sábado, 28 de dezembro de 2013

A Liga

Por Júlio César Purcena
O espaço franqueado pela administração do blog foi bastante oportuno, pois esperava elaborar comentários nesse fórum, que é extremamente rico em troca de ideias, com ênfase em alguns pontos importantes sobre o primeiro ano de gestãoNesse sentido, eu gostaria de tratar de um assunto que tem martelado a minha mente, desde que vi a fala, do grande jornalista esportivo, Tim Vickery. “Como a sociedade brasileira tem problemas de agir em conjunto. É um cada um por si, o tempo todo. Os clubes que deveriam ser parceiros. São sempre rivais.” (http://sportv.globo.com/videos/redacao-sportv/t/ultimos/v/tim-vickery-critica-pontos-juridicos-e-pede-bom-senso-e-cada-um-por-si-o-tempo-todo/3016728/) (945’’). O motivo para discorrer sobre a questão da liga tem a ver com a minha consciência e também pelo fato da solução está muito mais na cooperação do que na disputa entre os clubes. 

No entanto, reconheço que não é um tema de solução simples, pois mexe com diferentes interesses. Outra confissão necessária é sobre lidar com um problema externo, ao mesmo tempo em que é necessário concentrar esforços na reestruturação do clube, que por si só exige uma longa lista de batalhas internas. E como não poderia deixar de ser, trata-se de um clube, logo há sempre a expectativa de grande time. Enfim, lidar como este tema não é tão simples como anunciar a contratação de um jogador, que geralmente desperta o interesse da maioria dos torcedores. 

Ainda assim, é preciso reconhecer que o clube conta com diferentes partes interessadas na sua vocação, que é vender a paixão por meio da experiência de entretenimento. Por isso, é importante uma comunicação bem feita sobre pontos relevantes como este. No entanto, mais do que isso, esperamos um posicionamento, um norte para as ações do clube. É óbvio que aguardamos com mais ansiedade a contratação de uma estrela, porém mantemos certa aflição referente à que campeonato disputaremos, especialmente, por conta dos últimos acontecimentos

O cerne da questão é como essa diretoria, que usa e abusa do profissionalismo (gostaria de deixar claro que o tom está muito longe de ser jocoso), continuará vendendo a alegria de ser rubro-negro, disputando uma competição, em que a organizadora é irredutível quando se trata de mudanças, por fim, num sistema esportivo cheios de vícios. Para desalentar ainda mais, um festival de notícias desagradáveis surge às vésperas da Copa do Mundo. Aliás, como tragédia pouca, é bobagem, se apurou que os estádios brasileiros para a Copa do Mundo custarão mais do que a soma dos dois últimos Mundiais.

Diante disso, ainda que a tarefa seja árdua, como torcedores conscientes do destino do clube, refletir sobre um posicionamento mais claro referente às questões importantes para o futuro do Flamengo se faz necessário. Ainda mais, quando essa reflexão se fundamenta em promessas de campanha que elegeu esse grupo. Como ser o maior das Américas e dos maiores do mundo com esse sistema esportivo? 

Acredito que os torcedores rubro-negros, em sua maioria, são gratos ao trabalho desenvolvido até aqui. Da mesma forma que se prometeu o clube vencedor, não se escondeu que isso seria feito através de muito trabalho e também de muitas renúncias. Já no primeiro ano, tivemos avanços importantes na gestão financeira, cujo troféu maior foi a conquista da CND. E no campo, conquistamos, de um jeito tão rubro-negro, a Copa do Brasil. É possível que a promessa de voltar a ser um time vencedor aqui e lá fora esteja bem próxima, a começar pela disputa da Libertadores de 2014. 

Entretanto, também acredito que todos esperam que isso não seja fruto de efemeridade. Dessa forma, de um lado, tenho certeza que todo rubro-negro espera que os próximos títulos internacionais, certamente eles virão aos montes, sejam frutos de um trabalho sólido, baseados em princípios profissionais e desenvolvidos num ambiente estável. Do outro lado, esses títulos também sejam resultados da relevância do clubeO Flamengo precisa assumir o protagonismo cravado pelo destino, o de ser detentor da maior torcida do país

Por acaso, isso ocorreu numa nação onde o futebol é um dos principais elementos de identidade cultural. Talvez, em boa parte do tempo, é como nos reconhecemos e somos reconhecidos. Além do mais, o momento exige isso, pois às vésperas de se mostrar ao mundo, como organizador de uma Copa, o Brasil precisa tratar bem o futebol, criando um novo ambiente para o esporte mais popular do planeta, a fim de estabelecer um legado verdadeiro ou que, ao menos, deixe em segundo plano o legado, já estabelecido, de ter maior gasto em estádios.

Não tenho dúvidas que cabe ao Flamengo esse papel, seja para fazer justiça com sua própria torcida, seja para acertar as contas com o sistema de justiça desportiva brasileira. Devemos lembrar que em 1987, o título do campeonato brasileiro, para muitos, o mais bem sucedido fora dos campos, na história do Brasileirão, deveria ter ido direto para Gávea. Entretanto, perambula em tribunais de justiça. Somado a isso, se este campeonato (Brasileirão 2013) insiste em não terminar, ou melhor, prefere ser decidido nos mesmos tribunais. Nada mais justo, que se encerre o círculo vicioso do futebol brasileiro, ajustando as contas com dezembro de 1987.

Rubro-negro que sou, confesso que ficaria aliviado, se essa mudança fosse liderada pelo presidente Eduardo Bandeira de Mello. Primeiro porque ele pouco se assemelha com ocartolas que tanto conhecemos. Segundo porque sua fala, até para tratar de assuntos espinhosos como austeridade, transmite muita segurança. Afinal de contas, num balanço geral, o ano passou e mal sentimos. Além do mais, seria interessante que um funcionário aposentado do BNDES, banco que despejou tanto dinheiro nos estádios da Copa, conduzisse esse processo de mudança.

Por último, uma provocação a nós, torcedores. Por mais que reconheça o papel importante da Associação Nacional de Torcedores na fiscalização por uma Copa do Mundo limpa, vejo pouco espaço para uma discussão mais concentrada no cotidiano dos nossos clubes. Logo, não estaria no momento de pensarmos numa liga de torcedores voltada para discussão dos problemas dos nossos clubes, deixando de lado o clubismo e pensando apenas no futebol. Pode ser que dê liga!? 
Júlio César Purcena


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