terça-feira, 4 de novembro de 2014

Opções (ou Falta de)

 Semana passada surgiu uma notícia, ainda que incerta, impactaria diretamente no presente, e porque não, no futuro do Flamengo. Uma dívida de 20 milhões de Reais do Botafogo com a Odebrecht, por causa do Engenhão, poderia fazer da companhia, uma empreiteira, a concessionária na gestão do Maracanã e do Engenhão ao mesmo tempo. E por consequência de “sinergias” operacionais, escravizaria o Flamengo, receita maior do consórcio. Uma “parceria quase obrigatória” entre Flamengo e Odebrecht, com o "Engenhão de brinde", asfixiaria de vez qualquer projeto de estádio e receita com os quatro clubes grandes do Rio de Janeiro, inclusive o Vasco, não se engane.

O problema é que para qualquer dos cenários o Flamengo depende dos entes políticos. Precisa de um projeto concreto, e ao mesmo tempo precisa saber o que quer de seu futuro, de onde quer chegar, como quer chegar. Um bom projeto somado a ativação com os parceiros, algo palpável e ousado, daria para pensar em avançar sobre a "implicância" da prefeitura, Governo do estado e Governo federal. Da mesma forma que uma porta se fecha, abre-se uma janela de oportunidades.

Com as condições se impondo, há a possibilidade do Flamengo se associar a uma construtora concorrente, no mercado interno e externo, até, porque não, e assim, construir sua casa. O clube estaria preparado para isso? No que deveria pensar? Três perguntas surgem no horizonte: Qual modelo de estádio? Onde construir? Como construir? As respostas estão interligadas, cada lugar poderia ter um tipo de financiamento, um modelo diferente, com condicionantes e características distintas ou iguais dependendo das circunstânciasConfuso, não? Espero que ao longo do texto você possa entender.

Desmembrando o modelo de estádio – do Qual – o Flamengo precisa decidir a capacidade que julga ideal, é necessário um pouco de ousadia e muito de responsabilidade. Uma casa de pequeno porte seria para 25 mil espectadores, para médio porte de 40 mil espectadores e de grande porte, que traria a independência completa do clube, um para 60 mil espectadores (grande porte nas condições atuais, lembremos que o Maracanã já comportou 200 mil pessoas...).

Um estádio para 25 mil espectadores seria uma solução não definitiva, mesmo assim boa para o clube. Sabemos das implicações que dispõem fatores conhecidos, contrários, como a questão politica (prefeito e governador), associação de moradores, transito, entre outros. Sendo direto, um estádio desse porte serviria apenas para jogar os (hoje) falidos campeonatos estaduais e os jogos de pequena estimativa de público durante o ano. Traria ainda um conflito de interesses em relação a comercialização das propriedades: camarotes, cativas, propaganda estática, inclusive questões com ST, por exemplo e espaço “proporcionalmente grande” para visitantes, etc.

No modelo para 40 mil espectadores, a questão da comercialização de propriedades, seria melhor resolvida, exatamente como a separação de torcedores visitantes. Com 40 mil espectadores, 4.000 lugares para visitantes seriam um problema menor do que 2.500 lugares num estádio para 25 mil. Nesse estádio, todos os jogos do clube seriam jogados em casa, inclusive clássicos com carga reduzida para visitantes. Por tradição e para manter a integridade do patrimônio, seria interessante jogar apenas os clássicos no Maracanã. Até jogos decisivos de copas (semi-finais e final) poderiam ser sediados lá, desde que com a anuência de todos os parceiros, compradores de camarotes, cadeiras cativas e de ingresso de temporada.

A construção de um estádio para 60 mil espectadores traria a independência do clube, sem preocupações com entrada/acomodação/saída da torcida visitante, venda de propriedades e outros “problemas” em estádios de menor porte, principalmente segurança. O clube não dependeria do Estado, inclusive na contratação de seus servidores, polícia. Os custos proporcionais seriam mais baixos e os lucros DO FLAMENGO. A relação entre STs, ingresso de temporada e Matchday (inclusive revenda de ingressos), totalmente explorada pelo clube. Ótimo.

