terça-feira, 5 de março de 2013

Relacionamento



Com a vitória dos azuis parece ter acabado a vergonhosa inércia do Flamengo no relacionamento (ou falta de) com seu público e a maior prova disso é o Dia Nacional do Cadastro Rubro Negro, feito domingo passado, aniversário do Zico. Este movimento do Flamengo para conhecer e contactar a seus torcedores é o primeiro passo dado no caminho certo, pela peça certa, do clube para o cliente/torcedor. Em todo o caso, os programas de sócio torcedor utilizam como base uma soma de benefícios como relacionamento direto e com parceiros + ingresso + direito à voto (após período ou imediatamente em alguns casos), sendo praticado assim tanto no Brasil, quanto na Europa ou América Latina. O programa à ser apresentado e executado pelo clube, num primeiro momento não dará direito à voto. Infelizmente é "apenas" um programa de relacionamento oficial e não um "sócio torcedor".

Por esta ótica utilizei uma pesquisa de mercado da Pluri Consultoriado ano passado que nos mostra a condição momentânea do futebol brasileiro, e mesmo com algumas considerações a se fazer e distorções, pode se dizer que exprime nossa ineficiência no contato direto com o maior patrimônio (a nação), as falhas na produção e execução de um programa de relacionamento e os caminhos em que se pode trabalhar. Não concordo especificamente com o item IV, o de potencial de renda e consumo, onde elementos que constituem o índice de propensão ao consumo colocam bizarramente o Flamengo em ultimo lugar dentre os clubes relacionados. Vejam abaixo alguns dos programas associativos de grandes clubes de futebol no mundo:
  • Benfica → É o maior do planeta (com quase 200.000 associados), tem um programa de sócio torcedor muito simples, chamativo e de fácil explicação, fora isso conta com a maior torcida de Portugal, sabendo utilizar este aspecto a seu favor. Custo aproximado: 156 Euros, R$ 355,00/ano, R$ 29,60/mês.
  • Sporting Lisboa → Também muito bom, e além de ser bem explicado dá direito a um “pacote”, com brindes do clube, inclusive com uma “camisola oficial”. O sócio tem ainda o direito de fazer um plano familiar facilitado. Um detalhe que nos interessa é que existe um equivalente ao nosso Off-Rio. Custo aproximado: 55 Euros/ano ou R$ 125,00/ano, R$ 10,50/mês.
  • Porto F.C. → É a demonstração da eficiência portuguesa quando se trata de aproximar o clube de seu torcedor, com os três grandes do país entre os 10 maiores programas associativos do mundo. Pode-se dizer que foram os precursores deste modelo, "os descobridores do relacionamento", trabalhando muito bem este tipo de fidelização e renda associativa. Todos muito bem explicados e diretos. No caso do Porto o custo aproximado é de: 60 Euros/ano, R$ 137,00, por volta de R$ 11,40/mês.
  • Barcelona → São três as modalidades principais, incluindo o sócio-bebê, isso mesmo recém-nascidos. Custo aproximado: Sócio adulto 166 Euros/ano, R$ 31,00/mês. Crianças R$ 182,00/ano e sócio-bebê R$ 90,00/ano, R$ 7,50/mês. Sempre com vantagens.
  • Real Madrid → Também é simples e traz inclusive descontos para algumas modalidades e isenção de pagamento (em alguns casos para sempre). Basicamente duas modalidades. Adulto por 143 Euros/ano ou R$ 326,04/ano (R$ 27,17/mês) e a modalidade infantil, GRATUITA até os 11 anos de idade e de 11 a 14 anos custa 49 Euros/ano o equivalente a R$ 9,31.
  • Bayern de Munique → Foi um dos programas que mais chamou minha atenção. Interessante e barato, o sócio torcedor do Bayern paga 30 Euros POR ANO ao clube ou R$68,40. É equivalente a R$ 5,70 por mês. Também está entre os 10 primeiros clubes em numero de sócios. Com uma “entrada” destas, logicamente “chama” aos seus sócios à comprar produtos do clube, um belo exemplo para o Flamengo.
  • Borussia Dortmund Pelo que pude entender não existe um programa de sócio torcedor, nem de relacionamento direto do clube, mas seus ingressos são muito convidativos, ainda mais com a segunda maior torcida da Alemanha. O chamado "time do povo" é do povo mesmo e lucra com isso. Talvez seja o grande exemplo a ser seguido pelo Flamengo. Teve na temporada passada a impressionante marca de 99,71% da taxa de ocupação do estádio, de 80.000 pessoas, com ingressos que variam de R$ 24,00/por jogo até R$ 129,00/por jogo, o mais caro. Mesmo assim os bilhetes estão entre os mais baratos da Europa (talvez o mais barato entre os grandes clubes) e à preços bem praticáveis aqui.
  • River Plate → Os "milionários" tem aproximadamente 7 vezes mais sócios do que o Flamengo e também estão entre os maiores do mundo. O titulo mais caro sai por 130 Pesos Argentinos, que equivalem a R$ 53,30/ano, R$ 4,44/mês. O infantil sai por 20 ou R$ 7,80 Pesos Argentinos e o menor 7 a 17 anos sai por 80 Pesos por ano ou R$ 31,20.
  • América do México → O primeiro e talvez ainda o único clube mexicano a ter a modalidade de sócio torcedor. O titulo sai por 1000 pesos mexicanos, equivalentes a R$ 141,88/ano ou R$ 11,82/mês.
  • Universidad de Chile → Tem a maior torcida do Chile e ações na bolsa de valores. Seus títulos de sócio estão vinculados aos ingressos para os jogos como mandante. Um ganho é a vinculação dos mesmos, com descontos, para pacotes familiares. O custo do titulo mais caro (camarotes, plano “ouro”) custa 349.500 Pesos Chilenos, aproximadamente de R$ 1293,30/ano ou R$ 107,78/mês, o título mediano custa R$ 458,78/ano ou R$ 38,23/mês e o título mais barato custa R$ 257,14/mês ou R$ 21,43/ano.

