Ontem, assistindo a mais uma boa entrevista do nosso presidente, fiquei
me questionando sobre a comunicação em geral do Flamengo e a
participação da imprensa na maneira como o clube é percebido
externamente. A sequência de polêmicas da semana nos mostrou com
bastante clareza, como a forma de comunicar ações positivas e negativas
tem potencial para acalmar ou mesmo criar crises de magnitudes bem
diferentes das dos fatos que as detonaram.
O velho Chacrinha já dizia que "quem não se comunica, se (es)trumbica".
Penso que a diretoria do Flamengo precisa seriamente prestar atenção a
essa máxima se não quiser fragilizar o apoio que recebeu desde o período
eleitoral. Muitos de nós sabem que o clube está numa situação de
penúria, mas são poucos os que conhecem o real tamanho do problema. Por
outro lado, a maioria da torcida não tem idéia do que está acontecendo
dentro dos muros e dos gabinetes da gávea. Para essa enorme parcela da
torcida, não importa se o Flamengo tenha que vender o almoço para pagar o
jantar ou vice-versa, importa que o time vença e que possa zoar os
rivais.
Essa mentalidade de que "Flamengo é Flamengo", nunca vai quebrar,
"sempre foi assim e continua sendo esse colosso" abre oportunidade para
que interesses diferentes do bem-estar do clube sejam defendidos
abertamente nos jornais e na internet. A cumplicidade da mídia, que no
Brasil jamais é isenta, dificulta ainda mais a chegada da informação ao
torcedor imediatista, que quer resultados pra ontem e leva o clube do
céu ao inferno por conta de dois ou três jogos ruins.
E aí entra a importância da tal comunicação. O torcedor escuta a
diretoria dizendo que tem que cortar e ponto. Aí lê o outro jornal
dizendo que o conselho fiscal ataca a diretoria por falta de
transparência. Múmias e esqueletos aparecem falando de revanchismo e
retaliação e o clube se posiciona de maneira firme, mas sem canais que
dêem repercussão. E na parte positiva acontece a mesma coisa. Homenagem
ao Zico, Dia do Cadastro, Sócio-Torcedor, nada disso saiu na mídia com a
mesma força que foi dada ao corte dos olímpicos, que na prática, não
fazem a menor diferença para o torcedor. Ou alguém que não tem filho em
equipes do Flamengo já assitiu a Jade ou os Hipólitos disputando algum
campeonato na TV com a camisa rubro-negra?
A questão aqui não é discutir a importância dos esportes olímpicos para a
história do Flamengo, muito menos alimentar a dicotomia criada pela
ex-presidente entre futebol e esporte amador. O Flamengo é um só, do
Rafinha e da Jade, do Hernane Brocador e do Olivinha. É importante que a
direção do clube canalize uma parcela de seus esforços para neutralizar
esse contra-ataque politico-midiático que não tem nenhum interesse no
bom funcionamento do clube. Esse é o ponto-cheve.
É claro que nem todas as informações sobre a situação do Flamengo podem
ou devem ser divulgadas. O clube não é público, tem interesses
estratégicos e deve se movimentar com cautela, prudência e inteligência
para contornar a crise financeira de maneira rápida e eficiente. Me
parece fundamental, no entanto, criar uma equipe para lidar com as
questões midiáticas e de relacionamento com o torcedor preferencialmente
antes que elas ganhem reverberação na mídia e nas redes sociais.
Até o momento EBM e cia tiveram a cobertura da boa campanha do futebol.
Não é coincidência que os ataques tenham começado quando o time teve a
primeira derrota do ano e às vésperas da eleição do conselho fiscal,
última chance da velha política se manter com alguma relevância no
clube. Nosso presidente vem fazendo um bom papel, Wallim, Bap, Claudio e
os outros são pessoas inteligentes. Precisam encontrar uma solução para
isso, antes que o antigo apoio se converta em críticas e estas em
oposição.
A nova direção do Flamengo tem todo o meu apoio e vem acertando em
muitas áreas. A comunicação com a torcida certamente não é uma delas.
abs e SRN!