segunda-feira, 1 de maio de 2023

Fronteiras da Irresponsabilidade

 

Salve, Buteco! O jogo de ontem foi mero reflexo do planejamento mais irresponsável e esculhambado da História do Clube de Regatas do Flamengo. Temo que, daqui por diante, viveremos mais dias assim, com muita frustração. Após a temporada de 2017, que alcançou o recorde de partidas do Flamengo no Século XXI, devido à eliminação precoce na fase de grupos da Libertadores e disputa até a final da Sul-Americana, o tema calendário passou a ser um dos meus prioritários nos debates sobre o Mais Querido.

Como o elenco quase não teve pré-temporada e o trabalho da comissão técnica anterior foi um completo desastre, em quase todos os níveis (ressalva para o desenvolvimento dos três Matheus - Cunha, França e Gonçalves), Jorge Sampaoli e seus auxiliares estão trocando os pneus com o veículo em movimento. Logo, certamente haverá mais desastres no trajeto.

Isso acontece porque, em meio ao afunilamento das três competições mais importantes do calendário, a comissão técnica atual precisa tirar o atraso de sua antecessora e ainda colocar o elenco em condições de competir de acordo com a filosofia de jogo do treinador, que exige a hoje famosa "intensidade", que o Careca gosta de chamar de "contundência", ofensiva e também defensiva.

Se o calendário "não for limpo", ou seja, sem rodar em uma das copas, só uma janela muito forte salvará o Flamengo do Campeonato Brasileiro mais dramático desde 2014/2015. Talvez até ainda mais dramático.

Nossos dirigentes ultrapassaram as fronteiras da irresponsabilidade. 

Infelizmente, devo lembrá-los que, desde a "volta da pandemia", coincidentemente após a saída de Jorge Jesus, o critério de contratações do Flamengo mudou. Percebe-se nitidamente menos critério e mais influência de empresários, claro que com destaque maior para uma certa figura notória.

Há necessidade de abrir o cofre e gastar bem, com critério, mas será que podemos esperar essa atitude de Rodolfo Landim, Marcos Braz e Rodrigo Tostes?

Eu não apostaria nisso, a não ser que a crise se aprofunde ainda mais. Nada impossível.

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Aos meus olhos, quatro jogadores desse elenco não demonstram a mínima condição de atender à demanda das três competições que o Flamengo ainda disputa. São eles: David Luiz, Filipe Luís (hoje mais comentarista do que jogador), Arturo Vidal e Gabriel Barbosa. Os três primeiros podem afirmar que são veteranos, até veteraníssimos; já o camisa 10 não. 

O estado do camisa 10 é deplorável e, por isso mesmo, intolerável. É uma mistura de deslumbramento, aventuras musicais e noturnas, musculação "freestyle" e postura de intocável, quadro que espelha com clareza a esculhambação irresponsável que é a gestão de futebol do VP Marcos Braz.

Não se cuida de simples má-fase, termo que costuma ser empregado a algum problema passageiro, geralmente de ordem psicológica. Gabriel "perdeu a mão" em suas constantes distrações decorrentes da movimentada vida social que vive quando não está exercendo o seu "bico", que é treinar e disputar partidas de futebol profissional pelo Flamengo, algo que parece fazer cada vez mais com menos entusiasmo.

Nenhum atleta foi tão bem pago na História do clube. E é difícil lembrar de alguém que fez tão pouco caso do carinho que recebe dentro do Flamengo e também da torcida.

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Até mesmo Vítor Pereira, dentro de toda a mediocridade de seus pouco mais de quatro meses à frente do Flamengo, conseguiu expor uma realidade claríssima do nosso elenco: a formação mais competitiva possível não passa pela dupla de ataque que não marca ninguém.

No sábado de 1º de abril, o Flamengo fez o "jogo grande" mais competitivo do ano até aqui. A formação que foi a campo teve Santos; Fabrício Bruno, David Luiz e Léo Pereira; Varela, Thiago Maia, Gérson e Ayrton Lucas; Matheus França, Pedro e Cebolinha.

