sexta-feira, 14 de novembro de 2014

2015 já começou?

Planejar uma temporada, no futebol ou em qualquer outra área requer antes de mais nada conhecimento e informação. É fundamental ter, em primeiro lugar noção real dos recursos que se tem, suas forças e fraquezas para conseguir traçar objetivos não apenas claros, mas possíveis de serem atingidos. Especificamente num time de futebol, é importante também saber reconhecer os ciclos do time e do elenco para identificar o momento adequado de se mudar um ou outro jogador, ou até mesmo quase todo o plantel.

Um começo natural é avaliar os erros que foram cometidos ao longo do ano e discutir como seria possível evita-los ou ao menos minimizá-los. Num mundo ideal, essa avaliação seria sempre contínua, fazendo uso das diversas tecnologias existentes para mapear, de um lado o mercado em busca de novos atletas e de outro o próprio elenco para identificar com antecedência o desgaste físico e de relacionamento entre os jogadores. Desta forma, o clube poderia se antecipar a eventuais disputas pela liderança do grupo, evitar a perda de peças-chave do elenco durante as janelas e trabalhar melhor a adaptação de novos reforços à cidade e à maneira de jogar da equipe.

Indo um pouco mais além, seria possível traçar uma estratégia que integrasse o desempenho do time ao posicionamento de mercado escolhido pela direção. Com isso, a montagem do time, sua forma de jogar e as contratações feitas teriam um norte definido reforçando, por exemplo, uma imagem de clube formador de craques (caso do próprio Flamengo dos anos 80) ou de garimpeiro de jovens talentos (Lyon) ou ainda de celeiro de estrelas (Real Madrid). Esse aspecto pode parecer pouco importante em uma rápida observação mas refletindo um pouco, é fácil entender as escolhas de um empresário ou o pai de um jovem jogador. Naturalmente, o destino preferencial para um garoto talentoso será pelas as categorias de base de clubes famosos por boa estrutura e boas vendas internacionais como o São Paulo e o Inter ao invés de um moedor de promessas como o Flamengo, por exemplo. Da mesma forma, no outro extremo, um jogador em busca de afirmação como um craque consagrado procura jogar em clubes como o Real Madrid que tem como postura definida desde os anos 50 buscar sempre contratar os melhores do mundo.

Mas no futebol brasileiro, e no Flamengo em especial, o planejamento ainda está bastante distante desse ponto. A capacidade do clube de planejar o seu futuro ainda é severamente limitada tanto pela asfixia financeira quanto pelas batalhas políticas sobre o comando do futebol. Do treinador aos diversos caciques, passando por jornalistas e torcedores, todos querem assumir ao menos parte do controle sobre o departamento mais importante do clube e opinar sobre as famosas barcas e as contratações que devem ser feitas para qualificar o time.

O grande problema é que ainda não houve no Flamengo a execução real de um planejamento de médio/longo prazo. Colocando em números, falo de um ciclo de 2 a 3 anos em que o time e o elenco vão sendo paulatinamente qualificados a partir de uma base até alcançar um nível de excelência que resulte em títulos. O mais próximo que me lembro de termos chegado de algo assim em tempos recentes foi no período 2006-09. Ali havia uma base para o time que foi sendo construída a partir da defesa e qualificada apesar da grande mudança na maior parte do plantel e nos treinadores do time. Depois disso, a maior estabilidade que tivemos foi o período em que Luxemburgo comandou o futebol por cerca de ano e meio, levando o time a uma boa colocação no brasileiro e classificando para a Libertadores.

Para que se possa chegar em algo um pouco mais duradouro, não é possível deixar com os treinadores a responsabilidade pelo planejamento, dado seu notório curto prazo de validade no Brasil. O que nos leva à situação atual do Flamengo que começa a ver seu treinador dar entrevistas sobre reforços e a busca pela qualificação do elenco. Ora, esta atribuição só poderia ser sua do ponto de vista diversionista, isto é, para desviar atenção de jornalistas e torcedores e permitir o trabalho silencioso nas negociações que porventura estejam em curso.

Notícias publicadas sem grande destaque têm dado informações de que o Mais Querido vem se movimentando sem alarde já há alguns meses para reforçar o time. Faltavam algumas definições sobre a próxima temporada, notadamente a classificação ou não para a Libertadores via Copa do Brasil e a decisão orçamentária para 2015. Com o martelo batido sobre esses pontos, já dá para saber exatamente com quem e com quanto o Flamengo vai poder contar no próximo ano, que vale sempre frisar, é ano de eleição na gávea.

Fora de campo, todos sabemos que 2015 já começou faz tempo. É melhor que já tenha começado dentro de campo também.


abraços a todos e SRN!