domingo, 16 de março de 2014

Alfarrábios do Melo

 Saudações flamengas a todos,

Com o mau resultado da última quarta-feira, o Flamengo se vê diante da perspectiva de uma disputa pela classificação à fase seguinte da Libertadores cujo processo deverá ser banhado de emoção e muito drama.
Se bem que, se trouxermos um breve histórico das participações mais recentes do rubro-negro na Primeira Fase, veremos que a situação está longe de ser inédita, conforme mostro abaixo.

2007
Beneficiado por um sorteio que o coloca em uma chave muito fraca, ao lado dos inexpressivos Real Potosí-BOL, Maracaibo-VEN e do decadente Paraná Clube, o Flamengo não encontra dificuldades para se classificar na primeira colocação. O único dissabor ocorre logo na estreia, quando o time enfrenta sérias dificuldades para lidar com a altitude de Potosí (4.000 metros), o que não impede a conquista de um empate heroico (2-2, após dois gols de desvantagem), viabilizado muito por conta da extrema fragilidade do adversário (que desperdiça incontáveis chances claras de gol). Derrota sem problemas o Maracaibo no Maracanã (3-1) e a seguir o time de Ney Franco garante a conquista da Taça Guanabara, o que possibilita disputar o segundo turno do Estadual com reservas e se dedicar exclusivamente ao restante dos jogos da primeira fase da Libertadores. Quatro vitórias nas partidas restantes (1-0 duas vezes sobre o Paraná, outro 1-0 no Potosí e 2-1 no Maracaibo) dão ao Flamengo o primeiro lugar geral, status incompatível com o mau futebol até então apresentado.

2008
A chave é aparentemente fácil, com o Nacional-URU e os modestos Cienciano e C.Bolognesi, ambos do Peru. Tal como no ano anterior, o Flamengo consegue conquistar a Taça Guanabara antes que os jogos do Estadual embolem com os da Libertadores, o que novamente possibilita que o time dispute a Taça Rio com os reservas enquanto se concentra na competição continental. No entanto, o Flamengo de Joel Santana comete um erro de avaliação e atua excessivamente recuado para segurar um 0-0 contra o Bolognesi, em Tacna. Esse empate se mostrará ruim, porque o Bolognesi perderá os jogos seguintes, tornando o grupo embolado entre as outras três equipes. Após vencer o Cienciano a duras penas no Maracanã (2-1) e trocar golpes com o Nacional-URU (0-3 em Montevideo e 2-0 no Rio), o Flamengo se vê dividindo a liderança com o Cienciano (7 pontos), seguido pelo Nacional (6 pontos). Os uruguaios, como previsto, derrotam o Bolognesi, vão a 9 pontos e transformam a partida entre Cienciano x Flamengo, em Cuzco, em uma verdadeira decisão. Precisando da vitória (está em desvantagem no saldo), o Flamengo ignora a altitude (3.400 metros), a invencibilidade local do adversário (que recentemente fez vítimas ilustres, como o River Plate) e o derrota de forma inapelável, autoritária, emplacando 3-0 e garantindo a vaga. Na última rodada, uma vitória nervosa sobre o Bolognesi no Maracanã (2-0, com gols apenas nos minutos finais) dá ao rubro-negro o primeiro lugar do grupo.

2010
O Flamengo disputa uma chave complicada, com os chilenos Universidad, U.Catolica e o Caracas-VEN, equipe com histórico excelente em casa. Para complicar, uma confusão envolvendo a participação do San Luiz-MEX na edição anterior faz com que seja reduzido o número de vagas à segunda fase (só se classificam seis dos oito segundos colocados). O Flamengo, que dispõe do “Império do Amor” mas perde peças importantes do elenco hexacampeão brasileiro, não consegue dessa vez conquistar a Taça Guanabara, e a diretoria decide dividir os esforços entre a Libertadores e o Estadual. O Flamengo até inicia bem a competição, derrotando a U.Catolica no Maracanã (2-0) e, numa jornada excepcional, o Caracas na Venezuela (3-1), derrubando antigo tabu. As duas vitórias criam uma traiçoeira sensação de relaxamento, e, após perder para a Universidad no Chile (1-2) e ceder nos acréscimos o empate à mesma La U no Rio (2-2), o Flamengo se vê, a duas rodadas do fim, na segunda posição, com 7 pontos, a um da líder Universidad. A distância é relativamente confortável aos outros dois times (U.Catolica 3, Caracas 2), mas o Flamengo precisa de pelo menos quatro pontos para garantir a vaga, mesmo em segundo. A situação se torna dramática quando o rubro-negro, já imerso em séria crise extracampo, é derrotado com facilidade pela U.Catolica (0-2), o que praticamente sela sua eliminação. No entanto, uma incrível combinação de resultados torna viável a vaga, desde que o time derrote o desmotivado Caracas no Maracanã por dois gols de diferença. Mas nem isso o nervoso time de Andrade consegue, arrancando a duríssimas penas uma vitória por 3-2, de virada. Outra improvável sequência de resultados nos outros grupos acaba, mesmo assim, colocando o Flamengo na segunda fase.

2012
Imerso em uma grave crise de relacionamento entre Ronaldinho Gaúcho, o treinador Vanderlei Luxemburgo e outros jogadores do elenco, o Flamengo derrota o Real Potosí-BOL na Fase Preliminar (1-2 em Potosí e 2-0 no Engenhão), garantindo presença na Primeira Fase ao lado do tradicional Olimpia-PAR e dos perigosos Lanús-ARG e Emelec-EQD. O início é promissor, após um festejado empate na Argentina (1-1, em que Joel Santana usa uma célebre escalação com cinco volantes) e um pálido 1-0 sobre o Emelec, no Rio. A exemplo de 2010, o rubro-negro perde a Taça Guanabara e divide atenções entre duas competições. A classificação parece bem encaminhada quando o Flamengo abre três gols de diferença em uma atuação de gala contra o Olimpia, no Engenhão, mas de forma inacreditável o time cede o empate, e os 3-3 cobrarão seu preço no futuro. Em Assunção, o Flamengo é derrotado pelo Olimpia (2-3) e, a duas rodadas do fim, o grupo se encontra totalmente embolado: Lanús 7, Olimpia 7, Flamengo 5, Emelec 3. O Lanús esmaga o Olimpia (6-0) e se classifica, o que faz com que o Flamengo, caso empate em Guayaquil, se posicione muito bem para garantir a vaga. O rubro-negro faz boa partida, abre 2-1, mas recua em excesso, aceita a pressão local e cede a virada nos minutos finais (2-3), caindo para a última posição já não mais dependendo de si. O Flamengo (tardiamente) faz sua parte, derrotando o desinteressado Lanús (3-0), e começa a festejar o improvável empate em Assunção, entre Lanús e Emelec. Mas um gol nos descontos dá a vitória aos equatorianos (3-2), eliminando o rubro-negro, cujos jogadores protagonizam no gramado do Engenhão uma cena tão emblemática quanto previsível. E merecida.

Boa semana a todos,