sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Uma aula de Libertadores


Assim como outros frequentadores aqui do Buteco, eu também tenho a Libertadores como minha competição favorita. A considero, inclusive, o torneio de futebol mais difícil do mundo – especialmente para times brasileiros – devido aos aspectos geográficos, linguísticos e políticos envolvidos na disputa. Ainda que o nível dos times que a disputam hoje em dia não seja dos mais elevados, para vencer a Libertadores a técnica não é suficiente. É preciso também coragem e inteligência. E já está mais do que na hora de o Flamengo aprender a jogá-la e vencê-la.

Muito se fala sobre o “espírito de Libertadores”, que é uma guerra e que é preciso raça, lembrando das verdadeiras batalhas dos anos 70 e 80. Mas a estúpida expulsão do Amaral no início do jogo parece uma evidência bem clara de que a coisa não é exatamente por aí. Na verdade, o Flamengo tem diversos exemplos de jogadores expulsos por jogadas irresponsáveis em começo de jogo, como Williams no Maracanã em 2010 e o patético Toró empurrando um gandula em 2009.

A derrota da última quarta-feira poderia ser analisada como um bom exemplo de quase tudo que joga contra quando se está nesta disputa. Começamos com a longa e desgastante viagem até o México, algo que já era sabido desde o sorteio e para o qual o Flamengo teria obrigação de ter se preparado melhor. Neste campeonato em que as longas viagens, a altitude e o clima jogam a favor dos times locais, a falta de planejamento costuma cobrar o preço que vimos no final do jogo, em que os dez rubro-negros estavam completamente extenuados.

Outro aspecto mais do que sabido por todos que acompanham futebol é o de que as arbitragens na América do Sul tendem a ser “caseiras”. A isso adiciona-se a insatisfação da confederação com a supremacia dos times brasileiros nos últimos anos. É algo que não vai mudar num curto espaço de tempo e o time que quer ser campeão tem que saber como neutralizar isso também. Se pensarmos nos últimos times campeões da Libertadores veremos que eles souberam lidar com a arbitragem de modo a minimizar os prejuízos. E é tão fundamental evitar lances estúpidos quanto maneirar nas provocações como não fez o André Santos, por exemplo que também poderia (e merecia) ter sido expulso.

Um terceiro ponto da aula de Libertadores que o Flamengo recebeu foi acuar o adversário. O Leon tem um time mais fraco que o nosso, mas percebendo o clima favorável a si partiu pra cima do rubro-negro no segundo tempo, sufocando nossa saída de bola e atacando impiedosamente um adversário que estava nas cordas. Felizmente contamos com a sorte e com uma grande atuação do Felipe evitando um resultado pior para o nosso time. Mas é preciso aprender a enfrentar a pressão e a neutralizá-la. Esfriar o jogo, falar muito e não deixar o jogo correr são estratégias corriqueiras das equipes sul-americanas e é fundamental saber usá-las a nosso favor.

Por último, o fator casa é muito importante, assim como a intimidação dentro de campo. Não falo de violência mas sim de os adversários temerem seu campo de jogo. A mística de como é difícil vencer o Nacional no Parque Central, o Boca na Bombonera ajudam a fazer a balança pender a favor desses times, inclusive a “boa vontade” dos árbitros. Vou ignorar o “período Engenhão” e me ater aos últimos fracassos no Maracanã contra La U, America e Defensor. Não podemos ter nenhum traço daqueles times desconcentrados, nervosos que foram presas fáceis para adversários menos qualificados. Precisamos levar para a Libertadores a mística resgatada no mata-mata da copa do Brasil. A nova configuração do Maracanã parece aumentar a pressão e a reverberação do som. Temos que usar isso a nosso favor para que os adversários venham jogar preocupados não apenas com o time do Flamengo mas com a pressão da torcida.

A diretoria foi muito feliz na precificação dos pacotes para Libertadores. Começamos levando uma lição e agora é a nossa vez de dar a aula com um grande jogo no Maracanã contra o Emelec. Esqueçam o campeonato estadual e os “clássicos” sem valor contra times de séries B e C. Se o Flamengo quer ser campeão da América do Sul, precisa prestar atenção na competição que interessa e esquecer os adversários locais.

abraços a todos e SRN!