Enquanto os reforços não vêm, se é que virão, se o Careca desviar muito disso nos jogos mais pegados, chamará mais derrotas como a de ontem.

Percebam que, como o Campeonato Brasileiro de 2023 promete ser mais disputado do que edições anteriores, e as copas sempre exigem mais a cada fase, o cenário tende a piorar. Não há margem para decisões claramente equivocadas.

Portanto, se é inegável que o Careca mostra coragem e vontade para encarar o desafio, precisa tomar atitudes que ajudem e não, ao contrário, atrapalhem o desenvolvimento do time. Escalar David Luiz, Vidal e Gabriel ao lado de Pedro, ainda mais após uma semana com dois jogos de grande intensidade, em um jogo "pegado", é como chamar carinhosamente a derrota.

A responsabilidade do Careca pela derrota começa justamente aqui. Já basta a Diretoria frequentemente transpondo as fronteiras da irresponsabilidade, certo?

A intensidade ou contundência do time não foi nem sombra dos dois jogos anteriores. Se é verdade que chances de gol foram criadas, a maior delas, no primeiro tempo, desperdiçada por Vidal (lance da trave direita), também é incontestável que, na altura dos 20 minutos de jogo, o Botafogo já crescia na partida diante da falta de combatividade do escrete rubro-negro.

O pênalti marcado por Edina Alves Batista foi do tipo criminoso, de tão absurdo. Nem por isso devemos negar que o adversário já tinha tomado conta do meio de campo e apresentava mais volume de jogo. O gol marcado pelo Botafogo no final do primeiro tempo, esse sim legal e merecido, escancarou a falta de competitividade do time, que já era perceptível a olhos vistos.

Veio o segundo tempo e mais uma prova de que do trabalho de Sampaoli tem indícios de que pode evoluir, considerando as chances criadas e desperdiçadas pela nossa dupla de ataque. Três delas, inacreditavelmente, em sequência, por Gabriel Barbosa, e uma por Pedro, que, da mesma forma que ocorreu no jogo do domingo retrasado, em Porto Alegre, também do tipo "mais pegado", não viu a cor da bola e não conseguiu ganhar uma disputa individual.

O momento exige outra formação que não a dupla e com Pedro na titularidade, o que não significa que o "Artilheiro dos Jogos Pequenos" esteja num grande momento e que não deva ser confrontado pelos seus "sumiços" em jogos grandes. A Copa do Mundo já passou e eu, pelo menos, não me esqueço da suposta diarreia na final da Copa do Brasil.

Nos quase 50 anos que acompanho futebol, não me lembro de algum jogador pedir para sair de uma final de campeonato (ainda mais nacional) por esse motivo. Reconhecer que o "Matador dos Jogos Nanicos" é melhor opção do que o camisa 10 rubro-negro não livra a sua barra. Nem de longe.

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E para terminar de falar sobre o jogo, chances foram criadas para empatar e até virar o placar, só que ninguém resiste a uma formação com linhas altas e a David Luiz, a "Barbie Provecta Depressiva", correndo atrás de atacantes velozes e saudáveis do adversário.

É hora de dar mais minutagem a peças como Ígor Jesus, Matheus França, Matheus Gonçalves e qualquer outro jogador que não os avôs de Tutancâmon e o Marinho.

Por enquanto, acho esse problema muito mais prioritário do que qualquer discussão a respeito do desenho tático.

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A outra prioridade máxima precisa ser a contratação de reforços para as posições certas. Lateral direito, lateral esquerdo (sim, por não ser possível contar com o Metaleiro Comentarista), volantes (plural) e ponta direita (chega do alucinado do Marinho!) são imprescindíveis.

O papel da torcida é pressionar forte por contratações para essas posições.

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A palavra está com vocês.

Boa semana e SRN a tod@s.