sábado, 15 de março de 2014

Cabeça Erguida





Irmãos flamengos,

naturalmente, estamos todos decepcionados com o resultado de quarta-feira. Jogando em casa, com apoio intenso da torcida, e enfrentando aquele que, em tese, é o adversário mais fraco do grupo, a expectativa por uma boa atuação e pela vitória era muito grande. Não obtivemos, porém, os três pontos e o rendimento do time foi abaixo do esperado.

Contudo, algumas conclusões positivas podem ser extraídas da partida:

Em primeiro lugar, a atuação soberba do Cáceres. O paraguaio foi a encarnação em campo da legendária raça rubro-negra. Jogou com brio, fibra, gana e brigou bastante, às vezes sozinho contra dois ou três adversários.

Seu companheiro de meio de campo, Muralha, por ser oriundo da nossa base, era quem deveria dar o exemplo, se portando de acordo com a tradição flamenga de muito espírito de luta e denodo em busca da vitória.

Mas, nesse quesito, o Cáceres reinou solitariamente, pois, além do Muralha, Elano, o outro meio-campista, também ficou muito aquém da vontade mostrada pelo paraguaio.

Paraguai, aliás, que tem profícua relação com o Clube de Regatas do Flamengo.  


Modesto Bria, jovem promessa guarani, veio para o Flamengo na década de 1940, com apenas dezoito anos, e se sagrou Tricampeão Carioca (1942/43/44), além de ter sido técnico das divisões de base e, eventualmente, do time profissional. O Bria, como era chamado, chegou, inclusive, a ser treinador do Zico, tanto na base como no profissional. Era tão apaixonado pelo Flamengo que chorava copiosamente após vitórias e derrotas. Trabalhou a vida inteira no Flamengo.

Outro paraguaio de muito sucesso no Mengo foi Manuel Fleitas Solich, técnico que assumiu um desacreditado Flamengo e o conduziu ao Tricampeonato de 1953/54/55. Nessa equipe tricampeã, também figuravam com destaque o goleiro Sinforiano García e o atacante Jorge Duilio Benítez Candía, ou simplesmente, Benítez, grande goleador. Ambos paraguaios. 


Me recordo também do zagueiro Reyes, que, no melhor estilo guarani, mesclava muita raça e categoria, conquistando o Campeonato Carioca de 1972 e se tornando ídolo da torcida rubro-negra.

O Cáceres está longe de ter a história dos acima mencionados, mas, repita-se, tem apresentado uma característica similar a de seus conterrâneos: a raça.

Houve um momento no jogo de quarta-feira em que, da arquibancada do Maracanã, parecia que o Cáceres se multiplicava pelo campo, brigando na frente, recompondo o setor defensivo, dando carrinhos, dividindo e se impondo no meio de campo.

Trata-se de um jogador de estilo lento, mas que, recuperado da lesão no quadril que o deixou fora dos gramados praticamente todo o ano passado, mostrou grande poder de recuperação e entusiasmo em vestir o Manto Sagrado.

Vale lembrar, ainda, que por ocasião de sua chegada ao clube, o Cáceres afirmou que a sua posição de origem não é a de volante, mas a de segundo homem do meio.

Infelizmente, no momento em que seu futebol crescia exponencialmente, ganhando com justiça a simpatia da Nação Rubro-Negra, sempre inclinada a devotar seu coração àqueles que demonstram vontade e que se esforçam pelas cores vermelha e preta, o paraguaio se lesionou novamente e ficará, ao que parece, seis semanas fora da equipe. 

E mesmo com o time empatando o jogo, saiu de campo aplaudido pela massa. 

Perda irreparável, sem dúvida. Que consiga se recuperar o quanto antes e que retorne com a mesma postura.

E que sua atuação sirva de exemplo aos demais atletas.
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Além do Cáceres, quem teve comportamento exemplar no jogo de quarta-feira foi a torcida do Flamengo.

Jogou com o time o tempo inteiro. Evitou vaiar atletas como Léo e João Paulo, que, claramente, sentiram a pressão de jogar num Maracanã com mais de quarenta mil flamengos.

A torcida merecia melhor sorte e a vitória faria justiça ao povo que, numa quarta-feira, às dez da noite, após um dia de trabalho, fez valer seu amor pelo Flamengo.

A virada do time, conquistada, verdade seja dita, aos trancos e barrancos, foi, certamente, fruto desse calor incansável que a Magnética transmite aos jogadores. 

Nesse contexto, o empate sofrido pela equipe não correspondeu ao papel desempenhado pela torcida.

A torcida do Flamengo realmente faz a diferença.
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Agora, a situação do clube na Taça Libertadores ficou dramática.

Subiremos a ladeira no próximo jogo e precisaremos vencer no coração dos Andes.

Tarefa hercúlea e dificílima, dado o grau de problemas físicos ocasionados pela altitude. Afora a inconsistência de um time que, passados quase dois meses do início da temporada, ainda não teve uma atuação verdadeiramente convincente.

Mas para o Flamengo tudo sempre é sofrido, e nossas vitórias e títulos são alcançados mediante muita luta e esforço. Mesmo nos tempos de Zico e cia., nossas conquistas dependiam de bastante suor e emoção.

Não será diferente agora.

Embora estejamos chateados com o mau resultado de quarta-feira passada, não devemos esmorecer ou abaixar a cabeça.

Muito pelo contrário, o momento é de vestir o Manto Sagrado com orgulho e paixão. Até porque teremos o apoio da Fla-Sucre.

Vamos vencer em La Paz!



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Abraços, Saudações Rubro-Negras e bom fim de semana a todos.

Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.