sexta-feira, 7 de julho de 2023

Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos,

Flamengo guerreou e venceu o primeiro round contra o enjoado Athlético-PR, abrindo pequena vantagem para o confronto de volta. E é aquilo, qualquer vantagem, mesmo que mínima, é importante e tem que ser explorada.

Antes disso, outro jogo crucial, contra o rival “de sempre”, o Palmeiras, que vive momento turbulento. Ganhar essa partida de sábado pode ter o efeito de jogar uma âncora para o oponente que está se debatendo dentro da água. Hora de enfiar a faca e rodar. Resta saber se o time já está à altura da tarefa. De qualquer forma, seguindo a série “Caminhos da Bola”, o foco é justamente o alviverde. Alguns egressos do Parque Antarctica se mostraram fracassos retumbantes, outros deixaram saudades.

 

SÉRIE “CAMINHOS DA BOLA”

IX

FLAMENGO - PALMEIRAS

 

JURANDIR (1942-1946)

Goleiro seguro, de boa colocação e muito aguerrido (não tem medo de se atirar aos pés dos atacantes), chega ao Palestra Itália em 1935, após boas passagens por AA São Bento, Fluminense e São Paulo da Floresta (atual São Paulo FC). No clube “italiano” vive grande momento, conquistando o título paulista de 1936 e chegando à Seleção Brasileira (é o primeiro arqueiro da história do Palestra/Palmeiras a ser convocado). Após quatro anos, vai atuar na Argentina e, em 1942, é contratado pelo Flamengo, que precisa de um reserva para Yustrich. No entanto, Jurandir se destaca de tal forma que logo barra o antigo titular. Permanece inquestionável sob o arco rubro-negro, sendo um dos símbolos da conquista do primeiro Tricampeonato Carioca (1942-43-44). Em 1946, volta à capital paulista, para defender o Corinthians. Até hoje, é considerado um dos grandes goleiros da história do Flamengo.

 

SÉRGIO (1996)

Goleiro formado na base do Palmeiras, estreia na equipe profissional em 1992, mas é no ano seguinte que recebe sua primeira grande oportunidade, com a lesão do titular Velloso. É o titular na campanha dos títulos paulista (que quebra longo jejum) e brasileiro, mas, na sequência, começa a colecionar atuações irregulares, que o fazem ser considerado o “elo fraco” do estrelado time montado pela Parmalat. Em 1995, com a temporada ruim do alviverde e a volta de Velloso, é colocado em disponibilidade e, no início do ano seguinte, é negociado com o Flamengo numa troca que envolve também a ida de Mancuso e do lateral Índio para a Gávea, em troca do volante Marquinhos, do lateral Gustavo e do zagueiro Cláudio. O arqueiro, a aposta rubro-negra para resolver um problema que se arrasta há um ano, inicia a temporada como titular, mas algumas atuações inseguras começam a trazer desconfiança. Para piorar, após um 0-0 contra o Vasco pela Taça Cidade Maravilhosa (em que, em contraponto à atuação fantástica de Carlos Germano, solta várias bolas fáceis), dá entrevista reconhecendo que “as pernas tremeram” diante da torcida. Pouco depois, uma falha clamorosa que custa um empate contra o Olaria (1-1), pelo mesmo torneio, sela seu destino. É barrado por Roger e não recupera mais a posição. No final do ano, é repassado à Internacional-SP, e anos depois retorna ao Palmeiras. Encerra a carreira em 2013.

 

LUÍS PEREIRA (1980-1981)

Baiano de Juazeiro, inicia a carreira tardiamente, aos 18 anos, no São Bento de Sorocaba, onde é conhecido como “Chevrolet”, em alusão à sua profissão anterior de mecânico. Zagueiro de técnica refinada e grande imposição física, chama a atenção do Palmeiras, para onde se transfere em 1968, dando início a uma trajetória que o eleva à condição de ídolo e um dos maiores zagueiros da história alviverde. Em 1975, após dois títulos brasileiros e uma Copa do Mundo disputada como titular, transfere-se para o Atlético Madrid-ESP, onde também marca seu nome. Em 1980 volta ao Brasil e acerta transferência ao Flamengo, que se ressente de um nome forte para qualificar sua criticada zaga. No entanto, lento e pesado, sofre para entrar em forma e não convence. Falha no gol da derrota para o Bangu (0-1) que se mostra decisiva para a eliminação do Primeiro Turno do Estadual 1980. No Segundo Turno, chega a ser barrado por Coutinho, mas está em campo na derrota para o Serrano de Anapolina, que praticamente decreta o fim do sonho do Tetra. No ano seguinte, com a saída de Coutinho, recupera a posição, mas faz Brasileiro discreto, sem justificar sua condição de estrela. Após a eliminação da competição nacional, retorna ao Palmeiras, trocado pelo ponta Baroninho. No alviverde, recupera seu bom futebol. Pendura as chuteiras em meados dos anos 90, após elogiadas passagens por Portuguesa e Santo André.

