Salve, Buteco! Outro dia provoquei alguns amigos em um grupo de WhatsApp perguntando qual foi o último bom primeiro semestre do Flamengo. Ninguém se atreveu a responder, à exceção de um, que, reticente, arriscou 2008. Realmente, em 2008 tivemos uma boa campanha no Estadual, culminando no título, e na fase de grupos da Libertadores, além da liderança no começo do Campeonato Brasileiro. Contudo, ponderei que é difícil pensar em um primeiro semestre positivo, naquela longínqua temporada, em razão do vexame da eliminação sofrida para o América do México, no Maracanã, pelas oitavas de final da Libertadores (0x3), para mim o maior (vexame) da História do clube.
Todavia, acho que, filtrado esse lamentável episódio, o exemplo dado pelo meu amigo tem a vantagem de, ao lado de 2020 (que seria o meu exemplo), ter como ponto em comum o bom trabalho de dois treinadores tendo sequência de uma temporada para outra. Puxando pela memória, é forçoso reconhecer que de fato o time de 2008 jogava um futebol vistoso, de qualidade, e o do começo de 2020... bem, acho que nem preciso entrar em detalhes, concordam? Era o Ano Mágico de 2019 tendo sequência no primeiro semestre, até a pandemia de Covid-19 mudar o curso da História.
No passado recente, em 2019 nosso primeiro semestre foi conflituoso, assim como o de 2021. Esses dois anos têm em comum o fato do Flamengo haver se sagrado campeão carioca (em 2021, tricampeão), o que, contudo, não impediu o treinador campeão de rodar antes mesmo do semestre terminar (2019) ou começar a balançar (2021). Em comum, em ambos os casos, a crise do início do Campeonato Brasileiro.
Esse mesmo ingrediente esteve presente em 2022, com o agravante do Flamengo ter perdido a chance de, pela primeira vez na História, se sagrar tetracampeão carioca. Já em 2023, tivemos um primeiro semestre atípico, com muita crise pelos insucessos na Supercopa do Brasil, Mundial de Clubes e Recopa do Brasil, além do bi-vice-campeonato carioca. O início do Brasileiro, contudo, foi um pouco melhor, pois o aproveitamento em três competições simultâneas era bastante positivo, até que um soco acabou com todas as esperanças de uma temporada vitoriosa.
Em 2024, temos achance de quebrar o padrão e permitir a um treinador desenvolver um trabalho de longo prazo, desapegando da "solução" fácil de demiti-lo quando outros problemas existem e constituem causas mais determinantes para o baixo rendimento do time, em comparação com erros do próprio treinador, já que todos (sem exceção) os cometem, claro que um mais e outros menos. Logo, vale muito a pena quebrar esse círculo vicioso de demissões a cada trimestre ou quadrimestre e torcer pelo sucesso de Adenor.
Entretanto, os sinais vitais emanados no segundo tempo do jogo de sábado, em Bragança Paulista, são importantes, mas não determinantes. Como vimos logo acima, conquistar o Estadual e mesmo outros títulos, além de grandes jogos, é absolutamente relativo - em 2021, houve a conquista da Supercopa do Brasil e uma estreia vitoriosa no Brasileiro contra o Palmeiras, por exemplo. Em 2022, um 0x0 contra o mesmo adversário, com futebol de alto nível (e vitória escapando por um triz), depois de uma vitória convincente sobre o São Paulo, sinalizava uma melhora. Aqui, as coincidências chegam até a incomodar. E em 2023, a classificação nas oitavas de final do Brasil, contra o algoz da final do Estadual, sinalizou que havia esperança de melhores dias.