preço médio mensal dos programas de sócio torcedor dos nove clubes demonstrados acima (exceto Borussia Dortmund, logicamente) é de aproximadamente R$ 17,00 calculando-se com o valor do plano mais barato da “La U”. Apesar de ter visto aos programas de sócio torcedor nacionais, como os de CoritibaCorinthiansSão PauloGrêmio e exemplos comparados, utilizarei o Internacional como parâmetro pelo sucesso do mesmoCom uma torcida quase sete vezes menor do que a nossa, composta por 5,8 milhões de torcedores contra 39,1 milhões de rubro-negros, o Inter arrecadou em 2010 a marca de R$ 41.000.000,00 em um preço médio do sócio em R$ 31,00. Uma grande marca, que colocou o clube entre os 10 maiores do mundo em relação ao numero de sócios, com seus 106.000, por um índice aproximado de um sócio para cada 55 torcedores do clube, um sucesso. Se o Flamengo fizesse o mesmo teria incríveis 711.000 sócios.

Flamengo
Se utilizarmos a mesma proporção de torcedores do Internacional que aderiram ao sócio torcedor (1/55) em relação ao Flamengo, levando em conta que temos 7,8 milhões de torcedores dentro do Estado do Rio de Janeiro (mais do que o Inter no todo que "trabalha apenas com 74,3%" de nossa torcida no RJ) somados aos 31,3 “Off-RJ” (sem contabilizar os "Off-Brasil", aproximadamente estimados em 500.000 torcedores)cruzando possibilidades de renda da pesquisa, faço uma projeção de receita máxima potencial (teto), com valores que obtenham baixas taxas de inadimplência. Aos números:
  • Preço médio do sócio de estado RJ → R$ 20,00 – Potencial proporcional 1/55 → Aproximadamente 142.000 torcedores → R$ 2.840.000,00/mês → R$34.080.000,00/ano;
  • Preço médio do sócio Off-RJ (estado) → R$ 10,00 – Potencial proporcional 1/55 → Aproximadamente 570.000 sócios → R$ 5.700.000/mês → R$ 68.400.000,00/ano;
  • Valor de Potencial proporcional associativo total (RJ + Off-RJ) → Aproximadamente 712.000 sócios → R$ 8,540.000,00/mês → R$ 102,480.000,00/ano → Este para mim é o teto potencial, repito com preço médio.

Atualmente, a mensalidade mais simples, sócio Off-Rio, custa R$ 40,00é pouco “funcional”, penso eu. Imaginem se alcançássemos os valores imaginados acima em um plano de relacionamento bem estruturado e comercializado? Não incluo a venda de produtos licenciados agregados a alguns pacotes, nem a vontade do consumidor/torcedor em "comprar Flamengo”, gerando royalties para o clube e “forçando” a predisposição para o consumo (não apenas entre torcedores do clube, visitantes da cidade também)É sim possível um programa de relacionamento barato com vantagens, que seja progressivo para a compra de ingressos e convidativos à categorias que incluam direito a voto, assim como fazem atualmente as TVs por assinatura em relação aos pacotes em HD. Disso o BAP entende, mas não deveríamos deixar de ser o time do povo com ingresso caros por si só. É importante a torcida no estádio também, de preferência um estádio nosso, assim como demonstra também comercialmente o Borussia Dortmund, que em 2010 não estava na lista dos 20 maiores e agora já se encontra em 11º lugar entre os mais ricos (um clube que estava à beira da falência no início deste Século) e pedindo passagem na lista dos 10+. Devemos melhorar a relação clube/torcida tornando-a cliente/sócia, e com dinheiro das operações, se bem executadas, resolver a parte grande das dividas, produzindo investimentos, possibilitando voos bem altos, patrocínios em altos patamares como o Barcelona nos mostrou no dia de ontem, por exemplo.

FLAMENGHIEUBIQUE!