 

DAVID BRAZ (2009-2012)

Joia da base do Palmeiras, destaca-se com um futebol de extrema técnica, desarme limpo e saída de bola qualificada. Ascende ao time profissional sob Vanderlei Luxemburgo, ajudando na conquista do Estadual 2008. No entanto, logo depois consegue rescindir unilateralmente seu contrato por atraso salarial, e se transfere para o Panathinaikos-GRE. No ano seguinte, o Flamengo o traz por empréstimo, precisando repor a aposentadoria de Fábio Luciano. Mesmo como reserva, faz bom Brasileiro 2009, sendo premiado com um dos gols na partida que dá o Hexacampeonato ao Flamengo (2-1 Grêmio). No ano seguinte, o rubro-negro adquire seus direitos em definitivo e, ao se reencontrar com Luxemburgo, consolida-se como titular, conquistando o Estadual 2011 de forma invicta. No entanto, em 2012 cai de rendimento e é envolvido em uma troca com o Santos, na transação que traz o volante Ibson de volta ao Flamengo. Hoje defende o Fluminense.

 

ARMERO (2015)

Vivendo crônico problema na lateral-esquerda, o Flamengo consegue em 2015 a contratação, por empréstimo, do colombiano Pablo Armero. Revelado no América Cali-COL, Armero deixa ótima impressão em sua passagem pelo Palmeiras, especialmente na temporada 2009, com um futebol de grande fôlego e capacidade no apoio. Também são célebres suas danças na comemoração de gols, conhecidas como “Armeration”. Assim, após longa passagem pelo futebol italiano e a disputa, como titular da boa Seleção Colombiana, da Copa do Mundo 2014, Armero é tido como potencial solução para o drama rubro-negro no setor. No entanto, lesões e problemas extracampo impedem que Armero estabeleça uma sequência satisfatória de jogos, e, quando o jovem Jorge é lançado e ostenta futebol convincente, o colombiano é preterido definitivamente. No final do ano, é devolvido à Udinese-ITA. No Brasil, ainda atua por Bahia, CSA e Guarani, voltando a se envolver em problemas disciplinares.

 

MÁRCIO ARAÚJO (2014-2017)

Chega ao Palmeiras em 2010, após trajetória de altos e baixos no Atlético-MG. No alviverde, é um dos expoentes de um período difícil, de grande aridez técnica e carência de títulos. Volante combativo mas extremamente limitado, também desfruta de uma relação de amor e ódio com a exigente torcida palmeirense, sendo especialmente marcante a temporada de 2012, em que o Palmeiras conquista a Copa do Brasil e, a seguir, é rebaixado para a Série B. Em 2014, o Flamengo, com a frustrada negociação por Elias, contrata às pressas o volante, que no entanto não pode mais ser utilizado na Libertadores. A despeito da evidente e grosseira diferença de nível para um dos heróis de 2013, Márcio Araújo tem razoável início, marcando o controverso gol que dá o Estadual 2014 ao Flamengo, e fazendo ótima partida (com direito a gol) nos 4-2 contra o Palmeiras, no início do Brasileiro. Com o tempo, torna-se uma espécie de “utilitário” que jamais perde a condição de titular, mesmo com a alucinante rotação de treinadores no rubro-negro. Mas, à medida que o Flamengo vai refinando seu elenco, a impaciência da torcida com o futebol limitado, burocrático e já não tão aplicado de Márcio Araújo vai aumentando. Em 2016, após a eliminação da Primeira Liga, declara “foi bom, porque agora são menos jogos e dá pra descansar”, o que enfurece as redes sociais rubro-negras. A irritação persiste com a recorrente e aparentemente inexplicável preferência do treinador Zé Ricardo em mantê-lo no time em detrimento do colombiano Cuellar, de futebol visivelmente superior. Em 2017, mesmo perdendo o status de titular absoluto, é um dos jogadores estigmatizados pela perda de vários títulos e, sem clima para continuar, não tem seu contrato renovado no início de 2018, indo defender a Chapecoense. Atualmente está sem clube, após passagens pelo futebol do Maranhão, sua terra natal.

