dos que acompanham menos o dia-a-dia do Flamengo. No entanto, para quem teve uma lista daquelas que eu enumerei acima, não contando nem os anteriores à Era Dourada dos anos 80, fica difícil engolir algumas ingratidões dele com a instituição e com a Nação.


Leo chegou ao Flamengo no meio de 2005 depois de passagens no máximo discretas pelos outros três do Rio, Palmeiras (onde foi rebaixado), São Paulo, além de clubes menores da Bélgica, Holanda e Portugal. Conquistou todos os oito títulos de expressão de sua carreira no Mais Querido, onde disputou 516 partidas e está prestes a ultrapassar o "violino" Carlinhos e ser o 7º jogador que mais vezes vestiu o Manto. É uma história e não dá pra relevar.

O que também não dá pra relevar é que, desde 2009, ele vive de lampejos. Indiscutivelmente, ainda é, tecnicamente, um dos melhores na sua posição. Entretanto, o peso da idade já tem sido um empecilho para que ele cumpra com todos os requisitos necessários para ser um lateral direito completo como já foi. Alguns dizem que ele se mantém porque ainda não apareceu um substituto à altura. Outros insistem que treinadores e direção preferem mantê-lo para não se indisporem com grande parte da torcida. Além disso, muitos não se esquecem dos xingamentos para a torcida no empate com o Náutico em 2009 nem da fatídica postagem do "ingrato" no Instagram.


Confesso que estou no meio do caminho. Entendo que já não havia a necessidade de renovar seu contrato já no início do 2013, junto com as rescisões do Love e do Ibson e, mais tarde, do Renato Abreu. Ele teve a oportunidade, então, de ter saído por cima com o título da Copa do Brasil, mas renovou por mais um ano. Outra novela bastante conturbada no início deste e, enfim, parece que teremos a sua despedida. Entendo que, por sua história, ele mereça o respeito da torcida rubro-negra mas está longe de entrar no meu panteão de ídolos.