O terreno para o estádio deve ser escolhido, aprovado, comprado (arrendado, adquirido, negociado) de forma – Onde – por algum acordo com o proprietário e/ou o poder público se inicie a construção. Em qualquer hipótese o clube sofrerá pressões de associações de moradores, clubes rivais, imprensa, poder público, etc. Essa batalha, que deve ser encarada, certamente deixará o Flamengo sozinho (Sozinho não! A torcida vai junto!) na luta política. Vejo que para dar certo, o projeto, teria que avançar na perspectiva de ter um estádio por ter e do trânsito. O Clube deve demonstrar a sociedade o valor e a importância do projeto, os benefícios para todos, mesmo os torcedores rivais. Os projetos abaixo tem potencial viário, e inclusive impactando positivamente na mobilidade urbana:

Gávea – A opção válida em duas condições: Ou por um estádio de pequeno porte, para 25 mil espectadores no terreno do clube, ou por outro para 40 ou 60 mil espectadores no terreno do Jockey Club, numa negociação triangular. Desde que se ceda um novo terreno para a construção do novo Jockey, de preferência na Barra da Tijuca. Pela construção no terreno do clube, o exemplo do Palmeiras é bom para comparação, se localiza em bairro nobre da cidade, mas percebam a diferença que os entes públicos tratam o Flamengo... Na Gávea, teremos duas estações de metrô num raio de 1km, com previsão para 2016, e uma terceira em um raio de 1,5Km. O que faltaria?

Fundão – fica a 10 minutos do Aeroporto Tom Jobim e no “meio do caminho” para o aeroporto Santos Dumont. Caso o Estado queira existe a possibilidade de se construir uma ligação por BRT entre os aeroportos. A distância entre a Ilha do Fundão e o Caju (Porto) é de apenas 200m (confira no Google Maps). Portanto, mais uma opção de escoamento do tráfego integrada aos projetos viários da cidade, beneficiando a população. O terreno é da União (como toda ilha) e recebe a UFRJ, Petrobras, Eletrobras, Siemens e pequenas unidades de pesquisa e empresas diversas. Considerando que o projeto integraria os BRTs e os aeroportos, daria força ao projeto Porto Maravilha, mesmo que indiretamente. A população ganharia.

Terra Encantada – O terreno pertence ao grupo formado pela construtora Queiros Galvão/Cyrela. Aparentemente o local ideal, mas por um motivo que ainda não existe: a linha 4 do metrô, que irá o Recreio, anunciada pelo governador eleito. Provavelmente haverá uma “estação Alvorada”, onde fica o Hub dos BRTs. O terminal Alvorada fica a aproximadamente 1,5KM do terreno do parque Terra Encantada, que por sinal tem uma estação de BRT à frente, a estação Via ParqueFalando no shopping, no lado oposto ao parque, existe um terreno grande e praticamente vazio, onde atualmente funciona um kartódromo. A se observar. No aspecto mobilidade, em nada ficaria a dever à Gávea.

Gasômetro – Ficaria a menos de 2Km do metrô e a menos de 1 KM da estação de trem (desativada) Leopoldina, que poderia ser reativada, inclusive como ligação, apêndice, extensão, do trem e do metrô. Se transformaria em “parte do Porto Maravilha”, já que fica em frente a rodoviária Novo Rio. Fiaria também, a menos de 500m de um grande hub de ônibus intermunicipais, além dnovos modais criados pela prefeitura como BRT Transbrasil (2017), linhas de VLT que abastecem o centro histórico e o porto. O novo ponto turístico teria vista para a ponte Rio-Niterói e todo o Porto Maravilha, trazendo serviços para uma região “desabastecida”, dando visibilidade para o projeto urbanístico, pela circulação e atração turística irresistível. Excelente para torcedores de fora do Rio, os que queiram apenas assistir ao um jogo. O estádio tem a rodoviária do “outro lado da rua” e ficaria entre os aeroportos Santos Dumont e Galeão.

Respondendo a pergunta –Como– construir, são dois os aspectos: Construtora e Financiamento. As construtoras nacionais são opções, fazendo ou não parte do mercado do futebol. Listo quatro delas: A OAS, que administra a Arena do Grêmio e a Arena Fonte Nova; a WTorre que construiu o novo estádio do Palmeiras e tem perfil agressivo, talvez aceitando parceria com a marca Flamengo; a Queiroz Galvão/Cyrela, donas do terreno do Terra Encantada; e a MRV, maior construtora do Brasil, especialista em imóveis, talvez tivesse grande knowhow na comercialização de camarotes e “cativas”; não esqueçamos das empreiteiras internacionais atenção às empreiteiras chinesas, as maiores do planeta e teriam no Brasil um mercado potencial, porta de entrada para elas.

Quanto ao modelo de financiamento, o Flamengo em sua própria escala, poderia utilizar aos elencados abaixo. Daria assim, pra reduzir a margem dos empréstimos na construção, inclusive ampliando as garantias de receita para o pagamento do financiamento. Reuni aspectos possíveis para a construção, lembrando que é preciso um pouco (ou muito) de ousadia, e do estudo dos modelos conhecidos e testados pelo mundo, para garantir uma margem de erro mínima.

