Salve, Buteco! Muitos dos amigos têm demonstrado enorme frustração com a eliminação da Copa do Brasil. Compreendo perfeitamente esse sentimento. Cada um de nós tem seus limites e vários fatores podem influenciar no quanto uma específica derrota nos afeta. No meu caso, por exemplo, quem acompanha o Buteco sabe que eu já havia feito algumas comparações entre o time desse ano e o do ano passado e destacado a ausência de jogadores com poder de decisão em campo, à exceção do Eduardo da Silva, o qual porém estava com evidentes problemas físicos, ao contrário de Hernane e Elias em 2013, coadjuvados por Paulinho e Luiz Antonio motivados, focados e todos no esplendor de suas formas físicas. Eu então estava de algum modo "pressentindo que não dava", sentimento que apenas aumentou com a contusão de Alecsandro, a ausência de Gabriel, a falta de ritmo de Wallace, tal qual ocorrera há uma década atrás antes da final contra o modesto Santo André, clube contra o qual não ficou qualquer ressentimento de minha parte, mas ao contrário, uma grande admiração, por mais incrível que pareça. Cairíssim@s amig@s do Buteco, é assim que encaro o futebol e o Flamengo: um time com dificuldade para marcar gols dificilmente conquista títulos. E um ataque com Felipe e Jean realmente há dez anos atrás não conseguiu me despertar aquela confiança que normalmente antecede as grandes conquistas, assim como a linha de frente com Éverton, Eduardo da Silva em condições precárias e Nixon também não o fez em 2014.
Minha maior frustração recente com o Flamengo foi aqueles 0x3 contra o América do México. Tudo bem que o Souza não era um centroavante dos mais efetivos, mas tínhamos o Marcinho, um sistema defensivo seguro, laterais que por isso mesmo apoiavam de forma efetiva como alas... Pois então! Longe de julgar, mas pelo contrário, para mim é muito claro que cada um sente as derrotas de uma forma e elas podem nos atingir de diferentes maneiras. Sim, fiquei chateado porque as substituições do Luxemburgo, como um todo, representaram uma "desistência" das nossas poucas chances, mas talvez em razão da forma pela qual estava encarando todo esse contexto, fiquei mais chateado com a goleada em si (nada me irrita mais do que uma derrota por goleada) do que propriamente com a eliminação, pois todas aquelas dúvidas certamente retornariam intensas em uma final contra o Cruzeiro.
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Esse papo de limites e sofrimento como torcedor me lembra um episódio ocorrido em 2001. Não é fácil para mim contá-lo, mas venho ensaiando isso há muito tempo e acho que chegou a hora. Desde criança a minha relação com o Flamengo é muito forte. Lembro-me de que o meu processo de alfabetização incluía a leitura de jornais e revistas, e eu sempre dava preferência às resenhas esportivas e às notícias do Flamengo. À época, o Globo públicava as notícias de cada clube ao lado de uma pequena reprodução da bandeira do clube e eu ficava fascinado com a imagem das listras horizontais vermelhas e pretas e o escudo do remo. Nas ceias de Natal e Ano Novo, eu passava sintonizado nas rádios do Rio de Janeiro e com o "egoísta" no ouvido escutando as notícias mais bizarras e toda a encheção de linguiça e especulações típicas da época.
Então, nunca deixei de asisstir ou escutar pelo rádio uma transmissão sequer. Nos meus 45 (quarenta e cinco) anos de vida, desde que tive a primeira noção do que é o Flamengo, ele passou a ser uma das prioridades da minha vida cotidianamente. Comecei a ser Flamengo na década de 70, antes da "Geração Zico" explodir. Logo, acompanhei uma fase de vacas magras, tal como a atual, assim como o melhor possível, e tudo o que de bom e ruim que aconteceu depois, e convenhamos, talvez possamos dizer que houve mais coisas ruins do que boas. Bem, não me perguntem por que, mas em 2001, na final contra o Vasco da Gama, quando eles abriram vantagem de 2x1 na primeira partida, eu cheguei a esse limite a respeito do qual debatemos na coluna de hoje. Para mim foi simplesmente insuportável. Por quê? Ora, como explicar uma catarse de sentimentos? Teria sido aquela "gota d'água"? Efeito retardado de algumas derrotas do final da década de 80 e da década de 90? Não sei. Mas para mim, ali foi o limite. E pela primeira vez e única vez na minha vida virei as costas para o Flamengo. Foi uma questão de saúde, de auto-preservação. Tinha consciência de que iria enlouquecer ou algo pior aconteceria se ficasse em casa.
