sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

a mão do técnico

Esta semana pude assistir o jogo entre Milan e Barcelona, no qual o rubro-negro italiano conseguiu a façanha de derrotar os temidos catalães. Realmente nunca fui muito empolgado com o futebol europeu de clubes. Por mais agradável que seja, sempre me deu a impressão de ser uma coisa fria e sem paixão, algo que não combina com a minha forma de encarar o esporte.  Mas confesso ter sido seduzido pela mágica do jogo apresentado pelo Barça de Messi, Xavi e Iniesta sob o comando de Pep Guardiola, especialmente após as partidas contra o Manchester United na final da Champions League de 2011 e o massacre contra o Santos no mundial do mesmo ano.

O confronto com o Milan foi a primeira partida que vi com atenção do Barcelona após a saída de Guardiola e fiquei realmente desapontado. Não pelo resultado, que realmente não me interessa, mas pela postura dos jogadores. Ao invés do toque de bola envolvente, o que assiti foram os habilidosos meias do barça forçando jogadas e enfiadas de bola e tentando abrir a retranca italiana com arrancadas pelo meio que obviamente não surtiam efeito. Me lembraram em vários minutos o que víamos Ronaldinho tentando fazer no Flamengo, invariavelmente com resultado sofrível por conta da sua péssima condição física. Olhando novamente a escalação da equipe durante o jogo, me perguntei o que havia feito o estilo de jogo da equipe ficar tão diferente. O Barcelona continua trocando passes exaustivamente e valorizando a posse de bola, mas eles não saem mais com a mesma velocidade, de primeira como nos tempos de Guardiola.

Refletindo um pouco mais, cheguei a conclusão de que talvez, um bom técnico possa realmente modificar não apenas o comportamento da equipe, mas mesmo a forma de jogar individual dos jogadores. O trabalho de fundamentos, de posicionamento com e sem a bola acabam sendo sempre os destaques principais quando se analisa a contribuição daqueles treinadores considerados top. Sujeitos como Guardiola e mesmo Bielsa e Sampaoli vão um pouco além, trabalhando reflexo condicionado e o raciocínio dos jogadores, para que ajam com instinto, decidindo uma jogada em fração de segundos. Um passe inesperado, um drible ou um chute bem colocado dependem bastante do talento nato de cada um, mas despertar no jogador a capacidade de interpretar e selecionar a melhor jogada é algo que pode, e deve, ser trabalhado por um bom treinador.

Continuando o raciocínio, foi inevitável pensar na transformação que aconteceu no time do Flamengo do ano passado para cá. Creio que a evolução do time tem muito a ver com a definição de um esquema de jogo, com proposta bem definida de como se postar no ataque e na defesa, ainda que esta última precise de um pouco mais de trabalho.  É claro que influi muito a mudança de alguns nomes do time titular, substituídos por jogadores mais jovens, mais rápidos e habilidosos. Lembro, porém, que já vimos em muitos clubes exemplos de times que funcionavam bem mesmo sem estrelas graças apenas a organização em campo e comprometimento tático. E isso hoje é claramente visível no time do Flamengo mesmo nos jogadores mais antigos.

Naturalmente, me perguntei se algum dia teríamos a oportunidade de ver uma transformação ainda mais profunda no time, provavelmente não com Dorival, mas com um outro treinador, com uma outra mentalidade. Se realmente a mudança de filosofia trazida pelo grupo que assumiu a direção do clube foi a causadora dessa guinada no comportamento do time de futebol, talvez seja necessário apenas um pouco mais de ousadia para trazer um desses treinadores revolucionários para comandar o Flamengo e levá-lo de volta ao topo do mundo.

Abs e SRN!