Para o jogo deste domingo,
Flamengo e Botafogo, em comum acordo, decidiram elevar ainda mais o preço dos
ingressos chegando aos absurdos valores de 60 reais para os setores atrás dos
gols e 80 para as laterais. Como justificativas, as velhas ladainhas de aumento
dos custos dos jogos e da necessidade de os clubes não pagarem para jogar. Só é complicado compreender como um clube que tem em sua torcida metade da população da cidade consegue ter prejuízo no campeonato do qual é o maior vencedor.
Nosso vice-presidente de
marketing assumiu a responsabilidade pela autoria da mudança em entrevista
recente, explicando que o Flamengo vem tendo prejuízos seguidamente no
campeonato carioca, que todos sabem é deficitário. Para entendermos exatamente
do que ele está falando vamos olhar o que dizem os borderôs publicados no site
da FFERJ relativos ao campeonato do ano passado, que permitem uma avaliação
global do desempenho do Mais Querido e de sua torcida.
O Flamengo disputou 17
partidas no campeonato de 2012, incluindo as semi-finais em que foi eliminado.
Em 9 delas, o
Flamengo levou prejuízo, sendo 4 no Engenhão e 5 em Macaé. As outras 8
foram os cinco clássicos e 3 jogos contra pequenos, sendo dois em Volta Redonda
e um em Macaé. Tivemos média de público pagante de 6680
torcedores e um ticket médio de R$23,70. Nestas partidas, em média, 28,7% do público fez
uso de gratuidades e 56% do benefício
da meia entrada. Em nossos
jogos, os estádios tiveram uma ocupação média - porcentagem de ingressos
vendidos em relação aos colocados a venda - de apenas 55,3%. Vale lembrar, mesmo
que não valha a pena, que no ano passado o Flamengo jogava também a Libertadores
e tinha no elenco um ex-centro-avante da seleção brasileira.
Olhando os números, os
argumentos de que o Flamengo precisa aumentar o preço dos ingressos para
diminuir o prejuízo se tornam bastante discutíveis, especialmente jogando um
campeonato inchado e com muitos jogos que não despertam interesse. Se a receita
dos jogos é importante, o marketing precisa usar da prometida criatividade para
vender melhor o produto e aumentar a taxa de ocupação dos estádios. Mesmo se
consideramos apenas os clássicos, em 2012 ela não chegou a 60%. É fundamental
também investir na fiscalização da meia-entrada, impedindo quem não tem direito
ao benefício de lesar o clube que dizem amar. É um absurdo sequer sugerir que
mais da metade dos ingressos dos jogos do Flamengo tenha sido vendida para
estudantes.
Agora vamos olhar o produto
que está sendo desta semana, o ingresso para um dos jogos semi-finais de um
turno do campeonato carioca de 2013. A partida, como a maioria das que fazem
parte do torneio não oferece grandes atrativos para o torcedor além do jogo em
si. Apenas um craque estará em campo, o holandês Seedorf, já em final de
carreira acompanhado de muitos outros jogadores bons, medianos e fracos que
compõem dois times aplicados. E só. Definitivamente não combina com o preço
cobrado.
O estádio que vai receber a
partida por sua vez possui três setores distintos para cada torcida, sem contar
os camarotes. Em comum, os três compartilham a enorme distância para o campo
por conta da pista de atletismo. A diferença no grau de visibilidade de cada um,
inclusive, permitiria um terceiro nível de preço, algo que foi deixado de lado
pela diretoria.
É preciso ainda mencionar o
valor agregado ao produto, aquele que não é responsabilidade do clube, mas
complementa a “experiência do usuário”. Apesar de ser um estádio ainda novo e razoavelmente
confortável, não existe nenhum conforto em se chegar ao Engenhão. O trem urbano
é sujo, cheio e desconfortável e para quem vai de ônibus não é muito melhor.
Aqueles que resolvem ir de carro e pagam absurdos 20 reais de estacionamento
são brindados com filas gigantescas na saída causadas pelas ruas estreitas ao
redor do estádio. Não há bons restaurantes, nem no entorno - apenas lanchonetes
- nem museu, loja e nem nenhum atrativo que convide o torcedor a passar mais
tempo consumindo produtos e gerando receitas diretas e indiretas para os clubes.
Há apenas a venda, ilegal, de cerveja com álcool ao redor do estádio.
Aqueles que defendem o
argumento da elitização do futebol como tendência na Europa, ao avaliarem a
situação, perceberão que não dá pra querer cobrar preço de Europa oferecendo a
qualidade de serviço que temos neste falido certame regional. Ainda assim, se a
opção for pelo aumento de preços, isso só pode acontecer quando houver algum
tipo de melhoria no produto oferecido, preferencialmente no valor agregado
(transporte, segurança, infra-estrutura, etc). Caso contrário existe uma enorme
chance de excluir os torcedores que não podem pagar sem despertar o interesse
naqueles que podem mas não querem se expor a violência, filas e desconforto.
E para encerrar, é muito
ruim que uma diretoria que assumiu o controle do clube com o discurso de
democratizá-lo adote uma política de preços que logo de cara afasta o torcedor
de baixa renda do estádio. Começar um trabalho de renovação no clube é
fundamental, mas essa renovação não pode passar por cima daqueles que contribuíram
para fazer do Flamengo o gigante que ele é. Isso sim é que pode causar um prejuízo irreparável no futuro do clube.
abraços a todos e SRN!
abraços a todos e SRN!