sexta-feira, 21 de abril de 2023

Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos,

Após a opaca mas talvez promissora vitória sobre o inexistente Ñublense-CHI, pela Libertadores, este Flamengo sob nova direção terá desafio bem mais complicado, o instável Internacional no Beira-Rio, duelo tradicionalmente difícil, que certamente exigirá muito mais do nosso plantel.

Aproveitando o encontro, esta semana segue a série “Caminhos da Bola”, onde são listados onze jogadores que chegaram ao Flamengo ostentando forte identificação com um clube específico. Então, nada mais natural que o “eleito” dessa semana seja o adversário de domingo (chama a atenção a quantidade de atacantes). No final do texto, links para os outros capítulos.

Boa semana a todos,

 

SÉRIE: CAMINHOS DA BOLA

III

FLAMENGO - INTERNACIONAL

 

LUIS CARLOS WINCK (1995)

Um dos grandes nomes do Internacional dos anos 1980, por onde conquista um tetracampeonato gaúcho e dois Vices Brasileiros e chega à Seleção Brasileira (participa das campanhas das medalhas de prata em 1984 e 1988), transfere-se para o Vasco em 1989. No entanto, uma fratura o alija da convocação à Copa do Mundo de 1990 e inicia seu declínio. Nos anos seguintes, passa por vários clubes (Internacional em retorno, Grêmio, Corinthians, Botafogo, entre outros) e, no segundo semestre de 1995, chega ao Flamengo como mais uma tentativa para solucionar o crônico problema da lateral-direita do time. No entanto, lento e sem explosão, não consegue se firmar, sendo barrado pelo zagueiro Fabiano, que é improvisado na função. Ao final do ano, é dispensado e em 1996 encerra a carreira.


GAMARRA (2000-2001)

Chega ao Internacional em 1995, egresso do Cerro Porteño-PAR, onde foi formado. Rapidamente encanta a torcida colorada, que vê em seu futebol técnico, combativo e de forte liderança características que remetem ao antigo ídolo Figueroa. Gamarra é peça-chave na histórica conquista do Campeonato Gaúcho de 1997, que encerra incômoda sequência de reveses para o rival Grêmio. Em 2000, após se destacar na Copa do Mundo 1998 e passar por Corinthians, Benfica-POR e Atlético Madrid-ESP, é contratado pelo Flamengo, que monta uma equipe milionária com a ajuda de uma empresa investidora. No entanto, o início é difícil, e Gamarra convive com lesões que lhe impedem de manter uma sequência de jogos. Somente em 2001 o paraguaio consegue render, sendo importante nas conquistas do Tricampeonato Estadual e da Copa dos Campeões. Atribui-se a Gamarra grande influência na nítida evolução do futebol do talentoso mas antes inseguro Juan, com quem faz dupla na zaga. No meio de 2001, incomodado com o péssimo ambiente rubro-negro e com os sucessivos atrasos salariais, pede para ser transferido para o AEK Atenas-GRE. Encerra a carreira em 2008, após retornar ao futebol paraguaio.


MARCELO ROSA (1999)

Volante de certo destaque no Internacional da segunda metade dos anos 1990, onde conquista o Estadual de 1997 e participa da ótima campanha do Colorado no Brasileiro do mesmo ano, é emprestado ao Flamengo em 1999 após um período de má fase no Beira-Rio. No rubro-negro, Marcelo mostra futebol combativo e de bom nível, encaixando-se rapidamente na equipe em que, como titular, conquista a Copa Mercosul 1999. No entanto, sem dinheiro para exercer a compra, o Flamengo o devolve ao Internacional no fim do ano. Em 2011, após rodar por vários clubes (inclusive do futebol chinês e japonês), encerra a carreira no Cruzeiro-RS, clube que o revelou.


CARPEGIANI (1977-1981)

Gaúcho de Erechim, é um dos principais nomes do fantástico Internacional dos anos 1970, formando uma dupla devastadora com Falcão no meio-campo. Volante técnico e de personalidade forte, que gosta de sair para o jogo, chega a ser titular da Seleção Brasileira que disputa a Copa do Mundo de 1974. Seu grande momento é o gol de placa que elimina o favorito Fluminense de Horta da Semifinal do Brasileiro de 1975, em pleno Maracanã. No entanto, Carpegiani sofre séria lesão no joelho e perde rendimento, até que em 1977 o Flamengo, precisando dar experiência a um plantel extremamente talentoso mas ainda jovem, resolve arriscar e apostar no jogador. Dá certo, e Carpegiani ajuda a liderar e a maturar a dourada geração que marcará uma Era. Conquista, pelo Flamengo, o Tri Estadual 1978-1979-1979E e o Brasileiro 1980. No ano seguinte, cansado das dores recorrentes no joelho, abandona a carreira no início do Estadual. Pouco depois, assume como treinador interino após a demissão de Dino Sani e, efetivado, é o comandante do time Campeão da Guanabara, Estadual, Brasileiro, Sul-Americano e Mundial entre 1981 e 1982, iniciando, assim, longa carreira de técnico de futebol.


