segunda-feira, 4 de março de 2013

Introspecção

Bom dia, caros amigos do Buteco. Após uma campanha surpreendente, acima de todas as expectativas, a decepção: o eletrizante time do Flamengo está eliminado nas semifinais da Taça Guanabara. O Botafogo, superior na partida e merecedor do resultado, jogará a final contra o Vasco da Gama. Teria esse time chegado ao seu limite? O adversário tem um time melhor e não haveria outro resultado possível? A grande quantidade de jovens era incompatível com o momento decisivo? Entendo que não, assim como entendo que não há uma única causa para a queda de rendimento do time e falta de capacidade de lidar com o momento decisivo. Entretanto, parece-me claro como a luz do sol que o Botafogo, "motivado" pela festa em homenagem a Zico e todas as lembranças históricas, entrou em campo para disputar uma decisão e o Flamengo não. O Botafogo ganhou as divididas, as "segundas bolas" ou "rebotes", dominou o meio de campo, bateu, chutou, "cotovelou", deu cabeçadas, carrinhos e não raro levantava nossos jogadores a mais de um metro de altura, enquanto o "gentil" Flamengo parecia em vários momentos disputar um mero compromisso protocolar, talvez até intimidado.

Não vi nó tático, assim como não vejo superioridade técnica no time do Botafogo que explique o que ocorreu nesse domingo no Engenhão, especialmente no primeiro tempo, ou alguém aqui deseja Andrezinho e Fellype Gabriel de volta? Ou Rafael Marques, Gabriel, Marcelo Mattos, Gabriel ou Lodeiro com a camisa rubro-negra? Mantenho minhas apostas em nossos jovens. Vi apenas um time muito mais experiente e com muito mais espírito de decisão e vontade de vencer a partida do que o outro. Por que o jovem time do Flamengo, repleto de jogadores que buscam um lugar ao sol ou mesmo voltar a  brilhar, jogou de forma tão apática é um mistério a respeito do qual prefiro não especular. Espero que o motivo venha a tona.

Eis para mim a principal razão da derrota. Penso que outros fatores também contribuíram. em proporções maiores ou menores, porém de forma secundária. Começo pela zaga.

Wallace

Quis o destino que Wallace evidenciasse ser lento e não dispor de qualquer recurso técnico logo na semifinal e falhando em momentos decisivos. A culpa é de Wallace? Não, pois muito já se viu em futebol falhas individuais não impedirem a recuperação de um time na partida. Dorival terá é que explicar por que Renato Santos, jogador seguro, firme e que vinha atuando bem, inclusive em partidas de grande pressão em 2012 ,foi subitamente rebaixado para o banco de reservas para que Wallace jogasse como titular.

Ninguém pode dizer que Renato Santos estaria na mesma posição ou que marcaria o gol que Wallace perdeu, mas não é absurdo acreditar que ele não tomaria o drible que permitiu a Júlio César marcar o primeiro gol do Botafogo. Desastrosa a opção de Dorival.

Carlos Eduardo

Talvez contrariando muitos, acho que Carlos Eduardo tem recursos técnicos e pode vir até a se destacar com a camisa do Flamengo. O problema surge quando Carlos Eduardo, que ainda não fez uma grande partida com o Manto Sagrado, confessou publicamente que está inseguro e com medo de se contundir novamente, o que é até compreensível ao analisarmos a pouca quantidade de jogos que disputou nos últimos anos.

É culpa de Carlos Eduardo a derrota de ontem? Não, até porque, com ele em campo, o Flamengo venceu o Botafogo pela mesma Taça Guanabara. O que ninguém explica é o porquê de um jogador completamente inseguro haver sido escalado para disputar a semifinal. Nixon e Rodolfo, que poderiam tornar o jogo bem mais vigoroso e corrido, foram preteridos. Jogos decisivos são decididos por detalhes e Dorival, mais uma vez, descuidou-se nesse aspecto.

Primeiro e segundo tempos

Ninguém duvida que um gol no primeiro minuto é um fator de desestabilização, mas não a ponto de durar toda a primeira etapa. E ninguém há de negar que um time que está acostumado a jogar no contra-ataque, em velocidade, teria dificuldades em enfrentar um adversário com vantagem no placar e marcando tão forte.  Seedorf, ao contrário do jogo da fase de classificação, foi marcado por zona e não individualmente por Cáceres. Tudo isso pesou; porém, nada disso foi decisivo e continuo achando que foi a postura frágil e apática do time durante toda a partida e em especial no primeiro tempo que levou-o à derrota.

O time todo não foi bem, porém Elias talvez tenha sido a maior decepção, pela atuação completamente apagada. Carlos Eduardo, por sua vez, limitou-se a um cruzamento perigoso. Ibson, que deveria ser um dos líderes do time, lembrando o ano passado correu atabalhoadamente abusou dos erros de passe, fracassando na armação da equipe, função a qual, na minha opinião, não poderia lhe ser delegada. Era natural que até mais do que um deles saísse e não era difícil adivinhar quem seria, porém não por critérios técnicos, mas apenas porque as coisas no Flamengo ainda funcionam de outra forma, graças ao treinador Dorival Júnior.

Ficou Ibson e saíram Elias e Carlos Eduardo, entrando Renato Abreu e Rodolfo. Renato Abreu, bem melhor do que Elias, o que já é motivo de preocupação, deu um cabeceio para o gol, um excelente passe para João Paulo cruzar da linha de fundo, numa das jogadas de perigo do Flamengo no segundo tempo, e cobrou uma falta nas mãos de Jefferson. No mais, foi visto sem fôlego e andando em campo. E Ibson continuou com seu improdutivo jogo errático.

Logo em seguida, com a saída de Cáceres, chegou-se ao ponto de Ibson e Renato Abreu jogarem de "volantes" (?!), enquanto Rodolfo e Gabriel, ambos bem no jogo, participarem junto com Rafinha da armação/ataque, numa formação jamais treinada e completamente inadequada defensivamente, apenas para manter em campo os dois medalhões, o que mostra o quanto Dorival é inseguro e não acredita em suas próprias convicções. É claro que, nesse contexto, a pressão do Flamengo foi feita de forma desordenada e "no abafa". Não é surpresa não ter resultado em coisa alguma. Surpreendente foi o Botafogo não ter ampliado ainda mais o placar em seus inúmeros contra-ataques.

Com o perdão dos amigos que pensam em contrário, o Flamengo apenas retardará desnecessariamente seu processo de renovação montando seu time ou suas opções de substituição em torno de Ibson e Renato Abreu. Será preciso ter coragem nesse duro processo e, se o treinador não a tem, que a Diretoria tome as providências necessárias.

Taça Rio

Será preciso testar outras alternativas. Elias tornou-se um grande ponto de interrogação e Cáceres, que não é primeiro volante originariamente, precisa de ajuda na proteção à zaga. Gabriel mostrou que merece novas chances e que a situação de Carlos Eduardo inspira tratamento especial.

Nada está perdido. Que os melhores sejam escalados, sem preconceito, sem proteção de qualquer espécie.

Bom dia e SRN a todos.