A situação de Tite, portanto, ainda é preocupante. Amanhã, em Coquimbo, no Chile, a vitória será fundamental para as pretensões de classificação em primeiro lugar no Grupo E da Libertadores. No tuite abaixo, o jornalista Mauro Cézar Pereira (@maurocezar) traz um pequeno resumo de alterações táticas sugeridas pela torcida e pelos setoristas do clube para o time apresentar melhor futebol:
Outro tuite ilustrativo é do rubro-negro Patrick (@patrick_1972):
Conversa
Apesar de concordar (com jornalistas e torcida), acho importante o Tite continuar a insistir em outras formações táticas. Vejam bem, De la Cruz não é polivalente, sendo esse uma das características que levou a sua contratação? E as características de um determinado adversário ou de uma determinada situação de jogo não podem pedir uma formação "mais posicional" ou mesmo, em nível de desenho tático, um 4-3-3?
Outro dia, nosso amigo Flávio, o Pedrada Rubro-Negra (@PedradaRN) escreveu o post Flamengo 2 x 1 São Paulo. Vida sem Arrascaeta., ilustrando, de forma muito feliz, que o Mais Querido precisa aprender a se virar sem sua estrela mais talentosa. E por "se virar" entenda-se tanto os jogos nos quais ele não pode jogar por contusão, como aqueles em que deveria começar no banco por controle de minutagem e rodagem de elenco - ao cair da noite de domingo, o o jornalista Fred Gomes (@fredgomes1985) noticiou o desligamento do uruguaio da delegação que viajou para o Chile e sua volta ao Rio para continuar o tratamento da contusão.
Tite, portanto, precisa testar outras formações e insistir em sua utilização até que deem certo, pois o Flamengo precisa aprender a viver também "sem Arrascaeta", e não só "com ele". Talvez o erro esteja a escolha da "formação tática A", ou seja, aquela que será a prioritariamente utilizada, e nesse ponto o segundo tempo do jogo em Bragança Paulista pode, quem sabe, fazer o nosso treinador refletir um pouco mais a respeito do assunto. Afinal de contas, os experts da análise tática enxergaram, especialmente na movimentação de Bruno Henrique, maior flexibilidade nos 45 minutos finais.
Nessa mesma senda, no caso de Gérson seria bom a torcida desapegar do estereótipo e pesar o fato de que vem se recuperando de uma doença importante (diferente de contusão), de modo a avaliar suas atuações por outro ângulo. Sábado, por exemplo, jogou em três posições diferentes da meia cancha, terminando como primeiro volante e - importante - com o time jogando muito bem nessa formação.
Apesar disso, penso que Tite deve insistir outras vezes com Gérson mais a frente, sem prejuízo de, quando a situação de jogo pedir, utilizá-lo novamente na posição em que terminou o jogo de Bragança Paulista. No futebol moderno, é comum o treinador ter liberdade para mexer no time e utilizar os jogadores em posições diferentes. Não faz muito tempo, precisamente na temporada 2022, Sampaoli, no Olympique de Marselha, conseguiu (não sem alguns atritos) persuadir o Coringa a jogar como meia ofensivo, fechando da ponta para o meio.
É claro que tudo tem limite, mas no Flamengo o conforto dos atletas parece estar acima das necessidades do clube, o que limita o trabalho de uma comissão técnica atrás da outra. E isso precisa mudar.
A minutagem de Arrascaeta é outro exemplo. Ora, se o atleta notoriamente tem limites no campo da resistência física (jogos em sequência), qual é a serventia de escalá-lo para trotar em campo, como pude constatar in loco no jogo contra o Atlético/GO no Serra Dourada? A realidade da "vida sem Arrascaeta", como vinha dizendo... É preciso encará-la sem sobressaltos. E o atleta precisa dar o seu máximo, inclusive no extracampo.
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Outro tuite muito bom que selecionei neste final de semana foi este, que lista erros de arbitragem totalmente contraditórios com marcações recentes em jogos do Flamengo:
Como ia dizendo no post de ontem, o posicionamento pós-jogo por parte de alguns dos nossos dirigentes não basta, dado que se cuida de uma situação rotineira, que exige trato contínuo, além de estratégia e método para contrapor o que vem vitimando o Flamengo com as mesmas ferramentas (ou alguém tem a menor dúvida a respeito disso?).
E como disse o Wallim Vasconcellos (@WallimFla), também no Twitter:
Onde estará o nosso presidente?
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Uma ótima semana pra gente.
A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.