CAÍCO (1996)

Meia de infernal drible curto e muito talentoso, ascende de forma meteórica no Internacional, já exercendo papel importante na conquista da Copa do Brasil 1992 (marca um gol no primeiro jogo da Final contra o Fluminense). No entanto, muito jovem, não consegue manter consistência nas temporadas seguintes e, após apagada passagem pelo futebol japonês, chega ao Flamengo para a disputa do Brasileiro 1996, com a responsabilidade de substituir Amoroso. Mas Caíco pouco mostra e exerce apenas figuração no limitado time de Joel Santana. Ao final da melancólica campanha rubro-negra, Caíco é transferido para o Santos, iniciando impressionante trajetória de andarilho da bola, encerrada em 2009 no Itumbiara-GO.


CLEO (1983)

Desde as divisões de base no Internacional, o meia Cleo chama a atenção com um futebol muito eficiente, de alto nível técnico, disciplina tática e muita movimentação. Possui tanto talento que é trabalhado como o “sucessor de Falcão”. E, após a venda do ídolo colorado, assume, de fato, o papel de protagonista da equipe, sendo o melhor jogador colorado em 1981, o que lhe vale uma transferência para o Barcelona-ESP. No entanto, uma polêmica decisão (posa nu para uma revista pouco antes de viajar para a Espanha) arruína sua passagem pela Catalunha. Estigmatizado e perseguido, sequer chega a atuar pela equipe culé. É emprestado ao Internacional de volta e, em 1983, o Barcelona o vende ao Palmeiras. Faz bom Brasileiro, mas não consegue conquistar o título, e a Diretoria alviverde resolve reformular o elenco, emprestando Cleo ao Flamengo, que o traz em um pacote de reforços que busca reconstruir a equipe após a venda de Zico. Mas Cleo atua numa posição em que o rubro-negro já possui farta oferta de talento, e o jogador apenas exerce papel coadjuvante na conquista da Taça Rio 1983. Ao final do ano, é devolvido ao Palmeiras. Em 1989, encerra a carreira no Vila Nova-GO.


PIRILLO (1941-1947)

Destaca-se ainda jovem no pequeno Americano-RS, chamando a atenção do Internacional, que o contrata. No colorado, impressiona pela assustadora facilidade com que marca gols e mais gols, obtendo tanto destaque que se torna um dos raros jogadores fora do Eixo Rio-SP a chegarem à Seleção Brasileira. Despede-se do Inter num 5-2 sobre o Grêmio, indo atuar no Peñarol-URU, em 1939. Dois anos depois, resolve retornar ao Brasil e o Flamengo vence a concorrência com os gaúchos, trazendo Pirillo para substituir ninguém menos que Leônidas da Silva, o melhor jogador brasileiro em atividade. Os torcedores e a crônica demoram a se acostumar com o jogo mais físico e vigoroso de Pirillo, diametralmente oposto à leveza de Leônidas, e o atacante chega a ser perseguido, especialmente por Ari Barroso, que se recusa a aceitar a venda do Diamante Negro. Com efeito, quanto mais gols Pirillo marca, mais é perseguido pela diabólica gaita de Ari. De qualquer forma, Pirillo estabelece, em 1941, a marca de 39 gols no Campeonato Carioca, feito jamais superado. O atacante é protagonista do mortal ataque do Flamengo Tricampeão Carioca de 1942-43-44, permanecendo no rubro-negro até 1947, quando, desgastado, é negociado com o Botafogo, onde encerra a carreira. Com 208 gols marcados, Pirillo é o quarto maior artilheiro da história do Flamengo.


KITA (1986-1987)

Destaca-se ao se tornar, atuando pelo Juventude, artilheiro do Campeonato Gaúcho de 1983, o que o faz ser negociado com o Internacional, por onde conquista o Tetracampeonato Gaúcho em 1984 e, atuando pela Seleção Olímpica, a medalha de prata nos Jogos de Los Angeles-EUA. No entanto, um processo de reformulação no plantel colorado o faz ser transferido para a Internacional-SP, clube em que atinge o auge da carreira, ao se tornar, de forma espetacular, Campeão Paulista 1986 e artilheiro da competição. O Flamengo, precisando de um atacante de área, contrata Kita, que faz bom Brasileiro no mesmo ano, marcando gols (chega a fazer três num 4-0 sobre o Goiás, no Serra Dourada) e se firmando. No entanto, quando Bebeto retorna de lesão, o treinador Sebastião Lazaroni tem dificuldade em conciliar os estilos da dupla (Bebeto é rápido e leve, Kita é pesadão e fixo na área), e, com a chegada de Renato Gaúcho em 1987, o centroavante perde espaço. Kita ainda faz parte do elenco que conquista o Brasileiro 1987, mas, ao final do ano, retorna à Internacional-SP. Encerra a carreira em 1990, atuando pelo Atlético-PR e, em 2015, falece precocemente, vítima de diabetes.