Naquele 27 de maio de 2001 eu morava em Goiânia. Assinava a televisão a cabo e tinha o Sportv. Decidi então ir ao Serra Dourada. Assisti o Vila Nova conquistar o campeonato goiano em cima de um Goiás com Harley, Josué, Danilo, Dill, Araújo e Fernandão. Foi a minha válvula de escape. Um dos poucos lugares do mundo nos quais não se falaria na final do carioca. Na saída, alguns murmúrios davam conta que o Flamengo tinha sido campeão. A surpresa, entretanto, estava reservada para o meu retorno pra casa.
Assim que pisei em casa, a minha então única filha, com dois anos de vida recém completados, e que até então jamais havia manifestado qualquer interesse em futebol, jogou-se aos meus braços, feliz da vida, gritando que o Flamengo havia sido campeão. Disse também um nome: Petkovic. O Flamengo, ou São Judas Tadeu, ou ambos me resgataram. O baque foi forte e tocou fundo. Eu estava de volta.
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Alguns anos depois, em agosto de 2009, em um Fla-Flu pela Copa Sul-Americana, o sérvio entrou em campo com a camisa 150, comemorando a marca de jogos completados com a camisa rubro-negra (não me recordo se exatamente naquela partida). O Flamengo foi eliminado. Minha caçula, então com seis anos de idade, e que até ali dizia que era Flamengo e Fluminense porque não queria deixar a mãe sozinha na família, terminou dizendo: "Pai, eu odeio o Fluminense."
Hoje a mais velha assiste a TODOS os jogos do Flamengo ao meu lado. A caçula aos poucos está se juntando a nós. Aquela propaganda de cartões de crédito é muito feliz quando diz que há certas coisas que o dinheiro não compra. Quem é pai sabe o que eu estou dizendo.
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Acabei misturando vários assuntos nesse texto os quais penso estarem de alguma forma interligados por envolverem sentimentos de torcedor. Aproveitando então o ensejo e em tempos de renovação com o Leonardo Moura, gostaria de trazer um testemunho da minha filha mais velha, hoje com 15 (quinze) anos de idade, e que não o tem como ídolo - ela gosta do Pet e hoje vibra com o Eduardo da Silva, "coincidentemente" o nosso jogador mais decisivo esse ano. Nas palavras dela: "Pai, desde que eu me entendo por gente o Leonardo Moura é lateral do Flamengo." Vejo certo respeito nas palavras dela. Leonardo Moura acaba naturalmente sendo uma referência para essa geração. É inevitável (e isso não tem nada a ver com o assunto da renovação, por favor!)
Meus ídolos são Zico e Júnior, principalmente, e um pouco abaixo deles Leandro e Adílio. Mas há ainda o Andrade e o Rondinelli. Hoje em dia reproduzir jogadores com um rol tão grande de conquistas e tempo de clube é muito difícil, assim como de relação sem conflitos com o clube. Mas será que é impossível?
Além dessa pergunta, indago a vocês se jogadores como Petkovic e Adriano, por exemplo, são o que poderíamos chamar, hoje, de "ídolos possíveis" do Flamengo nos tempos atuais? Ou dá pra ter coisa melhor?
Como vocês classificariam os seguintes jogadores: Renato Gaúcho, Bebeto, Gaúcho, Júnior Baiano, Romário, Edilson Capetinha, Beto, Charles Guerreiro, Sávio, Athirson, Petkovic, Adriano, Leonardo Moura, Ronaldo Angelim, Renato Augusto, Juan (lateral), Fábio Luciano, Renato Abreu, Elias e Hernane?
Sugiro quatro classes: a) ídolo, b) jogador com grande identificação, c) vestiu bem a camisa e d) apenas passou.
Se possível, dêem suas razões. Lembrem-se que sentimentos de torcedor devem sempre ser respeitados e às vezes traduzem um senso comum.
Bom dia e SRN a tod@s.