terça-feira, 2 de novembro de 2010

Vá, mas volte algum dia, Toró!

Seis de dezembro de 2009. Ajoelhado ao lado de Juan no gramado do Maracanã, Toró chora e festeja o título de campeão brasileiro. Era a coroação de uma geração vencedora. O volante fez parte ao lado do próprio Juan, Léo Moura, Ronaldo Angelim e Bruno da base acostumada a conquistas. Foram três estaduais, uma Copa do Brasil (este título sem Bruno) e o Brasileirão de 2009. Mas a diretoria entendeu que é hora de reformular.

Nesta segunda-feira, Toró acordou com uma sensação diferente. Ele não é mais jogador do Rubro-Negro, depois de 171 jogos e sete gols em cinco anos de contrato. A despedida, no entanto, aconteceu na sexta. O diretor de futebol Luiz Augusto Veloso foi o responsável por informar que a proposta de renovação de contrato não fora aceita.

Na mala, além de títulos, há um canto para a tristeza. A fala baixa e pausada ao telefone é suficientemente pesada para atingir quem não o quis mais na Gávea. E a pancada é forte.

- Fico chateado por pessoas que nunca deram volta olímpica no Flamengo não respeitarem quem já conquistou tanto - declarou.

Na primeira entrevista desde a saída do Rubro-Negro, Toró também admite que jogar no Botafogo ao lado de Joel Santana é uma opção que o agrada e conta os momentos mais marcantes que viveu no Rubro-Negro.

Novela da renovação"Quando o Marcos Braz estava na diretoria, a situação estava 90% encaminhada. Só faltava assinar o papel. O Zico deu continuidade, mas fez uma proposta que não achei interessante. Quando teríamos uma outra reunião, ele saiu. Na semana passada, o Veloso (diretor de futebol) me chamou para conversar e falou que nem a proposta do Zico dava para pagar direito.
Eu tinha algumas situações boas encaminhadas, mas por gostar do Flamengo agi na emoção e esperei. Mas não dá para entender o que ele (Veloso) fez comigo".

Mágoa"Fico chateado por pessoas que nunca deram volta olímpica no Flamengo não respeitarem quem já conquistou tanto. Fico ainda mais triste porque essas pessoas que se dizem flamenguistas estão destruindo uma geração vitoriosa".

Identificação com o Flamengo"Tenho expectativa boa no meu novo clube porque me entrego, me dedico, e as pessoas vão reconhecer isso. O carinho pelo Flamengo é muito grande, mas a vida segue. Claro que saio triste por deixar um clube de que gosto muito. Não deu nem para me despedir de todo mundo pela forma com que tive que sair".

Luxemburgo"Também realizei o sonho de trabalhar com o Luxemburgo. Ele deu moral e quero deixar claro isso. No pouco tempo em que trabalhamos, vi que o Luxemburgo é um cara que pensa muito grande. Ele disse uma frase que vou guardar: "Vencer partida é fácil, difícil é vencer na vida". E comigo foi assim. Eu consegui. Tenho família, filha, saí do morro e conquistei algumas coisas como carro e casa".


A despedida
"Na balança, os momentos bons superam os problemas. Não tem quem fale que o Toró chegou atrasado, que o Toró faltou ao treino. Sempre me dediquei. O que me deixou muito triste foi o roupeiro vir me abraçar e chorar, o psicólogo ligar, o massagista me procurar para se despedir. Foi difícil. Cheguei em casa, e minha filha (Manuela, de 2 anos) estava com a camisa do Flamengo e me viu chorar ao receber uma mensagem de texto carinhosa de um amigo".
Futuro no Botafogo ao lado do Papai Joel?"Está tudo com meu empresário. Todo mundo sabe que o Joel é um treinador de que gosto e que respeito muito. Ele faz parte da minha vida, e toda a minha família tem um carinho muito grande por ele. Seria uma alegria imensa voltar a trabalhar ao lado do Joel. O Botafogo é uma grande equipe, e eu não teria motivos para não jogar lá. Nunca vou esquecer o Flamengo, mas, se tiver que vestir a camisa do Botafogo, vou vestir. O que está em jogo primeiro é o ser humano. A carreira de jogador é muito curta".

Os momentos mais marcantes no Fla"Foram vários títulos, mas vou destacar dois momentos. Eu e Juan não nos falávamos muito bem porque tivemos alguns probleminhas de vestiário. Mas, depois do jogo contra o Grêmio, eu o encontrei no gramado e nos abraçamos chorando. Depois veio o Kleber Leite e disse que nós estávamos na história do Flamengo. Nos ajoelhamos com a torcida ao fundo comemorando o título. Foi emocionante. Na final da Copa do Brasil também teve uma cena parecida. Estava observando a festa da torcida e, quando olhei para o lado, o Renato Augusto, que hoje em dia é um irmão para mim, soluçava de tanto chorar. Fiquei arrepiado. Não tenho nada a reclamar no Flamengo, da torcida. Espero continuar com as portas abertas. O mundo dá voltas".

Reportagem de Eduardo Peixoto, publicada no Globoesporte.com.