 

MANCUSO (1996-1997)

Revelado no Ferro Carril Oeste-ARG, é no Velez Sarsfield-ARG, seu clube de infância, que se projeta, participando do início da montagem do time que conquistaria, em 1994, a América e o Mundo. Em 1995, após passar pelo Boca Juniors-ARG e disputar a Copa do Mundo 1994, transfere-se para o Palmeiras, para qualificar ainda mais uma equipe já poderosa. No entanto, a temporada marcada pela perda de todos os títulos em disputa provoca uma reformulação no elenco alviverde e, no início de 1996, Mancuso vai para o Flamengo, envolvido em uma troca de jogadores. No rubro-negro, seu futebol voluntarioso, aguerrido ao extremo e de boa técnica encantam a torcida desde o início, e Mancuso se torna um dos pilares defensivos da equipe que conquista invicta o Estadual 1996, tendo sofrido, em todo o primeiro semestre, apenas uma derrota. Na sequência do ano, sofre com a perda de qualidade do elenco e vê crescer a pecha de jogador violento. Mesmo assim, continua nas graças da torcida, que o enxerga como um símbolo de raça e entrega. Em 1997, diante de lesões e de uma renovação no elenco, volta ao futebol argentino, passando a defender o Independiente-ARG. Chega a atuar pelo Santa Cruz-PE antes de encerrar a carreira, em 2000. Até hoje se refere com carinho à sua passagem pelo Flamengo, também sendo lembrado com saudades por muitos torcedores.

 

ALEX (2000)

Meia-atacante extremamente talentoso, capaz de funcionar, com igual eficiência, como “arco” e “flecha”, desponta no Coritiba, sendo fundamental na campanha do acesso do clube paranaense à Série A, em 1996. No ano seguinte, transfere-se para o Palmeiras, onde logo se torna a principal estrela de uma equipe recheada de craques. No alviverde, conquista títulos nacionais e continentais, chegando a duas Finais de Libertadores (ganha uma, em 1999) e, quando é considerado um dos principais jogadores em atividade no país (apesar da fama de “vagalume”, decorrente de sua irregularidade), é vendido ao Parma-ITA, em 2000. No entanto, diante do desinteresse do clube italiano em aproveitá-lo de imediato, Alex é emprestado ao Flamengo no mesmo ano, dentro do projeto rubro-negro de montar um supertime com o aporte da ISL. No entanto, o jogador somente chega ao rubro-negro em outubro, após disputar as Olimpíadas. Ao desembarcar na Gávea, depara-se com um ambiente de caos administrativo e técnico, e não consegue render. Ainda assim, deixa uma pequena amostra de seu brilhante futebol nas vitórias sobre Corinthians (4-1, no Pacaembu) e Vitória (3-2, no Maracanã), em que marca belos gols. No final da temporada, com o Flamengo lhe devendo salários, consegue acertar sua saída antecipada, tendo atuado apenas dois meses do período previsto de um ano de empréstimo. Viverá o auge da carreira em 2003, pelo Cruzeiro, o que lhe renderá uma transferência para o futebol turco. Em 2014 para de jogar, defendendo o mesmo Coritiba que o revelou.

 

VAGNER LOVE (2010, 2012)

Atacante de grande mobilidade e faro de gol revelado pelo Bangu, chega ao Palmeiras em 2001 ainda jovem, após fugazes passagens por Vasco e Campo Grande. No alviverde, estreia pelo profissional em 2003, em um dos mais difíceis momentos da história do clube paulista, mas, com personalidade, comanda a equipe que conquista a Série B, rapidamente caindo nas graças de uma torcida carente de ídolos. No entanto, o ótimo desempenho de Vagner Love chama a atenção do CSKA-RUS, que o contrata em 2004. Cinco anos depois, após vários títulos pelo clube russo (entre eles, uma Copa da UEFA), retorna ao Palmeiras por empréstimo, mas acaba estigmatizado pela perda de um título brasileiro que parecia certo. Hostilizado, chega a ser agredido por membros de torcida organizada, e, com isso, consegue cumprir o restante do tempo de empréstimo em seu clube de coração, o Flamengo. Os seis meses de 2010 no rubro-negro são intensos, formando com Adriano o ataque conhecido como “Império do Amor”, que coleciona ilusões e frustrações, embora Love corresponda à expectativa, com boas atuações e gols. No último jogo antes da volta à Rússia, marca o gol da vitória contra o Palmeiras (1-0) no Pacaembu, calando um estádio que o vaiava ostensivamente. Em 2012, o Flamengo o contrata em definitivo, com a intenção de montar um ataque devastador ao lado de Ronaldinho Gaúcho. Mas a temporada novamente é marcada por decepções e Love, apesar de seguir com bom desempenho individual, não consegue reverter a sina de não ganhar nenhum título pelo Flamengo. No final do ano, novamente machuca o ex-clube, ao marcar o gol do empate (1-1) que decreta o rebaixamento do Palmeiras à Série B. No início de 2013, a nova Diretoria do Flamengo declara não ter condições de manter o jogador, e Vagner Love, contra a vontade, é devolvido ao CSKA. Atualmente defende o Sport, após ter rodado por vários clubes.

