Planejar uma temporada, no
futebol ou em qualquer outra área requer antes de mais nada conhecimento e
informação. É fundamental ter, em primeiro lugar noção real dos recursos que se
tem, suas forças e fraquezas para conseguir traçar objetivos não apenas claros,
mas possíveis de serem atingidos. Especificamente num time de futebol, é
importante também saber reconhecer os ciclos do time e do elenco para
identificar o momento adequado de se mudar um ou outro jogador, ou até mesmo
quase todo o plantel.
Um começo natural é
avaliar os erros que foram cometidos ao longo do ano e discutir como seria
possível evita-los ou ao menos minimizá-los. Num mundo ideal, essa avaliação
seria sempre contínua, fazendo uso das diversas tecnologias existentes para
mapear, de um lado o mercado em busca de novos atletas e de outro o próprio
elenco para identificar com antecedência o desgaste físico e de relacionamento entre
os jogadores. Desta forma, o clube poderia se antecipar a eventuais disputas
pela liderança do grupo, evitar a perda de peças-chave do elenco durante as
janelas e trabalhar melhor a adaptação de novos reforços à cidade e à maneira
de jogar da equipe.
Indo um pouco mais além,
seria possível traçar uma estratégia que integrasse o desempenho do time ao
posicionamento de mercado escolhido pela direção. Com isso, a montagem do time,
sua forma de jogar e as contratações feitas teriam um norte definido reforçando,
por exemplo, uma imagem de clube formador de craques (caso do próprio Flamengo
dos anos 80) ou de garimpeiro de jovens talentos (Lyon) ou ainda de celeiro de
estrelas (Real Madrid). Esse aspecto pode parecer pouco importante em uma
rápida observação mas refletindo um pouco, é fácil entender as escolhas de um
empresário ou o pai de um jovem jogador. Naturalmente, o destino preferencial
para um garoto talentoso será pelas as categorias de base de clubes famosos por
boa estrutura e boas vendas internacionais como o São Paulo e o Inter ao invés
de um moedor de promessas como o Flamengo, por exemplo. Da mesma forma, no
outro extremo, um jogador em busca de afirmação como um craque consagrado
procura jogar em clubes como o Real Madrid que tem como postura definida desde
os anos 50 buscar sempre contratar os melhores do mundo.
Mas no futebol brasileiro,
e no Flamengo em especial, o planejamento ainda está bastante distante desse
ponto. A capacidade do clube de planejar o seu futuro ainda é severamente
limitada tanto pela asfixia financeira quanto pelas batalhas políticas sobre o
comando do futebol. Do treinador aos diversos caciques, passando por
jornalistas e torcedores, todos querem assumir ao menos parte do controle sobre
o departamento mais importante do clube e opinar sobre as famosas barcas e as
contratações que devem ser feitas para qualificar o time.
O grande problema é que
ainda não houve no Flamengo a execução real de um planejamento de médio/longo
prazo. Colocando em números, falo de um ciclo de 2 a 3 anos em que o time e o
elenco vão sendo paulatinamente qualificados a partir de uma base até alcançar
um nível de excelência que resulte em títulos. O mais próximo que me lembro de
termos chegado de algo assim em tempos recentes foi no período 2006-09. Ali
havia uma base para o time que foi sendo construída a partir da defesa e
qualificada apesar da grande mudança na maior parte do plantel e nos treinadores
do time. Depois disso, a maior estabilidade que tivemos foi o período em que
Luxemburgo comandou o futebol por cerca de ano e meio, levando o time a uma boa
colocação no brasileiro e classificando para a Libertadores.
Para que se possa chegar
em algo um pouco mais duradouro, não é possível deixar com os treinadores a
responsabilidade pelo planejamento, dado seu notório curto prazo de validade no
Brasil. O que nos leva à situação atual do Flamengo que começa a ver seu
treinador dar entrevistas sobre reforços e a busca pela qualificação do elenco.
Ora, esta atribuição só poderia ser sua do ponto de vista diversionista, isto
é, para desviar atenção de jornalistas e torcedores e permitir o trabalho
silencioso nas negociações que porventura estejam em curso.
Notícias publicadas sem
grande destaque têm dado informações de que o Mais Querido vem se movimentando sem
alarde já há alguns meses para reforçar o time. Faltavam algumas definições
sobre a próxima temporada, notadamente a classificação ou não para a
Libertadores via Copa do Brasil e a decisão orçamentária para 2015. Com o
martelo batido sobre esses pontos, já dá para saber exatamente com quem e com
quanto o Flamengo vai poder contar no próximo ano, que vale sempre frisar, é
ano de eleição na gávea.
Fora de campo, todos
sabemos que 2015 já começou faz tempo. É melhor que já tenha começado dentro de
campo também.
abraços a todos e SRN!