Com o mau resultado da última quarta-feira, o Flamengo se vê diante da perspectiva de uma disputa pela classificação à fase seguinte da Libertadores cujo processo deverá ser banhado de emoção e muito drama.
Se bem que, se trouxermos um breve histórico das participações mais recentes do rubro-negro na Primeira Fase, veremos que a situação está longe de ser inédita, conforme mostro abaixo.
2007
Beneficiado
por um sorteio que o coloca em uma chave muito fraca, ao lado dos
inexpressivos Real Potosí-BOL, Maracaibo-VEN e do decadente Paraná
Clube, o Flamengo não encontra dificuldades para se classificar na
primeira colocação. O único dissabor ocorre logo na estreia,
quando o time enfrenta sérias dificuldades para lidar com a altitude
de Potosí (4.000 metros), o que não impede a conquista de um empate heroico (2-2,
após dois gols de desvantagem), viabilizado muito por conta da
extrema fragilidade do adversário (que desperdiça incontáveis
chances claras de gol). Derrota sem problemas o Maracaibo no
Maracanã (3-1) e a seguir o time de Ney Franco garante a conquista da Taça
Guanabara, o que possibilita disputar o segundo turno do Estadual com
reservas e se dedicar exclusivamente ao restante dos jogos da
primeira fase da Libertadores. Quatro vitórias nas partidas
restantes (1-0 duas vezes sobre o Paraná, outro 1-0 no Potosí e 2-1
no Maracaibo) dão ao Flamengo o primeiro lugar geral, status
incompatível com o mau futebol até então apresentado.
2008
A chave é
aparentemente fácil, com o Nacional-URU e os modestos Cienciano e
C.Bolognesi, ambos do Peru. Tal como no ano anterior, o Flamengo
consegue conquistar a Taça Guanabara antes que os jogos do Estadual
embolem com os da Libertadores, o que novamente possibilita que o
time dispute a Taça Rio com os reservas enquanto se concentra na
competição continental. No entanto, o Flamengo de Joel Santana
comete um erro de avaliação e atua excessivamente recuado para
segurar um 0-0 contra o Bolognesi, em Tacna. Esse empate se mostrará
ruim, porque o Bolognesi perderá os jogos seguintes, tornando o
grupo embolado entre as outras três equipes. Após vencer o
Cienciano a duras penas no Maracanã (2-1) e trocar golpes com o
Nacional-URU (0-3 em Montevideo e 2-0 no Rio), o Flamengo se vê
dividindo a liderança com o Cienciano (7 pontos), seguido pelo
Nacional (6 pontos). Os uruguaios, como previsto, derrotam o
Bolognesi, vão a 9 pontos e transformam a partida entre Cienciano x
Flamengo, em Cuzco, em uma verdadeira decisão. Precisando da vitória
(está em desvantagem no saldo), o Flamengo ignora a altitude (3.400
metros), a invencibilidade local do adversário (que recentemente fez
vítimas ilustres, como o River Plate) e o derrota de forma
inapelável, autoritária, emplacando 3-0 e garantindo a vaga. Na
última rodada, uma vitória nervosa sobre o Bolognesi no Maracanã
(2-0, com gols apenas nos minutos finais) dá ao rubro-negro o
primeiro lugar do grupo.
2010
O
Flamengo disputa uma chave complicada, com os chilenos Universidad,
U.Catolica e o Caracas-VEN, equipe com histórico excelente em casa.
Para complicar, uma confusão envolvendo a participação do San
Luiz-MEX na edição anterior faz com que seja reduzido o número de
vagas à segunda fase (só se classificam seis dos oito segundos
colocados). O Flamengo, que dispõe do “Império do Amor” mas
perde peças importantes do elenco hexacampeão brasileiro, não
consegue dessa vez conquistar a Taça Guanabara, e a diretoria decide
dividir os esforços entre a Libertadores e o Estadual. O Flamengo
até inicia bem a competição, derrotando a U.Catolica no Maracanã
(2-0) e, numa jornada excepcional, o Caracas na Venezuela (3-1),
derrubando antigo tabu. As duas vitórias criam uma traiçoeira
sensação de relaxamento, e, após perder para a Universidad no
Chile (1-2) e ceder nos acréscimos o empate à mesma La U no Rio
(2-2), o Flamengo se vê, a duas rodadas do fim, na segunda posição,
com 7 pontos, a um da líder Universidad. A distância é
relativamente confortável aos outros dois times (U.Catolica 3,
Caracas 2), mas o Flamengo precisa de pelo menos quatro pontos para
garantir a vaga, mesmo em segundo. A situação se torna dramática
quando o rubro-negro, já imerso em séria crise extracampo, é
derrotado com facilidade pela U.Catolica (0-2), o que praticamente
sela sua eliminação. No entanto, uma incrível combinação de
resultados torna viável a vaga, desde que o time derrote o
desmotivado Caracas no Maracanã por dois gols de diferença. Mas nem
isso o nervoso time de Andrade consegue, arrancando a duríssimas
penas uma vitória por 3-2, de virada. Outra improvável sequência
de resultados nos outros grupos acaba, mesmo assim, colocando o
Flamengo na segunda fase.
2012
Imerso em
uma grave crise de relacionamento entre Ronaldinho Gaúcho, o
treinador Vanderlei Luxemburgo e outros jogadores do elenco, o
Flamengo derrota o Real Potosí-BOL na Fase Preliminar (1-2 em Potosí
e 2-0 no Engenhão), garantindo presença na Primeira Fase ao lado do
tradicional Olimpia-PAR e dos perigosos Lanús-ARG e Emelec-EQD. O
início é promissor, após um festejado empate na Argentina (1-1, em
que Joel Santana usa uma célebre escalação com cinco volantes) e
um pálido 1-0 sobre o Emelec, no Rio. A exemplo de 2010, o
rubro-negro perde a Taça Guanabara e divide atenções entre duas
competições. A classificação parece bem encaminhada quando o
Flamengo abre três gols de diferença em uma atuação de gala
contra o Olimpia, no Engenhão, mas de forma inacreditável o time
cede o empate, e os 3-3 cobrarão seu preço no futuro. Em Assunção,
o Flamengo é derrotado pelo Olimpia (2-3) e, a duas rodadas do fim,
o grupo se encontra totalmente embolado: Lanús 7, Olimpia 7,
Flamengo 5, Emelec 3. O Lanús esmaga o Olimpia (6-0) e se
classifica, o que faz com que o Flamengo, caso empate em Guayaquil,
se posicione muito bem para garantir a vaga. O rubro-negro faz boa
partida, abre 2-1, mas recua em excesso, aceita a pressão local e
cede a virada nos minutos finais (2-3), caindo para a última posição
já não mais dependendo de si. O Flamengo (tardiamente) faz sua
parte, derrotando o desinteressado Lanús (3-0), e começa a festejar
o improvável empate em Assunção, entre Lanús e Emelec. Mas um gol
nos descontos dá a vitória aos equatorianos (3-2), eliminando o
rubro-negro, cujos jogadores protagonizam no gramado do Engenhão uma
cena tão emblemática quanto previsível. E merecida.
Boa semana a todos,