Arsenal – Durante a fase de projetos e captação de recursos a Companhia Aérea Emirates, entrante no mercado europeu, se interessou e comprou o projeto, bancando a construção do estádio, garantindo direito de nome por 20 anos e patrocínio principal por 10 anos. custo total foi de 420 milhões de Libras ou atuais R$ 1.275.011.190,00, era o “projeto certo, na hora certa”. Direito de nome, patrocínio de camisa, financiamento e construção. A gestão fica por conta do Arsenal, inclusive a dos bares, lojas e da megaloja.

Grêmio/Real Madrid – estes casos são uma possibilidade plausível para o Flamengo, a troca de patrimônio por outro ou pela construção. O Madrid vendeu o centro de treinamentos, no centro da cidade por 1BI de Euros. Grêmio trocou seu estádio velho, o Olímpico monumental, por um novo. Dependendo das circunstâncias, o Flamengo poderia trocar o prédio do Morro da Viúva, o Casarão de São Conrado e até o Ninho do Urubu (ou parte), desde que seja construído um novo CT (profissionais e base) noutro lugar, com tudo o que há de melhor, pela construção de sua casa.

Barcelona de Guayaquil – Conseguiu financiar ainda na fase de projetos, inaugurando em 1987 apenas com a venda/concessão dos camarotes. Foi sede de final de Copa América e de final de Libertadores. É um dos meus prediletos!

Palmeiras – Tem semelhanças com o modelo anterior. O projeto já saiu do papel com o direito de nome comercializado, uma vantagem frente ao Corinthians, que sofre com o ITAQUERÃO. Seu modelo de concessão de camarotes é eficaz, já que faltam poucas unidades a se comercializar. Os contratos são de três e cinco anos e em média os camarotes custam anualmente 200 mil Reais. Nada mal. A capacidade varia entre 12 e 21 pessoas e há camarotes reservados para os parceiros do clube e a construtora, são 200 no total, 120 comercializáveis. No modelo para a comercialização das cadeiras cativas, não é permitido a compra de lugares únicos, apenas de quatro em quatro unidades, já que ninguém vai aos jogos sozinho. O interessante é que estas cadeiras se localizam em camarotes mais amplos, para 28 pessoas, ou seja, sete lotes de quatro lugares.

Benfica – Como não conseguiu comercializar o direito de nome do estádio, o clube mais popular de Portugal dividiu o estádio em setores e passou a chamar os setores com os nomes dos parceiros. Quatro parceiros, quatro nomes de setor: MEO, Sagres, Coca-Cola e Moche, empresa do grupo Meo que tem então duas cotas. Pelo mesmo valor pretendido para o direito de nome do estádio inteiro. mix de direito de nome pro estádio e para setores poderia ser tentado. São Paulo tem um em pequena escala, o setor Visa, seu “Maracanã+”.

Barcelona – Poderia ser o Manchester United, Chelsea, Real Madrid. Utilizam patrocinadores em escala global, patrocinadores regionais e o modelo de gestão logística, onde o patrocinador também é fornecedor. Destaquei o clube catalão porque ele faz a melhor conexão entre Museu e megaloja. Ambas obtêm percentagem importante na receita anual. É louvável a variedade de produtos licenciados oferecidos na megaloja, de chaveiro a móveis, por exemplo.

Modelo dos esportes americanos – Não são poucos os aspectos que colocaria do modelo de americano, mas a gestão dos bares, lojas, estacionamentos somados ao direito de nome nos estádios e os serviços especializados dentro da ambiência de entretenimento os diferencia. A atenção aos detalhes, o tratamento do espetáculo é algo a se aprender. Além disso, em boa parte os patrocinadores principais são também os prestadores de serviço. Não citarei o nome, mas tem evento (lugar) no Brasil onde o Catering é de um e a lanchonete é do rival, até lanchonetes rivais...

O pacote "ideal" seria de um estádio para 40 mil espectadores (expansível para 60 mil), onde o Flamengo teria independência da gestão sobre o todo; um modelo comercializável com exploração dos modelos testados, onde o financiamento se faria mais leve, pagável sem enfraquecer o time e pagando dívidas que surgirem ou já existirem; o terreno é o do Gasômetro, seguido por Terra encantada, Ilha do Fundão com os serviços em detalhei. Gávea, mesmo sendo nosso, seria o último lugar dos apresentados, pela possibilidade de estádio para 25 mil pessoas, que não considero ideal. Contudo, se houver a possibilidade mínima de se construir um estádio para 40 mil pessoas ou mais na Gávea, seria minha "prioridade 0"O Flamengo tem que ser parceiro dos entes públicos, fazer entender que é produtor de riqueza para a cidade, um ativo. Deixar legado estrutural, turístico, técnico, administrativo, detalhar cadeia produtiva, empregos diretos e indiretos no antes, durante e depois. Avançar sobre a má vontade da política para com o clube, ser decisivo. Vai que a nação abraça, Flamengo!