domingo, 22 de fevereiro de 2015

Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos,

Acredito que a vitória por 2-0 sobre o Boavista encerrou a “pré-temporada” oficial do Flamengo, em que o time enfrentou dois adversários de bom nível (Shakhtar e São Paulo) e outras equipes medianas ou simplesmente ruins.

O retrospecto em campo foi amplamente positivo: equipe invicta, seis vitórias em oito jogos e a liderança do Campeonato Estadual. Mas e o futebol apresentado até aqui: é para animar?

Em linhas gerais eu vejo o início dessa temporada mais promissor e animador do que o ano passado, o time parece mais ajustado e equilibrado (só ver que não há mais a incidência daqueles placares exóticos de 5-2, 5-3), possui uma característica bem definida (meio-campo compactado e ataques em velocidade) e, principalmente, manteve a espinha dorsal do ano passado, o que julgo fundamental para a montagem de um grupo forte.

Mesmo assim, ainda tenho ressalvas e as barbas estão de molho.

Vejo uma certa dificuldade quando se enfrenta sistemas defensivos mais bem montados. Isso foi flagrante nas partidas contra o Macaé e o Resende, adversários minimamente organizados, que apresentaram uma resistência maior do que a aceitável (aliás, o Flamengo correu risco de derrota nos dois jogos, a meu ver). Mesmo na última partida, contra o lanterna e fraquíssimo Boavista, o rubro-negro demorou a se encontrar em campo, chegando a gastar preocupantes 25 minutos sem executar um único arremate a gol.

Na minha opinião, esse problema decorre do mau rendimento de duas peças. O garoto Nixon, embora lute muito, exerça incessante movimentação em campo e seja um jogador eminentemente tático, peca por não conseguir dar sequência às jogadas. Não é raro que a bola morra em seus pés, vitimada por algum passe ou chute errado.

O outro entrave é o garoto Arthur Maia, que tem sido incensado de forma excessiva e talvez não muito espontânea. Trata-se de um jogador com alguma técnica, rápido, de um bom drible curto, mas com dois problemas cruciais para um meia: erra passes em demasia e não finaliza a gol (o famoso “armandinho”). Com isso, o time perde fluidez e não consegue evoluir com facilidade na frente. Naturalmente, esse problema não é muito visível quando o Flamengo enfrenta adversários de um nível técnico risível, de uma ruindade quase humorística, como Barra Mansa, Cabofriense e Boavista, mas começa a vicejar (epa!) mais vivamente diante de oponentes um tanto mais qualificados.

Também ainda não me agrada a saída de bola da equipe. A entrada do Márcio Araújo melhorou a movimentação, mas não resolveu a questão do passe. Talvez a entrada do Jonas “Schweinsteiger”, que dizem ter bom passe e desarme, ajude a equilibrar o meio. Mas, se o Luxemburgo ainda não o colocou nem para teste, deve ter seus motivos.

De qualquer forma, essa semana teremos três partidas em que o Flamengo poderá ser mais exigido, e com isso aprimorar sua competitividade: o perigoso Madureira, que está bem no campeonato e historicamente é uma equipe que costuma endurecer bastante seus jogos contra nós (jogam a vida contra o Flamengo, na mesma proporção que, estranhamente, amolecem para o Vasco e são goleados. O presidente deles é amigão do Eurico...), depois o GE Brasil no Bento Freitas, estádio em que equipes flamengas bem melhores que essa já saíram derrotadas (a torcida Xavante é a mais fanática do Rio Grande do Sul, eles são alucinados pelo seu time), e por fim o Botafogo, cuja fragilidade não me ilude. Serão três partidas em que o adversário provavelmente procurará atacar, exigindo o conjunto do Flamengo como um todo.

Quanto ao rendimento dos jogadores, alguns nomes, como Canteros, Wallace, Anderson Pico (que lamentavelmente se lesionou), Márcio Araújo e Éverton (esse está bem, mas ainda pode melhorar) seguem produzindo o futebol deles esperado. Além desses, temos:

PAULO VICTOR – Ganhou enorme confiança, observa-se que é um goleiro pronto no aspecto emocional, o que é fundamental para a posição. Tem falhado bem menos, embora eu siga sem confiar nele em bolas altas. Tomara que continue queimando minha língua.

CÉSAR – Duas partidas, e continuo com minha mesmíssima opinião. É um “Diego bracinho” melhorado. Reflexo excepcional e não sabe nada em cruzamentos.

PARÁ – Começou oscilante, algumas partidas razoáveis, outras ruins. Seu melhor jogo foi contra o Boavista, o que já pode ser reflexo da saída do Léo Moura. É um bom lateral, tem ótimo cruzamento, acho que vai evoluir.

THALYSSON – A camisa ainda está pesando nele. É arisco, veloz, mas a bola está queimando. E não marca nada, é avenida. Vamos ver se nessa sequência de jogos ele se solta.

SAMIR – Bom zagueiro, forte, veloz, pererê, parará e tal, mas continua falhando demais. Dois erros capitais, e isso num contexto em que o time ainda não foi exigido. Seja como for, nesse elenco ainda é o melhor companheiro para o Wallace na zaga.

BRESSAN – Vi 45 minutos dele, contra o Shakhtar. Tipo becão inglês, que quando vai virar o corpo parece carreta manobrando. Medo.

LUIZ ANTÔNIO – Voltou a jogar o futebol de 2013. Se mantiver o nível, não demora para disputar vaga no time.

MARCELO CIRINO – Começou meio atrapalhado, estranhando a função. Mas está se soltando e ganhando confiança. Por enquanto está sobrando na turma, é o melhor jogador da temporada fácil, longe. Aliás, há muito tempo eu não via o Flamengo contar com um jogador que efetivamente desequilibre jogos, como está acontecendo com o Marcelo. Lembra um pouco, GUARDADAS AS PROPORÇÕES, o papel que Renato Gaúcho e mais tarde Romário exerciam na equipe. O ponto focal, o desafogo, o jogador de referência. Naturalmente que o Marcelo ainda não tem estofo para assumir esse tipo de responsabilidade, mas, ao aproveitar o baixo nível da competição, ele vai ganhando moral e se tornando um jogador imprescindível para o time.

Finalizo com a formação que vejo ideal para o Flamengo, com o elenco atual e todos os jogadores à disposição (já contando com a saída do Leonardo Moura, de quem falarei em outra oportunidade).

Paulo Victor, Pará, Wallace, Samir, Anderson Pico; Márcio Araújo, Canteros, Gabriel (Luiz Antonio); Paulinho, Marcelo Cirino, Everton.

Ressalva 1: testaria o Jonas no lugar do Márcio Araújo.

Ressalva 2: se o Paulinho não voltar bem, adiantaria o Gabriel e comporia o meio com o Luiz Antonio ou mesmo o Arthur Maia.


Boa semana a todos,