NILSON (1993)

Chega ao Internacional em 1988, após rodar pelo interior paulista. Tem atuação marcante no Brasileiro, sendo protagonista da equipe que fica com o Vice-Campeonato. Seu grande momento são os dois gols marcados no “Gre-Nal do Século”, válido pela Semifinal (2-1 de virada, com o colorado com um a menos). Mas Nilson, na temporada seguinte, cai em desgraça ao perder dois pênaltis (um deles, no tempo normal) na derrota, em pleno Beira-Rio, para o Olimpia-PAR (2-3), que elimina o Internacional da Libertadores, na Semifinal. Em 1993, após passar por vários clubes (entre eles o Grêmio), chega ao Flamengo, para disputar a Camisa 9 com Gaúcho, que vive mau momento. No entanto, apesar de marcar vários gols e apresentar rendimento nitidamente superior ao do ídolo flamengo, Nilson jamais conquista a torcida, seja pelo seu temperamento frio, seja pela indefinição dos treinadores, que hesitam em barrar Gaúcho, seja pelos desentendimentos com Renato Gaúcho em campo. Após o fracasso do rubro-negro na primeira metade da temporada, Nilson é negociado, passando a seguir longa jornada caracterizada por não parar em nenhum clube. Encerra a carreira em 2005.


LEANDRO DAMIÃO (2016-2017)

Revelado no futebol catarinense, chega ao Internacional em 2010, e apresenta ascensão meteórica, já marcando, em seu primeiro ano, um gol na vitória por 3-2 sobre o Chivas-MEX que dá ao colorado o título da Libertadores 2010. No ano seguinte, consolida-se como um dos principais nomes da equipe que conquista o Campeonato Gaúcho e a Recopa Sul-Americana. Seu grande momento é o gol de bicicleta que marca em um 2-2 contra o Flamengo, no Beira-Rio, pelo Brasileiro. Mas, dois anos depois, é negociado com o Santos em uma transação milionária e controversa que envolve a participação de um fundo de investimentos. E, no alvinegro praiano, jamais consegue chegar perto das expectativas, convivendo com vaias, atuações ruins e lesões. Em 2016, após ser repassado a Cruzeiro e Betis-ESP, Leandro Damião é novamente emprestado, desta vez ao Flamengo, para servir como alternativa às frequentes convocações de Guerrero. No rubro-negro, Damião até apresenta espírito de luta e algumas boas atuações no início, mas jamais consegue ameaçar a condição de titular do peruano. Com a ascensão do jovem Felipe Vizeu em 2017, perde ainda mais espaço e aceita retornar ao Internacional no meio da temporada. Hoje defende o Kawazaki Frontale-JAP.


LEANDRO MACHADO (1999-2001, 2002)

Destaca-se ainda jovem no Internacional, onde começa a atuar em 1994 e logo se torna referência e goleador em uma época difícil, onde o rival Grêmio coleciona taças. Pelo Colorado, conquista o Estadual 1994 e chega à Seleção Brasileira, mas tem parte do prestígio arranhado quando perde um pênalti na inacreditável derrota para o lanterna Bragantino (0-1) que elimina o Internacional do Brasileiro 1996. Três anos depois, após passagens positivas pelo futebol europeu (notadamente no Sporting-POR), é contratado pelo Flamengo, que busca um atacante de área para fazer dupla com Romário. Leandro não sente o peso da camisa e rapidamente se firma como titular, sendo importante na conquista do celebrado Estadual 1999 e da Copa Mercosul no mesmo ano, mesmo com a concorrência de Caio, xodó da torcida. Mas um incidente disciplinar no final do Brasileiro quase o faz ser negociado. Mas permanece no Flamengo e segue mantendo boas atuações, a despeito da concorrência de Tuta, vindo do Vitória. No entanto, Leandro Machado sofre grave lesão no joelho e perde o restante da temporada após o Bi Estadual. Volta no ano seguinte e não consegue repetir o nível das atuações, sendo coadjuvante na campanha do Tri Estadual e da Copa dos Campeões 2001. Após ser emprestado ao Internacional, retorna em 2002 para a disputa da Libertadores, mas após o fiasco na competição e com a grave crise vivida pelo Flamengo pós-ISL, é negociado com o Dinamo Kiev-UCR. Encerra a carreira em 2008, no Sport.


Links capítulos anteriores:

Parte I: Flamengo – Corinthians

Parte II: Flamengo – Fluminense