sexta-feira, 18 de março de 2011

Massa e manipulação



Amigos do Buteco, desde já aviso que não sou sociólogo nem tenho competência para fazer um artigo sério sobre psicologia de massas. Mas como simples torcedor rubro-negro, tenho uma curiosidade imensa de entender o que se passa na nossa torcida, ou os movimentos que nascem e crescem no seio desta Nação. O que leva, por exemplo, a uma torcida vaiar um jogador com menos de 15 minutos de jogo. Ou o que leva todas as pesquisas a darem como desejável a volta de um jogador que deu muitas alegrias ao clube e aos torcedores, mas que também deu tanto desgosto, fato que nessa hora é esquecido ou ignorado. Ou o que leva aos torcedores a malharem tanto o time atual nos blogs, mesmo depois do melhor começo de temporada dos últimos 100 anos de história do Flamengo.

Confesso que fui estudar um pouco o assunto, e descobri que o primeiro a escrever seriamente sobre o assunto foi o médico e sociólogo Gustave Le Bon (juro por Deus, é o nome do cidadão, nada a ver com o nosso famoso amigo de Buteco), que em 1895 escreveu um livro chamado “Psicologia das Massas". O ponto do seu trabalho que quero trazer a tona é o conceito que diz que quando as pessoas fazem parte de uma massa, elas deixam de ser elas próprias para fazerem parte do que ele chamou "alma da massa" ou espírito coletivo, diferente do espírito individual de cada um dos indivíduos que fazem parte do fenômeno.

A grande questão que coloco para discussão é se este espírito coletivo pode obscurecer a nossa visão crítica e o nosso pensamento independente, ou se isso é resultado direto dos grupos de pressão simbolizados pela imprensa comercial, ou pelos grupos políticos que controlam o clube ou que gostariam de conseguir este controle, ou ainda pelas “organizadas”, sabe-se lá com que objetivos, escusos ou legítimos. Minha sensação, sem nenhum embasamento científico para suportar essa afirmação, é de que cada vez mais viramos “massa de manobra”, “bucha de canhão”, sem que nos demos conta disso.

Quem acompanha o Buteco sabe da minha “quase mania” de achar que nossos jovens talentos são os melhores do mundo e que eles vão montar um time que pelo menos lembre o nosso time da década de 80. Desde a primeira vez que o vi, enalteci o jogo alegre e atrevido do Negueba. Mas vaiar o argentino que veio trazendo tantas esperanças, COM 15 MINUTOS DE JOGO, é simplesmente uma estupidez coletiva. Não que o Negueba não possa entrar no time. Mas que efeito isso poderia ter sobre o Bottinelli ? Vaiar o time pode fazer que bem para a equipe ? Esse é um comportamento da “massa” que eu não consigo entender. Como sempre, pensei que isso podia ser uma orientação das organizadas. Mas eis que, mesmo fora do Rio de Janeiro, a “massa” leva cartazes e entoa cantos de “Volta Imperador”. Será que alguém pensou que isso podia ter algum efeito sobre os candidatos atuais aos nosso comando de ataque, que já precisam lutar contra a obstinação do Luxa de jogar no 4-6-0 ?

Na mesma linha de pensamento (razões ocultas para ações explícitas), me chocou a violência dos comentários, em quase todos os blogs que li, contra um pseudo estrelismo do Diego Maurício, que chegou atrasado em dois treinos. No episódio sobre o qual eu tive mais informações, ele chegou 15 minutos atrasado, e disse que foi por causa do trânsito. Quem sabe onde fica Rocha Miranda e conhece as condições do trânsito carioca sabe que basta um acidente de tráfego para causar um problema desse. E vejam bem, não estou defendendo o atraso não. Consciente da possibilidade do trânsito estar pesado, cabe ao jogador sair sempre mais cedo e se acostumar a chegar antes ao seu local de trabalho. Pois muito bem, o jogador foi multado e o caso seria encerrado aí, se não ficássemos dias e dias especulando se o garoto estava deslumbrado, que precisava ser “enquadrado” e em alguns lugares dizendo até que devíamos aproveitar e vender o passe dele pelos primeiros 10 milhões que aparecessem. De novo fico com a sensação de que há interesses ocultos inflando as notícias e fazendo alguma manipulação para facilitar a venda do moleque, uma bela revelação da nossa base, ou para facilitar a vinda de algum medalhão consagrado.

Como não vou conseguir explicar o tal fenômeno, que fique registrado o meu espanto, e em alguns casos, a minha indignação.

O time ainda não está maduro, mas é infinitamente melhor e mais bem organizado do que o time que estava em campo neste mesmo período do ano passado. O Luxa tem as suas convicções, e eu não comungo de todas, mas temos que reconhecer que se ele fosse pela cabeça de todos, teríamos 34 milhões de escalações desejadas. E o time está ganhando. Não me interessa que os times sejam fracos, ou que só empatamos com os dois outros times mais fortes do campeonato. Em um deles, levamos o time ao título. Em outro, a rigor, o jogo só valia os 3 pontos mesmo. Na Copa do Brasil, os adversários também não eram fortes, mas já evitamos duas partidas, fazendo os gols necessários para isso. Tudo isso me anima a dizer que vamos chegar muito fortes nas etapas seguintes destes campeonatos, e que temos tudo para estar entre os melhores neste Brasileirão 2011. A menos que a “massa” desande, como por exemplo se perdermos o técnico por pressões extra-campo.

Fé em Deus, pé na tábua, centroavante neles e vamos em frente ! SRN