sexta-feira, 14 de março de 2014

Organização e liderança

O título da coluna reflete duas coisas que fizeram muita falta ao time do Flamengo na partida de quarta-feira. O time parecia um bando dentro de campo sem nenhuma sombra da disciplina e organização tática que o tornaram competitivo o bastante para jogar de igual para igual com os líderes do brasileiro. E tanto no primeiro tempo, quando ficou preso na marcação do Emelec quanto no segundo quando levou a virada, faltou uma liderança dentro de campo para acalmar os ânimos do time e botar a bola no chão. Esperava-se que Elano, que já jogou Copa do Mundo e ganhou a libertadores com o Santos, fosse o cara a fazer esse papel, mas ele parecia se esconder do jogo.

No ano passado, Jayme iniciou seu trabalho tentando organizar o time de trás para frente, montando primeiro uma defesa sólida seguida de uma ou duas alternativas para fazer a saída de bola. Repetindo o time e dando ênfase total ao posicionamento da defesa e a compactação das linhas, a equipe recuperou a confiança perdida e começou a se sentir mais confortável em campo. Mesmo assim, situações adversas demoraram a serem encaradas com naturalidade. Isso acabou mudando em um dos muitos momentos-chave na temporada passada.

No primeiro jogo das quartas de final da copa do Brasil, os prognósticos desanimadores contra o Botafogo, com um Flamengo ainda correndo atrás do Abel Braga e com a torcida ainda desconfiada do time. Houve um momento, após o gol que sofremos, em que o time se desestabilizou completamente, quase levando a virada como havia ocorrido contra o Atlético-PR algumas semanas antes. Em uma paralisação para atendimento médico a um dos jogadores, Elias reuniu alguns do time e rapidamente os defensores corrigiram seu posicionamento e reequilibraram o jogo. Não foi necessária a participação direta do Jayme, que não tem o estilo de ficar gritando na beira do campo ou alguma substituição para mudar o time. Os jogadores sabiam o que fazer e só precisavam se acalmar e fazer o que fora treinado.

Na temporada atual, o time parece ficar mais descompromissado com a ordem tática a cada partida. A linha de meio desapareceu completamente e, da mesma maneira que aconteceu no início do Campeonato Brasileiro do ano passado, a defesa se desarruma tentando cobrir os buracos que proliferam ao redor da grande área. Talvez isso seja arrumado com o retorno do Amaral a frente da defesa, por conta da contusão do Cáceres, da mesma forma que no ano passado.

O paraguaio joga com muita disposição, corre muito, mas não guarda posição na defesa. Isto já havia acontecido contra o Emelec quando ele embolou a marcação do lado esquerdo entre o Samir e André Santos e ontem voltou a ocorrer. No lance do primeiro gol, é possível ver que quando Wallace é driblado Samir sai na cobertura e João Paulo marca o homem que vem pelo meio. Cáceres corre desembestado atrás da bola indo na direção do homem combatido por Samir e deixando livre o atacante que marca o gol.

O problema de posicionamento na defesa contribui para a dificuldade do time nos contra-ataques e na saída de bola. Com o time desorganizado e espalhado pelo campo, fica ainda mais difícil para Cáceres e Muralha darem início às jogadas. A coisa melhora bastante quando o Everton joga pelo meio vindo buscar o jogo e se movimentando mais. Da mesma forma, quando jogamos com os laterais titulares, a qualidade técnica de Léo Moura e André Santos ocasionalmente faz com que o time consiga fazer essa transição melhor, mas ainda assim costumamos ter dificuldades contra retrancas fortes como a do Bolívar.

O time de La Paz deve ter surpreendido muita gente pela sua organização e pela tranquilidade no toque de bola. Para uma equipe que mudara de treinador na semana do confronto, foi impressionante a forma como se postaram em campo, como buscavam sempre as mesmas jogadas e como souberam explorar conscientemente os espaços abertos pelo Flamengo ao longo do jogo. Seu técnico soube forçar o jogo em cima do fraco João Paulo no primeiro tempo e aproveitou a avenida deixada nas costas do Paulinho no segundo, por exemplo.

Na próxima semana, os bolivianos devem jogar com uma postura mais ofensiva o que, teoricamente, daria espaço para o Flamengo contra-atacar, mas existe a questão da altitude. Em tais condições, o time vai precisar mais do que nunca de organização e disciplina tática para suportar bem os 90 minutos. Se conseguir dosar a correria e manter os jogadores próximos, facilitando trocas de passes ao invés de tentar jogar na correria, o Flamengo pode repetir o que fez em 2008 contra o Cienciano em Cuzco, controlando o jogo e só saindo na boa, sem correr riscos. Talvez fosse interessante o Jayme dar uma olhada na postura do time naquele jogo que foi provavelmente nossa melhor atuação jogando na altitude.

abraços a todos e SRN!