
Antes de responder a todas essas perguntas, é bom lembrar que, historicamente, de gestão a gestão na Presidência e no Departamento de Futebol do clube, a tônica era o Flamengo "comprar" jogadores pelo jornal, antes mesmo de ser iniciada, mas sempre antes de ser concluída, o que resultou, ao longo dos anos, em constrangedores episódios nos quais o clube levou verdadeiras "rasteiras" de adversários/concorrentes, não raro de menor expressão, que levavam vantagem nas negociações e conseguiam contratar os jogadores que interessavam. Outra situação bastante comum tem sido empresários utilizarem o Flamengo e seu interesse para valorizar seus atletas e conseguirem aumentar as propostas e assinar melhores contratos com clubes adversários/concorrentes.
Justiça seja feita: a discrição do Departamento de Futebol do Flamengo não só nesse episódio, como no da contratação do meia argentino Dário Bottinelli, são exemplos claros de que há uma franca, nítida e inegável evolução na postura e na eficiência desse setor no quesito contratações. No caso Ronaldinho Gaúcho, é digno de elogios o fato do Flamengo haver apresentado uma excelente proposta, no nível desejado pelo jogador e seu procurador/irmão, antes de qualquer outro concorrente brasileiro, acompanhada de todas as garantias possíveis de que o contrato seria honrado com pagamentos pontuais; tudo isso com toda a discrição possível, sem alarde, sem contar vantagem na imprensa.
Alvíssaras, portanto!
Mas remanecem algumas perguntas: foi o suficiente? Considerando o nível do atleta, os valores envolvidos, faltou algo por parte do Flamengo?
Pois bem. Quem acompanhou a cobertura da imprensa esportiva nacional durante a semana pôde perceber que o irmão e procurador do jogador realizou um autêntico "leilão". Leilão, aliás, foi a palavra utilizada pelo jornal "O Globo" na edição de segunda-feira, 3 de janeiro de 2011, na qual, em manchete de capa, disse textualmente: "No Rio, irmão faz leilão por Ronaldinho."

A demora deu ensejo ao que se viu: os concorrentes correndo e, especialmente o Grêmio, formatando durante a semana uma proposta, algo surreal e bizarro, mas que, incrivelmente, tem chance de dar certo.
Observem ainda, caros amigos do Buteco, que os dirigentes do Flamengo sequer podem alegar surpresa, eis que, nas entrelinhas, o irmão/procurador/leiloeiro de Ronaldinho Gaúcho, voluntaria ou involuntariamente, deixou clara a sua estratégia no domingo, ao declarar publicamente que o Flamengo havia "se aproximado" e que o Grêmio "estava dormindo". Outra pergunta que fica no ar é se o Flamengo fez bem ao deixar a cargo do irmão/procurador do Ronaldinho Gaúcho a tarefa de negociar com o Milan, o que está longe de ser mero detalhe.
De qualquer modo, nada está decidido, mas o que ocorreu até aqui, independentemente do desfecho, sugere profunda reflexão, pois inevitavelmente, após Ronaldinho Gaúcho anunciar sua decisão, dois clubes de grande tradição no futebol brasileiro terão sido publicamente achincalhados pela conduta de seu irmão/procurador/leiloeiro. Ainda que o Flamengo vença essa batalha, a vitoria não deixará, a essa altura, de ter também um gosto um pouco amargo, ao menos para mim; por outro lado, se o Flamengo perder, será bastante desagradável vê-lo usado e achincalhado dessa forma. Ainda bem que esse circo acaba hoje, as 15:00h, no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro (não em Porto Alegre ou em São Paulo...). Apostas?
Façam figa, amigos. Independentemente do Ronaldinho Gaúcho vir ou não, ao meu ver o Thiago Neves é, atualmente, sob o aspecto técnico, a melhor contratação que o Flamengo pode vir a fazer. Vamos ver se essa semana tudo se define.
Bom dia e SRN a todos.