 

GAÚCHO (1990-1993)

Cria da base do Flamengo, chega a figurar como um dos candidatos a “Novo Zico” em reportagem da Revista Placar em 1982, mas não consegue se firmar em uma posição muito concorrida e, em 1984, é repassado ao XV de Piracicaba-SP. Quatro anos depois, após passar por vários clubes, chega ao Palmeiras, onde logo impressiona com a facilidade em marcar gols, especialmente de cabeça. No Brasileiro 1988, protagoniza episódio inusitado, ao defender dois pênaltis contra o Flamengo no Maracanã, depois de ir para o gol por causa de lesão do titular Zetti. No entanto, a decepcionante temporada de 1989, em que o Palmeiras chega perto do título mas falha nos momentos decisivos do Estadual e do Brasileiro (em um contexto de longo jejum de títulos), faz com que Gaúcho entre em atrito com a torcida, e, no início de 1990, seja negociado com o Flamengo. Na volta ao rubro-negro, rapidamente toma conta da camisa 9, exalando marra, irreverência, confiança e gols, ganhando a imediata afeição de uma torcida ainda ressentida com a traumática saída de Bebeto (a começar na estreia, em que marca dois gols num 3-1 contra a Cabofriense e, na saída, declara-se aborrecido com sua má forma, que o ‘impediu de marcar mais gols’). Tem início um período mágico, iluminado, marcado por gols e mais gols, títulos (um Brasileiro, uma Copa do Brasil e um Estadual, entre outras taças menores) e o auge da fama e da carreira (chega a participar de programas de TV na Globo). Em 1992 sofre séria lesão, o que inicia seu declínio. Ainda assim, marca gols importantes na reta final do Brasileiro, que o Flamengo conquista. Mas cai vertiginosamente de produção no segundo semestre (também por conta de excessos fora de campo), o que faz com que o rubro-negro contrate, para 1993, o atacante Nilson, que lhe servirá de “sombra”. Após idas e vindas da condição de titular (sendo sempre o preferido da torcida), Gaúcho é transferido ao Lecce-ITA, no meio do ano. Encerra a carreira em 1996, sem jamais ter reeditado o futebol dos tempos de Flamengo. Em 2001 funda o Cuiabá-MT, clube que hoje disputa a Série A do Brasileiro. Em 2016 falece, em decorrência de um câncer de próstata. Até hoje é lembrado como um dos ícones de uma época feliz para o Flamengo.

 

BARONINHO (1981)

Ponta-esquerda veloz e goleador, dotado de chute muito forte, chega ao Palmeiras em 1978, após se destacar pelo Noroeste-SP, clube que o revelou. No alviverde vive ótimo momento, por pouco não conquistando o Brasileiro em 1978 e 1979. Mas é tragado pela forte crise pela qual passa o clube em 1980, e no ano seguinte é negociado com o Flamengo, em troca do retorno de Luís Pereira. No rubro-negro, chega para repor a saída de Júlio César “Uri Geller” e rapidamente assume a condição de titular, apresentando bom rendimento e gols (destaque para o belo tento marcado na difícil vitória, 2-1, contra o Wilstermann-BOL, em Cochabamba, pela Libertadores, em um tirambaço de fora da área). No entanto, na reta final da temporada é colocado na reserva pelo treinador Carpegiani, que passa a utilizar o meia Lico como “falso-ponta”, o que equilibra o time, que se torna a máquina que conquista o Mundo. Mas, irritado com a barração (que se deu por motivos táticos, não técnicos), entra em atrito com o treinador e com parte do elenco e, sem ambiente, acerta, no início de 1982, seu retorno ao Palmeiras. Encerra a carreira em 1993, após várias passagens por clubes do interior paulista.

 

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