Seis de dezembro de 2009. Ajoelhado ao lado de Juan no gramado do  Maracanã, Toró chora e festeja o título de campeão brasileiro. Era a  coroação de uma geração vencedora. O volante fez parte ao lado do  próprio Juan, Léo Moura, Ronaldo Angelim e Bruno da base acostumada a  conquistas. Foram três estaduais, uma Copa do Brasil (este título sem  Bruno) e o Brasileirão de 2009. Mas a diretoria entendeu que é hora de  reformular.
Nesta segunda-feira, Toró acordou com uma sensação diferente. Ele não é  mais jogador do Rubro-Negro, depois de 171 jogos e sete gols em cinco  anos de contrato. A despedida, no entanto, aconteceu na sexta. O diretor  de futebol Luiz Augusto Veloso foi o responsável por informar que a  proposta de renovação de contrato não fora aceita.
Na mala, além de títulos, há um canto para a tristeza. A fala baixa e  pausada ao telefone é suficientemente pesada para atingir quem não o  quis mais na Gávea. E a pancada é forte.
- Fico chateado por pessoas que nunca deram volta olímpica no Flamengo não respeitarem quem já conquistou tanto - declarou.
Na primeira entrevista desde a saída do Rubro-Negro, Toró também admite  que jogar no Botafogo ao lado de Joel Santana é uma opção que o agrada e  conta os momentos mais marcantes que viveu no Rubro-Negro.
Novela da renovação"Quando  o Marcos Braz estava na diretoria, a situação estava 90% encaminhada.  Só faltava assinar o papel. O Zico deu continuidade, mas fez uma  proposta que não achei interessante. Quando teríamos uma outra reunião,  ele saiu. Na semana passada, o Veloso (diretor de futebol) me chamou  para conversar e falou que nem a proposta do Zico dava para pagar  direito.
Eu tinha algumas situações boas encaminhadas, mas por gostar do  Flamengo agi na emoção e esperei. Mas não dá para entender o que ele  (Veloso) fez comigo".
Mágoa"Fico chateado  por pessoas que nunca deram volta olímpica no Flamengo não respeitarem  quem já conquistou tanto. Fico ainda mais triste porque essas pessoas  que se dizem flamenguistas estão destruindo uma geração vitoriosa".
Identificação com o Flamengo"Tenho expectativa boa  no meu novo clube porque me entrego, me dedico, e as pessoas vão  reconhecer isso. O carinho pelo Flamengo é muito grande, mas a vida  segue. Claro que saio triste por deixar um clube de que gosto muito. Não  deu nem para me despedir de todo mundo pela forma com que tive que  sair".
Luxemburgo"Também realizei o sonho de  trabalhar com o Luxemburgo. Ele deu moral e quero deixar claro isso. No  pouco tempo em que trabalhamos, vi que o Luxemburgo é um cara que pensa  muito grande. Ele disse uma frase que vou guardar: "Vencer partida é  fácil, difícil é vencer na vida". E comigo foi assim. Eu consegui. Tenho  família, filha, saí do morro e conquistei algumas coisas como carro e  casa".
A despedida
"Na balança, os momentos bons superam os problemas. Não tem quem fale  que o Toró chegou atrasado, que o Toró faltou ao treino. Sempre me  dediquei. O que me deixou muito triste foi o roupeiro vir me abraçar e  chorar, o psicólogo ligar, o massagista me procurar para se despedir.  Foi difícil. Cheguei em casa, e minha filha (Manuela, de 2 anos) estava  com a camisa do Flamengo e me viu chorar ao receber uma mensagem de  texto carinhosa de um amigo".
Futuro no Botafogo ao lado do Papai Joel?"Está tudo  com meu empresário. Todo mundo sabe que o Joel é um treinador de que  gosto e que respeito muito. Ele faz parte da minha vida, e toda a minha  família tem um carinho muito grande por ele. Seria uma alegria imensa  voltar a trabalhar ao lado do Joel. O Botafogo é uma grande equipe, e eu  não teria motivos para não jogar lá. Nunca vou esquecer o Flamengo,  mas, se tiver que vestir a camisa do Botafogo, vou vestir. O que está em  jogo primeiro é o ser humano. A carreira de jogador é muito curta".
Os momentos mais marcantes no Fla"Foram  vários títulos, mas vou destacar dois momentos. Eu e Juan não nos  falávamos muito bem porque tivemos alguns probleminhas de vestiário.  Mas, depois do jogo contra o Grêmio, eu o encontrei no gramado e nos  abraçamos chorando. Depois veio o Kleber Leite e disse que nós estávamos  na história do Flamengo. Nos ajoelhamos com a torcida ao fundo  comemorando o título. Foi emocionante. Na final da Copa do Brasil também  teve uma cena parecida. Estava observando a festa da torcida e, quando  olhei para o lado, o Renato Augusto, que hoje em dia é um irmão para  mim, soluçava de tanto chorar. Fiquei arrepiado. Não tenho nada a  reclamar no Flamengo, da torcida. Espero continuar com as portas  abertas. O mundo dá voltas".
Reportagem de Eduardo Peixoto, publicada no Globoesporte.com.
 
